segunda-feira, 31 de março de 2014

Na Força das Águas

Nascido de olhos d’água, a menos de 5 quilômetros da praia e despejando-se no mar,  o riacho Pajeú dividia a vila em dois bairros. Na sua margem direita e em direção ao nascente, elevava-se o planalto do Outeiro da Prainha, com seus sítios carregados de coqueiros, de onde se descortinava, do alto e ladeira abaixo, a orla ensolarada da vila banhada pelas águas do  Atlântico. 

 Forte Schoonenborch, construído pelos holandeses e transformado em N. s. da Assunção pelos portugueses

Do outro lado do riacho ficava a Colina da Misericórdia, onde foi levantada a fortaleza de Nossa Senhora da Assunção. Ao seu redor, em terras ligeiramente acidentadas e protegidas pelos bastiões do forte, crescia o comércio, o centro administrativo e o primeiro bairro residencial de Fortaleza que, a partir de 1823 adquiria foros de cidade. 
Partiam da vila em diversas direções as Estradas do Cocó e de Jacarecanga, assim como os antigos caminhos que levavam aos aldeamentos indígenas: o de Soure (Caucaia), o de Paupina (Messejana) e aquele que se voltava para os sertões dirigindo-se para o Caminho de Arronches (Parangaba).
Logradouros e casarões contam a história de Fortaleza, desvelando famílias que por ali viveram e marcaram a crônica da cidade em diferentes épocas, pelo seu destaque na vida econômica, política e social. Dirigindo-se ao caminho de Arronches, através de crônicas antigas, velhos casarões evocam um caleidoscópio de imagens de pessoas e fatos que promoveram a construção da cidade. Dominando logradouros com suas imponentes fachadas, essas antigas moradas – registro de uma época – alinharam e deram nomes ás ruas. Em seus festivos salões, iniciou-se o cultivo da sociabilidade requintada, antecedendo a formação dos grandes clubes e a história elegante de Fortaleza. 


Praça Clóvis Beviláqua - anos 20/30 

A colina da Praça de Pelotas, hoje Clóvis Beviláqua marcava o início do Benfica. As águas deste elevado desciam e, juntando-se às mais volumosas que vinham da Lagoinha, formavam na atual Praça do Coração de Jesus, a Lagoa do Garrote.
Pelas encostas do Outeiro, ocupadas depois de um grande espaço de tempo, pelo bairro da Aldeota, baixavam córregos que se juntavam ao Pajeú. Acrescido dessas águas, corria o riacho livremente, deslizando por seu vale tortuoso com seu movimento regulado pelas forças vivas das lagoas do Garrote e da Lagoinha. 


Parque da Liberdade - Cidade da Criança - 1934

O bairro do Garrote nasceu de aterros e construções na Lagoa do Garrote. Em homenagem à abolição da escravatura, as últimas águas dessa lagoa foram represadas, criando ali o Parque da Liberdade. Construído pelo engenheiro Romualdo de Carvalho Barros e auxiliado por Isaac Correia do Amaral, o parque mudou de nome no tempo do centenário da Independência, passando a se chamar de Parque da Independência, para mais tarde ser reconhecido pelo seu primeiro nome. Popularmente, no entanto, é chamado de Cidade da Criança, desde que ali se instalou em 1937, uma escola dirigida pela professora Alba Frota. O Largo do Garrote, agora Praça dos Voluntários, comunicava-se livremente com o Parque da Liberdade até 1939, quando se formaram dois logradouros distintos, depois da construção nesta passagem, da sede própria do Clube Iracema.  

casa onde residiu Maximiano Leite Barbosa, na Rua Solom Pinheiro ao lado do Parque da Liberdade. Ali funcionou a Biblioteca Pública do Estado, hoje é a sede da Associação Beneficente Cearense de Reabilitação - ABCR
 
Maximiano Leite Barbosa, pai do fundador do ideal Clube, residiu em um palacete que ladeava o Parque da Liberdade. Herdado por sua filha Maria Luiza, o imóvel já abrigou a Biblioteca Pública do Estado, e é ocupado atualmente pela Associação Beneficente Cearense de Reabilitação.  Outros membros da família ocupavam os casarões vizinhos, e alinhado a estes, está a casa onde nasceu o ex-presidente Humberto de Alencar Castelo Branco. 
 casa na Rua Solon Pinheiro em frente ao Parque da Liberdade onde nasceu o ex-presidente Humberto de Alencar Castelo Branco

No largo do garrote, circundado por  três alinhamentos de casas sombreadas por frondosas castanholeiras e mangueiras, encontrava-se uma das principais residências dos meados do século, o palacete de Vitoriano Augusto Borges. Em 1873 esta residência foi adquirida pelo Tesouro provincial para instalação do antigo Liceu do Ceará. Um pouco mais adiante, seguindo o movimento das águas, margeando o Pajeú na esquina do Beco do Pocinho, situava-se a chácara do português Manuel Caetano de Gouveia, que exerceu enorme influência econômica e social em Fortaleza. Nesta chácara localizava-se o famoso Cajueiro do Fagundes, que em tempos coloniais serviu de ponto de venda  do açougueiro Fagundes.  O Comendador Manuel Caetano de Gouveia deu origem á família Gouveia em Fortaleza.

 Igreja da Sé 1914

Descendo o riacho Pajeú, deparava-se com a cidade velha, sua Matriz no meio da Praça do Conselho, onde hoje se encontra a  Catedral Metropolitana, e em frente dessa, o pelourinho. Por ali passava a Rua da Matriz, que se seguia com o nome de Rua dos Mercadores, concentrando o comércio. Atualmente estas duas vias são as Ruas Conde D’Eu e Sena Madureira. 

Praça da Sé, 1915

Defronte a matriz havia um alinhamento de casas, antigas moradas dos capitães-mores. Com sua demolição surgiu o Largo da Matriz, hoje Praça da Sé, onde se ergue a estátua de bronze de Dom Pedro II, inaugurada em 1913. O traje envergado pela estátua, esculpida em Paris, pelo francês Mailard, utilizou como modelo a farda de gala do Almirante Alexandrino de Alencar, figura de relevo da Marinha Nacional, sobrinho-neto de Bárbara de Alencar.
Por trás desse monumento Pedro Augusto Borges ergueu sua residência, onde posteriormente seria instalada a Pensão Bitú. Nesta pensão se hospedariam os membros da Comissão da American Carnegie Institution, que vieram ao Ceará observar, na cidade de Sobral o eclipse solar de 29 de maio de 1919, de importância para o estudo da Teoria da Relatividade de Einstein. 


extraído do livro
 Ideal Clube, História de uma Sociedade, de Vanius Meton Gadelha Vieira
fotos antigas do Arquivo Nirez

sábado, 29 de março de 2014

Como os Estados Unidos tratam a Delinquência Juvenil





O vídeo mostra  um projeto de recuperação de jovens infratores que é realizado nos E.U.A. e tem um grande sucesso. Sob o nome de “SISTEMA IMPACT”, os condenados (até sete anos por crimes sem violência) têm as penas reduzidas a seis meses se aceitarem participar do programa voluntariamente.  O sistema funciona apoiado em uma duríssima disciplina militar. Os jovens passam por uma bateria de exercícios físicos intensos, condicionamento militar a disciplina e a autoridade e são acompanhados por guardas “linha-dura” que fariam qualquer sargento maníaco parecer um anjo.
Ao contrário daqui, ao invés das associações de classe tentarem combater o projeto pela aparente “violação de direitos” e “humilhações” que os jovens sofrem ao se depararem com as exigências disciplinares severíssimas,  por lá a sociedade entende que esse é o único caminho para doutrinar e recuperar jovens que tenham entrado para o mundo da delinquência por problemas estruturais familiares e falta de limites impostos em seu ambiente. A obediência, a autoridade e a disciplina imposta jamais podem ser contestadas. Os jovens devem pedir permissão para tudo. Até para ir ao banheiro é necessária uma autorização de um guarda-monitor. O adolescente rebelde aprende normas éticas, respeito à autoridade e a viver em sociedade; compreendendo os limites que isso pode representar. Estuda e pode obter o diploma do ensino médio e ainda faz cursos profissionalizantes. Ao sair em liberdade; é encaminhado para um emprego de acordo com as aptidões adquiridas no sistema.
 O indivíduo pode desistir do programa a hora que quiser. Nesse caso, ele voltará para um presídio comum onde cumprirá a pena restante integralmente. Além disso, a cada desistência pretendida, os jovens são orientados quanto a seu potencial pelos instrutores e instados a continuarem no programa para se tornarem pessoas melhores. Há um apoio psicológico constante e reforço em atividades acadêmicas e laborais. O nível de desistência gira em torno de trinta por cento. Mas a reincidência no crime é baixíssima, o que calou a maioria dos opositores do programa.
 Infelizmente um programa assim é simplesmente impossível de ser implementado por aqui graças ao E.C.A. (Estatuto da Criança e do Adolescente) e dos oportunistas idiotas que enxergam nos menores infratores apenas vítimas inocentes de uma sociedade vil. Como se ser pobre desse automaticamente uma licença para matar. Se fosse assim, não teríamos inúmeros menores de classes mais favorecidas no mundo do crime. A falta de punição e de cobrança por seus atos é o elemento fomentador fundamental para que a violência esteja em alta entre os jovens. Após o E.C.A., toda quadrilha tem pelo menos um menor para assumir “os serviços” e escapar ileso para cometer mais crimes. Qualquer um membro dessas entidades que se dizem protetoras do menor ficaria possesso ao ver os métodos usados no “Sistema Impact” (que também inclui uma exaustiva rotina de trabalho pesado e duro). E certamente ganhariam na justiça o direito de retornar a meninada para o ócio improdutivo como forma de “protegê-la” dos terríveis maus tratos. Enquanto eles trabalham para recuperar os que ainda podem ser recuperados e merecem uma segunda chance; por aqui tratamos como coitados e adotamos a tática da impunidade total; o que só aumenta a violência e a predisposição dos jovens para o crime. Mas, a verdade é uma só: O “Sistema Impact” funciona e tem pleno êxito por lá. Falta apenas alguém de coragem e sem a hipocrisia própria daqueles que têm objetivos escusos camuflados por trás de suas “boas intenções”, para implementar um projeto assim aqui no Brasil.
Mas, para isso, muita coisa tem de mudar.

Pense nisso.

Leia o original aqui: http://www.visaopanoramica.com/2009/04/15/menores-infratores-e-uma-visao-de-primeiro-mundo/#ixzz2xP7KlsGT
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quinta-feira, 27 de março de 2014

A Nova Avenida Monsenhor Tabosa

Enfim terminou a reforma da Avenida Monsenhor Tabosa, que agora conta com nova calçada, alguns caramanchões, que além de bonitos devem amenizar em muito o calor intenso daquela via, bancos e alguns elementos decorativos.  Mas há alguns equívocos que comprometem a acessibilidade especialmente para portadores de necessidades especiais. 

Como era antes da reforma...
como está


Os caramanchões além de enfeitarem a avenida terão a função de atenuar as altas temperaturas, melhorar o microclima nestes pontos, além de servir de abrigo contra o sol forte da cidade. 


um dos equívocos que já vem de outros projetos, é o tipo de arborização utilizada, cuja predominância recai sobre a carnaúba, que como dizem as sábias gentes do interior, é “arvore que não dá sombra nem encosto”. E só tem árvores de um lado da via, o outro fica totalmente exposto ao sol.  A Avenida Monsenhor Tabosa por ser um centro de compras nacionalmente conhecido, e por onde transita grande número de visitantes, turistas e compradores, é uma via em que a maior parte do trajeto é cumprido a pé, posto que as lojas estão muito próximas umas das outras. Deveria ter uma arborização mais densa e que proporcionasse sombra sobre o passeio.
 


Essas bolas, colocadas provavelmente para evitar o estacionamento de veículos sobre o passeio, deverão criar dificuldades de acesso para cadeirantes além de render alguns tombos para os mais distraídos.




O piso tátil foi usado como adorno  na orla da calçada. Não tem continuidade, passa rente às bolas já mencionadas colocadas em cada esquina, e é interrompido junto a um obstáculo, que às vezes é um tronco de árvore, outras vezes é uma lixeira;  portanto, apesar de parecer um piso tátil, na verdade é uma pegadinha.  

Histórico da Avenida  



A antiga Rua do Seminário foi uma das primeiras vias do bairro da Prainha. Localizada na frente da Igreja de Nossa Senhora da Conceição da Prainha e ao lado do Seminário, nasceu em função destes. Em 1890, quando as ruas de Fortaleza receberam números no lugar dos nomes, a via recebeu o número 19-A, voltando depois a antiga denominação de Rua do Seminário. Mais tarde, recebeu o nome atual, Monsenhor Tabosa.
No local da igreja havia um outeiro, chamado de Outeiro da Prainha. Ali foi levantada a igreja, à custa de doações, graças a Antônio Joaquim batista, sacristão do Bispado. As obras foram iniciadas em 1839 e a primeira missa foi oficiada no dia 8 de dezembro de 1841. Já o seminário foi instalado a 10 de dezembro de 1864. O local hoje ocupado pelo Seminário foi de 1811 a 1847, um pequeno cemitério. 



A Avenida Monsenhor Tabosa é o prosseguimento da Avenida Presidente Castelo Branco, popularmente conhecida como Avenida Leste-Oeste. Antigamente era o prosseguimento da Rua Franco Rabelo, o maior reduto de prostituição da cidade. Atualmente a Avenida Monsenhor Tabosa começa na Avenida Dom Manuel e termina na Avenida Barão de Studart, onde juntamente com a Avenida Historiador Raimundo Girão se transformam na Avenida Antônio Justa.
Hoje, a Avenida Monsenhor Tabosa é conhecida como um dos maiores centros de compras e artesanato de Fortaleza, recebendo visitantes de todas as partes do Brasil e do exterior.O nome é em homenagem a Antônio Tabosa Braga, Sacerdote e jornalista católico, Vigário Geral da Arquidiocese de Fortaleza, nascido em Itapipoca, no Ceará, em 19 de dezembro de 1874 e falecido em 12 de abril de 1935. 

 fotos antigas do Arquivo Nirez
fotos de Rodrigo Paiva e Fátima Garcia
mar/2014
histórico extraído do livro "A História do Ceará passa por esta Rua", de Rogaciano Leite Filho