sexta-feira, 29 de novembro de 2013

A Base Americana em Fortaleza


Com a entrada do Brasil no confronto mundial, os Estados Unidos instalaram bases em Belém, Natal, Fernando de Noronha e Fortaleza – a costa Norte-Nordeste constituía-se ponto estratégico de defesa para os Aliados, pela proximidade da África, já ocupada pelos Alemães, e por possibilitar a patrulha do Oceano Atlântico. 


O B-17 chamado de Fortaleza Voadora foi um avião bombardeiro quadrimotor construído pela Boeing, durante a Segunda Guerra Mundial, para a Força Aérea dos Estados Unidos. Era uma aeronave potente, de grande raio de ação, capaz de provocar grande destruição em alvos inimigos e com grande capacidade de autodefesa.  
Quando a pista do Pici ainda estava em  fase final de construção, foi prematuramente inaugurada por uma aeronave desse tipo, que precisou pousar por se encontrar perdida em relação a sua rota original. O sobrevoou deste avião de grande porte  causou pânico em Fortaleza (foto wikipédia)

No início de 1943, os norte-americanos iniciaram a construção de sua base na capital cearense. Na então distante área onde hoje se encontra a bairro do Pici, estabeleceram seu Posto de Comando, erguendo um aeroporto no Alto da Balança, conhecido como Cocorote (denominação que vem da expressão inglesa The Coco Route – a rota do Rio Cocó). Era grande o movimento de pousos e decolagens de aviões e dirigíveis (blimps), planando nos céus da capital, patrulhando o litoral contra submarinos alemães. 

 Os Blimps sobrevoavam o litoral cearense tentando localizar e identificar submarinos alemães (postal da época)

Em pouco tempo os soldados americanos passaram a manter contato com a população, influenciando, logicamente, os costumes locais. Curiosamente, uma das formas de aproximação foi através do cigarro – num inglês arranhado, populares pediam cigarros aos gringos e iniciavam uma amizade. Ficaram famosas as marcas de cigarros como Camel, Chesterfield, Lucky-Strike e Pall-Mall em Fortaleza. 

A cidade ganhou uma agitada vida social no entorno da Praça do Ferreira, para onde convergiam os ônibus, os bondes e os carros de aluguel, em cujo quadrilátero encontravam-se os principais cafés, cinemas, restaurantes, farmácias, bares, lojas, garagens, sorveterias, etc. Ali as pessoas iam realizar compras, assistir filmes, falar de futebol, política ou amenidades nos bancos da praça.
E foi para lá, naturalmente, que se dirigiram os norte-americanos, com suas fardas cáqui e branco, se constituíam numa novidade impossível de não ser notada. Altos, de porte atlético, pele, cabelos e olhos claros, os gringos gastavam dólares, paqueravam as mulheres e provocavam ciúmes entre os nativos. 

 a Praça do Ferreira que os americanos conheceram nos anos 40 (foto do Arquivo Nirez)

Apesar do discurso das autoridades e da imprensa da época propagar uma relação amistosa entre fortalezenses e americanos, a convivência não foi assim tão harmoniosa. Há vários relatos de americanos atingindo a boa moralidade local, a exemplo de assédio a mulheres, bebedeiras, atentados ao pudor (soldados chegaram a ser detidos após tomarem banho nus na praia de Iracema), brigas generalizadas em prostibulos, etc. Muitas vezes os nativos reclamavam que, por força do dólar, os americanos eram mais bem atendidos nos estabelecimentos comerciais. Segundo estatísticas da época, 50 mil soldados e técnicos norte-americanos teriam transitado por Fortaleza. A base seria desativada em 1946.

Os Acidentes

Há relatos de alguns acidentes aéreos, todos envolvendo aviões B-24, que tinham Fortaleza como ponto de partida ou de chegada. Esses fatos não foram divulgados pela imprensa. O primeiro deles ocorreu no dia 22 de janeiro de 1944, quando o B-24 comandado pelo segundo tenente Henry A. Daum,  se chocou com uma montanha a 25 milhas a sudoeste de Fortaleza, por volta de 13 horas, em meio a muita chuva. Todos os seis ocupantes da aeronave faleceram.  


 O Consolidated B-24 Liberator  era o bombardeiro americano de maior produção que qualquer outro avião americano durante a Segunda Guerra Mundial  e foi usado pela maioria dos Aliados durante a guerra. Esse modelo de avião este envolvido nos três acidentes relatados. (foto wikipédia) 

Limitado nas informações e pouco detalhista, o relatório da destruição da B-24 mostra que, provavelmente o sinistro ocorreu nas serras existentes entre as cidades de Caucaia e São Gonçalo do Amarante, facilmente visíveis para quem se desloca de carro pela BR-222.
O segundo acidente ocorreu na madrugada de 8 de fevereiro de 1944, quando o B-24H, pertencente a Esquadrilha 758, sob o comandado do segundo tenente Daniel B. MacMillin, partiu em direção a Dacar, capital do atual Senegal.
Naquela época, segundo a documentação, cada avião que decolava de Fortaleza era obrigado a enviar uma mensagem em código, em períodos de tempo pré-determinado, para que soubessem que estavam em voo e qual era a sua posição. Nas três primeiras horas a mensagem chegou, depois nada mais. O B-24 e seus dez tripulantes desapareceram. Os documentos apontam que durante dez dias foram realizadas missões de busca visual, mas nunca se soube o que ocorreu com esta aeronave, ou com a sua tripulação.


Funeral dos militares americanos na Base Aérea do Pici. Os corpos foram enterrados em Fortaleza e transladados para os Estados Unidos ao final do conflito.
 (fotos do livro História da Energia no Ceará)

O terceiro e mais documentado, ocorreu  por volta da meia noite e cinquenta do dia 28 de fevereiro de 1944, quando o B-24H, comandado pelo segundo tenente Willian M. Brock Jr., decolou em direção a Dacar, mas devido a problemas em um dos motores, fez uma volta para aterrissar e caiu.
Verificado o número do avião com o registro de partida, foi descoberto que aquele B-24 foi o último a sair da base naquela noite e o acidente ocorreu três minutos após a decolagem.  No local já se encontravam viaturas e membros do Corpo de bombeiros de Fortaleza,  para manter o fogo sob controle. Dez tripulantes perderam a vida.  

A influência yanque
               
Se a influência cultural do american way of life já se fazia sentir no Ceará desde os anos 1920 em oposição ao estilo Belle Epoque, foi com e após a 2ª. Guerra Mundial que o processo intensificou-se. Nisso desempenhou um papel preponderante o cinema hollywoodiano no país: astros e estrelas verdadeiros deuses de uma nova mitologia, transmitiam ao povo brasileiro novos valores, novos hábitos, e comportamentos, fosse no modo de vestir, cortar os cabelos, comer, beber e no relacionamento entre pessoas.  

 Praça do Ferreira, anos 60: slacks, meias de nylon, copos de plástico e Coca-Cola (foto do arquivo Nirez)

Foi inspirado no modo de vestir dos americanos, que os cearenses  passaram a usar silaque, uma camisa de tecido leve, própria para o clima quente – ate então predominavam os paletós de linho branco irlandês ou de casemira inglesa – aumentaram o interesse pela língua inglesa, quando surgiram vários cursos de inglês na cidade,  e substituíram o vidro por objetos de plástico.
Outro exemplo das mudanças de costumes foi a diminuição do preconceito das elites para a popular cachaça, vista como bebida de desclassificados. A polícia criava restrições à venda de aguardente nas bodegas, não permitindo a comercialização depois das 18 horas e nem  periodo de carnaval. 

 casamata construída no Pici pelos mericanos, espécie de abrigo subterrâneo para instalação de bombas e outros equipamentos bélicos. A construção resistiu ao tempo, mas não é mais subterrânea e hoje abriga uma familia. (foto do Diário do Nordeste)
 
Os rapazes americanos, porém, quando iam ao centro de Fortaleza, especialmente aos cafés da Praça do Ferreira, em busca de “bebida forte”, ao não encontrarem uísque, bebiam cachaça misturada com Coca-Cola. As elites locais logo aderiram a moda, bebendo aberta e socialmente, eliminando o preconceito contra a cachaça, e consumindo a Coca-Cola, não por acaso, um dos símbolos do capitalismo, vindo da terra dos valorosos combatentes.


pesquisa:
História do Ceará, de Airton de Farias
História da Energia no Ceará, de Ary Bezerra Leite
Tok de História, de Rostand Medeiros - disponível em < http://tokdehistoria.wordpress.com>

     

terça-feira, 26 de novembro de 2013

A Seca de 1877-79 em Fortaleza

Com o crescimento de Fortaleza em fins do século XIX, verificou-se uma preocupação do poder público e das elites em controlar e disciplinar as camadas populares da cidade.  Fazia-se necessário racionalizar Fortaleza e também disciplinar, reprimir, corpos e mentes de seus habitantes, de modo a ingressarem no mundo da modernidade e do capitalismo que então se consolidava e lançava a cidade em uma nova era.
Mas o disciplinamento que se desejava foi severamente abalado durante a tragédia que marcou a cidade quando da grande seca de 1877-79. A população de Fortaleza à época era de cerca de 30 mil habitantes. E essa população assistiu horrorizada a chegada de mais de 100 mil sertanejos, que migraram para a capital em busca de auxílio. O Jornal O Cearense, noticiava: não há dia no qual as portas das igrejas e edifícios públicos não estejam atopetadas de mendigos de todas as idades. Esse espetáculo é depõe contra os nossos costumes, além de ser, a maior parte das vezes, imoral e repugnante.
 
retirantes concentrados na Praça da Estação em Fortaleza, fins do séc. XIX (foto do livro Os descaminhos  de ferro no Brasil)
 
As contradições sociais da cidade se acentuaram, incomodando os setores dominantes. A maior parte daqueles flagelados, famintos e depauperados ficou localizada na periferia, em casebres de madeira e palha ou em abarracamentos erguidos pelo governo, ou ainda debaixo das árvores e perambulando pelas ruas da cidade.  A mendicância, a prostituição e os furtos cresceram. A ameaça à ordem e a propriedade privada levou o governo a aumentar o policiamento da cidade, devido ao aumento da tensão social.
Ao calor infernal, à escassez de comida e água e às precárias condições de higiene, juntavam-se surtos de doenças. A multidão de retirantes acabou devastada por uma fulminante epidemia de variola, que se alastrou por toda a capital. Segundo o farmacêutico Rodolfo Teófilo, contemporâneo dos fatos, em apenas dois meses de 1877 morreram 23.378 pessoas, e no ano seguinte, 24.849 foi o total de mortos.

Rodolfo Teófilo no Morro do Moinho, procedendo  vacinação da população (foto do Arquivo Nirez) 
 
Chegou-se em um só dia a enterrar 1004 pessoas vítimas da doença – era 10 de dezembro de 1878, que ficou conhecido como “o dia dos 1000 mortos”. Cerca de 40 populares foram contratados para enterrar os corpos, homens humildes, os quais recebiam quantias insignificantes e se embriagavam com cachaça para aguentar aquele trabalho. Transportavam os cadáveres amarrados nos pés e mãos a um pau. Era tanta gente morta que o trabalho entrou pela noite, porém mais de 100 corpos tiveram que esperar pelo dia seguinte.
Por mais que médicos, irmãs de caridade e voluntários trabalhassem, a cidade não tinha condições de enfrentar aquela situação, que fugiu ao controle do governo. O Lazareto da Lagoa Funda ficou superlotado. Mas nada detinha a marcha epidêmica. Para aumentar o pânico das classes dominante, até ”gente de posses” que praticavam os preceitos de boa higiene, foram vítimas da varíola, como a mulher do presidente da província, falecida em dezembro de 1878.
A partir de 1879, com algumas chuvas caindo, o número de mortos começou a diminuir. Em 1880, o inverno consolidado cessou a endemia, embora casos esporádicos ainda ocorressem.
Os retirantes  da seca de 1877-79 foram usados de maneira oportunista na construção de várias obras modernizantes e civilizadoras da cidade, que continuavam a ser uma preocupação do poder público, apesar de todo o morticínio provocado pela estiagem.


boa parte os trilhos da Estrada de Ferro Baturité foram assentados utilizando a mão-de-obra de flagelados da seca (foto do livro os descaminhos de ferro no Brasil)

Essa mão-de-obra foi usada na construção de asilos, reforma de praças, aterro de lagoas, reparo em pontes, pavimentação de estradas, e no prolongamento da Estrada de Ferro Baturité, entre outras, sob o discurso de assegurar aos retirantes meios de subsistência para a atenuação da sua miséria. Aproveitava-se assim, aquele contingente, representado por milhares de pessoas, para realização de obras que dificilmente seriam viabilizadas em razão dos altos custos. Aliviava-se igualmente a pressão popular provocada pela seca, afinal os retirantes  estariam recebendo alguma ajuda e sendo submetidos nas obras a uma dura disciplina, o que garantia a manutenção da ordem pública.
As pessoas famintas e numa situação desesperadora, viam-se obrigadas a aceitar as rígidas condições de trabalho. Entretanto, em virtude dos atrasos nos pagamentos dos salários e na distribuição de alimentos, a massa chegou a se rebelar – em 1878, seis mil retirantes lutaram com paus e pedras por horas, na Praça Visconde de Pelotas (atual Clóvis Beviláqua) contra as tropas do exército e da polícia, que reprimiu a revolta com tiros, deixando vários feridos.

Rua Major Facundo, início do século XX (arquivo Nirez)
 
Com o fim da estiagem, a maioria dos retirantes regressou para o interior, mas muitos resolveram ficar em Fortaleza, especialmente viúvas, órfãos e mulheres abandonadas, em decorrência das mortes e da migração de muitos homens para a Amazônia.  Ficaram a perambular pelas ruas, esmolando, cometendo pequenos furtos  ou se prostituindo.  Muitos órfãos foram levados para morar com famílias de periferia e acabaram explorados – crianças eram empregadas em serviços domésticos ou na prática de mendicância.
Fonte:
História do Ceará, de Aírton de Farias  
 



 

segunda-feira, 25 de novembro de 2013

Bairro do Passaré


Sitio Passaré e parte de sua área remanescente

O bairro Passaré teve origem na Sesmaria da Lagoa do Passaré, localizada entre as terras da então Vila de Arronches, hoje Parangaba e a Vila de Messejana, concedida em 1810 por D. João VI ao lusitano Antônio José Moreira Gomes. 
A Sesmaria veio à se desmembrar em glebas menores, na proporção em que os descendentes casavam, mas o seu núcleo primitivo - o Sítio Passaré – continuou com os descendentes do primeiro concessionário, até que foi adquirido, em 1942, pelo historiador Raimundo Girão, ex-Prefeito de Fortaleza, juntamente com o seu sogro Prudente do Nascimento Brasil, que era um dos herdeiros e tetraneto do primeiro concessionário.



Áreas ocupadas pelo Complexo Ecológico Passaré e Centro Administrativo do Banco do Nordeste

Nos anos 60 duas  glebas, situadas ao sul da lagoa, foram desapropriadas para a ampliação do Zoológico Sargento Prata e do Horto Municipal. No início dos anos 70, sete glebas, localizadas à noroeste da referida lagoa foram também desapropriadas para a construção do Centro Administrativo do Banco do Nordeste - BNB. Por esta época o nome Passaré extrapolou os limites do Sítio, vindo a dar nome a todo o bairro atualmente conhecido. O topônimo 'Passaré' em tupi-guarani significa lagoa do atalho. 



A lagoa do Passaré pertence à Bacia Hidrográfica do Rio Cocó e localiza-se próxima ao Estádio do Castelão. Tem profundidade  média de 1,90 metros e a máxima gira em torno de 3,60 metros. Trata-se de uma pequena lagoa, situada em terreno particular, que possui sistema de alimentação pluvial e um olho d´água. 

Com relação ao meio ambiente, o bairro conta com - além da lagoa do Passaré, que é uma das mais limpas de Fortaleza - diversos córregos e áreas verdes que fazem parte da bacia do rio Cocó. 
A malha viária possui vias importantes como: Avenida Juscelino Kubitschek (continuação da Avenida Alberto Craveiro), Avenida Pedro Ramalho (continuação da Avenida Dr. Silas Munguba, antiga Dedé Brasil), Avenida Deputado Paulino Rocha, Avenida Pompílio Gomes, Avenida Prudente Brasil, Avenida Heróis do Acre, Rua Desembargador Otacílio Peixoto e Rua Cardeal Albino Lucianni.



Avenida Presidente Juscelino Kubitschek 
No inicio foi chamada de Avenida Padaria Espiritual, em homenagem a excêntrica academia literária surgida em Fortaleza no final do século XIX, que tinha como quartel-general a Praça do Ferreira e o Café Java como sede. Depois, o nome foi mudado para Avenida presidente Juscelino Kubitschek. 
(Coisas dos vereadores de Fortaleza, possivelmente por não conhecerem o significado ou por se sentirem incomodados com a criatividade que o nome evocava. Já não bastava o Hospital homenageando a família?)  

O bairro possui ruas e avenidas em grande maioria com pavimentação asfáltica. Na área há três supermercados, além de vários mercadinhos de porte menor. Fica localizado também no bairro um hospital da rede Sarah, o Hospital Sarah Kubitschek que ocupa um grande terreno e atende pacientes de todo o Estado do Ceará.


parte da estrutura do Hospital Sara Kubitschek

Possui também 2 postos de saúde e 26 escolas públicas e privadas. No bairro localiza-se o Cemitério Parque da Paz muito tradicional na capital cearense.
No Passaré fica localizado o Parque Ecológico Passaré onde ficam os equipamentos da Prefeitura Municipal de Fortaleza: Zoológico Municipal Sargento Prata, o Horto Municipal e o Espaço Verde, que diariamente são visitados por inúmeras famílias de Fortaleza. Existem também diversas praças, onde os jovens usam campos e quadras de esporte para a prática de esportes.

Não seria Rua Eldorado?


O bairro passa por um boom imobiliário, são construções de todos os tipos e para diversas faixas de público. Devido à grande extensão territorial, o Passaré é dividido em conjuntos, como: Sumaré, Residencial Passaré, Jardim União, Jardim Castelão, Barroso II, Novo Barroso e os loteamentos Santiago de Compostella e Novo Passaré.  

Distrito Mondubim
Limites Norte: Itaperi, Castelão e Dias Macêdo
Sul: José Walter
Leste: Cajazeiras e Barroso
Oeste: Parque Dois Irmãos
de acordo com o IBGE (Censo 2010) o Passaré conta com 50.940 habitantes, em 14.597 domicilios.
Subprefeitura   Secretaria Executiva Regional (SER) V

fontes:
www.fortaleza.ce.gov.br/sites/default/files/.../batimetria_relatorio.pdf
wikipédia
http://www.anuariodefortaleza.com.br
fotos: Fortaleza em Fotos


sexta-feira, 22 de novembro de 2013

Asilo Bom Pastor, um abrigo para mães solteiras



No bairro do Jacarecanga, ficava o internato Bom Pastor, inaugurado em 1928, local onde eram confinadas as moças que tinham desviado suas condutas e, para não causarem vergonha à família, eram mandadas para lá e ali permaneciam até cair no esquecimento da sociedade.
As internas do Bom Pastor eram, geralmente,  moças solteiras “de família” que engravidavam, e eram afastadas do convívio familiar, antes que  a vizinhança percebesse o acontecido e começassem os comentários maldosos, e as especulações sobre paternidade. 
A mãe solteira ficava “falada” e desonrada, dificilmente arranjaria um noivo ou teria novamente um relacionamento sério. Assim  o expurgo familiar, evitava que tanto a moça quanto a família viesse a sofrer as consequências da desonra,  ou que o bom nome da família fosse maculado.  Depois com o passar do tempo e purgado a culpa, as internas retornavam aos lares, depois de terem recebido cursos e aprendido trabalhos manuais sob orientação das irmãs religiosas, como costurar, bordar,  cozinhar e outras atividades domésticas.

Antiga Praça Gustavo Barroso (Arquivo Nirez) 

As moças recolhidas ao Bom Pastor tinha uma maneira peculiar no trajar:  se cobriam de preto, lenço na cabeça, e nas ocasiões em que frequentavam missas, usavam um véu no rosto, evitando assim o reconhecimento de pessoas que estavam na igreja e pudessem, porventura identifica-las. 
Saíam do Bom Pastor como quem deixa o cárcere depois de ter cumprido pena pelo mal cometido.  A criança fruto desse amor clandestino, era dada em adoção, com a condição de jamais poder ser revelado quem eram os verdadeiros pais, evitando manchar o nome da família ou dos pais do inocente que não pedira para vir ao mundo e nem poderia pagar por erro cometido.

fotos do arquivo Nirez

quarta-feira, 20 de novembro de 2013

De Casa de Detenção a Centro de Turismo


Na Fortaleza dos tempos imperiais foi construída uma grande cadeia. Na verdade, os historiadores relatam que a Casa de Detenção de Fortaleza foi uma das primeiras edificações do país a atender as exigências impostas pela então nova Legislação Penitenciária Imperial. 
No  ano de  1850 e a partir do projeto do engenheiro Manoel Caetano de Gouveia, teve início a construção do edifício. O trabalho somente seria concluído em 1866. O orçamento inicial que era de 40 contos de réis ficou três anos no papel e subiu para 50 contos. Quando a cadeia pôde ser inaugurada, a construção havia consumido 156 contos de réis.



A velha cadeia pública foi erigida através da técnica tradicional de tijolo e barro. À argamassa era acentuado o óleo de baleia que processava a liga necessária. A edificação em estilo neoclássico, de linhas sóbrias, se compõe de um prédio central de paredes largas e telhado de quatro águas com a frente voltada para o mar, localizada no centro da grande área térrea circundada por muralha de cinco metros de altura. A entrada principal foi desenhada em arco pleno e fechada com grades de ferro da metalúrgica escocesa Porter, trazidas de Glasgow, Escócia, em 1855.



O ´Velho casarão do Senador Jaguaribe´, como também era conhecida a cadeia pública, em virtude de sua entrada pela rua Senador Jaguaribe, ocupava a quadra circunscrita pelas ruas Senador Pompeu, da Misericórdia (atual Doutor João Moreira), General Sampaio e o lado Norte ficava de frente para o mar. 
Por ali passaram milhares de detentos. A cadeia tinha quatro grandes salas de oficinas. À época os presos trabalhavam e vários deles que eram pedreiros e serventes ajudaram na construção de muitas casas no bairro do Jacarecanga. A Casa de Detenção também abrigava mulheres, as quais eram obrigadas a passar o tempo todo numa única cela a elas destinada.
Ao contrário dos homens, presos por homicídio, agressão ou roubos, as mulheres eram detidas pela prática de prostituição, aborto e quebra de Termo de Bem-Viver, documento assinado em juízo pelo qual a acusada admitia a má-conduta (embriaguez, jogo de azar, vadiagem, etc) e se comprometia a não mais praticá-la, sob pena de voltar a prisão em caso de reincidência.


Uma das poucas mulheres a cumprir pena por assassinato foi Maria Francisca de Paula, conhecida por Marica Lessa. Acusada de haver mandado matar o marido, foi condenada a 30 anos de prisão, chegando à cadeia pública de Fortaleza em 08 de novembro de 1856. Depois de anos sofrendo na prisão, ganhou a liberdade e passou a mendigar pelas ruas da cidade. A história de Marica Lessa foi romanceada pelo escritor Manuel de Oliveira Paiva no livro "Dona Guidinha do Poço".   

Os mais antigos contavam histórias de fantasmas, considerando o  um local condenado. Nas escavações da reforma, foram encontrados ossos humanos. 
A partir de 1967 a cadeia começou a ser esvaziada, até ser desativada completamente em 1970. No dia 13 de setembro de 1971 o então governador César Cals inaugurava a Emcetur - Empresa Cearense de Turismo - que venceu a disputa pelo local que alguns desejavam que se transformasse num hospital, enquanto outros defendiam a sua demolição. 



No piso superior foi instalado o Museu de Arte e Cultura Populares, uma pequena galeria de arte e o Museu de Minerais Dr. Odorico Rodrigues de Albuquerque. O acervo do museu de arte foi ferozmente atacado pelos cupins. A administração estadual, responsável pelo local, não conseguiu impedir o estrago das peças. 
O Centro de Turismo também já possuiu uma casa de espetáculos. O Teatro Emcetur, depois batizado de Carlos Câmara. Ali aconteceram peças e shows musicais, nos idos anos 1980. Depois de um período de abandono, o teatro foi recuperado em 2012, e passou a ser administrado pela SECULT.  





Contíguo ao Museu de Arte e Cultura Populares se encontra uma pequena galeria de arte. Não há qualquer segurança ao acervo ali exposto, são quadros de muitos cearenses que fizeram doações ao Centro de Turismo e outros adquiridos pelo Estado. 
Completando o piso superior, onde antigamente era a capela da Casa de Detenção, foi instalado o Museu de Minerais Dr. Odorico Rodrigues de Albuquerque, o primeiro geólogo cearense. O acervo exposto é composto de uma variada gama de minerais, coletados e doados por geólogos e pela comunidade. 



O Centro de Turismo é um lugar aprazível. Os comerciantes são simpáticos e têm o traquejo da atividade comercial posto à prova diariamente, pois muitos não falam outra língua, senão o português e recebem turistas de todo o mundo. As negociações de compra e venda são desenvolvidas com auxílio de mímica e poucos vocábulos nos idiomas dos visitantes. 
Ali podem se encontrar artesãos trabalhando em suas especialidades. São bordados, artigos em palha, couro, metais, enfim uma variedade diversificada pelo talento do fazer artístico nordestino. 



O Centro de Turismo já não dispõe de restaurante nem do lago artificial que se colocou na década de 1970. Hoje é um local meramente comercial. Segundo funcionários, turistas não costumam subir as escadas de acesso aos museus.

fontes: 
Jornal Diário do Nordeste
livro História do Ceará, de Aírton de Farias
fotos de abril/2010

terça-feira, 19 de novembro de 2013

Alimentos Transgênicos

Você sabe o que significa esse símbolo/marca que encontramos em algumas embalagens de produtos alimentícios, inclusive infantis?


Significa que esse produto foi geneticamente modificado em laboratório, ou seja, contêm materiais genéticos de outros organismos, obtidos mediante técnicas de engenharia genética. Há uma ideia geral de que alimentos transgênicos podem ser prejudiciais à saúde, no entanto, a maioria da população não faz ideia de que boa parte da sua alimentação tem componentes feitos a partir de alimentos transgênicos, além de não saber identificar os que estão nas prateleiras dos supermercados. 


 85% do milho produzido no Brasil e nos EUA é transgênico. Derivados do grão, como o amido de milho e o xarope de milho (conhecido como high frutose) estão presentes em quase todos os alimentos processados que se encontram nos supermercados. Há suspeitas de que o amido e o xarope de milho causem danos aos órgãos. Dezoito variedades de milho transgênico são aprovadas para consumo no Brasil. 

As grandes indústrias de bioengenharia regularmente desenvolvem pesquisas que negam a toxicidade de produtos geneticamente modificados. ONGs, nutricionistas e gurus da alimentação saudável, por sua vez, recomendam incisivamente que as pessoas façam opção por produtos orgânicos, isso é, sem agrotóxicos e bioengenharia, porque transgênicos causariam danos ao meio ambiente e aumentariam a propensão ao surgimento de alergias, entre outras coisas. Enquanto não se tem certeza sobre quem está certo, a regra deveria ser uma só: transparência. Todo mundo deveria ser capaz de identificar facilmente alimentos produzidos através de bioengenharia, no rótulo, para poder escolher se quer ou não consumi-los. A identificação no rótulo já é feita. O que falta é esclarecer aos consumidores o que ela representa.

argumento a favor: a soja transgênica leva 1 tipo de herbicida (agrotóxico) no cultivo, enquanto a soja convencional exige 5 tipos diferentes deles;


argumento contra: o uso de agrotóxicos não diminuiu com a produção dos transgênicos. Pelo contrário. Dados do USDA (Departamento de Agricultura dos Estados unidos) mostraram que a produção de transgênicos entre 1996 e 2004 aumentou o uso de agrotóxicos em mais de 45 milhões de quilos, além do que já era usado no cultivo de plantas não transgênicas.

As supostas vantagens dos alimentos transgênicos:

. O alimento pode ser enriquecido com um componente nutricional essencial. Um feijão geneticamente modificado por inserção de gene da castanha do Para passa produzir a metionina, um aminoácido essencial para a vida. Um arroz geneticamente modificado produz vitamina A;
. O alimento pode ter a função de prevenir, reduzir ou evitar riscos de doenças, através de plantas geneticamente modificadas para produzir vacinas, ou iogurtes fermentados com micro-organismo geneticamente modificados que estimulem o sistema imunológico;
A planta pode resistir ao ataque de insetos, seca ou geada. Isso garante estabilidade dos preços e custos de produção. Um microrganismo geneticamente modificado produz enzimas usadas na fabricação de queijos e pães o que reduz o preço deste ingrediente; Sem falar ainda que aumenta o grau de pureza e a especificidade do ingrediente e permite maior flexibilidade para as indústrias;
Aumento da produtividade agrícola através do desenvolvimento de lavouras mais produtivas e menos onerosas, cuja produção agrida menos o meio ambiente.


Os supostos prejuízos causados pelos transgênicos

. Alterar um gene pode refletir em outros problemas  - um único gene é responsável por um monte de características da planta, e não só daquela em que os cientistas querem mexer. Em outras palavras, pode-se mexer no que se quer e depois perceber que apareceu o que não era previsto...
Ainda não se sabe como serão as gerações futuras dos transgênicos - segundo a ONG Greenpeace, as plantas transgênicas podem gerar outras plantas com problemas genéticos (talvez até, irreversíveis), complicando a evolução delas. Uma pesquisa do Centro de Ecologia e Hidrologia do Reino Unido já mostrou, por exemplo, que a produção das plantas transgênicas é bem menor do que a das naturais. Sinal nada bom para o meio ambiente;
Plantas Super resistentes geram também pragas super resistentes - Plantas transgênicas muito resistentes a pragas, podem ser gatilho pra que apenas as pragas mais resistentes sobrevivam e gerem outras mais fortes ainda. Além disso causar um impacto ambiental gigantesco, pode ser que os agricultores comecem a usar megadoses de agrotóxicos para combater esse problema;
. Será que os transgênicos causam alergias? - É o que afirma o Instituto Akatu, segundo o qual já existem estudos internacionais sobre as novas alergias que começaram a aparecer por causa do consumo de alimentos transgênicos. 


Anunciado como produto saudável e recomendado para uso em saladas, o óleo de Canola não vem de uma planta chamada Canola. Canola é uma abreviação das iniciais de Canadian Oil Low Acid (Óleo canadense baixo em ácido) e ele é feito a partir de uma variedade de uma planta chamada Olza, que foi fertilizada de maneira cruzada por cientistas canadenses, até que eles chegassem em uma versão da semente que fosse mais baixa em um ácido tóxico que é parte do óleo da planta.


Alguns mercados mundiais, como o Japão, rejeitam fortemente a entrada de alimentos com características transgênicas, enquanto que outros, como os norte e sul-americanos e o asiático têm aceito estas variedades agronômicas.


Sites consultados: