segunda-feira, 28 de abril de 2014

Antigos Colégios de Fortaleza

Segundo dados do recenseamento no ano de 1900, Fortaleza contava com uma população de 48.369 habitantes. Cinquenta anos depois, esse número saltou para 270.169 moradores.  Nesse intervalo de tempo – entre 1900 e 1950, inúmeros estabelecimentos de ensino foram criados na cidade, atendendo o aumento da demanda por educação e formação profissional. Eis alguns das instituições educacionais surgidas nesse período.
 

  
Prédio do Colégio Nogueira inaugurado na Praça do Carmo, esquina com a Rua Barão do Rio Branco, local onde depois esteve o Colégio Farias Brito 

Na residência de Meton de Alencar, na Rua General Sampaio, ao lado da Casa Juvenal Galeno, funcionou o Externato Pedro II, de Francisco Gonçalves, e a partir de 1918, o Colégio Nogueira. O Instituto de Humanidades (Colégio Nogueira) inaugurado em 1904, destacou-se pelo revolucionário método didático, tornando-se o melhor e mais procurado educandário de Fortaleza. Tinha como lema revolucionário na pedagogia da época: Ensinar não muito, mas ensinar bem, ensinar certo, levando o aluno por processos naturais e ensinamentos concretos, a formar juízo perfeito de cada uma das disciplinas professoradas na escola.


 Colégio N. S. do Sagrado Coração (Doroteias) na Avenida Visconde do Rio Branco, encerrou as atividades no início dos anos 2000.

Em 1915, o Colégio N. S. do Sagrado Coração – o Colégio das Irmãs Doroteias – instalou-se em edifício próprio na Avenida Visconde do Rio Branco, com grande prestigio na cidade. A criação deveu-se a recomendação de D. Manuel da Silva Gomes, o terceiro bispo do Ceará e o primeiro arcebispo metropolitano de Fortaleza. Sua direção foi entregue às Irmãs da Congregação de Santa Doroteias, e construído de acordo com quatro referenciais importantes, nesse momento, para a educação da elite feminina do Ceará: os ideais católicos; os pressupostos patrióticos baseados na República recém instaurada; preparação para o casamento, à família e o lar e, por fim, a criação de um ambiente condizente com o bem-estar saudável e civilizador oferecido pela arquitetura monumental do prédio que se estabelecera.



O Colégio Cearense Sagrado Coração, dirigido pelos Irmãos Maristas, funcionou durante muito tempo na Avenida Duque de Caxias. Encerrou as atividades em 31 de dezembro de 2007.

O Colégio Cearense Sagrado Coração, surgiu em 1913, pelo empenho de quatro religiosos cearenses, entre os quais o Padre José Alves Quinderé, (monsenhor Quinderé). Este colégio localizava-se na antiga residência do Conselheiro Rodrigues Junior, na atual Rua Barão do Rio Branco, onde hoje se ergue o Edifício Diogo. Em 1916, os Irmãos Maristas, uma ordem fundada na França em 1817, pelo padre Marcelino Champagnat, assumiram a direção do colégio. No ano de 1917, funcionando com externato e internato, passou a funcionar na Avenida Duque de Caxias. Em 1937, por decreto do Governo Federal foi reconhecido como um dos melhores colégios do nordeste, equiparado ao Colégio Pedro II.


 Colégio São João que funcionou na antiga Vila Quixadá, casa construída por Adolfo Quixadá e que foi utilizada como residência dos presidentes de Estado. Em 1976 foi vendido para a Organização Farias Brito.
   
Notável também foi a importância do Ginásio São João na educação dos jovens cearenses. Surgiu em 1930, sob direção do professor César Adolpho Campello, sob patrocínio de seu cunhado João da Frota Gentil e instalou-se na antiga Villa Adolpho Quixadá, na Avenida Santos Dumont. 


Sede antiga na Avenida Imperador do Ginásio 7 de Setembro

O Ginásio 7 de Setembro, fundado em 07 de setembro de 1935 pelo professor Edilson Brasil Soarez, com apenas dois alunos em uma sala cedida pela Igreja Presbiteriana de Fortaleza. Em 1946 o Colégio mudou-se para a Avenida do Imperador, onde  funciona até hoje.


foto do dia da inauguração do Instituto Lourenço Filho, dos professores Filgueiras Lima e Paulo Sarasate

Colégio Lourenço Filho, estabelecido em 07 de fevereiro de 1938 por Paulo Sarasate e Filgueiras Lima, se instalando em prédio na Rua Floriano Peixoto, entre as Ruas Pedro Pereira e Pedro I. Ainda hoje se destaca em suas funções.


Primeira sede do Colégio Farias Brito, fundado pelo professor Adualdo Batista de Araújo, na esquina das Ruas Barão do Rio Branco e Clarindo de Queiroz 

O Colégio Farias Brito foi criado em 1935, pelo Professor Adualdo Batista de Araújo. Educador e administrador, Ary de Sá Cavalcante, atuou como professor e diretor deste colégio, entre 1941 até 1967, data em que faleceu. Sua família deu continuidade a sua obra.


 Sede do Colégio Batista na Avenida santos Dumont (imagem google) 

O Colégio Batista Santos Dumont foi fundado em 16 de janeiro de 1950, por um casal de missionários chegado a Fortaleza em 1946: o Dr. Burton de Wolfe Davis e sua esposa Sarah Blanche Davis. Oferecia os cursos pré-primário e primário. Funcionava na antiga Rua São Francisco, ainda sem numeração, hoje Rua Desembargador Leite Albuquerque. O Dr. Burton além de pastor era arquiteto e traçou as linhas de sua sede, uma espécie de templo grego.


Local onde funcionou o Ginásio Municipal Filgueiras Lima, na Rua Barão do Rio Branco, 1594 na Praça do Carmo na casa onde hoje está o Instituto do Ceará. Em 1966 mudou-se para a Avenida dos Expedicionários

Criado em abril de 1949 pela Lei Municipal n° 140, e intitulado inicialmente Ginásio Municipal de Fortaleza. Instalou-se em 02 de maio de 1951 em sua primeira sede, na Rua Barão do Rio Branco, 1594, na Praça do Carmo, na casa onde hoje funciona o Instituto do Ceará. Seu primeiro diretor foi o Dr. Jacinto Botelho de Sousa. A instituição visava atender à demanda por educação que ocorria a partir da exigência de uma formação integral, que não visava apenas a mera transmissão de conhecimentos. Em 1966 mudou-se para a Avenida dos Expedicionários e passou a se chamar Colégio Municipal Filgueiras Lima, em homenagem ao educador e poeta cearense Antônio Filgueiras Lima. 

pesquisa:
Ideal Clube, História de uma Sociedade, de Vanius Meton Gadelha Vieira
Cronologia Ilustrada de Fortaleza, de Miguel Ângelo de Azevedo 
sites das instituições
fotos do Arquivo Nirez

sexta-feira, 25 de abril de 2014

Caio Prado

Na Praça dos Mártires (Passeio Público), tem a Avenida Caio Prado, mas ele não foi um dos mártires envolvidos na Confederação do Equador, que acabaram fuzilados naquele logradouro; durante algum tempo, a atual Praça da Sé foi denominada Praça Caio Prado, em homenagem ao mesmo personagem. Afinal, quem foi Caio Prado?

 Avenida Caio Prado, no Passeio Público de Fortaleza 

Caio Prado foi sem dúvida uma das figuras mais interessantes que apareceu na provinciana Fortaleza daqueles tempos: filho de tradicional família paulista, irmão do escritor Eduardo Prado, rico, bonito, intelectual, educado na Europa, vivido e escolado no modus vivendi parisiense, depois de pouco mais de 7 meses a frente do governo de Alagoas, "caiu de paraquedas" no cargo de governador do Ceará, nomeado por Sua Alteza Imperial Dom Pedro II.
Nascido em São Paulo, em 13 de junho de 1853, chegou aqui aos 35 anos de idade. Assumiu o governo do Ceará em 21 de abril de 1888, cercado de admiradores e elogios de simpatizantes, mas com reservas da imprensa local. Ao tomar posse no cargo, logo se viu cercado de dificuldades de todos os tipos. Para começar, o Estado enfrentava mais um período de seca, a chamada “seca dos três oitos”, com a capital Fortaleza, mais uma vez, invadida por retirantes, em busca de alimentos, abrigo, trabalho e assistência social; e mais uma vez, exposta ao risco de epidemias, que costumavam surgir nessas situações de caos.
Talvez pelo desconhecimento no trato de problemas com os quais nunca tivera contato, talvez por não saber distinguir as especificidades da terra que aceitara governar, o presidente Caio Prado permaneceu alheio e distanciado das graves crises que o Estado atravessava.
Para agravar o quadro, o presidente cercara-se de amigos e correligionários, nomeando-os secretários, assessores, e para os demais postos oficiais do governo, todos inexperientes e tão descompromissados quanto o próprio.
Apesar das críticas que vinham de diversos setores da sociedade, e acusado de negligência em relação aos problemas que assolavam o Estado, Caio Prado não se abalou, e entregou-se à convivência dos intelectuais da terra e pessoas da sociedade, abrindo os salões do Palácio do Governo para receber a elite que o acompanhava às tertúlias e aos piqueniques domingueiros em sítios e chácaras de Fortaleza e Maranguape. 


Sitio do livreiro Gualter, no Benfica, que o presidente Caio Prado costumava frequentar. A segunda foto, identifica os presentes na primeira. 

O Palácio da Luz tornou-se um salão de festas aberto todo o tempo, as festas e recepções eram contínuas, os gastos altíssimos. As viagens ao interior do Estado eram tratadas como alegres excursões, sempre em companhia de amigos e correligionários.
Enquanto as festas palacianas aconteciam, a seca continuava implacável, trazendo para a Capital a miséria, a fome e um exército de retirantes. Somente após os rumores da existência de ações que visavam sua interdição, o governo decidiu adotar algumas providências ainda que tardias e iniciou a assistência aos flagelados através dos serviços públicos.

 embarque os chamados "soldados da borracha", que partiam em busca da sobrevivência e de melhorias de vida na Amazônia. Noticiais de jornais da época davam conta que em apenas dois vapores da Companhia Brasileira, embarcaram 2.720 emigrantes; outro jornal revelava que no período entre 19 de setembro a 12 de janeiro do ano seguinte, deixaram a província 5641 pessoas com destino ao sudeste e 2421 cearenses foram para o Norte. 

E a ajuda veio em maior intensidade em forma de migração, principalmente para a Amazônia e para o Sudeste, solução bastante comum em outras secas, sob outros governos. O “inferno verde” e os trabalhos nos cafezais atraíam os nordestinos expulsos pela seca, que sonhavam com dias melhores nos eldorados dos seringais e dos cafezais.
A administração de Caio Prado não fugiu à regra; apesar dos elogios recebidos pelas iniciativas tomadas em socorro dos necessitados, como a construção de açudes, foi muito criticado pela imprensa pelas atitudes tomadas, e por incentivar a migração de cearenses para outras regiões do país. Apesar das críticas, cada vez mais contundentes, o Presidente  continuou incentivando a emigração, e não apresentou nenhuma outra proposta, nenhuma outra solução.
Para completar a tragédia da falta de chuvas, como sempre acontecia nessas situações com grandes aglomerações, fragilizadas pela falta de alimentos, carentes de higienização, de assistência médica ou de  vacinas, proliferou no Ceará uma violenta epidemia de febre amarela, agravando o quadro de miséria para milhares de pessoas.
Com a epidemia instalada no Ceará, o próprio presidente foi uma das vítimas; acometido da doença, faleceu em 25 de março (ou maio) de 1889.

 a antiga Praça Caio Prado, atual Praça da Sé, nos anos 40

Com características tão marcantes, Caio Prado seria imortalizado no livro “A Normalista”, de Adolfo Caminha, um romance regionalista que trata dos costumes da época em Fortaleza.
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"Uma tarde em que o Mendes, o juiz municipal e a mulher, tinham ido passear ao Trilho, João da Mata entrou alvoroçado, sem fôlego, com uma notícia a escapulir-lhe da boca – Sabem quem está muito doente?

Todos voltaram-se surpreendidos, com o olhar cheio de curiosidade.

– Não, ninguém sabia. Algum conhecido? 
– O presidente, o Dr. Castro, teve um ataque há pouquinho. A rua está cheia. Diz que está bem mal.
– De quê, menino, interrogou o juiz muito admirado e já nervoso. Houve logo um interesse comovido dos circundantes.

E João, sentando-se sem apertar a mão aos Mendes, pálido, limpando a testa, foi dizendo o que sabia:

– Muita gente defronte do palácio. Tinham sido chamados todos os médicos, e todos menos o Dr. Melo, eram de parecer que se tratava de um caso de febre amarela. O presidente tinha acabado de jantar e lia à cabeceira da mesa a correspondência do sul chegada naquele momento, quando começou a sentir-se mal – embrulho no estômago, tonteira, calafrios. Imediatamente ergueu-se, lívido, e ao dar o primeiro passo, caiu fulminado!...
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Maria do Carmo passou a noite nervosa com insônias, sentida com a doença do Dr. Castro, muito apreensiva.

Não podia se conformar com a ideia da morte do presidente, o homem da moda, o querido das moças, o grande amigo do Ceará, que tantos benefícios fizera a essa província, mandando construir açudes no sertão, reconstruindo o Passeio Público, ativando obras do porto, facilitando a emigração, prodigalizando esmolas, e finalmente introduzindo em Fortaleza certos costumes parisienses, como por exemplo, o sistema de passear a cavalo a chouto, de aparar a cauda aos animais de sela.

Lembrava as qualidades pessoais do fidalgo paulista, o seu modo de falar num sotaque aportuguesado, muito moderado na conversação intima, as suas maneiras delicadas, os seus belos dentes branquejando sob um bigode sedoso e bem tratado...”

Trecho do romance A Normalista, de Adolfo Caminha

fonte:
GIRÃO, Valdelice Carneiro. A Emigração Cearense no Governo Caio Prado (1888-1889). Fortaleza: Revista do Instituto do Ceará, 1990.