terça-feira, 5 de dezembro de 2017

Parangaba – sob As Bênçãos do Bom Jesus dos Aflitos

A região onde hoje fica o bairro da Parangaba foi formada a partir de um aldeamento, também chamado de missões, áreas em que se erguiam espécies de aldeias indígenas artificiais –  diferentes das aldeias originais dos nativos – para onde os jesuítas conduziam e mantinham os índios da região, no intuito de convertê-los ao catolicismo. 
Sua história começa em 1607, quando os jesuítas Francisco Pinto e Luiz Filgueiras vieram de Pernambuco e fundaram pequenas aldeias, inclusive a de Porangaba.


Em 1609 foi construída uma capela para guardar os ossos do jesuíta Francisco Pinto que fora trucidado pelos índios tucurijus. Foi a primeira capela da região. Depois, é fundada a primeira igreja, com o nome de Nossa Senhora das Maravilhas. A Igreja de Bom Jesus dos Aflitos foi sendo estabelecida a partir de 1664, durante o processo de  instalação dos aldeamentos jesuítas e da ocupação indígena no Ceará, mais precisamente quando os padres jesuítas Jacob Cócle e Francisco de Cassali deslocaram os índios Potiguaras, que se encontravam na região do rio Ceará, para Porangaba, formando o aldeamento homônimo.

Nessa ocasião construíram uma capela, com a colaboração dos índios chefiados por Antônio Felipe Camarão, sob a invocação de Bom Jesus dos Aflitos, devoção oriunda da angústia do povo que recorreu ao Senhor Bom Jesus durante a batalha do Pico do Cascalho entre tropas de Portugal e Espanha, em 1582. Ao redor da igreja, a comunidade cresceu, a princípio em chácaras, depois transformadas em área nobre com imensos casarões.


Quando os jesuítas foram expulsos do Brasil pelo Marquês de Pombal, já na segunda metade do século XVIII, os aldeamentos foram transformados em vilas. Os jesuítas tiveram seus bens sequestrados e deixaram a administração das vilas indígenas, que ficaram a cargo de diretores. A Lei do chamado Diretório Pombalino era de 1758, mas foi implementada no Ceará no ano seguinte.  A partir desse fato surgiram as vilas de Viçosa do Ceará, Vila Nova de Soure, e Vila Nova de Arronches, em 1759. No ano seguinte – 1760 – foi criada a Vila Nova de Messejana, e em 1764, as Vilas de Monte-mor-Novo (Baturité) e Crato. Eram as chamadas “vilas de índios”. Três dessas vilas ficavam nos arredores de Fortaleza: Soure (Caucaia), Arronches (Parangaba) Messejana (Paupina).


Quando a Vila Nova de Arronches foi incorporada a Fortaleza, a Igreja do Bom Jesus dos Aflitos ficou impedida de funcionar, ficando nessa condição até 1875, ocasião em que, segundo a Secultfor, foi edificada a estrutura atual da igreja. A imagem de Cristo Crucificado, ainda é a original do tempo dos Jesuítas.

Arronches foi incorporada a Fortaleza pela lei n° 2, de 13 de maio de 1835 com o nome de Porangaba. No final de 1835, o município foi restaurado e em 1921 foi extinto pela última vez. Passou a ser distrito, época em que abrigou uma experiência pioneira: a instalação de ônibus elétricos com um terminal que funcionava nos fundos da igreja matriz.


É na Parangaba que ainda resiste uma das mais antigas manifestações culturais do Ceará. Não se sabe ao certo quando a famosa Festa dos Caboclos começou, mas é anterior a 1816, quando a Porangaba ainda era um aldeamento indígena. A peregrinação dos caboclos saía à cata de esmolas para a festa do Bom Jesus, orago da Vila. Saíam no último domingo de outubro, em procissão, com a coroa de espinhos do Bom Jesus dos Aflitos. A frente ia um tambor, despertando os ecos de montanhas e caatingas, avisando da aproximação do cortejo, que é recebido com alvoroço pelas povoações e lugarejos nos quais o dia de sua chegada é considerado santo. 

Passavam por Porangaba até Maranguape, protegidos pelo terço de viagem (rezado em algum lugar de passagem) e pelo terço da noite (cantado nas casas de pernoite). Retornavam à aldeia próximo do Natal; os oito Caboclos, vestidos à moda sertaneja, vinham queimados por muitos sóis. Segundo a tradição, D. João V teria doado a imagem de Bom Jesus aos índios, e a de N.S. das Maravilhas às índias. A peregrinação envolvia outras cidades, como Maranguape e Viçosa do Ceará. Como era feita a cavalo ou a pé, a manifestação durava meses. Durante o percurso, donativos eram recolhidos para a Igreja.

Atualmente, a Festa dos Caboclos é chamada de Festa da Coroa de Bom Jesus dos Aflitos. Ela acontece, anualmente, entre os meses de setembro e dezembro. A coroa de ferro passa por diferentes capelas da região e volta à igreja matriz no dia 23 de dezembro, quando sobe de volta ao altar e é postada acima da imagem de Jesus Cristo. A festa do Bom foi recuperada nos anos 80 pelo padre Marcelino Zanela. 


O grande patrimônio ambiental do bairro, é a Lagoa da Parangaba, cujas águas limpas que já serviram para o lazer e abastecimento dos moradores, deram lugar a águas poluídas, turvas e mal cheirosas. De acordo com o levantamento realizado pela prefeitura de Fortaleza, a Lagoa da Parangaba é uma das que têm maior profundidade, o que favorece a atividade da pesca. Mas segundo especialistas em meio ambiente, a lagoa está poluída, coberta de aguapés, cercado de lixo e precisa de ações urgentes para acabar com os esgotos clandestinos. 

Segundo relato de moradores mais antigos ao jornal "O Povo", a Lagoa de Parangaba já chegou secar totalmente. Durante a 2ª Guerra, quando foi montada uma base americana no Pici, e o Estado atravessava um período de estiagem. Os americanos retiravam grande volume de água da lagoa, que era transportada em caminhões, para utilizarem na base. Até que um dia a lagoa secou.
Outros afirmam que onde hoje existe a lagoa, havia apenas um riacho, a lagoa só teria surgido depois do aldeamento, porque muita areia foi retirada daquele local, para construção das casas. 
  

No entorno da lagoa, funciona a famosa "feira da Parangaba", onde se encontra de tudo, desde o comércio clandestino de aves silvestres, peças de artesanato, artefatos de metal e plástico e revenda de veículos.

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 o Metrofor

Distrito Parangaba
Limites

Norte – Montese, Demócrito Rocha e Itaoca

Sul – Maraponga

Leste – Itaperi e Dendê

Oeste – Joquei Clube, Bom Sucesso e Vila Peri

População – 30.947 habitantes em 9.225 domicílios
 

Fontes:
História do Ceará, de Airton de Farias
Revista Fortaleza – fascículo 8
Jornal O Povo
http://mapa.cultura.ce.gov.br/espaco/274/ 
Anuário de Fortaleza - 2012/13
fotos: Brasiliana Fotográfica, Arquivo Nirez, IBGE, Fortaleza em Fotos (2013)