domingo, 9 de janeiro de 2011

Luiz Assunção


Luiz Gonzaga Assunção nasceu no dia 11 de julho de 1902, em São Luiz, capital  do Maranhão. Mas foi no Ceará que desenvolveu seu talento de músico e compositor, incorporando seu nome à boemia da terra de Iracema. 
No Maranhão tinha sido sacristão, balconista de farmácia e caixeiro de loja de perfumes, além de músico. Chegou por aqui em 1928, como franco atirador, pronto para o que pintasse. Pianista de raro talento não encontrou dificuldade para arranjar emprego nos cinemas mudos e nas pensões de mulheres, além de acompanhar os artistas da terra em excursões para outros estados.
Luiz Assunção ao lado do maestro Airan Pacheco e do escritor Eduardo Campos
(imagem: http://www.prenove.com.br/MarcosCRC/iconografia.html)
Magro, vestido de branco, sapato de duas cores, era presença obrigatória nas rodas de lazer e nas serenatas dos anos 1930. Separava com destreza o tempo de farrear com o de trabalhar, de modo que era assíduo nos dois ofícios. 
Comia pouco, bebia muito, quase não dormia. Trabalhava nos cabarés como pianista profissional até as duas da manhã, e às oito, já estava na Ceará Rádio Clube, onde exercia as funções de pianista, auxiliar de regente, copista e arquivista. 
De manhã trabalhava na rádio, de tarde tocava nos cinemas e de noite nas pensões, participava de serestas e rodas de samba, freqüentava todas as biroscas, desenhava (era caricaturista), copiava partituras e principalmente, compunha. 
O velho Lula, como era chamado pelos amigos, é autor de sambas, marchas, valsas, hinos, choros, baiões, boleros, frevos, foxes toadas sertanejas e outros.
Em 1929 se casou com Dona Isaura Gomes de Oliveira, uma santa, como dizia o compositor: sempre me compreendeu, podia bronquear, mas nunca me criou obstáculos.  
Luiz Assunção conheceu o sucesso em vida. Em 1945 a antiga Escola de Samba Lauro Maia passa a se chamar Luiz Assunção. Era um misto de  homenagem e instinto de sobrevivência dos componentes da agremiação. 
A participação de Luiz Assunção asseguraria o êxito da entidade carnavalesca que, já no ano seguinte foi campeã cearense. O titulo seria mantido nos anos de 1947, 48 e 49.
Em 1947 o conjunto “Quatro Ases e um Coringa”, que conquistara fama nacional, lança a música “Siá Mariquinha”, considerada uma das mais belas canções caboclas da música brasileira. Siá Mariquinha teria várias regravações, inclusive uma na voz de Jamelão. Dedicada a Dona Isaura, foi composta em 1946 em linguagem matuta, constituindo-se numa perfeição de letra e melodia.
Muitas outras composições de Luiz Assunção foram gravadas por cantores famosos e tiveram repercussão: Trio Nagô, Evaldo Gouveia, Rodner e Téti.
O Velho Lula recebeu muitas homenagens: troféus de carnaval, medalhas de gratidão, diplomas comemorativos, honras ao mérito, taças, placas, títulos de cidadania, e após o seu falecimento, o nome de um logradouro público na Praia de Iracema.
Foi um dos poetas de Iracema. Quando o mar invadiu a praia em 1953, destruindo várias residências e o restaurante O Ramon, Luiz Assunção criou um samba de carnaval que ficou célebre na cidade: Adeus Praia de Iracema.
Casas da Rua Pacajus na Praia de Iracema, derrubadas pela fúria do mar. No número 71 funcionava o restaurante de Ramon Romero de Castro 
(Arquivo Nirez)
Quando Lúcio Alcântara foi prefeito de Fortaleza (1979-1982), criou o Projeto Luiz Assunção, que consistia numa apresentação de músicas regionais, ao vivo, por conjuntos locais, às 6 ªs feiras na Cidade da Criança e na Vila dos Artesãos, na Avenida Leste-Oeste. O prefeito também mandou editar um livro contendo as principais criações do compositor, inclusive as partituras.
Em 1967 pela Lei 8.776, o governador Plácido Castelo concedeu uma pensão vitalícia ao velho seresteiro. Luiz Assunção manteve seu espírito boêmio até seus últimos instantes. Já muito velho e alquebrado ainda desfilava com sua escola na Avenida Duque de Caxias, num carnaval de rua cada vez mais decadente e esvaziado.
Em sua casa no bairro Jardim América, quando não podia mais andar recebia os amigos a cada 11 de julho para festejar seu aniversário, e tomar umas cachaças, acompanhada de quitutes feitos pela fiel esposa, como ressaltava.
Luiz Assunção faleceu em 9 de maio de 1987, octogenário, pobre, modesto, mas reconhecido no seu talento na terra que escolheu para viver e brilhar.

Ressaca na Praia de Iracema(imagem: O Povo)
Adeus, Adeus
só o nome ficou...
adeus Praia de Iracema
Praia dos amores
que o mar carregou...

Quando a lua te procura
também sente saudade
de tudo que passou:
de um casal apaixonado
entre beijos abraçado
que tanta cousa jurou
mas a causa do fracasso
foi o mar enciumado
que da praia se vingou
Fonte:
Leitão, Juarez. Sábado, Estação de Viver-Histórias da boemia cearense. Fortaleza: Editora Premius, 2000.

16 comentários:

Lúcia Bezerra de Paiva disse...

Conheci Luiz Assunção!
Muito magro e sempre se branco, chapéu...sua figura era a do típico "malandro carioca", parecia. Lembro-me dele na PRE-9, tocando piano nos programas de auditório, no carnaval, comandando sua colorida escola de samba. Tenho um com as músicas aí citadas.

Linda matéria!

Fátima Garcia disse...

gosto dessas histórias de boêmios, que levam tudo na boa, de bem com a vida. Luiz Assunção certamente era um deles.

Edelberto Araújo disse...

Eu o conheci em 1979. Na época, numa gincana do Grupo Escoteiro General Sampaio, uma das tarefas era levar um pessoa famosa. Quando ele apareceu, nenhum de nós (eu tinha 15 anos) sabia quem era. Quando pegou o microfone e, sem acompanhamento, cantou os seus sucessos e provocou uma onda de emoção e aplausos dos nossos pais. Lentamente, fomos também contagiados pelo seu talento.

Fátima Garcia disse...

Acho que os artistas que atuaram na terra, nascidos aqui ou não, de real valor, como Luis Assunção por exemplo, deveriam ser mais divulgados e prestigiados pelas mídias locais.

RafaellSoler disse...

Nossa, muito interessante esse post. Sabe, minha mãe e minha avó já comentaram sobre ele para mim. Ele é meu parente. Tio da minha avó, que se chama Palmira em homenagem à mãe dele (Também Palmira). Minha mãe ainda guarda fotos, gravações e os documentos dele até hoje. Conheço a Tia Izaura Assumpção, esposa dele, hoje com 104 anos. Ah! Um fato curioso que poucos sabem, o sobrenome na verdade dele é ASSUMPÇÃO, com o tempo e já na época quando escutavam a pronúncia ASSUNÇÃO deduziam que se escrevia como se pronunciava, mas nunca foi. Um erro compreensivo e comum. Mas voltando a grande importância dele, minha mãe me contava das diversas histórias dele na Praia de Iracema, do Bloco de Carnaval dele. Tive até o privilégio de ver arquivos raros dele no Acervo do Nirez. De fato uma grande personalidade para a Cultura Brasileira, porém quase que totalmente esquecida com o tempo. Fico feliz que algumas pessoas ainda lembram e preservem a memória dele.

Parabéns! Adorei o seu Blog!

Fátima Garcia disse...

olá Rafael,
apesar da grande mídia não falar muito dos nossos artistas locais, o Luiz Assunção ainda assim, é bastante conhecido, principalmente por causa da divulgação do arquivo Nirez.Nada mais justo, já que Luiz Assunção deixou uma herança musical e cultural para a cidade. Gostei de saber dessas particularidades, do nome e de sua familia. obg. pela visita

Bill disse...

Posso acrescentar respeito as origens de Luiz Assuncao/Assumpcao.
Os pais dele foram Liberato Lopez de Assumpcao, 'sargento leorense', e Dona Palmyra da Rocha Santos, que era pela sua vez, filha da Dona Sophia de Faria e Joao da Rocha Santos, negociante no Maranhao. A Dona Sophia entao era portuguesa da familia nobre Possollo Faria. Os dois moravam na rua S Aninha 4 em Sao Luis, e tal endereco ainda existe (procure no google streetview!).
Quem sou eu?
Sou Bill Simoes Martin, filho da Eneida Simoes Martin, sobrinha do Luiz Assuncao. A unica irma do Luiz era Aliete Rocha Santos Simoes, mae da minha mae, e mae de mais 7, e avo de inumeros netos.

Bill disse...

Posso acrescentar respeito as origens de Luiz Assuncao/Assumpcao.
Os pais dele foram Liberato Lopez de Assumpcao, 'sargento leorense', e Dona Palmyra da Rocha Santos, que era pela sua vez, filha da Dona Sophia de Faria e Joao da Rocha Santos, negociante no Maranhao. A Dona Sophia entao era portuguesa da familia nobre Possollo Faria. Os dois moravam na rua S Aninha 4 em Sao Luis, e tal endereco ainda existe (procure no google streetview!).
Quem sou eu?
Sou Bill Simoes Martin, filho da Eneida Simoes Martin, sobrinha do Luiz Assuncao. A unica irma do Luiz era Aliete Rocha Santos Simoes, mae da minha mae, e mae de mais 7, e avo de inumeros netos.

Fátima Garcia disse...

Olá Bill,
informações como essa só enriquecem o post sobre o grande Luiz Assunção (Assumpção). obrigada e volte sempre

Casos e Acasos disse...

Estou escrevendo minha dissertação sobre o Luiz Assumpção e infelizmente a obra sobrepôs o artista, tenho buscado contato com alguém da família, infelizmente não consegui até o momento, porém a pesquisa tem sido muito bacana.

Fátima Garcia disse...

Alô Rafaell Soler e Bill, ajudem casos e achados com as informações sobre Luiz Assunção, please.
abs

Sabrina disse...

Olá, será que vocês tem como me enviar essa reportagem pro meu e-mail? Ele é da minha família (era irmão da minha bisavó Aliete Assumpção). Se possível ficarei muito agradecida! sabrinamaria.bs@gmail.com

Fátima Garcia disse...

Olá Sabrina,
enviei o texto para seu email
abs

Rafaela Assunção disse...

oi Sabrina ele era meu avô q legal somos parentes RS bjus

Rafaela Assunção disse...

Bill ola sou neta do Luiz assunção e da Isaura filha de Fátima Gomes assunção que bom saber que somos parentes bjus

Bill disse...

Oi Rafaela,
Apenas agora que estou vendo a sua resposta. Caso vc quiser saber mais, procure comprar no Amazon o livro “Notas para a genealogia da Família Possollo” - existem exemplos a venda, porém por um preço salgado, mas cake a pena. O exemplo que tenho foi um achado bendito na Lisboa. Caso quiser entrar em contato: bill_martin@hotmail.com