O início da década já assinalava
o grande crescimento populacional que a cidade registrava em comparação com o
censo de 1950 realizado pelo IBGE naquele ano: 270 mil habitantes. Em 1970 passou para 857
mil residentes em 147.640 domicílios. O rápido crescimento populacional,
acelerou a ocupação de áreas da cidade, que aconteceu de forma desordenada e
sem planejamento, evidenciou a questão da diferenciação de classes, e a
ocupação de regiões periféricas e de preservação, como morros e dunas, sem que
esses espaços contassem com nenhum tipo de infraestrutura. Apesar de tudo,
Fortaleza ainda era uma cidade tranquila e sem maiores problemas ligados à criminalidade,
violência urbana ou à segurança pública.
O centro era onde pulsava o coração da cidade, lojas chiques e populares, bancos, escritórios, órgãos públicos e governamentais, lanchonetes e cinemas, todos os negócios, todos os serviços, tudo era lá. O espaço era frequentado por todas as classes sociais, eram raros os endereços na Aldeota ou nos bairros; até por volta dos anos 60, os estabelecimentos comerciais tinham uma oferta de produtos muito diversificada, onde uma mesma loja vendia desde confecções até televisores e peças de carros; então surgiram as grandes lojas de departamentos, que passaram a nortear o comércio varejista.
O movimento no Centro era justificado também pelo funcionamento de vários órgãos públicos, como o Paço Municipal (sede da Prefeitura), o Palácio da Luz (sede do governo do Estado), o Palácio Senador Alencar (sede da Assembleia Legislativa), o Fórum Clóvis Beviláqua, a Alfândega, várias secretarias municipais e estaduais, além dos cartórios, os cursinhos pré-vestibulares e o Mercado Central, com seus artesanatos, rendas e bordados, que atraíam o público visitante.
As mulheres chiques compravam na Flama e na Casa Parente; os jovens na Ocapana, na Abarama e Jeans Store; os homens usavam cuecas samba-canção e frequentavam a Cruzeiro, a Milano, e a Casa Bicho. E prestigiados por todos os públicos, havia o Romcy a Mesbla, a Lobrás, a Pernambucanas, a Loja de Variedades, a Carvalho Borges, a Lojas Damasceno, as muitas sapatarias e as primeiras farmácias da cidade. As noivas, as misses e as debutantes tiravam retratos na Aba Film, e as melhores fotos eram ampliadas e colocadas na vitrine da loja. Faziam o maior sucesso.
Havia os cinemas de bairros,
mas os mais frequentados eram os do Centro, São Luiz, Diogo, e Fortaleza, que
lotavam a praça de meninos e adolescentes nos dias que exibiam filmes dos
Trapalhões, enquanto os adultos se escandalizavam com as cenas do “Último Tango
em Paris” com a violência desenfreada de “O Poderoso Chefão” ou se deleitavam
com o musical “Cabaret”. Depois iam todos merendar na lanchonete da Lobrás.
O centro ainda eram o endereço
de grandes hotéis como o Lorde Hotel, que teve seu auge nas décadas de 60 e 70;
o Premier, e o Hotel Savanah, o último hotel de grande porte a ser inaugurado
no centro, instalado no Edifício Jereissati. Na Beira-Mar, então denominada Avenida
Presidente Kenedy, ficavam o Hotel Beira-Mar, o San Pedro Hotel, e o Hotel
Esplanada Inaugurado em 1978, o primeiro hotel 5 estrelas de Fortaleza.
A Beira-Mar, já despontava
como zona de lazer e o local mais procurado para a instalação de negócios
ligados ao turismo e ao entretenimento, e já tinha início o processo de
especulação imobiliária, com a expulsão dos moradores tradicionais para construção da avenida e logo depois, dos primeiros edifícios da orla. Por lá
ficavam os restaurantes Sandra’s, La Perla, Tocantis e Trastevere. As noites já
eram animadas, nas festas das boates Barbarela, Fortim e Senzala (que ficava pros lados do aeroporto). Havia as
barracas da Praia do Futuro (Kabuletê, Carnaúba, Bola Branca e Chez Pierre), os
clubes elegantes (Náutico, Diários, Iate, Comercial) e os de bairros (Clube de
Regatas, General Sampaio, Vila União, Romeu Martins.)
Era alegre, pacata e acolhedora a Fortaleza dos anos 70. Uma cidade em expansão, com enorme potencial turístico e empresarial, dada sua vocação para essas atividades. Hoje, Fortaleza tem cerca de 2.703.391 habitantes (estimativa IBGE 2021), é a 5ª maior capital em população, e um ambicionado destino turístico. Bela, atrativa, insegura, superpopulosa e violenta. É a mesma cidade dos anos 1970. Mas não lembra muito.
Fotos: Livro Viva Fortaleza, Anuário do Ceará e Guia Turístico e Informativo de Fortaleza