(Londres) – O playboy e exportador cearense, José Alcy Siqueira, embarcou ontem, no transatlântico “Queen Mary”, com destino a Ney York. Por feliz coincidência, Mr. Siqueira tem vizinhos muito especiais: na cabine da direita, nada menos que Elizabeth Taylor e Richard Burton e na da esquerda, os Duques de Windsor. Da “Big Aplle”, Siqueira irá até Hollywood.
Reproduzido do livro "Os Dourados Anos"
José Alcy Siqueira foi o
playboy clássico de Fortaleza. Nascido em Viçosa do Ceará, ficaria rico em
Fortaleza nos ramos de exportação de peles de animais silvestres e da
construção civil. Construiu grandes edifícios de cimento armado, sendo
propriamente um pioneiro nesse tipo de arranha-céus composto de pequenos
apartamentos residenciais e salas comerciais. Os edifícios Jalcy passaram a
fazer parte do cotidiano da cidade, incorporando-se ao vocabulário da
população. Falava-se em alugar uma sala, uma quitinete nos Jalcy’s: Avenida, Metrópole, Beira-Mar...
Mesmo sendo um homem que ficou
rico trabalhando, Zé Alcy era um bom vivant, um mão aberta. Não tinha medo de
gastar, gostava de ser rico e não fazia reservas disso. Seu carro era um Cadillac,
polidíssimo e brilhante, que ostentava a placa número 1 do Departamento
estadual de Trânsito.
Quando viajava para o Rio de
janeiro, despachava o imenso automóvel por um cargueiro da Itaú ou pela via
área na companhia Cruzeiro do Sul. Hospedava-se no Copacabana Palace,
frequentava as melhores festas cariocas, namorava beldades nacionais e
internacionais. Fez sucesso e causou espanto ao namorar e trazer à Fortaleza a
Miss Brasil 1957, Terezinha Morango.
Quando visitava sua terra
natal tinha que enfrentar a ladeira íngreme e escorregadia da Serra da
Ibiapaba, pois nessas ocasiões não dispensava o Cadillac. A chegada do filho
ilustre era sempre um alvoroço, um dia de festa em Viçosa. E no carrão,
acenando vitorioso, Zé Alcy era caprichoso em sua vaidade.
Quando o cineasta Marcel Camus
veio rodar no Ceará o filme “Bandeirantes”, requereu o Cadillac do Zé Alcy para
algumas cenas. Ele não se negou a emprestar, mas impôs uma condição: queria
participar do filme. E assim fez uma ponta em “Bandeirantes”, como motorista de
seu próprio automóvel.
Quanto ao casamento, adiou o
mais que pode. Em duas ocasiões esteve noivo com moças de grandes méritos, mas
terminava desistindo. Num dos casos chegou a levar longe demais a decisão,
causando constrangimentos e a maledicência, caindo na boca do povo. Diziam que
ele não se casava por impossibilidades de ordem física. Todas as insinuações
caíram por terra, quando contraiu matrimônio com uma médica de nome Vilani, com
quem teve três filhos.
Uma das grandes qualidades do
empreendedor, era a ousadia, enfrentava qualquer transtorno. Em muitas ocasiões
a sorte não lhe sorriu e ele teve grandes prejuízos. As vezes não media as
consequências de assumir um empreendimento, por isso, seus negócios sofriam
bruscas oscilações: podia estar rico ou pobre de um dia para o outro.
José Alcy Siqueira viveu
intensamente. Teve tudo que a aventura humana pode oferecer. Experimentou a
apoteose e o abismo, teve a inveja e o aplauso de seus contemporâneos. E morreu
pobre, como acontece aos líricos, afilhados da alegria.
PS: deve ter ficado mesmo
muito pobre, porque nada encontrei na mídia sobre o homem, sequer a notícia,
data ou local do seu falecimento. Alguns de seus empreendimentos;
Edifício Jalcy Avenida
Inaugurado em 1959 na Avenida
Duque de Caxias, Centro, com 12 andares, o Jalcy Avenida foi por muito tempo, o
prédio mais alto de Fortaleza. Projetado pelo arquiteto José Neudson Braga, foi
também o primeiro edifício com o conceito residencial/comercial. Hoje, como
quase todo o centro de Fortaleza, o prédio está subutilizado e com vários
apartamentos fechados.
Jalcy Metrópole
Edifício comercial, localizado no centro, na Rua Guilherme Rocha.
Edifício Jalcy Beira Mar
construído em 1968, foi
implodido no dia 13 de março de 1994, sendo essa a primeira vez que o
procedimento (implosão de um edifício) foi usado em Fortaleza.
Balneário Pirapora Palace
Inaugurado em 1972, era um empreendimento de lazer localizado na serra de Maranguape. Cercado por uma paisagem natural, o balneário contava com hospedagem, piscinas, quedas d’águas, em meio a muito luxo e conforto. Vários cantores famosos se apresentaram no local. Dez anos depois da inauguração, em meio a uma grande seca que assolou o Ceará, o Pirapora Palace fechou as portas com grandes prejuízos. Anos mais tarde a estrutura e o que sobrou do hotel de lazer foram saqueados e o local invadido.
Fontes: Sábado, estação de viver, de Juarez Leitão
Os Dourados Anos, de Marciano Lopes