quarta-feira, 30 de junho de 2010

Fortaleza de Nova Bragança

orla de Fortaleza Foto: http://www.skyscrapercity.com/showthread.php?t=367279

Uma tarde destas, a hora do sol poente,
contemplei do alto, com incansável olhar de amante,
cobiçoso e comovido, orgulhoso e feliz,
esta Fortaleza minha muito amada
– tive direito ao espetáculo mais generoso e mais grato, o que mais me toca e me fala –
e abracei com o coração esta cidade
que é um poema feito em pedra e cal,
em cimento, ferro, vegetação e sensibilidade,
onde o sol dá festa diária
e o verde mar é uma permanente, amorável companhia.

Milton Dias
(da Crônica Fortaleza de Nova Bragança)

Extraído do livro: Fortaleza 1910 – Edições UFC


terça-feira, 29 de junho de 2010

A Visita do Papa João Paulo II à Fortaleza

Karol Wojtyla, o Papa João Paulo II (foto reprodução)

Em 1980 a Igreja Católica não tinha a concorrência das igrejas evangélicas que hoje pululam no país, e reinava absoluta no seio da população daquela que é considerada a maior Nação católica do mundo, o Brasil; também não era de conhecimento público a nefasta atuação de bastidores dos padres-pedófilos, que envolveu a igreja católica num escândalo sem precedentes e comprometeu a imagem do clero como um todo.
Foi nesse contexto de harmonia e unidade religiosa que, pela primeira vez, o Brasil recebeu a visita de um Papa, autoridade máxima na hierarquia da Igreja Católica Apostólica Romana, e chefe de Estado da Cidade do Vaticano.
O primeiro papa a visitar o país foi João Paulo II, com apenas dois anos de pontificado. Sua presença levou uma multidão de 4,5 milhões de católicos e não católicos às ruas e agitou o Brasil de norte a sul.
O papa desembarcou em 30 de junho de 1980, na Base Aérea de Brasília, onde realizou o gesto que se tornaria sua marca registrada, ao ajoelhar-se e beijar o chão, saudando a terra que acabava de pisar. Até 11 de julho, quando embarcou de volta ao Vaticano, passou por diversas capitais brasileiras como Belo Horizonte, Rio de Janeiro, São Paulo, Porto Alegre, Curitiba, Manaus, Recife, Salvador, Belém, Teresina e Fortaleza além da cidade de Aparecida, em São Paulo.

Estádio do Castelão, em 1980, no dia da visita do Papa (foto Jornal O Povo)

No dia 09 de julho, o Papa João Paulo II chegou a Fortaleza, que naquela ocasião sediava o X Congresso Eucarístico Nacional. Estima-se que 120 mil pessoas compareceram ao Estádio Castelão, onde o Papa celebrou uma missa em companhia do cardeal-arcebispo de Fortaleza, D. Aloísio Lorscheider.  
Enquanto durou a visita, o país funcionou à base de pontos facultativos nas repartições públicas e horários reduzidos nos bancos e no comércio; as escolas decretaram feriado, e multidões foram às ruas saudar o ilustre visitante.
Essa visita do Papa foi uma das maiores movimentações populares já registradas no país. O Papa João Paulo II revelou-se uma figura carismática, que conquistou a simpatia e o coração de milhares de brasileiros. 

segunda-feira, 28 de junho de 2010

A Violência cotidiana na Capitania do Siará

Forte São Sebastião - Fortaleza Gravura do Séc. XVII (foto reprodução)

Em Fevereiro de 1787, o Ouvidor da Capitania do Ceará Manuel Magalhães Pinto e Avelar escreveu uma carta endereçada à soberana portuguesa, D. Maria I (1777-1792).
O conteúdo da correspondência se assemelhava a um relatório sobre as atividades econômicas do Ceará e continha sugestões e queixas sobre a situação da Capitania.
Segundo o Ouvidor havia uma série de características da região e de seus habitantes que contribuíam para o não desenvolvimento da economia: o vicio pela aguardente, a ociosidade, a estupidez inata e a grande quantidade de homens vadios e matadores, que sequer reconheciam a autoridade do Reino.

Anos depois, em 1798, o pároco Joaquim Pereira registrava seu testemunho sobre a seca grande de 1792. O pároco responsabilizava a estiagem e a violência exacerbada pelo êxodo rural e pela alta mortalidade da população.
O cenário descrito pelo padre era de extrema calamidade, onde a seca ameaçava despovoar vastas regiões do sertão da capitania. Segundo as reflexões do padre, a ausência de chuvas redefinia personalidades que se despiam de qualquer solidariedade.
Era o homem em seu estado bruto, engendrado sob o calor escaldante e a dor profunda da fome.

No ano de 1816 o engenheiro real Antonio Paulet, ao descrever a capitania, denunciava uma rotina marcada por assassinatos e vinganças. Procurando explicar a estagnação no desenvolvimento da Ceará, o enviado da corte portuguesa apontava algumas causas para a situação econômica precária do lugar.
Reforçando as impressões do ouvidor, escritas 29 anos antes, o engenheiro apontava a seca, o roubo, a ociosidade e os crimes de morte como os motivos principais do atraso em que se achava a capitania.

A impunidade era explicada por Paulet como um elemento tão comum quanto os assassinatos e tinha dois fatores como causa: o primeiro seria a própria geografia cearense que facilitava a fuga e dispersão dos matadores. O segundo seria a conivência da população com os crimes de morte. A violência era utilizada como um sistema de resolução e negociação de conflitos entre a população. Nesse sentido o papel do poder instituído era secundário.

A violência se constituía num elemento integrante do sertão cearense. Sua presença era tácita e emergia em diferentes circunstâncias do cotidiano, como na nomenclatura de algumas localidades ou fazendas. Tais lugares traziam em suas denominações a lembrança dos assassinatos e das guerras que marcaram sua história.
A Freguesia de Nossa Senhora do Riacho do Sangue ganhara esse nome após uma batalha entre famílias pela posse da terra. Morreram tantas pessoas que o sangue tingiu de vermelho as águas do riacho. O Sitio Bacamarte ficou conhecido por essa denominação depois que seu proprietário, Alexandre Mourão, cansou de perseguir um inimigo, por longo tempo, sem sucesso e resolveu fixar moradia. Saco de Bala era uma região da Serra da Ibiapaba, onde após um confronto, foi encontrado um saco de balas.

Na indumentária dos sertanejos além dos acessórios de couro, as armas integravam o traje do cearense: facas conhecidas como Parnaíbas e Catanas, ou armas de fogo como bacamartes, granadeiras e pistolas. Como era corriqueiro o uso de armas, então se fazia necessário criar mecanismos de proteção contra esse arsenal, que estava sempre a espreita em cada trecho de estrada.

O Rol dos Culpados era um livro onde se registrava o nome dos réus condenados após a abertura da querela e a conclusão do julgamento, isso implicava que, somente os crimes denunciados e condenados figuravam na listagem nominal desse documento.
Entre os anos de 1793-1815 foram registrados no Rol dos Culpados 432 delitos; 178 foram assassinatos, agressões ou porte de armas, ou seja, cerca de 40% dos crimes julgados e condenados estavam diretamente relacionados com tentativas contra a vida.
Fonte:
VIEIRA JR, Antonio Otaviano. Apresentando a Família a partir da Violência. Tramas, tensões e cotidiano no Ceará (1780-1850). Documentos Revista do Arquivo Público do Ceará, V.1. n° 4, semestral. Fortaleza: Arquivo Público do Ceará, 2005.

domingo, 27 de junho de 2010

A Dinâmica da Paisagem em Fortaleza

Cidade da Criança em 1935 (foto reprodução)


Litoral de Fortaleza anos 40 (foto reprodução)

Benfica anos 40 (foto reprodução)
As grandes cidades passam por transformações que mudam radicalmente sua paisagem, em espaços de tempo relativamente curtos. Essa dinâmica inclui a mudança de nomenclatura de ruas, de bairros, e logradouros diversos que são criados e depois somem com a mesma velocidade. Exemplo disso é a cidade de Fortaleza de alguns anos atrás.

Nos idos dos anos 1940 o bairro atual São Gerardo, antigo Alagadiço, era o mais distante dos bairros da cidade, possuindo três seções das linhas de bondes. Tinha amplas moradias, quase todas com enormes quintais, muitos deles com pequenos riachos, já que a região era de muita água e muito verde. Algumas propriedades eram tão grandes que se constituíam em verdadeiros sítios, com capela, engenho e casa de farinha.

chácara da familia Gentil ficava na Av. Visconde de Cauhipe - atual Av. da Universidade, no Benfica (foto reprodução)

A expansão da cidade eliminou alguns pequenos bairros que ficavam próximos do centro comercial, estando eles hoje integrados ao atual centro. Eram eles, o bairro de José Bonifácio, que compreendia a região em torno do Quartel da Policia Militar; Soares Moreno, nas imediações do Cemitério São João Batista; Açude João Lopes, logo depois do Liceu; Piedade ao lado do Joaquim Távora, imediações do inicio da atual Avenida Antonio Sales; Prado, na região onde hoje está o Estádio Presidente Vargas.

Na primeira metade dos anos quarenta os distritos de Mucuripe, Messejana, Parangaba e Antonio Bezerra eram como pequenas cidades do interior, de difícil acesso por causa da escassez de transportes e de péssimas estradas.
No bairro Otávio Bonfim, além do Mercado São Sebastião, no trecho que hoje corresponde ao inicio da atual Avenida Bezerra de Menezes, havia dois jardins, um em cada lado da rua: o Jardim São José, no lugar onde hoje está um supermercado, e bem em frente, no outro lado da rua, o Jardim Japonês.

Com a implantação em 1934 da Brasil Oiticica, fábrica de beneficiamento de óleo de oiticica, surgiu o bairro do mesmo nome, mais tarde Carlito Pamplona na Avenida Francisco Sá. Contava com poucas e humildes casas e o bairro terminava na altura da atual Matriz. Ali os ônibus faziam sua parada final, pois a pista já muito estreita era interrompida por um riacho.
partir dali havia uma mata de cajueiros e muricizeiros. Para atingir a Barra do Ceará, então pequeno povoado, só a pé ou em lombo de animal.

Entre o Porangabussu e São Gerardo existia o Campo do Pio, no lugar hoje conhecido por Parquelândia. O São João do Tauape localizava-se no final do Bairro Joaquim Távora e se estendia até os charcos do Lagamar.

Com cerca de 200 mil habitantes Fortaleza tinha poucos bairros que dependiam do centro para praticamente tudo, uma vez que nos bairros predominavam as residenciais, com um ou outro comércio, especialmente as bodegas e farmácias. Tudo mais tinha de ser adquirido no centro: lojas, bancos, correios, serviços.
Fonte:
Royal Briar a Fortaleza dos Anos 40 – Autor Marciano Lopes
Jornal Diário do Nordeste

quarta-feira, 23 de junho de 2010

É Noite de São João

Noites de junho
(João de Barro e Alberto Ribeiro)
Noite fria, tão fria de junho
Os balões para o céu vão subindo
Entre as nuvens aos poucos sumindo
Envoltos num tênue véu
Os balões devem ser com certeza
As estrelas aqui desse mundo
As estrelas do espaço profundo
São os balões lá do céu
Balão do meu sonho dourado
Subiste enfeitado, cheinho de luz
Depois as crianças tascaram
Rasgaram teu bojo de listas azuis
E tu que invejando as estrelas
Sonhavas ao vê-las ser astro no céu
Hoje, balão apagado, acabas rasgado
Em trapos ao léu.

A tradição de comemorar o dia de São João veio de Portugal onde as festas são conhecidas pelo nome de santos populares e correspondem a diversos feriados municipais: Santo Antonio em Lisboa, São João no Porto, em Braga e em Almada e São Pedro em Seixal.

A tradição de acender fogueiras tem duas versões:

a versão pagã diz que as fogueiras juninas fazem parte da antiga tradição de celebrar o solstício de verão. A fogueira do dia Midsummer (24 de junho) tornou-se, desde a Idade Média, um atributo a festa de São João, o santo celebrado nesse mesmo dia.
A outra versão, a católica, afirma que o costume antigo teve suas raízes num acordo feito entre as primas Maria e Isabel. Para avisar Maria sobre o nascimento de São João Batista e assim ter seu auxilio após o parto, Isabel deveria acender uma fogueira sobre um monte, de modo que Maria pudesse vê-la mesmo a distância.

O uso de balões e fogos de artifício são também de origem portuguesa, e fazem parte da fogueira e seus efeitos visuais. Os fogos serviam para despertar São João Batista. Os balões eram para avisar que a festa ia começar. Eram soltos de cinco a sete balões antes do inicio da festa.

A festa de São João ainda é comemorada em Portugal e em diversos países europeus. No Brasil os santos juninos são comemorados em grandes festas no Nordeste, com danças, quadrilhas e comidas típicas; o dia de 24 de junho é feriado em várias cidades.

Os costumes de acender de fogueiras e soltar balões tornaram-se ambientalmente incorretos: as fogueiras devido à escassez de matéria-prima para queima, e os balões por causa dos enormes riscos de incêndio que representam tanto para os espaços urbanos quanto os rurais.

segunda-feira, 21 de junho de 2010

A Vila de Fortaleza no Inicio do Século XVIII


Para o governo imperial a Vila de Fortaleza não tinha muita relevância. Enquanto Salvador, Recife, Rio de janeiro e Belém eram cidades, Fortaleza era legalmente conhecida como Vila de Fortaleza de Nossa Senhora de Assunção. Como não tinha importância econômica, não despertava a cobiça da Coroa portuguesa.

Era um lugar muito pobre a Vila de Fortaleza. Mesmo depois de promovida a categoria de cidade, por decreto imperial de 17 de março de 1823, continuaria por longo tempo com as ruas sem pavimentação, sem iluminação à noite, com todos andando a pé, pois não havia qualquer espécie de veículos de passeio.
O desembarque para quem chegava por mar era uma aventura: a embarcação ancorava a uma distância considerável; depois o viajante descia para um paquete menor que o conduzia até próximo a praia; Ali dois escravos fortes esperavam o visitante com uma cadeira sobre os ombros, e transportavam-no até praia, driblando as ondas mais fortes.
Mas as dificuldades ainda não tinham terminado. Para alcançar a parte mais alta da vila, onde ficava a fortaleza e as principais construções, o viajante tinha que subir por um caminho arenoso, com fortes ventos e sol escaldante.
No centro da vila, o visitante se deparava com construções toscas, na sua maioria de taipa, com alguns prédios em pedra-e-cal, sem nenhuma estética nas fachadas; quase não existiam calçadas na frente das edificações, as ruas não eram pavimentadas e eram constantemente entrecortadas por carros-de-boi que traziam couro, carne e algodão para serem vendidos em Recife, ou que iam para o sertão, principalmente em tempos de seca, levando gêneros para ajudar os flagelados.
O interior das residências era quase rudimentar, com uma mobília escassa, muitas redes armadas e poucas cadeiras para sentar. A iluminação era mortiça, a azeite de peixe ou vela de sebo. Quando foram construídas as primeiras casas não havia preocupação com arquitetura ou estética.
A vila foi construída a beira do forte, em torno do lago do quartel da Praça do Conselho (atual Praça da Sé). A cidade cresceu lentamente, à margem esquerda do Pajeú, acompanhando as sinuosidades do riacho, principal fonte de abastecimento de água.
O cenário começou a se modificar por influência do engenheiro Silva Paulet, com seu plano de retificação e de expansão disciplinada. Na planta da cidade de 1818, já estão presentes os caminhos que orientaram o crescimento de Fortaleza na forma radiocêntrica: estrada de Jacarecanga, de Soure, de Arronches, de Aquiraz, da Precabura e a Picada de Mucuripe.
As vias públicas passaram a obedecer a um traçado, cortadas em ângulo reto, inspirado no traçado xadrez.
A primeira planta de expansão de Silva Paulet, permanece até hoje como matriz básica da cidade de Fortaleza
Fontes:
GIRÃO, Raimundo. Fortaleza e a Crônica Histórica. Fortaleza: UFC, 1997.
Revista Fortaleza, fasciculo 15.

quinta-feira, 17 de junho de 2010

Colégio da Imaculada Conceição - Igreja do Pequeno Grande

Conjunto arquitetônico Colégio da Imaculada Conceição/Igreja do Pequeno Grande
(foto Nirez)


Desde a sua fundação o colégio da Imaculada Conceição foi entregue as Filhas de Vincent de Paul. Eram sete as que chegaram no dia 24 de julho de 1865: Bazet, Gagné, Marie, Cassin, Rouchy, Lecorre e Gonçalves. A chegada das irmãs à Fortaleza foi um acontecimento que atraiu centenas de curiosos, todos querendo observar de perto como seria uma “irmã de caridade”.

Depois de venceram as dificuldades do desembarque, dado o desconforto do cais do porto, as irmãs se dirigiram à Igreja da Prainha e depois para a casa que lhes estava destinada, na Rua Formosa (atual Barão do Rio Branco), de propriedade do Barão de Aratanha.

No caminho entre o porto e a casa, enfrentaram as fadigas que lhes causavam o sol causticante, o calor infernal e a areia ardente que lhes escaldava os pés.
Naquele tempo Fortaleza tinha apenas três ruas calçadas com pedras, de modo que qualquer ventania levantava aquela areia fina que calçava as ruas, e ia direto aos olhos e nariz de moradores e visitantes

Grande foi o espanto dos curiosos ao defrontar-se com aquela estranha gente: uns se ajoelhavam, outros se aproximavam, tentando tocar-lhes as vestes. Nas janelas os moradores se aglomeravam desconfiados, e as crianças seguiam as irmãs pelas ruas, num alegre cortejo.
Dois anos após a chegada das irmãs, o colégio já abrigava 20 órfãs e 40 pensionistas. A antiga sede já não comportava o número de alunos, urgia conseguir nova área para o estabelecimento.

E a oportunidade surgiu com uma ajuda financeira oferecida pelo Presidente da Província, que possibilitou que as irmãs adquirissem o prédio onde funcionara um asilo para meninos.
Somente em 1867 o colégio pode instalar-se no prédio onde atualmente se encontra – a antiga Casa dos Educandos – que havia sido construída para servir de asilo a meninos pobres, mas fora fechada por falta de recursos para sua manutenção.

O Colégio da Imaculada Conceição cumpriu uma longa tradição de manter freiras de nacionalidade francesa na sua direção. Marguerite Bazet foi substituída por Clemence Gagné, que foi substituída por Emile Henriot que ficou à frente do estabelecimento até sua morte em 1930. Outra francesa – Jeanne Mahieu – ficou na direção até 1935, quando assumiu a Irmã Simas, de nacionalidade portuguesa.

A Igreja do Pequeno Grande

A história da igreja está intimamente ligada à história do colégio. A Igreja do Pequeno Grande ganhou este nome por causa de uma imagem milagrosa de Cristo existente na Boêmia.

Uma cópia da imagem foi mandada para o colégio com a divulgação dos milagres atribuídos à devoção do Pequeno Grande.

A pedra fundamental da nova igreja foi lançada em 1896. As obras mal iniciadas, sofreram paralisações no ano seguinte, foram reiniciadas em 1898, até sua conclusão em 1903, quando se verificou a benção do templo.


Fontes: 

FONTES, Eduardo. As Pouco Lembradas Igrejas de Fortaleza. Fortaleza: Secretaria de Cultura e Desporto, 1983. 
GIRÃO, Raimundo. Geografia Estética de Fortaleza. Fortaleza: Imprensa Universitária do Ceará, 1959 

segunda-feira, 14 de junho de 2010

A Fortaleza do Início do Século XX

Rua Floriano Peixoto trecho Praça do Ferreira em 1904
Rua Major Facundo em 1900

No inicio do século XX, na primeira década dos anos 1900, o perímetro urbano de Fortaleza resumia-se basicamente ao quadrilátero entre os Boulevards, grandes avenidas circundando o espaço habitado, que foram propostos na planta da cidade de Fortaleza de Adolfo Hebster.
Os lados do quadrilátero eram formados pelos Boulevards Duque de Caxias, o do Imperador, e o da Conceição, que hoje é a Avenida Dom Manuel, e a praia.
Fora desses limites havia poucas casas e chácaras. A população da cidade, em torno de 54 mil habitantes, caberia inteira dentro do Estádio do Castelão, que tem capacidade para 60 mil pessoas. O governador do estado – que era chamado de presidente – era Nogueira Accioly, que estava no segundo dos seus três mandatos. O Intendente era o Coronel Guilherme Rocha, aliado político de Accioly, que governou entre 1892 e 1912.
Algumas edificações ainda hoje existentes foram construídas na primeira década do Século XX, a exemplo da Ponte Metálica e do Teatro José de Alencar.
Nessa época Fortaleza já contava com iluminação pública, com transporte público – com bondes puxados por burros – e o trem da Estrada de Ferro Baturité.
Fortaleza entrou para o novo século em meio a grandes festas, na esperança de acalmar as dores sofridas na década que recém-finda, cujas lembranças ainda viviam nos campos de concentração dos flagelados, trazidos pela chamada seca dos dois zeros.
Nesse período aspecto urbano da cidade melhorou consideravelmente. Praças que até então eram tomadas por capim, foram ajardinadas, como a do Ferreira (Jardim 7 de setembro), do Marquês do Herval, hoje Praça José de Alencar e a Caio Prado, hoje Praça da Catedral.
O comercio era ampliado e a população se tonava mais civilizada, e as residências mais modernas.
Mas não havia muito lazer, o principal divertimento eram as rodas de cadeiras nas calçadas, os passeios nas praças e no Passeio Público, ou a ida às igrejas. Era calma e pacata a Fortaleza dos anos 1900.

domingo, 13 de junho de 2010

Procissão de Santo Antonio – Igreja Nossa senhora das Dores






a procissão de Santo Antonio cumpre um percurso pelas ruas do bairro de Otávio Bonfim
Lá pelos idos dos anos 60 havia já aconteciam na Igreja Nossa Senhora das Dores, em Otávio Bonfim, (ou Farias Brito) as trezenas de Santo Antonio. As homenagens ao santo começam no dia 1° de junho e vão até o dia 13, quando ocorre o encerramento com a missa campal e a procissão com grande acompanhamento de fiéis.

O que fazia parte da festa e já não faz mais, eram a quermesse e o leilão que eram realizados logo após a trezena. O leilão era realizado no pátio externo da Igreja, onde era armado um palanque. O leiloeiro era o Irapuan Lima, que mais tarde tornou-se apresentador de um programa de TV e ficou conhecido como “Chacrinha do Nordeste”.
As prendas do leilão eram doadas pelos fiéis e a renda era revertida para as obras da Igreja. Moradores conhecidos davam respaldo e impunham respeito às atividades realizadas ao ar livre.

sábado, 12 de junho de 2010

Os Camelos no Ceará


Certa vez o pintor francês F. Biard em viagem pelo Brasil, escreveu em seus relatos que observara vários camelos a andar preguiçosamente pelas praias cearenses.
Foi censurado por infidelidade na descrição, posto que, no Ceará, não haviam camelos.
Mas os animais de fato existiam por aqui.
Mandados pelo governo imperial, vindos da Argélia, como solução para o problema dos transportes no sertão, era pensamento das autoridades que, no Nordeste, o animal resistente à escassez de água e comida poderia ser boa pedida para tração e carga.

O presidente José Martiniano de Alencar (1834-1837 e 1840-1841), já pensara na aclimatação de camelos para aquele fim, porém foi em 1859 que, por iniciativa do Barão de Capanema, vieram do Norte da África quatorze deles, entre machos e fêmeas. Adaptaram-se e reproduziram-se facilmente no novo habitat, chegaram ao número de vinte.

Porém, o pequeno rebanho sofreu com a falta de criadores especializados. A longa gestação das fêmeas, que dura cerca de um ano, ultrapassava os prazos pretendidos para a formação de criações maiores. Foi o fim do empreendimento.
Os animais que conseguiram se aclimatar foram utilizados, primeiro nas passeatas ou préstitos carnavalesco, depois viraram atração turística.
Extraído do livro:
GIRÃO, Raimundo. Geografia Estética de Fortaleza. Fortaleza: imprensa Universitária do Ceará, 1959

quinta-feira, 10 de junho de 2010

Ditados exclusivos de Fortaleza: Ai da Base!

Os provérbios e os ditados populares surgem de situações peculiares e constituem uma parte importante de cada cultura. Alguns são locais, sua compreensão é restrita, só fazem algum sentido dentro de determinados contextos.
Um dos ditados mais enigmáticos que já esteve em voga na cidade, foi “Ai da Base!”.
Sua origem é atribuída a um relacionamento homossexual ocorrido na década de sessenta, na conservadora Fortaleza, no qual um dos envolvidos era soldado da Base Aérea.
O namoro veio a público, e tornou-se um escândalo que saiu em todos os jornais.
Foi motivo mais que suficiente para a irreverência cearense criar o ditado “Ai da Base!...”
A expressão logo ganhou espaço em todas as rodas sociais. Bastava alguém desconfiar da masculinidade de outro para soltar a insinuação: “Ai da Base!...”
Dizem que Isso provocou muitas confusões e gerou grandes inimizades.

fonte: http://cearamoleque.com/historiasdoceara.htm

O Processo de Favelização em Fortaleza

Fortaleza Bela 1: Comunidade de São Miguel
(foto Diário do Nordeste)
Fortaleza Bela 2: Comunidade da Lagoa da Zeza
(foto: Diário do Nordeste)
As primeiras favelas surgiram em Fortaleza na década de 1930, em conseqüência das grandes secas e do agravamento das questões agrárias, que provocaram o crescimento das migrações para a capital.
A população indigente foi se instalando em barracos próximos à ferrovia, às indústrias, à zona de praia e às margens dos rios, áreas desprezadas pelos grupos sociais de maior poder aquisitivo. Surgem então as primeiras favelas:
Cercado do Zé Padre, em 1930;
Mucuripe, e Lagamar, 1933;
Morro do Ouro, 1940;
Varjota, 1945.
Por essa época já existia o Moura Brasil, bairro pobre, sem atributos de urbanização, espremido entre os trilhos e a praia, por trás da estação ferroviária e do Cemitério São João Batista.
Era formado basicamente por emigrantes, que ali ficaram confinados por iniciativa do governo nos famosos “currais”. 
Arraial Moura Brasil
A área entre o ramal norte da via férrea e a zona de praia a oeste de Fortaleza, atraiu a população carente pela presença da zona industrial da Avenida Francisco Sá e de terrenos de marinha no Pirambu. A ocupação desta área se inicia ainda no século XIX.
Desde então, o problema só tem aumentado à medida que cresce a população de Fortaleza. Dados do IBGE indicavam que em 2005 cerca de 800 mil pessoas viviam em áreas faveladas.
O agravamento da situação é fruto da disparidade social e da concentração de renda, o que obriga considerável número de pessoas a abandonar as áreas rurais.
Estudos mostram que, por ano, cerca de 140 mil pessoas chegam do interior ou de estados vizinhos para a Região Metropolitana de Fortaleza. Muitos desses migrantes vêm para a cidade em busca de trabalho e de melhores condições de vida. Não encontrando, juntam-se aos milhares que vieram em condições idênticas, sem moradia, sem inserção no mercado de trabalho, contribuindo para que todos os dias surjam novas áreas favelizadas.
Em 1985, o governo do Ceará registrava 234 favelas em Fortaleza. 
Em 1991, já eram 313. 
Em 2006, esse número é de 661. 
O número atual é uma incógnita, não há registros oficiais do número nem de áreas nem de pessoas que vivem nas favelas de Fortaleza.
Enquanto a prefeitura de Fortaleza prepara mais uma festa, a população convive com a insegurança, o caos urbano, e com a incompetência oficial.

terça-feira, 8 de junho de 2010

Os Bondes de Burros na cena da Fortaleza antiga

Foto: Arquivo NIREZ (reprodução)
Os primeiros bondes puxados por burros surgiram em Fortaleza no dia 25 de abril de 1880, num empreendimento de propriedade do Cel. Tomé A. de Mota, denominada Companhia Ferro Carril do Ceará.
No inicio eram 25 bondes, cada um com capacidade para conduzir 25 passageiros, distribuídos em cinco bancos. Eram veiculos pequenos, modestos, adornados com cortinas que protegiam os passageiros do sol e da chuva.
Dirigidos por um boleeiro, e puxados por dois burros, trafegavam quase o dia inteiro, das 6 da manhã às 9 da noite. Partiam da Praça do Ferreira para todas as linhas. O último deixava a praça ao tocar a corneta nos quartéis anunciando o recolher, sendo que o do Alagadiço saía às 8 horas.
Naquela época Fortaleza “dormia com as galinhas”, e o direito de locomoção sofria restrições: a polícia não permitia trânsito de pessoas depois das 9 horas da noite. Nessa hora tocava o recolher no quartel do corpo fixo, e o som da corneta era ouvido nos pontos mais afastados da então pequena cidade.
Os burros tinham um comportamento peculiar: acostumados ao trabalho diário, só faziam força quando emparelhados com o companheiro de todos os dias, caso contrário era inútil chicoteá-los. Quando acontecia, às vezes, um choque desastrado de dois bondes, os burros fugiam em parelhas, evitando assim serem esmagados entre os veículos.
Na Rua da Praia, (atual Avenida Alberto Nepomuceno), além dos dois burros havia um terceiro, chamado “Sóta”, que ajudava na subida da ladeira existente a partir da esquina do edifício da Escola de Aprendizes Marinheiros (hoje Secretaria da Fazenda), até em frente à Igreja da Sé.
Abrigado à sombra de uma árvore, o Sóta aguardava os companheiros, a que se juntava espontaneamente, depois voltava sozinho, da Sé para o seu primitivo local debaixo da árvore, durante duas horas por dia. Findas as quatro viagens recolhia-se também sozinho à estação onde os animais ficavam abrigados, cruzando no caminho, com o companheiro que o ia substituir.
A estação de bondes ficava no fim da linha, no prédio onde hoje é a Coelce, na Rua Dr. João Moreira. Mas, como o piso era calçado com paralelepípedos irregulares, os burros dormiam na Academia do Solon, que era um prédio pertencente ao diretor da companhia de bondes. Lá o piso era de areia e os animais ficavam mais acomodados.
Naquela época quando alguém queria dizer que o outro era ignorante em algum assunto, dizia: “parece que foi educado na academia do Solon” A expressão era pejorativa: Academia do Solon porque só tinha burros.
Os bondes de burros funcionaram até 1913, quando foram substituídos pelos bondes elétricos
Curiosidades:
No bonde em que viajava, às vezes, o intendente municipal era expressamente proibido a qualquer passageiro apresentar-se sem meias, mesmo que estivesse de chinelos, ou sem sapatos.
Quando o Governador se demorava além das 9 horas, ficava na Praça um bonde especial, aguardando-o para conduzi-lo à sua residência, a hora que a autoridade desejasse.

Fontes de Pesquisa:
GIRÃO, Raimundo. Fortaleza e a Crônica Histórica. Fortaleza: UFC – Casa José de Alencar, 1997.
MAIA, José Barros. Lembrar é Viver de Novo. In _____Roteiro Sentimental de Fortaleza. Fortaleza: UFC-NUDOC/SECULT-CE, 1996.
MENEZES, Raimundo de. Coisas que o Tempo Levou: crônicas históricas da Fortaleza antiga. Fortaleza: Edições Demócrito Rocha, 2000.

domingo, 6 de junho de 2010

O Poder da Câmara Municipal


No período colonial – 1530 a 1822 – apenas as localidades elevadas à categoria de vila podiam instalar uma câmara municipal. No Brasil as câmaras passaram a existir oficialmente a partir de 1532, com a instalação da Vila de São Vicente.


A Câmara Municipal de Fortaleza, a segunda do Ceará, foi instalada quando o aglomerado recebeu a denominação de Vila de Fortaleza de Nossa Senhora da Assunção, em 13 de abril de 1726, com a eleição de dois juízes e de três vereadores.


Ate 1889, todas as funções de organização sócio-política da cidade eram exercidas pela Câmara Municipal. O poder era tanto que os camareiros se permitiam algumas excentricidades, como na vez em que o presidente da câmara propôs que a cidade fosse dividida em tantos bairros quanto fosse o número de vereadores.
A criação de uma nova função, a de intendente (equivalente a prefeito) pouco alterou a situação de subordinação. A votação era feita pelos membros da Câmara, numa eleição indireta, para um mandado de um ano, que podia ser renovado por mais um. Necessariamente o intendente era um membro da câmara e não recebia salário pelo exercício do cargo. Praticamente não existiam conflitos entre a câmara e a intendência


As coisas mudaram quando a Presidência do Estado decidiu através de lei, retirar o poder dos vereadores de eleger o intendente. A principio o escolhido continuou sendo um dos vereadores, mas quando o presidente da Província passou a nomear qualquer cidadão para o exercício do mandato, a guerra foi declarada entre o Governo da Província e a Câmara.


Na base dos conflitos estava a questão fiscal. A renda da Província vinha das exportações e a do Município, de atividades locais. Para manter as finanças em ordem, a Província passou a não permitir que parte de suas rendas fossem arrecadadas pelo município, a saída então, foi nomear pessoas da confiança do presidente da província para o cargo de intendente municipal.


O ordenamento de ruas e a disciplina dos habitantes foram as principais preocupações da câmara municipal de Fortaleza. No ano de 1800, 13 anos antes de o português Silva Paulet chegar à cidade, Fortaleza já contava com uma espécie de arquiteto amador, “um arruador” com a missão de organizar as ruas.


Em março de 1823, Fortaleza adquiriu o status de cidade, com direito a escolher, através do voto, nove vereadores elegíveis após dois anos de residência no termo (município). A duração da legislatura passa a ser de quatro anos e a presidência da câmara era exercida pelo vereador mais votado que também acumulava a função executiva.
Nessa época ainda não havia a figura do prefeito, que só se implantou no Ceará a partir de 5 de agosto de 1914, em substituição aos intendentes.


Lei n° 308, de 24/07/1844
Nenhuma pessoa, livre ou escrava poderá entrar nesta cidade, ou percorrer suas ruas de camisa e celoura, pela imoralidade e indecência do trajo; e a que contrário fizer será multada em mil réis ou dous dias de prisão.


Lei 328, de 19/08/1844Fica proibido a qualquer pessoa apresentar-se nua, das seis da manhã Às seis da tarde, nos largos ou riachos desta cidade, sob qualquer pretexto que seja. Os contraventores sofrerão a multa de quatro mil réis, ou oito dias de prisão.

Fontes: http://www.cmfor.ce.gov.br/historico/index.htm
Revista Fortaleza, fascículo 4

quinta-feira, 3 de junho de 2010

Praça Capistrano de Abreu (Praça da Lagoinha)

Praça Capistrano de Abreu em 1931. (foto reprodução)

A Praça Capistrano de Abreu, localizada no Centro de Fortaleza é uma das mais antigas da cidade, sua demarcação é anterior a 1859. Batizada em 1891, com o nome de Comendador Teodorico, passou a ser chamada de Capistrano de Abreu em 1965. Ficou conhecida também como ‘Lagoinha’ porque um dos afluentes do riacho Pajeú passava pelo local e formava uma pequena lagoa, que foi posteriormente aterrada.

Tinha um coreto em forma de lira, onde a banda da policia Militar realizava retretas às 4as. Feiras, e que demolido em 2001. Em 1930, foi construído um jardim com fonte luminosa, importada da Alemanha, que depois foi para o cruzamento das Avenidas da Universidade com Treze de Maio e atualmente pode ser encontrada na Praça Murilo Borges, em frente ao Banco do Nordeste.

Em 2003, a estátua de Capistrano de Abreu, em bronze, fundida em Paris no início do século passado, medindo 1,90m e pesando cerca de 100 quilos, desapareceu da praça, onde estava desde 1964. No mês seguinte a estátua foi recuperada.Estava prestes a ser vendida como sucata pelos ladrões. Depois de resgatada foi restaurada e devolvida ao seu pedestal. Hoje, os sinais da restauração já desapareceram. O monumento encontra-se pichado e abandonado como o resto da praça. 
O pedestal da estátua está sem identificação, consequência da última reforma do equipamento público iniciada em 2000. Na época, foram construídos uns arcos de alvenaria projetados pelo arquiteto Ricardo Muratori, para dar suporte a um museu aberto. Estes pórticos atualmente estão servindo de banheiro e esconderijo de marginais.

Há cerca de trinta anos, começou a ocupação irregular da Praça Capistrano de Abreu, com a invasão inicialmente de camelôs. Como o poder público não tomou nenhuma providência, não colocou nenhum obstáculo para evitar a privatização do espaço público, nem ofereceu nenhuma alternativa aos trabalhadores, a invasão foi crescendo até ficar fora de controle. 
O que se via era uma multidão de camelôs, artistas de ruas, pedintes, barbeiros, fotógrafos, sapateiros, prostitutas e malandros. Por conta da grande quantidade de produtos comercializados sem comprovação de procedência, o local também ficou conhecido como feira dos malandros
Diante da inércia da prefeitura, foi preciso que o Ministério Público entrasse com um pedido de liminar para a desocupação do local que já contava com cerca de 900 feirantes.
O pedido de liminar, promovido pelo Ministério Público do Estado do Ceará contra o Município, alega que a Praça Capistrano de Abreu, localizada no Centro, é ocupada diariamente por feirantes que comercializam “produtos de origem duvidosa ou sem nota fiscal”, como relógios e celulares. De acordo com o Ministério Público, a administração municipal não tomou nenhuma atitude para solucionar o problema do uso inadequado do espaço.A data da desocupação já foi marcada e adiada inúmeras vezes.

Muitas são as funções que são atribuídas às praças nos centros urbanos, mas a principal é sem dúvida, a de local de encontro e convívio da população, espaço de reunião construído pela e para a sociedade.

Dificilmente a Praça da Lagoinha voltará a ser o espaço bucólico e agradável que já foi um dia. Mas se voltar a ser, pelo menos, uma praça que se possa parar para cumprimentar um conhecido, atravessar sem ser assediado, assaltado ou incomodado por marginais ou desocupados de vários calibres, a população já estará no lucro.

foto do arquivo Nirez 

terça-feira, 1 de junho de 2010

É tudo Verdade

Pescadores que cumpriram o percurso Fortaleza/Rio de Janeiro a bordo da jangada São Pedro: Manoel Preto, Jacaré, Tatá e Jerônimo (foto reprodução)

Em Setembro de 1941 um grupo de jangadeiros, tendo como porta-voz Manuel Olímpio Moura, vulgo Jacaré, então presidente de uma colônia de jangadeiros, saiu de Fortaleza, viajou 2.700 km numa jangada até chegar ao Rio de Janeiro, na época capital do país. O objetivo dos cearenses Jacaré, Tatá, Manoel Preto e Jerônimo, era apresentar reivindicações da categoria ao ditador Getúlio Vargas.

A máquina de propaganda do Estado Novo, frente ao impacto da intensa cobertura pela imprensa da época, procurou neutralizar o potencial crítico da viagem, apresentando os quatros jangadeiros como “heróis do mar”, ao mesmo tempo em que o aparato repressor do regime controlava cada passo deles.

Já em Cabo Frio, os jangadeiros tiveram de retardar a viagem para chegar ao Rio no festivo dia 15 de novembro. Desfilaram pela Avenida Rio Branco com a jangada em cima de um caminhão. Getúlio os recebeu em audiência pública e decretou, para a alegria da comunidade dos jangadeiros, salário mínimo de aposentadoria e pecúlio para as viúvas.
Esse decreto nunca foi cumprido.

A repercussão internacional do feito dos jangadeiros chegou à redação do jornal norte-americano “Time”, despertando o interesse do ator Orson Welles, que se preparava para vir ao Brasil como parte da política de boa vizinhança do birô latino-americano coordenado pelos americanos. Welles desembarcou no Brasil em fevereiro de 1942, sem nenhum roteiro, para realizar dois filmes no Brasil: um sobre o Carnaval, outro sobre a aventura dos jangadeiros.

Orson Welles esteve duas vezes em Fortaleza: a primeira em março de 1942, para estudos da pré-produção e a segunda de 13 de maio a 14 de julho do mesmo ano, que resultou nas imagens que o diretor de Cidadão Kane nunca pode editar.

Em 19 de maio de 1942, filmando na praia do Juá no Rio, aconteceu a tragédia. A mesma jangada da viagem ao Rio de Janeiro foi atingida por uma forte onda e virou num dia de mar revolto, jogando os quatro homens na água. Jacaré submergiu, voltou à tona, pediu socorro, nadou desorientado mar adentro e desapareceu. Seu corpo nunca foi encontrado.
Welles indenizou a família e empenhou-se em concluir o filme utilizando um dublê. Pressionado por todos os lados, com produtores descontentes com a extensão das filmagens e com a ênfase na pobreza e na negritude do episódio sobre o carnaval, Welles deixou o Brasil para nunca mais voltar, sem ter a oportunidade de finalizar o “It’s All True”, editado parcialmente sete anos depois de sua morte.

Muitas lendas e especulações surgiram com a morte do jangadeiro. Nenhum amigo próximo acreditava que o mar pudesse vencer Jacaré: era tempo de censura dura e ele falava demais, daí ficou a suspeita de que o acidente pode ter sido provocado. No filme "Nem tudo é verdade" (1985), de Rogério Sganzerla, um personagem não-identificado também cutuca a mesma suspeita:
"Nossos adversários em Fortaleza não gostavam mesmo de Jacaré, pois ele era uma espécie de advogado da nossa classe. Para o senhor ter a idéia do ódio que movia o nosso companheiro desaparecido, basta dizer que a sua morte foi comemorada a champanhe pela Federação de Pesca do Ceará”.


Fontes
http://www.etudoverdade.com.br/periodico/coluna/coluna.asp? lng=&id=179