quinta-feira, 27 de maio de 2010

Fortaleza, 1873: lá vem o trem

a locomotiva Fortaleza que inaugurou o transporte ferroviário na cidade,
foi vendida como ferro velho e desmontada.



Praça Castro Carrero - antigo campo d'Amelia - foi o local escolhido para
a instalaçao da estação central (foto reprodução)

No dia 3 de agosto de 1873, cerca de 8.000 curiosos, praticamente a totalidade da população de Fortaleza, vieram assistir, na rua do trilho de Ferro, hoje Avenida Tristão Gonçalves, a passagem barulhenta do primeiro trem, com seu apitar estridente e esquisito.
Naquela tarde a locomotiva “Fortaleza” fazia sua viagem inaugural, diante de uma multidão entusiasmada com a novidade. Sob aplausos, o pequenino trem rodou cinco vezes seguidas entre a estação central, localizada no antigo Campo d’Amélia – atual Praça Castro Carrero ou Praça da Estação, como é mais conhecida – e a parada do Chico Manoel, situada na esquina da Travessa das Trincheiras – atual rua Liberato Barroso.
Foi um sucesso difícil de descrever. A expectativa pela inauguração do novo meio de transporte começara um mês antes, quando foram iniciados os trabalhos de assentamentos dos primeiros trilhos da Companhia Cearense da Via Férrea de Baturité Sociedade Anônima, cujo contrato com o governo da província, fora firmado três anos antes, em 1870.
A inauguração oficial ocorreu em 29 de novembro, com a conclusão do primeiro trecho entre Fortaleza e Arronches, (atual Parangaba), com o trem puxado pela locomotiva “Fortaleza” sob a direção do maquinista José da Rocha e Silva. A velocidade do comboio era de 26 k/h, podendo chegar ao máximo de 32 quilômetros/hora.

A locomotiva “Fortaleza”, rodou muitos anos sobre os trilhos da Estrada de Ferro Baturité, até tornar-se obsoleta e ser recolhida ao depósito de ferro velho, onde ficou atirada a um canto. Certo dia sumiu misteriosamente e ressurgiu, noutro ponto da cidade numa oficina de ferreiro, onde foi desmontada, e transformada em peças variadas.
Mais uma vez a nossa Fortaleza, fez jus a fama de cidade sem memória e sem patrimônio histórico que lhe testemunhe as origens.




A Estação da Parangaba foi aberta com o nome de Arronches, em 1873. O imóvel foi tombado pelo Patrimônio Histórico e não poderá ser demolido, como desejava a direção do Metrofor
Foto locomotiva: http://www.ofipro.com.br/preservando/estacao.htm

Fonte: MENEZES, Raimundo. Coisas que o Tempo Levou: crônicas históricas da Fortaleza antiga. Fortaleza: Edições Demócrito Rocha, 2000.

segunda-feira, 24 de maio de 2010

TV Ceará canal 2 – A Fábrica de Sonhos

Studio A - Cenário dos dramas de rua e de lutas encenados na programação
Inaugurada em 26 de novembro de 1960, a TV Ceará iniciou sua programação logo no dia seguinte a sua festa inaugural.
A chegada da TV à Fortaleza, dez anos depois da sua inauguração no Brasil, representou muito mais do que uma simples opção de lazer – foi um acontecimento, um fenômeno social que revolucionou a vida da cidade.
Na Fortaleza dos anos sessenta as pessoas tinham o hábito de sentar na calçada, o rádio ligado. As rodas de cadeiras na calçada às vezes se desfaziam durante uma novela ou um programa, mas logo se recompunham.
Naquelas pequenas assembléias formadas por vizinhos, se falava (mal) de tudo, da vida alheia, do governo, do custo de vida, sobre os acontecimentos do dia a dia.
As crianças se entretinham com as brincadeiras de roda, com o jogo de bola na rua. Quando a televisão chegou, botou todo mundo para dentro de casa.
A programação era ao vivo, gerada com talento local: cantores, atores, escritores e diretores, técnicos.
O Diretor de Programação Péricles Leal veio do Rio trazendo uma programação mais ou menos nos moldes das TV’s de São Paulo e do Rio de Janeiro: teatro de romance, videorama, contador de histórias e aos domingos, um show musical e mais os programas TV de mistério e TV de comédia.
O cearense Emiliano Queiroz, um dos pioneiros na TV, conta que todos eram polivalentes; que ele, em uma semana, fazia cinco ou seis personagens, escrevia os comerciais ao vivo, fazia contato com clientes, ensaiava e levava ao ar, realizava sorteios de carnês das lojas Romcy Magazine e era também apresentador.
Adaptou contos, e escreveu textos para o “Contador de Histórias”.
“O Contador de Histórias” foi um ambicioso projeto dirigido por Péricles Leal, onde adaptações de peças teatrais de autores famosos foram apresentados na série.
Havia um show, patrocínio da “Linholene”, que trazia para Fortaleza cantores do eixo Rio-São Paulo, onde se apresentaram Ângela Maria, Dalva de Oliveira e Norma Suely.
No departamento das anunciadoras, (as garotas-propaganda) cinco delas se tornaram estrelas de televisão: Rita, (que anunciava a loja Flama – símbolo de distinção); Stelinha (Banco União Sociedade Anônima, para servi-lo); Shirley, Adalgisa e Tatiana.
A TV ao vivo era pródiga em acidentes.
No teleteatro, numa cena entre Emiliano Queiroz e João Ramos – o grande nome do rádio e televisão do Ceará – numa cena de briga, o primeiro não desviou o rosto a tempo e teve o nariz quebrado no ar.
Em outra ocasião, em determinada cena, o ator deu um soco tão forte na borda de uma cama que ela quebrou e o cortinado do dossel caiu sobre sua cabeça. O programa saiu do ar por alguns minutos. Entrou o slide do indiozinho com a música.
Minutos depois a cena continuou com a cama, sem o dossel. Ninguém reparou.
Com o advento do vídeo-tape, mudou o modo de se fazer televisão no Brasil. O avanço tecnológico possibilitou a gravação dos programas, permitiu a correção dos erros e o estabelecimento de horários dos programas, mas, em compensação, decretou o fim da programação ao vivo.
A tele-dramaturgia estava com os dias contados.
Estúdio B em dia de programa de auditório. Os programas eram
animados por AugustoBorges


Jane Azeredo, Augusto Borges, (que também era apresentador) no centro, entre dois figurantes. Destaque para o guarda-roupa de época.
Cena do romance A Dama das Camélias, de Alexandre Dumas. Emiliano Queiroz é o galã . Cleyde Holanda, a própria Dama
João Ramos e Emiliano Queiroz, vivendo papéis
importantes, em peça ambientada no século passado. Possivelmente cena do romance Lucíola, de José de Alencar
Emiliano Queiroz, Cleyde Holanda, Glice Sales, Maria Luiza e Lourdes Martins, no cenário concebido para o romance Diva, de José de Alencar
Ao fundo Augusto Borges e Rinauro Moreira.
À frente: Emiliano Queiroz e Wilson Machado). Em "A morte prepara o laço"

fontes:
LETÍCIA, Maria. Emiliano Queiroz na sobremesa da vida. Imprensa oficial: São Paulo, 2006.
CAMPOS, Eduardo. TV Ceará a Fábrica de Sonhos. UFC – Casa José de Alencar – Programa Editorial, 1999.

sábado, 22 de maio de 2010

A construção do Porto do Mucuripe



O primeiro projeto relativo a instalação do porto do Mucuripe foi apresentado em 1870, por um engenheiro inglês, que recomendava o inicio das obras na enseada ali existente. Mas somente em 1886 os trabalhos foram iniciados. Apesar do conhecimento das condições do ancoradouro na ponta do Mucuripe, a quase ausência de arrecifes era apontada como um ponto desfavorável à instalação do porto naquele local.
Em pouco tempo a intensidade das ondas destruiu o que já havia de obras inclusive o próprio ancoradouro, o que foi determinante para o abandono do projeto. E as mercadorias continuaram sendo levadas em embarcações pequenas para os navios que ficavam a 500 metros da praia. Conta-se que as mercadorias chegavam molhadas e quem desembarcava não deixava de tomar um banho salgado.
Em 1908 foram feitos novos estudos e a construção do porto foi contratada e iniciada, Mas as obras federais em andamento no Nordeste foram suspensas ao final do governo do Presidente Epitácio Pessoa (1919-1922), quando somente 250 metros de viaduto haviam sido construídos, de um total de 800 metros projetados.
Desde 1920 que o governo estadual era concessionário das obras do porto, mas os problemas que afetam as administrações estaduais, já se faziam sentir desde aquela época: a atitude de descaso no trato das obras públicas, tanto no plano federal quanto no estadual, a falta de aplicação de recursos, além da quebra da continuidade da obra, arrastava as obras de construção do porto.
A morosidade da obra passou a fazer parte do anedotário popular, segundo o qual havia três sinfonias inacabadas em Fortaleza: a catedral, o cine São Luis e o porto do Mucuripe.
Em 1921 foi contratada a firma Norton Griffths, sob administração, para executar as obras. Os trabalhos tiveram andamento em 1922 e 1923, mas logo depois foram suspensos por motivos administrativos diversos;
Em 1939, foi instalado o canteiro de obras para construção do primeiro trecho de cais. Foram construidos 426 metros de cais acostável ao Porto de Fortaleza;
Em 1952, foram construídos os armazéns A-1 e A-2.
Em 1953, deu-se a atracação do Vapor Bahia, primeiro navio a atracar no novo Porto.
No decorrer do ano de 1964, deu-se a construção do armazém A-3, bem como foram iniciados os trabalhos de construção da estação de passageiros, do muro de fechamento e do cais 8 metros de profundidade;
Em 1968 foram inaugurados o armazém A-4, o prolongamento do cais de 10 metros de profundidade e a “Estação de Passageiros”.
Em 1980 foi inaugurado o cais pesqueiro, em 1982 foi inaugurado o píer petroleiro do Porto e em 1984 o armazém A-5.
Entre o inicio do segundo projeto e o final das obras, a construção do porto do Mucuripe durou mais de setenta anos, num monumental atestado de incompetência, passado por diversos governos estaduais, consumiu recursos incalculáveis e de quebra, destruiu a Praia de Iracema.
O Porto tornou-se um obstáculo para o fluxo de areias do litoral leste para o oeste, causando a drástica diminuição da faixa de praia na região da Praia de Iracema e o progressivo abandono das atividades portuárias e comerciais na área.
Ao mesmo tempo em que impulsiona o desenvolvimento, o novo porto é também fator de decadência das áreas tradicionais. Essa decadência atingiu o próprio centro da cidade e a zona da Praia Formosa, em torno do Dragão do Mar, onde havia atividades ligadas ao movimento portuário

Fotos: http://www.skyscrapercity.com/showthread.php?t=774672
Fontes: Verso e reverso do perfil urbano de Fortaleza, de Gisafran Nazareno Mota Jucá
Revista Fortaleza, fascículo 10
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quinta-feira, 20 de maio de 2010

O maníaco corta-bunda


Nos anos 80, o Bairro Prefeito José Walter – conjunto habitacional construído em 1970, localizado entre o Jangurussu e o Mondubim, nos limites de Fortaleza com Maracanaú – foi tomado pelo medo do ataque de um maníaco que cortava a bunda das mulheres.

 Conjunto Zé Walter em 1972 (arquivo Nirez)

De 1985 a 1987, o dia-a-dia no Zé Walter era assim, todos em estado de alerta, polícia e população em polvorosa, receosos de que o corta-bunda, armado com um estilete, invadisse a residência e cortasse os glúteos das mulheres que encontrasse pela frente. Foi uma época de terror que ficou marcada na história do bairro.
Pais e mães de família amanheciam o dia sentados na porta da rua, com cassetetes na mão, cochilando. Ninguém trabalhava mais. As mulheres não saíam, não andavam e nem ficavam em casa sozinhas. Todas as noites os moradores faziam rodízio para fazer o lanche das pessoas que iam ficar acordadas à noite, na ronda.

 Conjunto Zé Walter em 2010 (Fortaleza em Fotos)
 
Até os roubos e furtos diminuíram no bairro, porque os ladrões tinham medo de serem confundidos com o maníaco. No dia 6 de fevereiro de 1987, Francisco Evandro Oliveira da Silva, 26 anos, foi preso, confessou todos os crimes de lesão corporal, e colocou-se a disposição para identificar todas as casas que havia invadido.
As vítimas (dizem que foram mais de trinta, embora apenas três tenham formalizado queixa que resultou em processo) foram reconhecê-lo na delegacia de polícia do José Walter, enquanto do lado de fora uma multidão queria linchá-lo.

prisão do acusado (jornal O Povo)
Vinte dias depois da prisão Francisco Evandro foi assassinado no Presídio Olavo Oliveira. Mas a história não parou aí: até hoje, moradores acreditam que Evandro foi apenas "um dos corta-bunda" ou que foi somente um "laranja", pago ou coagido a assumir os crimes.

quarta-feira, 19 de maio de 2010

A Primeira Igreja Protestante de Fortaleza

Fachada da primeira Igreja Presbiteriana na Rua Sena Madureira, com Pedro Borges no centro (foto reprodução)o prédio da igreja (em foto mais recente) foi vendido ao grupo C.Rolim e demolida em 1976. No local hoje tem um edificio do grupo (foto reprodução)
Os primeiros protestantes que chegaram a Fortaleza em 1881, eram da Igreja Presbiteriana. Saiam de porta em porta, com um burrico carregado de folhetos e livros sagrados a oferecer a salvação eterna.
O casal De Lacy e Mary Wardlaw desembarcou em setembro de 1882, com a missão de propagar as escrituras. No mesmo dia da chegada, em um hotel da Praça dos Mártires (Passeio Público), o pastor apresentava o culto aos anfitriões: o capitão do porto e senhora, o chefe dos correios um jornalista recém convertido e alguns passantes.
Em que pese o culto em língua estrangeira, o americano batizou 13 novos adeptos em julho de 1883. Com isso foi fundada a primeira congregação protestante de fortaleza, que em 1890, deu origem a Igreja Presbiteriana de Fortaleza, a mais antiga da cidade e por muitos anos, a única.
O protestantismo bateu de frente com a tradicional e conservadora Igreja Católica. A reação veio na forma de advertência aos fiéis, e de destruição de templos e casas de protestantes.
Mas as dificuldades maiores os pastores presbiterianos encontraram no interior do Estado.
Em Baturité, De Lacy se hospedou numa pensão, e na hora das refeições, quando sentava à mesa, alguém sempre jogava areia no prato.
Em Barbalha tinha uma placa na entrada da cidade: “alto lá senhores protestantes. Barbalha de Santo Antonio já está evangelizada”.
Apesar das resistências, os protestantes conseguiram plantar muitas sementes no interior.

Fonte: Revista Fortaleza, fascículo 2

terça-feira, 18 de maio de 2010

A Cidade Americanizada: Fortaleza no Pós-Guerra


exemplos de figurinos usados por homens e mulheres no inicio do século XX (foto reprodução)

Na segunda metade dos anos quarenta, terminada a Segunda Guerra Mundial, enquanto a Europa tentava recuperar-se dos estragos causados pelo conflito, os americanos emergiram como os novos heróis, os vencedores que derrubaram Hitler e seus aliados.
Em toda América Latina os americanos viram aumentar o prestígio e a idolatria pelos bravos soldados do Tio Sam. Nada mais natural para essas populações, inclusive a do Brasil, do que aderir à emergente cultura proveniente da América do Norte. E as grandes invenções americanas do pós-guerra foram o plástico, o pirex, as meias de nylon, a caneta esferográfica, além é claro, da coca-cola.
Fortaleza, que antes da guerra estivera sob jugo da moda francesa, de onde eram importados tecidos finos, chapéus, vestidos, sapatos e perfumes, de repente, encantou-se pelas quinquilharias americanas. E não foram só os produtos que causaram sensação por aqui: a música, a dança, os filmes encontraram espaço nos salões e nos cinemas da cidade.
Os jovens mascavam chicletes, tomavam coca-cola e dançavam Fox. Os mais velhos dançavam ao som de Glenn Miller e dos ritmos caribenhos.
Em frente as lojas do centro juntava pequenas multidões para assistir as demonstrações das novas aquisições. Nas Lojas de Variedades na Praça do Ferreira, os vendedores mostravam as maravilhas do plástico – através de copos que não quebravam mesmo quando eram arremessados ao chão – e do pirex, o novo vidro miraculoso que podia ir ao forno sem quebrar, para uma platéia que assistia tudo de boca aberta, queixo caído, maravilhada diante de tantas novidades.
Mas sucesso mesmo fizeram as meias de nylon: primeiro correu a noticia de que os americanos tinham inventado uma “meia de vidro”. Seria tão fina e transparente que podia ser lavada e usada em seguida, pois secava instantaneamente. Logo depois as meias de nylon chegaram às vitrines e causaram furor, as tradicionais meias de seda foram deixadas de lado, as mulheres tinham prazer em ostentar a novidade.
O plástico aumentou a família na forma de bacias, baldes, tigelas, pratos e até penicos. Então lançaram a grande novidade: o tecido de plástico, em peças estampadas. E logo surgiram os vestidos de plásticos, que as mulheres usaram sem pestanejar, abandonaram em seguida por causa do calor que faziam, para só depois descobrirem que a novidade servia era para fazer cortinas de banheiro.
Assim se deu a transição da elegante Fortaleza à francesa para a cidade americanizada: uma cidade seduzida por plásticos, pirex, e meias de ”vidro”.

Fonte:
Lopes, Marciano. Royal Briar: A Fortaleza dos anos 40. Fortaleza: ABC, Coleção Nostalgia, 1996.

O Massacre do Sitio Caldeirão

capela do caldeirão (foto reprodução)

Um misto de silêncio e esquecimento paira sobre um fato ocorrido no Município do Crato, Ceará, nos idos da década de 1930, na localidade denominada Sitio Caldeirão. Naquele local o beato José Lourenço, um dos mais importantes seguidores do Padre Cícero, fundou uma comunidade religiosa, em uma terra doada pelo religioso quando ainda vivo.
O caldeirão era uma comunidade auto-suficiente economicamente no que diz respeito à fabricação de instrumentos e ferramentas de trabalho utilizados nas oficinas, lavoura e no beneficiamento do consumo alimentar
Organizada em moldes socialistas, a comunidade logo atraiu contra si o ódio de todas as forças conservadoras do Nordeste. Seus membros eram hostilizados clero do Cariri, pelos grandes proprietários de terra - que ficavam sem a mão-de-obra barata - e pelas autoridades locais, que viam naquele ajuntamento de sertanejos uma ameaça a ordem constituída.
No ano de 1936 o sitio Caldeirão foi destruído e a comunidade dispersada. No inicio de 1937 as autoridades receberam denúncias que davam conta que, mesmo após a dissolução da comunidade, tanto o beato José Lourenço quanto seus seguidores continuavam vivendo clandestinamente nas matas da Chapada do Araripe.
Em maio daquele mesmo ano, foi organizada uma ofensiva, sob o comando do brigadeiro José Sampaio Macedo, para acabar de vez com o problema. Aviões da Força Aérea brasileira sobrevoaram o local e metralharam o que restava da comunidade.
Além do ataque aéreo, a policia militar invadiu por terra deixando um rastro de sangue, incêndios, saques e mais de trezentos corpos de trabalhadores rurais de todas as idades.
Dizem que o beato anteviu o massacre: ele advertiu que “quando os aeroplanos aparecessem fazendo fumaça, todos se deitassem no chão, protegendo a cabeça.”

Fontes:
http://www.aridesa.com.br/servicos/click_professor/marta_moura/9serie/o_calderao.pdf
http://diariodonordeste.globo.com/materia.asp?codigo=277380

Agora a ONG SOS – Direitos Humanos busca uma investigação que esclareça por completo esse infausto acontecimento, localize os corpos das indefesas vítimas e se faça justiça em nome dos seus familiares.

Veja a denúncia completa

DENÚNCIA: SÍTIO CALDEIRÃO, O ARAGUAIA DO CEARÁ – UMA HISTÓRIA QUE NINGUÉM CONHECE PORQUE JAMAIS FOI CONTADA"
As Vítimas do Massacre do Sítio Caldeirãotêm direito inalienável à Verdade, Memória,História e Justiça!" Otoniel Ajala Dourado
O MASSACRE DELETADO DOS LIVROS DE HISTÓRIA
No município de CRATO, interior do CEARÁ, BRASIL, houve um crime idêntico ao do “Araguaia”, foi a CHACINA praticada pelo Exército e Polícia Militar em 10.05.1937, contra a comunidade de camponeses católicos do SÍTIO DA SANTA CRUZ DO DESERTO ou SÍTIO CALDEIRÃO, cujo líder religioso era o beato "JOSÉ LOURENÇO GOMES DA SILVA", paraibano negro de Pilões de Dentro, seguidor do padre CÍCERO ROMÃO BATISTA, encarados como “socialistas periculosos”.
O CRIME DE LESA HUMANIDADE
O crime iniciou-se com um bombardeio aéreo, e depois, no solo, os militares usando armas diversas, como metralhadoras, fuzis, revólveres, pistolas, facas e facões, assassinaram na “MATA CAVALOS”, SERRA DO CRUZEIRO, mulheres, crianças, adolescentes, idosos, doentes e todo o ser vivo que estivesse ao alcance de suas armas, agindo como juízes e algozes. Meses após, JOSÉ GERALDO DA CRUZ, ex-prefeito de Juazeiro do Norte/CE, encontrou num local da Chapada do Araripe, 16 crânios de crianças.
A AÇÃO CIVIL PÚBLICA PROPOSTA PELA SOS DIREITOS HUMANOS
Como o crime praticado pelo Exército e Polícia Militar do Ceará é de LESA HUMANIDADE / GENOCÍDIO é IMPRESCRITÍVEL conforme legislação brasileira e Acordos e Convenções internacionais, a SOS DIREITOS HUMANOS, ONG com sede em Fortaleza - CE, ajuizou em 2008 uma Ação Civil Pública na Justiça Federal contra a União Federal e o Estado do Ceará, requerendo:
a) que seja informada a localização da COVA COLETIVA,
b) a exumação dos restos mortais, sua identificação através de DNA e enterro digno para as vítimas,
c) liberação dos documentos sobre a chacina e sua inclusão na história oficial brasileira,
d) indenização aos descendentes das vítimas e sobreviventes no valor de R$500 mil reais,
e) outros pedidos
A EXTINÇÃO SEM JULGAMENTO DE MÉRITO DA AÇÃO
A Ação Civil Pública foi distribuída para o Juiz substituto da 1ª Vara Federal em Fortaleza/CE e depois, para a 16ª Vara Federal em Juazeiro do Norte/CE, e lá em 16.09.2009, extinta sem julgamento do mérito, a pedido do MPF.
RAZÕES DO RECURSO DA SOS DIREITOS HUMANOS PERANTE O TRF5
A SOS DIREITOS HUMANOS apelou para o Tribunal Regional da 5ª Região em Recife/PE, argumentando que: a) não há prescrição porque o massacre do SÍTIO CALDEIRÃO é um crime de LESA HUMANIDADE, b) os restos mortais das vítimas do SÍTIO CALDEIRÃO não desapareceram da Chapada do Araripe a exemplo da família do CZAR ROMANOV, que foi morta no ano de 1918 e a ossada encontrada nos anos de 1991 e 2007;
A SOS DIREITOS HUMANOS DENUNCIA O BRASIL PERANTE A OEA
A SOS DIREITOS HUMANOS, como os familiares das vítimas da GUERRILHA DO ARAGUAIA, denunciou no ano de 2009, o governo brasileiro na Organização dos Estados Americanos – OEA, pelo DESAPARECIMENTO FORÇADO de 1000 pessoas do SÍTIO CALDEIRÃO.
QUEM PODE ENCONTRAR A COVA COLETIVA
A “URCA” e a “UFC” com seu RADAR DE PENETRAÇÃO NO SOLO (GPR) podem localizar a cova coletiva, e por que não a procuram? Serão os fósseis de peixes do "GEOPARK ARARIPE" mais importantes que os restos mortais das vítimas do SÍTIO CALDEIRÃO?
A COMISSÃO DA VERDADE
A SOS DIREITOS HUMANOS busca apoio técnico para encontrar a COVA COLETIVA, e pede que o internauta divulgue a notícia em seu blog/site, bem como a envie para seus representantes no Legislativo, solicitando um pronunciamento exigindo do Governo Federal a localização da COVA COLETIVA das vítimas do SÍTIO CALDEIRÃO.
Paz e Solidariedade,
Dr. Otoniel Ajala Dourado
OAB/CE 9288 – 55 85 8613.1197
Presidente da SOS - DIREITOS HUMANOS
Editor-Chefe da Revista SOS DIREITOS HUMANOS
Membro da CDAA da OABAB/CE
http://twitter.com/REVISTASOSDH

quarta-feira, 5 de maio de 2010

História de Fortaleza: A Queda do Governo Accioly

Praça Marquês do Herval, em 1906 (atual Praça José de Alencar) após a remodelação: jardins, estátuas e coreto. A Praça foi completamente destruída durante a revolta popular de 1912. ((Arquivo NIREZ))


Em Janeiro de 1912 as ruas e praças de Fortaleza se transformaram em campos de batalha. Na maior revolta urbana que o Ceará já conheceu, a população depõe o grupo político que dominou o Estado durante 20 anos, de 1892 a 1912. Comandado por Antonio Pinto Nogueira Accioly, o grupo teve como um dos principais representantes em Fortaleza o Intendente Guilherme Rocha, que ficou duas décadas no poder (de 12/07/1892 a 03/02/1912).
Chefe político desde o final da monarquia, quando chegou a ser deputado, senador e vice-presidente da Província, Nogueira Accioly reorganizou seu grupo tão logo foi proclamada a República.
Fundou o Partido Republicano Federal em 1890. A partir daí passou a comandar uma máquina política que ia da Assembléia, passava pela Câmara dos Deputados (onde elegeu toda bancada) até à maioria dos chefes políticos do interior, os chamados coronéis.
Essa situação favorecia práticas de nepotismo, fraudes, corrupção e atos de violência contra os adversários.
A situação de violência extrema chegou ao ápice quando a oposição lançou Franco Rabelo para a disputa do governo do Estado. Diante da ampla aceitação do opositor na cidade, os partidários de Accioly passaram a usar da violência e intimidação.
O clima político, tenso, agravou-se com três passeatas pró-Rabelo reunindo milhares de pessoas. Nas duas primeiras a polícia interveio atirando, provocando correrias, atropelos e deixando pessoas feridas.
Mas foi na terceira, uma passeata reunindo mais de 600 crianças, no dia 21 de janeiro de 1912, que o inesperado aconteceu: A cavalaria investiu sobre a marcha, atropelando e pisoteando quem encontrasse pela frente.
A partir desse fato começou o enfrentamento armado entre civis e policiais. A revolta teve inicio no dia 21 e só terminou no dia 24 com a deposição do oligarca.
Embarque do Presidente Antonio Pinto Nogueira Accioly (de cartola) quando de sua deposição (Arquivo NIREZ)
Durante a revolta popular, Fortaleza se transformou em palco de guerra, com tiroteios, emboscadas, trincheiras e barricadas.
A população enfurecida ocupou vários pontos da cidade, inclusive o Palácio do Governo, onde estava Accioly; promoveu saques e depredações, destruiu postes de iluminação, saqueou lojas, virou bondes e destruiu a fábrica de tecidos de Tomás Pompeu.
Entre os alvos da depredação, a Praça Marquês do Herval, atual Praça José de Alencar e a Avenida Nogueira Accioly, instalada no seu interior.
As eleições vieram logo após a revolta, com a vitória do candidato da oposição Franco Rabelo, que não governaria mais do que 2 anos.
Em 1914, da região do Cariri veio um exército de sertanejos, comandados por partidários de Accioly e abençoados pelo Padre Cícero, para depor pela força das armas, o novo governo. Novamente a população se preparou para o enfrentamento que acabou não acontecendo, face a intervenção do Governo Federal que substituiu Rabelo pelo Interventor Setembrino de Carvalho.

Fontes: Revista Fortaleza fascículo 4
Fortaleza Belle Epoque de Sebastião Rogério Ponte