segunda-feira, 10 de fevereiro de 2025

A Seca dos Três Setes no Ceará

 


A tragédia já se anunciava desde o ano anterior. O ano de 1876 foi chuvoso durante os três primeiros meses, depois, de junho a dezembro, não caiu uma gota d’água. Em janeiro de 1877, apenas uma neblina e baixíssimos índices de pluviosidade nos meses seguintes. Em março os sertanejos já estavam alarmados e em abril, perdidas as esperanças de inverno, começou o êxodo de habitantes do sertão para o litoral.

O gado morria à falta de aguadas, as lavouras se extinguiram e a provisão de viveres, conservada como reserva de muitos sertanejos, pouco a pouco se esgotaram. De setembro em diante a fome era geral, os socorros públicos, mal administrados, não chegavam regularmente aos locais mais afetados. Quem possuía algum bem ou valor, desfazia-se dele em troca de algum gênero de primeira necessidade.

As poucas aguadas, como açudes e poços cavados nos leitos dos rios em épocas de chuvas, evaporaram-se. Mesmo as pessoas consideradas mais abastadas, receosas de ficarem bloqueadas e sem comunicação com o litoral, longe de qualquer auxílio, fugiram, abandonando suas casas, animais e fazendas. O sertão virou um deserto.

O governo, totalmente desarticulado, recusou enviar recursos para o interior, forçando desta forma, as pessoas a procurarem o litoral. O êxodo tornou-se geral. Para Fortaleza, Aracati, Sobral, Granja, Camocim e outros povoados, afluíram milhares de pessoas. Em todos esses municípios, a população, de um dia para o outro, estava multiplicada; e como faltasse casas para abrigar tanta gente, ficavam ao relento, debaixo de árvores ou amontoados em sítios estreitos. As consequências não demoraram: doenças, prostituição, vadiagem, saques, e todos os seus efeitos, que se desenrolaram frente às cidades, antes tranquilas, agora em estado de puro desespero.

O ano de 1878 chegou, e a província continuava mergulhada no caos, mas com grandes esperanças que o ano novo trouxesse de volta as chuvas que salvariam o Ceará. De janeiro a junho caíram apenas 503 mm. A última chuva foi em 26 de junho. Depois dessa data, o céu conservou-se sem nuvens, azul e límpido.

Perdidas as esperanças de inverno, o abandono do sertão foi completo; vilas inteiras, lugares antes prósperos, ficaram vazias ou com duas ou três casas habitadas, e estas mesmo porque o governo, já mudado e melhor estruturado para lidar com o problema, envidara todos os esforços para socorrê-las. (Júlio de Albuquerque Barros, foi presidente da província do Ceará, de 08/03/1878 a 02/07/1880.

Fazendas de criação, com 200, 300 e 500 cabeças de gado, ficaram reduzidas a nada. Os fazendeiros que tentaram a retirada do gado para o Piauí, acabaram perdendo para as moléstias, furtos ou extravio. Pelas estradas morreram famílias inteiras de fome e sede, e muitas que conseguiram atingir o litoral, chegaram tão fragilizadas, que caiam agonizantes pelas calçadas e praças da capital e de outras cidades que conseguiam chegar.

A emigração para o Amazonas, Espírito Santo, Rio de Janeiro e São Paulo foram incrementadas, centenas e milhares de cearenses foram apinhados no convés de vapores e navios que demandavam aquelas províncias, sem o mínimo de cuidados e sofrendo toda sorte de privações.

Dos fins de 1878 até meados de 1879, uma violenta epidemia de varíola atingiu proporções nunca vistas. Em mais de um dia o número de vítimas na capital excedeu a 1000 pessoas. Muitos mortos ficaram insepultos, não havia local nem quem realizasse os sepultamentos. Havia então na capital cerca de 180 mil pessoas, 100 mil em Aracati, e na mesma proporção, nas localidades próximas à Fortaleza, como Pacatuba, Arronches, Granja e Camocim.

Havia esperança de que o ano de 1879 viria a por termo a tanto sofrimento, mas foi só mais um ano de terríveis provações. Como pouco ou nada restava no interior, a seca não teve grande repercussão. A atenção se concentrou na capital, nos auxílios do governo, na acomodação dos emigrantes, na busca de soluções.


A população ficara reduzida talvez em um terço; cerca de 100 mil pessoas haviam falecido ou emigrado; o governo gastara 72 mil contos, fora os subsídios da caridade particular. A província ficou arruinada, sua principal atividade econômica, a criação do gado, quase foi extinta; a população ficou dispersa e reduzida; a flora e a fauna desapareceram em grandes áreas; só Fortaleza aumentou a população devido em parte ao fluxo de emigrantes e ao desenvolvimento do comércio.

As esperanças se renovaram com a chegada de 1880. Os dois primeiros meses foram desanimadores, o de março foi pouco chuvoso, em abril choveu bastante. A grande seca terminara.


Fonte: Documentos: Revista do Arquivo Público do Ceará: Ciência e Tecnologia/Arquivo Público do Ceará, v 1 – 2005/Fotos Memorial da Democracia e ANPUR.

sábado, 8 de fevereiro de 2025

Memórias da Praia de Iracema

 

O Coqueiral da Maria Júlia


imagem Diário do Nordeste

O proprietário do sítio era Tancredo de Castro Bezerra, mas era conhecido como “coqueiral da Maria Júlia” porque era ela quem administrava o lugar. Casados, Tancredo e Maria Júlia moraram no sítio com cinco filhos até o final da década de 50; estava localizado entre a atual avenida Historiador Raimundo Girão e as ruas, ainda sem pavimentação, Dragão do Mar, Joaquim Alves e Gonçalves Ledo.

Com uma área de aproximadamente dois hectares, o sítio tinha um casarão e uma grande plantação do coqueiro gigante, tipo cocos nucifera linnaeus, uma espécie de coqueiro que atinge até 30 metros de altura, e podia ser visto de longe. A produção artesanal de coco seco, sem os tratos culturais necessários e dependente das águas de chuva, era destinada a comercialização, e tinha grande aceitação.

A área não possuía muros nem cercas, como também as demais propriedades locais. Como não realizavam capinas, os coqueiros eram intercalados por grande variedade de plantas que favorecia a existência de várias espécies de animais, possibilitando uma fauna diferenciada.

No inverno, parte do coqueiral ficava alagada, em virtude da superficialidade do lençol freático. No verão, quando o terreno estava seco, a meninada capinava o mato para fazer um campo de futebol improvisado, embora intercalado de coqueiros. No segundo semestre do ano, as alunas do Colégio das Doroteias ministravam aulas de catecismo às crianças, todas as quintas-feiras. Depois as professoras emprestavam bolas de futebol para recreação. No sítio também aconteciam quermesses.

Além da atividade econômica, o sítio da Maria Júlia, cumpriu uma importante função social para a Praia de Iracema dos anos 50.

 

O Poço da Maria Félix


postal dos anos 30

O poço da Maria Félix era uma escavação no sítio de Almir Freitas, localizado na avenida Historiador Raimundo Girão, e as ruas Dragão do Mar, Gonçalves Ledo e dos Ararius. A parte baixa do sítio tinha o lençol freático muito superficial, que favorecia a exploração de poços e cacimbas.  

Maria Félix era moradora do sítio do Almir. Ela escavou um poço próximo de sua casa, na confluência das ruas Dragão do Mar e Gonçalves Ledo. O poço era de forma circular, seis metros de diâmetro e metro e meio de profundidade. A finalidade era obtenção de água para consumo, regar suas plantas frutíferas e auferir renda lavando roupas das famílias da vizinhança. Maria dedicava boa parte do seu tempo a cuidar da casa, das plantas, da água do poço e não gostava de invasores em seus domínios. 

Sabendo disso, muitos jovens ao retornarem do banho de mar, aproveitavam para mergulhar na fonte da Maria Félix, às escondidas, enquanto ela estava dento de casa. Mas o barulho produzido contra superfície da água, alertava a lavadeira para o fato de haver intrusos poluindo a água, turvando sua transparência, já que a lama do fundo subia após o contato com os pés dos nadadores.

Imediatamente Maria pegava um porrete e corria para pegar os meninos que sempre eram mais rápidos do que ela. Outra forma de importunar a lavadeira era através da captura de jia no seu poço, com utilização de linha de pesca, anzol e iscas. Além disso a moradora vivia preocupada com os constantes furtos de frutas que ocorriam no seu terreno.

O sítio, o poço da Maria Félix, e as árres frutíferas, sumiram no tempo, junto com as reformas e a modernidade da Praia de Iracema. 

 

 A Piscininha

imagem do livro Fortaleza 27 graus

Até os anos 90 existia na Praia de Iracema, uma piscininha que se formava duas vezes por dia, sempre na maré alta. Tinha o formato de uma pequena lagoa e surgiu quando construíram o quebra-mar de pedra, para conter o avanço do mar sobre a zona residencial da faixa litorânea.

Praticamente todos os anos, nos primeiros meses, a maré alta invadia a faixa de areia cada vez com mais intensidade, e chegava até a rua dos Tabajaras, destruindo as edificações que estavam pelo caminho.

A partir da construção do quebra-mar, a onda perdeu a força destruidora de antigamente. A localização da piscininha correspondia às imediações do início da rua dos Tremembés, próximo ao Estoril. Era o local ideal para quem desejava aprender a nadar, em razão de suas ondas de pequena intensidade, oriundas da maré alta, mas que ficavam amortecidas ao passarem no quebra-mar. Na maré baixa o reservatório perdia a totalidade de suas águas. A profundidade era variável, sendo mais fundo próximo às pedras.

Em 2009 a Prefeitura de Fortaleza promoveu mais uma obra de engorda que aumentou a faixa de praia em 80 metros. O processo de requalificação da área para ampliação do calçadão, riscou a piscininha do cenário, que acabou sendo aterrada. Com isso, as boas memórias de muita gente foram aterradas junto com a piscininha.    

 

Extraído do livro A Praia de Iracema dos anos 50/Jaildon Correia Barbosa/Fortaleza: Premius, 2010/informações adicionais do G1.

terça-feira, 21 de janeiro de 2025

Memórias do Mucuripe

 

A Criação do Cemitério 


É de bom tamanho/ nem largo nem fundo/ 
é a parte que te cabe/ neste latifúndio 
(João Cabral de Melo Neto-Chico Buarque)


Seu Arcanjo morava no Mucuripe. Pobre e portador de hanseníase, não vivia confinado nem afastado da convivência de seus amigos, como era recomendado na época. No Mucuripe, ninguém tinha medo da doença de “seu” Arcanjo, e muitos vizinhos até davam uma ajuda nos serviços da casa dele.

Seu Arcanjo, sentado em frente ao seu casebre, vendo passar quase todo dia, pessoas com uma estaca atravessada nos ombros, carregando defunto numa rede, para enterrar no São João Batista, resolveu que aquela situação não podia continuar. E teve a ideia de lutar por um cemitério próprio para o Mucuripe. O ano era 1916, depois da seca de 1915, que deixou um rastro de miséria, fome, doença e morte.

Procurou o “coronel” Jesuíno, o homem mais importante do lugar, nome de rua importante do bairro atualmente, dono de extensos terrenos naquela região. Manuel Jesuíno também tinha bom coração e doou a terra para o cemitério. Mas não havia dinheiro para cercar o terreno. Então, seu Arcanjo pensou numa maneira de arrumar os recursos, e inventou a “associação do vintém”. Pescadores, labirinteiras, boleiras, cuscuzeiras, chegaram juntos na campanha do vintém, e arrecadaram o bastante para comprar os arames. O coronel autorizou a retirada das estacas das suas matas, que se estendiam dum lado e do outro do Maceió, subindo até a região do Cocó.

Com estaca e arame, o resto foi fácil. Logo o terreno estava todo cercado e o cemitério criado. O melão de São Caetano e a salsa cresceram naturalmente, formaram uma cerca viva em torno do terreno e impediram a entrada de animais. O cemitério concebido por “seu” Arcanjo, o hanseniano, implantado em terras de Manuel Jesuíno, o latifundiário, e cercado pelo povo com os vinténs de cada um, localizado em plena Avenida da Abolição, olhando para a matriz de Nossa Senhora da Saúde, dizem, está superlotado.

O cemitério do Mucuripe, denominado São Vicente de Paula (o correto seria São Vicente de Paulo, nascido Vincent de Paul, sacerdote francês), é o segundo cemitério público criado em Fortaleza e é também o menor da cidade, com menos de 600 jazigos. O amontoado de jazigos é tão grande que as covas ficam coladas até o portão de entrada. De acordo com a prefeitura, a falta de recuo em relação aos imóveis do entorno vem desde a construção do espaço.


As Meninas da Rua da Frente


Boneca noturna que gosta da lua/Que é fã das estrelas/ e adora o luar/Que sai pela noite e amanhece na rua/ E há muito não sabe o que é luz solar. 
(Adelino Moreira-Nelson Gonçalves)

casas na Praia do Meireles - rua da Frente anos 40 imagem IBGE (colorizado por computador)

A Rua da Frente era como era chamado um trecho da atual Avenida Beira Mar. E era uma babel, uma misturada de gente, de famílias tradicionais, netos e filhos de jangadeiros pobres, e muitas, numerosas prostitutas. E eram estas que animavam a vida daquela praia. As “meninas” faziam a diferença, viviam aquela vida desregrada, trocavam o dia pela noite, bebendo, amando, brigando por causa de homens, geralmente pescadores e marinheiros, que aportavam no Mucuripe, vindo de mares desconhecidos.

orla marítima do Mucuripe anos 40 - imagem IBGE

Da mesma forma que o curral do antigo Arraial Moura Brasil, o Mucuripe foi durante muitos anos, uma animada zona de prostituição, onde o vicio e o pecado caminhavam ao lado do trabalho e da solidariedade. Os moradores da mesma área testemunhavam que essas mulheres, no que pese a vida libertina que levavam, eram generosas, prestativas e tinham espírito solidário.

Quando chegou a urbanização, invocação do progresso, uma das primeiras providências foi pensar numa maneira de como acabar com a Rua da Frente a fim de implantar a moderna Avenida Beira Mar. E como transferir aquela gente, muito com raízes fincadas desde os primórdios da cidade.

De pronto apareceu uma proposta. As mulheres iriam para um local, as famílias para outro. Coube às primeiras a zona do farol e para os jangadeiros e outros moradores, a Praia do Futuro e adjacências. A mudança foi monitorada pelo então vigário padre José Nilson e coordenada por uma das “meninas” que negociou com representantes do prefeito Cordeiro Neto. A prefeitura pagou indenizações e providenciou a construção de casas para moradia. Nada menos de 1.332 mulheres foram conduzidas da Rua da Frente para o Mucuripe.

região do farol antes da mudança - 1935 - imagem Arquivo Nirez 


Depois da mudança - anos 60 (imagem Anuário do Ceará

A transferência foi aceita pela maioria até com certa satisfação. Foram adotadas diversas iniciativas para assegurar as mínimas condições de moradia para o local em que as mulheres seriam acomodadas. Assim, foram introduzidos melhoramentos na área, como água, luz, e  transporte.

Surgia assim, ampliando os limites do Mucuripe, a zona do Farol, que a prefeitura batizou depois de Vicente Pinzon, numa homenagem ao primeiro estrangeiro que andou pelo Mucuripe. Da mesma forma, os outros moradores foram transplantados para diferentes pontos, em especial para a Praia do Futuro, em casas construídas pela prefeitura.  

 

Extraído do livro “Mucuripe de Pinzon ao Padre Nilson/Blanchard Girão/Fortaleza/Edições Fundação Demócrito Rocha/1998/informações adicionais dos Jornais Diário do Nordeste e o Povo/Publicação Fortaleza em Fotos

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quarta-feira, 15 de janeiro de 2025

As Igrejas Católicas nos bairros

 

A igrejas católicas mais antigas da capital estão em sua maioria localizadas no Centro, não por acaso, a parte mais antiga da cidade. Mas, encontramos em diversos bairros, igrejas tão antigas quanto as do Centro, construídas com recursos dos fiéis, seguidores da fé católica, que não economizaram nem recursos nem trabalho para a concretização de seus objetivos, testemunhos de sua crença na igreja de Roma.

Igreja de Bom Jesus dos Aflitos – Parangaba  (1664)


A Igreja de Bom Jesus dos Aflitos foi sendo estabelecida a partir de 1664, durante o processo de instalação dos aldeamentos jesuítas e da ocupação indígena no Ceará, quando os padres deslocaram os índios Potiguaras, que se encontravam na região do rio Ceará, para Porangaba, formando o aldeamento homônimo.

Igreja de Nossa Senhora da Conceição – Praia de Iracema (1841)


Em 26 de outubro de 1839, Antônio Joaquim Batista de Castro, morador no Outeiro da Prainha, requereu uma licença à Câmara Municipal, para que ele e outras pessoas pudessem construir uma capela de invocação a Nossa senhora da Conceição.  A licença foi concedida no dia 30 do mesmo mês. Os fiéis resolveram então, organizar uma irmandade e escolher o lugar onde seria edificado o templo. Concordaram que o local seria sobre a colina fronteira à praia, ficando a capela de frente para o oriente. A igreja foi inaugurada no dia 8 de dezembro de 1841.

Igreja de Nossa Senhora da Conceição – Messejana (1873)

A Igreja de N. S. da Conceição, fundada em 1871, instituída canonicamente em 1873, conforme provisão episcopal de D. Luís Antônio dos Santos, primeiro bispo do Ceará. A igreja foi construída inicialmente pelos jesuítas, que estabeleceram um aldeamento e no local ergueram uma capela, que serviu de base para a igreja atual. Localizada na Rua Joaquim Bezerra, em Messejana.

Igreja dos Remédios – Benfica (1910)


A Igreja de N. S. dos Remédios, uma das mais antigas da cidade, foi inaugurada no dia 15 de agosto de 1910, nos arrabaldes do Benfica.  A iniciativa de sua construção partiu de João Antônio do Amaral, que desejava construir uma capela em terreno de sua propriedade, no Benfica, com a denominação de N.S. dos Remédios, de quem era devoto, e por ser a padroeira da Freguesia em que nascera, na ilha de S. Miguel, uma das Açores.

Igreja de Nossa Senhora dos Navegantes – Jacarecanga (1913)

imagem: site da Arquidiocese de Fortaleza

A capela foi mandada construir pelo abolicionista e empresário Alfredo Salgado, com benção e inauguração no dia 06 de abril de 1913, com missa rezada pelo Bispo Dom Xisto Albano. Com o tempo a antiga capela desapareceu dando lugar a igreja atual. 

Igreja Jesus Maria José – Antônio Bezerra (1915)


Fundada em 1915, a partir de uma capela privada construída em terras de Teófilo Rufino Bezerra de Menezes. O terreno onde seriam construídas a Igreja matriz, a pracinha, a casa paroquial e a quadra foi doado pelo Presidente, Sr. Antônio Bezerra de Menezes, mediante entrega do documento de doação à Cúria Metropolitana.

Igreja de São Gerardo Magela – São Gerardo (1925)

imagem: Facebook da Paróquia de São Gerardo 

A primeira capela dedicada a São Gerardo nasceu da iniciativa de um grupo de catequistas que conseguiram a doação de um terreno localizado na Avenida Bezerra de Menezes, por parte do casal Gaudioso e Donatila de Carvalho, no ano de 1924. Obtido o terreno, passaram a trabalhar para arrecadar recursos para a construção da capela, cuja pedra fundamental foi lançada no dia 25 de agosto do mesmo ano. Em 18 de outubro de 1925 o templo foi inaugurado e recebeu a primeira benção. No dia 19 de julho de 1934, a pequena capela, reformada e ampliada, foi elevada ao status de Paróquia de São Gerardo Magela pelo Arcebispo Dom Manoel da Silva Gomes.

Igreja do Cristo Rei – Aldeota (1930)

imagem: site da Paróquia do Cristo Rei

Construída entre 1928 e 1930, com plena participação da comunidade pastoral, que se engajou física e financeiramente na construção do templo. A princípio o a igreja teria como padroeiro São Luiz Gonzaga, mas a denominação foi mudada para Cristo Rei em face da da Encíclica de Cristo Rei, publicada em 1928, pelo Papa Pio XI. Com exceção da imagem do Cristo Rei que está no altar principal, as demais imagens dos santos são de origem portuguesa e especialmente a imagem de Nossa Senhora de Fátima, confeccionada pelo arquiteto português Thetin, na década de 1920, a partir da descrição dos pastores que viram a aparição da virgem.

Igreja da Piedade – Joaquim Távora (1930)

imagem: Arquidiocese de Fortaleza

Nos primórdios do século XX, havia no local uma capela sob sua invocação. No dia 08 de julho de 1928, a capelinha desabou, sendo construída em seu lugar a Igreja de Nossa Senhora da Piedade, com a ajuda de paroquianos e do arcebispo de Fortaleza Dom Manuel da Silva Gomes. Em 1934 a Igreja foi doada pelo arcebispo aos padres Salesianos. A imagem da padroeira que encima o altar-mor veio da Espanha em 1953, doada pela família Gentil Barreira.

Igreja Nossa Senhora das Dores – Farias Brito (Otávio Bonfim) (1932)


Inaugurada em 1932, por meio de doações.  A construção da Igreja das Dores e do convento de São Francisco muito deve aos esforços de Dom Manoel da Silva Gomes, que se empenhou na vinda dos franciscanos menores para Fortaleza, inclusive fazendo a doação de um terreno para a construção da igreja e do convento dos franciscanos, anexo. A Igreja N.Sra. das Dores sucedeu à antiga capela de São Sebastião levantada na praça a que deu o nome, na antiga Estrada do Gado, hoje rua Justiniano de Serpa.

Igreja Nossa Senhora da Saúde – Mucuripe (1934)


A Igreja Nossa Senhora da Saúde foi fundada pela própria comunidade de pescadores do Mucuripe, inaugurada em 1934. O padre José Nilson influenciou a vida religiosa do bairro por causa da interação com os moradores, e lutou com eles pelas melhorias do local. Contam que, antes da chegada do antigo pároco, a comunidade do Mucuripe era esquecida e nenhum religioso ficava mais de dois anos no comando da paróquia. Em maio de 1950, padre Zé Nilson foi enviado ao Mucuripe por Dom Antônio de Almeida Lustosa, com a previsão de ficar somente dois anos, como seus antecessores. No entanto, o religioso acabou ficando por 50 anos. A Imagem de N. Senhora da Saúde, na praça da matriz, é um trabalho do escultor Deoclécio Diniz, conhecido por "mestre Bibi" ou "Bibi Santeiro".

Igreja de Nossa Senhora de Nazaré – Montese (1948)


Inaugurada em 1948, em terreno doado pelo casal Sindulfo Serafim Ferreira Chaves e sua mulher, Dulcinéia Gondim Chaves, donos de uma extensa propriedade denominada Sitio Bom Futuro, de onde o terreno foi apartado.  A arquitetura do templo reproduz a planta de uma igreja da Holanda.

Santuário Nossa Senhora de Fátima – Fátima (1953)

imagem: site do Santuário de Fátima/Paulo Vasconcelos

O templo foi construído no ponto mais alto de uma elevação de terra, onde antes havia uma extensa vegetação. Foi inaugurada em 1953, com variadas contribuições de fiéis, inclusive das classes mais abastadas. A ideia de construção da igreja está ligada a visita da imagem peregrina de Nossa Senhora de Fátima que percorreu vários países da Europa e alguns Estados do Brasil, e iniciou uma visita a Fortaleza em 9 de outubro de 1952.

Igreja de São João Batista – Tauape (1957)

imagem: Arquidiocese de Fortaleza

Até o dia 23 de dezembro de 1936, a Igreja de São João Batista era a sede da Matriz Santa Terezinha. A construção da Igreja Matriz de São João Batista foi iniciada em 09 de outubro de 1957, e segundo depoimento de moradores antigos, demorou quase 10 anos para ser concluída. O templo foi construído com o esforço dos padres e ajuda do povo. A antiga igrejinha hoje abriga o salão paroquial.

 

Igreja da Santíssima Trindade – bairro José Walter – 1970

Igreja Nossa Senhora do Perpétuo Socorro – bairro Mondubim – 1982

Igreja de São Francisco Xavier – Conjunto Esperança – 2015

Igreja Jesus Maria |José – bairro Vila União – 1968

Igreja Nossa Senhora das Graças – bairro Pirambu – 1958

Igreja de São Vicente de Paulo – bairro Dionísio Torres – 1971

Igreja de São Raimundo Nonato – bairro Rodolfo Teófilo – 1948

Igreja de Nossa Senhora da Glória – Cidade dos Funcionários – 1968

Igreja de Santa Luzia – bairro Meireles – 1957

Igreja de Nossa Senhora de Lourdes – bairro Lourdes – 2000

Igreja São Francisco de Assis – bairro Dias Macedo – anos 60

Igreja de Santo Afonso Ligório (Igreja Redonda) – Parquelândia – 1978

Igreja de São José – Papicu – 2012

Igreja do Divino Espírito Santo – bairro Cidade 2000 – 1975

Igreja Nossa Senhora da Paz – bairro Aldeota – 1961

Igreja de Santo Antônio de Pádua – bairro Maraponga – 2006


Fontes: 

As pouco lembradas Igrejas de Fortaleza/Eduardo Fontes/Fortaleza, Secretaria de Cultura e Desporto/1983/

https://www.fwa.org.br/livros/datas-e-factos-para-a-historia-do-ceara-tomo-iii.pdf

https://bairrosjtauape.blogspot.com/

https://www.arquidiocesedefortaleza.org.br/

Jornais O Povo, Diário do Nordeste 

 

segunda-feira, 6 de janeiro de 2025

Tristão Gonçalves, o Homem e Seu Ideal

 


Tristão Gonçalves Pereira de Alencar, mais tarde Alencar Araripe, nasceu no Sitio Salamanca, atual cidade de Barbalha, então distrito do Crato, filho do português José Gonçalves dos Santos e da pernambucana de Exu, Bárbara Pereira de Alencar. Começou sua atuação política na região do Cariri, ainda em 1817, quando seu irmão, José Martiniano de Alencar, destacava-se como líder republicano.

Alencar chegou ao Crato, vindo de Pernambuco a 30 de abril de 1817, e a 3 de maio proclamava o triunfo republicano, movimento real, mas efêmero, devido a vigilância exercida na Província pelo então governador Sampaio e o poder repressivo de José Pereira Filgueiras, figura saliente do monarquismo do Cariri, que venceram os ideais revolucionários dos republicanos.

Presos na cadeia pública do Crato, José Martiniano de Alencar, Dona Bárbara de Alencar, Tristão Gonçalves e outros integrantes do movimento, foram transferidos para presídios em Fortaleza, viajando por mais de 500 quilômetros de distância entre as duas cidades, no lombo de cavalos, com os braços acorrentados e comida racionada. Foram confinados em cubículos individuais, no Quartel de 1ª. Linha (atual 10ª. Região Militar).

Depois de dois meses de cárcere na 10ª. Região, foram transferidos para uma prisão na Bahia, onde seriam fuzilados, já que haviam sido condenados por atos revolucionários contra o Imperador. No entanto, foram beneficiados pelo indulto concedido após os anos 20, devido à mudança estrutural do Brasil, com a sua independência e o regime constitucionalista.

Nessa nova fase do Brasil, os antigos revolucionários de 1817 voltaram a formar alianças, na tentativa de implantar na província, novas regras políticas, e Tristão Gonçalves formando aliança com José Pereira Filgueiras, tornou-se figura de proa nos destinos políticos da província.

Chamado a combater forças rebeldes na vizinha província do Piauí, Tristão Gonçalves só retornou ao Ceará em 1824. Encontrou a província mergulhada no caos, sob a gestão de um governo provisório, com lutas políticas internas, assassinatos entre rivais, indisciplina militar e risco de uma guerra civil. Houve então o governo meteórico do presidente Pedro José da Costa Barros, sua deposição logo em seguida e a ascensão de Tristão Gonçalves ao governo, em data de 29 de abril de 1824.

O governo de Tristão Gonçalves teve duas fases distintas, uma vinculada ao regime imperial, com subordinação política ao imperador e outra por adesão ao sistema governativo de Pernambuco instalando-se no Ceará a chamada “República do Equador”.

Durante a primeira fase, tudo caminhou dentro da normalidade. Tristão governava a província de forma equilibrada, cumprindo as normas constitucionais em vigor, porém, de forma clandestina participava de conspirações, mantendo estreito relacionamento com antigos conspiradores pernambucanos.

Com a eclosão do movimento revolucionário, envolvendo as províncias do Rio Grande do Norte e Paraíba, tendo Pernambuco na liderança, Tristão declarou apoio ao movimento republicano. Quando, no entanto, começaram a surgir informações sobre o fracasso da revolta, as forças de adesão que estavam compromissadas e fiéis ao novo sistema, trataram de desertar, deixando as lideranças sozinhas.

A participação de Tristão Gonçalves ficou declarada quando concebeu a ideia de enviar ao Recife a comitiva de apoio ao recém-instalado sistema republicano. A comitiva era composta pelos deputados republicanos José Martiniano de Alencar, padre Manuel Pacheco Pimentel, José Ferreira Lima Sucupira, Francisco Manuel Pereira Ibiapina e João da Costa Alecrim.  Em outra projeção, por determinação de Tristão Gonçalves, seguiu com destino ao Recife um comando militar sob o comando do sargento-mor Luiz Rodrigues Chaves, este comando, no entanto, não ultrapassou os limites do Rio Grande do Norte, ao saber dos frustrados destinos republicanos, o sargento mor tratou de salvar a própria pele, deixando-se aprisionar, delatando os companheiros.

Ao tomar conhecimento da traição, e da informação de que Rodrigo Chaves montara seu quartel-general na Vila de Aracati, Tristão resolveu ir pessoalmente dar combate ao desertor e impedir que, por essa rota tivesse acesso o inimigo. Deixou, então, o governo com o 1° vogal José Felix de Azevedo e Sá e partiu acompanhado das tropas que lhe restaram.

Andou por várias cidades da região, e quando o cerco apertou, com vários comandos no seu encalço, resolveu liberar suas tropas, partindo quase sozinho e sem chances de vencer. Acampou na fazenda Santa Rosa, às margens do Jaguaribe, no local denominado Olho d’água e aguardou o desenrolar dos acontecimentos.

Na manhã do dia 31 de outubro de 1824, enquanto descansava ao pé de uma árvore, Tristão Gonçalves foi morto a tiros de carabina, desferidos por Venceslau Alves de Almeida, integrante das forças legalistas e segundo dizem, defensor de seus próprios interesses. Matara por duzentos mil reis, prometido pelo sargento-mor Manuel Pereira da Cunha, que fora encarregado de exterminá-lo.

Monumento em memória de Tristão Gonçalves - desaparecido com a inundação da antiga Jaguaribara (imagem IBGE) 

Seu corpo foi deixado no local totalmente mutilado. Mais tarde, foi sepultado na Capela de Santa Rosa. No local da morte foi inaugurada uma lápide comemorativa, mandada construir pelo Instituto Histórico e Geográfico do Ceará.


Fontes: Pena de Morte/R. Batista Aragão/Barraca do Escritor Cearense/Fortaleza, 1991/Caminhando por Fortaleza/Francisco Benedito/Destak-Gráfica e Editora/Fortaleza, 1999/Publicação Fortaleza em Fotos