O prédio azul-anil onde se instalou o Cine Diogo em 1940, foi o segundo arranha-céu de Fortaleza. O primeiro foi o Excelsior Hotel (arquivo Nirez) |
No início dos anos 40, Fortaleza ganha um régio presente da Empresa Luiz Severiano Ribeiro. No segundo arranha-céu edificado na cidade, um prédio de nove andares que José Diogo de Siqueira inaugurara em 1939, na Rua Barão do Rio Branco, 1006. No prédio azul-anil, foi instalada uma belíssima sala cinematográfica.
A denominação –
Cine Diogo – foi uma homenagem ao
proprietário do prédio, que idealizara o moderno cinema, com capacidade para 995
pessoas, embora não pretendesse
ingressar no ramo de exibição cinematográfica. Luiz Severiano Ribeiro conquista o direito de
explorar o confortável cinema, superando as propostas dos concorrentes, numa
transação comercial que custou 300 mil contos de Reis. O hall do edifício Diogo
ficou sob o regime de condomínio, entre o proprietário do edifício e a empresa
Ribeiro.
Portaria do Cine Diogo (Arquivo Nirez) |
Programa Inaugural do Cine Diogo com o filme Balalaika, estrelado por Nelson Eddy e Ilona Massey. Os que assistiram a sessão inaugural, receberam bonequinhos de cossacos russos (Arquivo Nirez) |
A inauguração ocorreu num sábado, dia 7 de setembro de 1940,
às 17 horas, com a presença do Interventor federal e várias autoridades. O filme
escolhido para a estreia foi Balalaika,
da Metro-Goldwyn-Mayer.
No início da década de 40, havia uma grande preocupação com
os acontecimentos da Segunda Guerra Mundial. O rádio e os jornais davam
notícias do dia a dia do conflito. Militares americanos transitavam pelas ruas,
presença comum desde que aqui se instalaram as bases americanas do Pici e do
Cocorote.
Vivia ainda a cidade a
experiência do blackout, cumprindo um programa de ensaios de defesa contra
ataques aéreos, sob o rigoroso controle dos alertadores de rua, designados pela
defesa civil. Os programas impressos e distribuídos no Cine Diogo,
passaram publicar, em 1942, avisos
educativos: “Se estiveres no Cinema,
teatro e outros prédios de frequência coletiva, permanece no teu lugar,
evitando correrias e atropelos que causam acidentes sérios”.
Programa de 2° aniversário do Cine Diogo, nos tempos de guerra, advertindo sobre eventual sinal de alarme aéreo. (foto do livro A Tela Prateada) |
Por quase dezoito anos, o belo cinema dominou amplamente a vida social da cidade. Foi o salão elitizado, exigiu rigorosamente o traje passeio completo: o tradicional paletó para os homens e os vestidos sociais para mulheres. Com o passar do tempo, começam as reclamações contra o desconforto e o calor ambiente, sem afetar nem a bilheteria nem o prestígio do cinema.
A partir de 1950, com a criação do circuito independente
Cinemar, Fortaleza passou a assistir lançamentos sistemáticos da produção
europeia, acontecimento raro no circuito Severiano Ribeiro. Há nessa nova fase,
de concorrência no mercado local, investimentos que tornam o Diogo de qualidade
ainda mais elevada.
sala de projeção do Cine Diogo (foto do livro A Tela Prateada)
Entrada do Cine Diogo em 1992, já em franca decadência (foto do Jornal O Povo) |
Romeu e Julieta, com Leonardo de Caprio e Claire Danes foi o filme exibido na última sessão do Cine Diogo
No dia 7 de setembro de 1940, época em que as mulheres
ainda saíam à noite pelas ruas de Fortaleza, com casacos leves e os homens
desfilavam ternos em tecido cinza escuro, o centro da cidade foi cenário de um
acontecimento social importante. Mais exatamente na Rua Barão do Rio Branco,
centenas de pessoas foram conferir a primeira sessão de um cinema que fechou
suas portas às 23 horas da última quinta-feira, melancolicamente, sob o
testemunho dos poucos e fiéis funcionários.
Embora ainda guarde resquícios luxuosos do passado, como o
teto de mármore, a fachada suntuosa e outras coisas mais, o Cine Diogo já não
exibia as mesmas cadeiras confortáveis de anos atrás, o mesmo piso e as
catracas brilhantes de madeiras. O que se via por ali eram cadeiras amontoadas
(uma parte já tinha sido vendida pela manhã), papéis espalhados pelo chão, e só
a parte de baixo funcionando. O primeiro
andar já estava interditado, fechado.”
extraído do livro de Ary Bezerra Leite
A Tela Prateada