Nos anos 50 a Praia de Iracema já era reconhecida como área de lazer, com inúmeros restaurantes, bares, cabarés, boates e outros estabelecimentos ligados à prestação de serviços e à diversão. E os estabelecimentos se destinavam não só aos boêmios e noctívagos que enchiam as ruas do bairro, mas também aos frequentadores das praias e clubes das imediações.
Tony's Bar vizinho ao Iracema Plaza Hotel (foto Aba-Film/Arquivo Nirez) |
Um desses estabelecimentos, bastante
conceituado e bem frequentado era o Tony’s Bar, que também era restaurante e
sorveteria. O proprietário era Antônio Montenegro Figueiredo, conhecido por
Figueiredão, por ser alto e gordo. O dono do Tony’s era auxiliado por seu filho
Marco Polo na gerência do lugar e costumava dirigir seu próprio carro, um
modelo importado bastante antigo, que sequer tinha buzina. O Figueiredão
afastava os pedestres que estavam no meio da rua, batendo na porta do carro,
com a mão do lado de fora. Ninguém ignorava. Aos domingos o Tony’s tinha uma
freguesia cativa para saborear o caldo que tirava a ressaca da farra da noite
anterior.
Na década de 60 muitos cantores se apresentaram no Tony’s, que também funcionava como casa de shows e trouxe grandes atrações da época para a Praia de Iracema: Cauby Peixoto, Orlando Dias, Núbia Lafayette. O palco ficava do lado direito, vizinho ao Iracema PlazaHotel. Nas noites de shows o povo lotava a calçada do hotel em razão da proximidade com o palco do Tony’s. Memorável foi um show contratado pelo Tony’s em 1964, onde a atração era ninguém menos do que Roberto Carlos, então no auge do sucesso e do movimento denominado Jovem Guarda, do qual Roberto era o Rei. A casa ficou lotada rapidamente e não comportava mais ninguém. Então formou-se uma multidão nas imediações, que assistiu ao show em pé, da calçada do hotel e da avenida em frente.
Mas o Tony’s ficou conhecido por causa de um
trágico assassinato ocorrido em suas dependências no ano de 1959. A vítima foi
um jovem chamado Vicente de Castro Neto, conhecido frequentador da área. Na noite
de sábado, Vicente de Castro esteve na boate Guarani, na Rua Barão do Rio
Branco acompanhado de uma namorada, uma bonita aeromoça da companhia aérea
Cruzeiro do Sul e mais um amigo gerente da Brahma. A boate ficava nos altos de
um sobrado e era considerada um estabelecimento de luxo, com orquestra e
mulheres bem-vestidas. Como todas as mesas estavam ocupadas, o trio ficou em
pé, aguardando que surgisse uma mesa.
Palacete Guarany, nos altos, onde funcionou a boate Guarany |
De repente a namorada assustou-se e reclamou
que um homem lhe aplicara um beliscão nas nádegas. Vicente de Castro,
temperamental e com fama de valentão, partiu para cima do atrevido que
insultara a namorada, e disse “respeite mulher de homem”, em seguida
aplicou-lhe um violento soco no rosto.
O homem que apanhou na cara se chamava Joaquim Romero de Frias, funcionário do Banco do Nordeste. No dia seguinte, o bancário foi esperar Vicente de Castro no Tony’s, porque sabia que era costume dele ir lá aos domingos. As 9 horas Vicente chegou em companhia de sua namorada de Fortaleza, estacionou sua camionete e foi comprar Coca-Cola no Tony’s. Ele subiu as escadas e se dirigiu ao balcão. Quando se virou para sair recebeu vários disparos com arma de fogo e já caiu sangrando.
Os tiros foram desferidos pelo bancário Joaquim Frias. Um amigo de Vicente de Castro que presenciou o incidente, colocou o ferido em seu carro e levou-o para o SOS que ficava na Praça do Coração de Jesus. Mas ele já chegou morto. O crime alcançaria grande repercussão, ocasionando um dos julgamentos mais memoráveis de Fortaleza. Frias foi absolvido no primeiro júri – a defesa alegara legítima defesa – mas a promotoria apelou e no segundo julgamento o réu foi condenado. Cumpriu pena na velha cadeia pública da Rua Dr. João Moreira, que hoje abriga a Encetur.
O Tony’s Bar continuou em atividade por toda a
década de 60; tempos depois surgiu no local a Boate Veleiro.
No bairro Cais do Porto, na região da Praia do
Futuro tem uma avenida chamada Vicente de Castro, mas não identificamos nenhuma
relação de parentesco com a vítima de assassinato.
Publicação Fortaleza em Fotos/extraído dos
livros A Praia de Iracema dos Anos 50/Jaildon Correia Barbosa/Sábado Estação de
Viver/Juarez Leitão/blog Fortaleza em Fotos.com.br Fotos do Arquivo Nirez