terça-feira, 27 de dezembro de 2011

A Centenária Ponte Metálica


No tempo em que a Ponte metálica funcionava como Porto de Fortaleza, os embarques e desembarques eram verdadeiras aventuras: passageiros pulavam das embarcações para os batentes oscilantes da ponte, (e vice-versa)apoiados apenas por remadores. Era comum o banho de mar nessas ocasiões. (arquivo Nirez)

A centenária ponte metálica nos dias atuais: apenas ruínas, confirmando a nossa tradição de cidade sem memória, que não preserva, não lembra, não registra, nem sente saudades de nada que diga respeito ao passado ou à história de Fortaleza. O mais provável é que daqui a mais alguns anos, a Ponte Metálica repouse no fundo do mar de Iracema.  

O primeiro porto de Fortaleza completou 105 anos. Concluída em 1906, a Ponte Metálica funcionou como ponto de embarque de passageiros até 1947, quando o serviço foi desativado em razão do inicio de operação do Porto do Mucuripe.
 A ponte passou por reformas na década de 1920, devido ao desgaste provocado pela maresia, tendo sido reinaugurada em 1928, com o nome de Viaduto Moreira da Rocha.  Apesar do valor histórico e cultural para a cidade, o equipamento mostra claros sinais de abandono, enquanto o poder público municipal diz estar em busca de recursos para recuperar a ponte metálica.

A Prefeitura promoveu uma reforma no calçadão da Praia de Iracema até poucos metros antes do começo da Ponte Metálica, deixando a continuação com o cenário de pedras, lixo e concreto quebrado.

Os principais frequentadores e defensores da recuperação da ponte são os moradores do Poço da Draga, comunidade localizada nas imediações e que demonstra profunda preocupação com os projetos que estão sendo pensados para a área sem a participação da comunidade, que se consideram os principais interessados.

O piso estragado ainda guarda as marcas dos antigos trilhos por onde corriam as máquinas que levavam e traziam as riquezas da cidade. 

A comunidade do Poço da Draga estabeleceu uma estreita relação com o mar,e com a ponte metálica  por causa da proximidade. Tal relação é fácil de ser percebida ao ver a desenvoltura de crianças e adolescentes que praticam perigosos mergulhos do alto da estrutura corroída e deteriorada da velha ponte. 

fotos:
Rodrigo Paiva
Fátima Garcia

Fortaleza e seus principais pontos turísticos. Conheça!


Avenida Beira Mar no Meireles: onde se concentram os hotéis e outros serviços turísticos 
Feira de Artesanato da Avenida Beira Mar: funcionamento diário à partir das 17 horas

A capital do Ceará, também conhecida como a Loira Desposada do Sol, é uma das mais belas e agitadas cidades do Nordeste brasileiro. Fortaleza é uma moderna metrópole, com um mar de águas verdes-azuladas. Mas não é só de belezas naturais que se resume Fortaleza, é também uma cidade cultural, com uma bela arquitetura que mescla história, modernidade e natureza.

 Iracema Guardiã, trabalho do artista plástico Zenon Barreto, uma das cinco Iracemas da cidade. Esta fica na Praia de Iracema

Lembra da Virgem dos Lábios de Mel, do romance de José de Alencar? Ela é nome de uma das mais famosas praias de Fortaleza, a Praia de Iracema. Esta praia é a preferida pelos poetas e intelectuais da cidade e também é conhecida como reduto da boemia. Sua orla apresenta uma bonita formação rochosa; as praias possuem ondas fortes, areias claras e grossas. A imagem de Iracema está tão associada à Fortaleza que existem hoje cinco estátuas da bela índia pela cidade. 

Ponte dos Ingleses, ponto de encontro de turistas e moradores

Um dos seus maiores destaques é a bucólica Ponte dos Ingleses, de onde é possível apreciar o bonito pôr-do-sol da região, além do imponente Centro Dragão do Mar, que está dentre os maiores centros culturais no país.

 Praia do Futuro, onde podem ser encontradas as famosas barracas de praia com serviços de alto padrão

Já a praia do Futuro é a preferida dos turistas. O ambiente é perfeito para um bom mergulho, as areias brancas e as águas claras formam pequenas piscinas naturais. A praia é afastada da área urbana, por isso, possui águas mais limpas, além dos ventos fortes, que permitem a prática de esportes como o windsurf. São cerca de seis quilômetros de praias com o melhor da natureza e da culinária típica. Falando em orla, é na Praia do Meireles que estão localizados os melhores hotéis  e os melhores restaurantes da cidade.

Uma das trilhas do Parque do Cocó
 Passeio turístico no Rio Cocó 

Um dos maiores parques em área urbana da América do Sul está localizado em Fortaleza. O Parque Ecológico do Cocó está situado às margens do rio Cocó, a principal área verde da cidade, formado por belos bosques e um extenso mangue, com fauna e flora características. O local possui uma infraestrutura de lazer que compreende pistas para cooper e caminhadas, ciclovias, quadras esportivas e anfiteatro, além de abrigar trilhas ecológicas, que permitem a realização de agradáveis caminhadas em contato com a natureza, promovendo assim a educação ambiental.

 Fachada do Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura

O Centro Dragão do Mar é um dos mais completos espaços de cultura e lazer da cidade, este é um dos mais eruditos e contemporâneos edifícios de Fortaleza. O espaço possui uma bonita arquitetura caracterizada por linhas arrojadas, que entram em contraste com imponentes casarões do início do século XX nos arredores. O nome é uma homenagem ao líder dos jangadeiros José Francisco do Nascimento, que ficou conhecido como Dragão do Mar após liderar um importante movimento abolicionista no Ceará. 

Dependências do Centro Dragão do Mar

O centro cultural também abriga biblioteca, auditório, anfiteatro, salas de cinema, bem como o moderno Museu de Arte Contemporânea, o Teatro Dragão do Mar e o Memorial da Cultura Cearense.

 Ponte Metálica, que já foi o porto de embarque de passageiros e cargas, hoje está desativada.
  
Um ponto turístico bem interessante é a Ponte Metálica que mantém uma longa história de fascínio sobre a população regional e os turistas de Fortaleza. Este foi o principal ponto de embarque e desembarque de passageiros – e de cargas – da capital cearense, até a segunda metade da década de 1940. Depois foi desativada. 

 Uma das atrações mais radicais do Beach Park: um toboágua de 41 metros com altura equivalente a um prédio de 14 andares e o sugestivo nome de Insano. A velocidade da descida atinge 105 km/hora. (foto do site do Beach Park)
   
O mais famoso parque aquático de Fortaleza e o maior do Brasil é o Beach Park,que tem cerca de 35 mil metros quadrados, mais de cem atrações e é dividido em áreas temáticas com brinquedos para crianças e, principalmente, para adultos apaixonados por adrenalina. Além do parque aquático, o local conta o melhor hotel Fortaleza. Para reservar dias de muita diversão na capital cearense, acesse o site da FalaTurista e faça sua reserva online, de forma rápida e muito fácil.

fotos: Fátima Garcia

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Pirambu, Reino da Pobreza e Exclusão Social


 Pirambu - Fortaleza  
foto Fátima Garcia

De acordo com dados divulgados pelo IBGE, relativos ao Censo Demográfico de 2010, a nona maior favela do Brasil está em Fortaleza, mais precisamente, no Pirambu. Com 42.878 habitantes, e  11.630 lares,  o Pirambu consta na lista dos aglomerados subnormais mais relevantes do País, segundo a pesquisa.

O conceito de aglomerado subnormal foi utilizado pela primeira vez no Censo Demográfico de 1991. Possui certo grau de generalização de forma a contemplar a diversidade de assentamentos irregulares existentes no país, conhecidos como favelas, invasões, grotas, baixadas, comunidades, vilas, ressacas, mocambos, palafitas, entre outros.

O IBGE  classifica como aglomerado subnormal cada conjunto constituído de, no mínimo, 51 unidades habitacionais carentes, em sua maioria, de serviços públicos essenciais, ocupando ou tendo ocupado, até período recente, terreno de propriedade alheia (pública ou particular) e estando dispostas, em geral, de forma desordenada e densa. A identificação atende aos seguintes critérios:

Alagamento em área de risco - Fortaleza (foto jangadeiro online)
Ocupação ilegal da terra, ou seja, construção em terrenos de propriedade alheia (pública ou particular) no momento atual ou em período recente (obtenção do título de propriedade do terreno há dez anos ou menos); e

Possuírem urbanização fora dos padrões vigentes (refletido por vias de circulação estreitas e de alinhamento irregular, lotes de tamanhos e formas desiguais e construções não regularizadas por órgãos públicos) ou precariedade na oferta de serviços públicos essenciais (abastecimento de água, esgotamento sanitário, coleta de lixo e fornecimento de energia elétrica).

área de risco em Fortaleza (lagoa da zeza) foto Diário do Nordeste
Os aglomerados subnormais frequentemente ocupam áreas menos propícias à urbanização.  Em Fortaleza encontram-se predominantemente, em áreas de praia.

A pesquisa também aponta que Fortaleza lidera o ranking, contabilizando 194 assentamentos irregulares de um total de 14 municípios. Caucaia aparece logo em seguida, com 14 ocupações e Guaiuba com quatro. Aquiraz, Camocim, Granja, Itaitinga, Juazeiro do Norte, Maracanaú, Maranguape, Pacatuba, Pentecoste, Quixadá e Senador Pompeu também são municípios cearenses que possuem aglomerados irregulares.

De acordo ainda com os números divulgados, o Ceará é o terceiro estado do Nordeste, com 226 assentamentos irregulares, ficando atrás dos da Bahia, com 280 e de Pernambuco, com 347 ocupações. Ao todo são 441.937 pessoas residindo em domicílios particulares nestes aglomerados no Ceará.

Em relação aos outros estados brasileiros, o Ceará ocupa a sexta posição no ranking. Além de possuir números inferiores a Pernambuco e Bahia, o Estado perde também para Minas Gerais, com 372; Rio de Janeiro, com 1.332 e São Paulo, com 2.087 aglomerados.

Sobre o Pirambu

Orla marítima do Pirambu  
 foto Fátima Garcia

A origem do bairro Sua origem remonta ao final do Séc. XIX,  quando a capital recebeu levas de flagelados que fugiam das secas que assolavam o interior do estado.  A população indigente foi se alojando em barracos,  em terrenos próximos à ferrovia, às indústrias, à zona de praia, e às margens dos rios, áreas desprezadas pelos grupos sociais de maior poder aquisitivo.

Desde então a ocupação da área hoje correspondente ao bairro do Pirambu, só aumentou: desordenada, descontrolada e sem uma urbanização adequada. 

rua do Pirambu
 foto Fátima Garcia

O ordenamento das ruas da que é considerada a maior favela do Ceará, não segue um padrão. À medida que se embrenha pelas vias em direção ao mar ou ao sertão, as ruas vão se estreitando continuamente. Quanto mais se afasta da avenida Presidente Castelo Branco,     (Avenida Leste Oeste), mais as condições de moradia no bairro se tornam precárias.

Devido a atuação de diversas entidades como associações, ONG’s, e até da Igreja católica, representada pelo Padre Hélio Campos, que permaneceu durante muitas anos à frente da paróquia do Pirambu, as condições de vida e de moradia melhoraram bastante,  mas estão longe de atingir as condições mínimas de dignidade. O resultado da pesquisa do IBGE atesta o fato.
  
Rua do Pirambu
foto Fátima Garcia

Segundo o Censo Demográfico de 2010:
6%  dos  brasileiros  vivem em aglomerados subnormais;
O Ceará é o 3° colocado no Nordeste, em número de aglomerados subnormais com um total de 226 aglomerados;
Em Fortaleza, dos 108.903 domicílios em aglomerados subnormais, 2.906 não dispõem de tratamento adequado para o lixo. 
O local com maior índice é o Marrocos (no bairro Bom Jardim). Dos 519 domicílios, 63% não coletam.
7.958 não dispõem da forma correta de abastecimento de água. 
A maior deficiência, com 13% do total, é o Pirambu.
29.924 não dispõem do serviço de rede geral de esgoto. 
O local com maior deficiência é Borba Gato. Dos 3.567 domicílios, 2.488 não possuem rede de tratamento de esgoto.

Ranking Nacional em Aglomerados Subnormais:

1-Rocinha – Rio de Janeiro  –  23 352 domicílios
2-Rio das Pedras – Rio de Janeiro –  18 700 domicílios
3-Sol Nascente – Brasília –  15 737 domicílios
4-Casa Amarela – Recife – 15 215 domicílios
5-Coroadinho – São Luís –  14 278 domicílios
6-Paraisópolis – São Paulo – 13 071 domicílios
7-Baixadas da Estrada Nova Jurunas – Manaus – 12 666 domicílios
8-Heliópolis – São Paulo – 12 105 domicílios
9-Pirambu – Fortaleza – 11 630 domicílios

Ranking Municipal

1-  Pirambu – 42.878 pessoas
2 - Lagoa do Coração – 19.256 pessoas
3 -  Alto do Bode – 16.495 pessoas
4 -  Giona’s Motel – 14.293 pessoas
5 -  Borba Gato – 12.950 pessoas
6 -  Língua de Cobra 12.379
7 -  Farol – 10.112 pessoas
8 -  Pantanal III – 9.419 pessoas


Fontes:
IBGE
Jornal O Povo
Jornal Diário do Nordeste

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Fortaleza anos 40 – A Cidade se Diverte


Embora houvesse poucas opções, viver em Fortaleza representava dispor de um espaço que oferecia lazer e diversão. Nos anos 1930/40 o banho de mar começou a ser apreciado e difundido largamente, embora o uso de calções e maiôs fosse desaprovado e sofresse sérias restrições por parte da igreja.

O cinema era outra atração, havendo várias salas de projeção nos bairros mais longes do centro. Os mais famosos eram o Majestic e o Diogo. Na década de 1950, surgiu o maior e mais luxuoso, o São Luís. Para se ter acesso a estes cinemas, era preciso estar bem trajado, os homens de paletó, as mulheres com vestidos finos, luvas e chapéus. 

Cine Joaquim Távora, um dos "poeiras", como eram chamados os cinemas de bairro. Ficava na Avenida Visconde do Rio Branco, 2406 (arquivo Nirez)  

Conta-se que o famoso cineasta Orson Welles, quando de sua passagem por Fortaleza, foi barrado no Diogo, por não estar convenientemente vestido de paletó. Na famosa sessão das quatro, no Diogo, aos Domingos, estava a "nata" da juventude. Os filmes, na maioria de origem americana, continuavam a influenciar o comportamento das pessoas e a difundir o american way life.

Fundado em 30 de novembro de 1932 com o nome de Liga Massapeense, depois denominado Centro Massapeense. Estava localizado na esquina da Avenida Aquidaban (hoje Historiador Raimundo Girão) com a Rua Barão de Aracati, na Praia de Iracema (arquivo Nirez) 
  
A cidade contava com  clubes refinados para as classes abastadas, como o Náutico, o Ideal (o único com piscina) o Líbano, os Diários e outros, onde ocorriam suntuosas festas, tertúlias e bailes carnavalescos com orquestra. Os clubes favoreciam a transmissão de valores e o relacionamento social, namoros e casamentos entre as classes alta e média.

Olhar vitrines tornou-se um lazer para as elites, o consumismo era cada vez maior, as pessoas estavam sempre procurando adquirir as novidades, que mostravam seu poder econômico e o ingresso na modernidade. 

Anúncio da Loja Irmãos Pinto, que funcionava na Rua Major Facundo, publicado no jornal Correio do Ceará

Os jornais anunciavam os últimos modelos de eletrodomésticos, que ajudavam as donas de casas nos afazeres domésticos. Ser feliz, era consumir e ostentar.  Considerava-se um glamour aparecer nas colunas sociais dos jornais, a ponto dos colunistas ganharem uma importância equivalente a de uma autoridade, além de prestígio político.

Estádio Presidente Vargas quando existiam apenas duas cabines de rádio, a Ceará Rádio Clube e a Rádio Iracema - final da década de 1940 (arquivo Nirez)

O futebol atraía multidões masculinas para o Estádio Presidente Vargas, onde eram disputadas animadas partidas. Além do futebol o povo sentia-se atraído por festas religiosas e procissões. O carnaval era severamente vigiado e controlado pelas autoridades, tornando-o ainda mais minguado. Apenas nos clubes havia bailes carnavalescos mais animados e menos vigiados. 

Cronista Social Robert de Singerie (foto do livro Os Anos Dourados, de Marciano Lopes)

Os moradores ainda se reuniam em rodas de cadeiras nas calçadas nos finais de tarde, mas o costume já começava a rarear. Condenavam-se os namoros obscenos, o vício do álcool, a leitura de revistas e livros indecentes. A vigilância conservadora atingia igualmente os concorridos programas de auditório nas emissoras de rádio – em 1948 surgiu a Rádio Iracema, concorrente da até então única emissora, a PRE-9. O rádio reinava como meio de comunicação e lazer – as radionovelas faziam enorme sucesso.  Frequentemente passavam por aqui artistas do Centro-Sul, para shows que atraiam multidões.

Inspirando-se nos ídolos de Hollywood, os jovens da elite tinham como objeto de consumo a lambreta – um elemento de diferenciação e autoafirmação para aqueles rapazes, símbolo de boa condição financeira, poder, velocidade e arma de sedução.

Extraído do livro
História do Ceará, de Airton de Farias

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

A Criação dos Cemitérios

Cemitério São João Batista (foto jangadeiro online)

Em 1844, a lei n° 319 mandou que fosse edificado um cemitério junto ao Morro do Croatá, obra que seria realizada com recursos das leis orçamentárias. Ficou ainda determinado que a Tesouraria do cemitério seria de propriedade da Santa Casa de Misericórdia, se existisse, e não havendo, seriam esse recursos aplicados na sua construção. (A Santa Casa de Fortaleza foi  inaugurada oficialmente em 1861)

A obra foi iniciada no mesmo ano de 1844. Pelo regulamento de 16 de março de 1848, o presidente Casimiro José de Morais Sarmento (outubro de 1847/abril de 1848), ordenou que a partir dia 1° de maio daquele ano, os cadáveres dos indivíduos falecidos na cidade e seus subúrbios só poderiam ser sepultados no Cemitério de são Casimiro, e aquele que infringisse as normas, sofreria multa de 25$000 reis. 

O cemitério foi concluído em 1853, e já no ano  seguinte, o presidente Vicente Pires da Mota (fevereiro de 1854/outubro de 1855), reconhecendo que o campo santo era demasiado pequeno em relação à mortalidade da população, do que resultavam graves inconvenientes,  solicitou à Assembleia Provincial que fosse o mesmo ampliado. 


Nas Igrejas do Rosário e a antiga Matriz (demolida em 1938), as mais antigas de Fortaleza, foram feitos inúmeros sepultamentos, costume seguido em todo o Brasil antigamente.  


Em 1856, receando o aparecimento de surtos de cólera-morbus, o presidente Paes Barreto (outubro/1855/março de 1857), mandou aumentar o mencionado cemitério, dando-lhe mais 150 palmos de frente a 300 de fundos, tornando-o assim, três vezes maior do que era. 
Nesse ano foi feita a murada, foram colocadas as grades de ferro e construíram-se os alicerces de duas casas ao lado do portão de entrada, para depósito de materiais.  Em 1862, o presidente José Bento(maio de 1862/fevereiro de 1864)  encaminha um relatório à Câmara Municipal no qual reivindica a construção de  um novo cemitério, em razão de achar-se o Cemitério de São Casimiro, quase dentro da cidade, estar sendo invadido pelas areias do Morro Croatá, além de que, numa parte dele já fora sepultado grande número de coléricos, representando um risco de contaminação para os moradores locais.


Aprovada a proposta firmou-se o contrato para sua construção na estrada do Soure, além do riacho Jacarecanga, devendo ficar pronto em dezembro de 1863. Apenas chegaram a concluir os muros, quando a obra foi embargada em razão da proximidade com o arroio do Jacarecanga, que abastecia de água a capital.

Diante da urgência da construção do novo cemitério, visto que o velho não tinha mais capacidade, foi nomeada pelo presidente uma comissão composta pelos médicos Rufino Antunes de Alencar, José Lourenço de Castro e Silva e do engenheiro José Pompeu  de Albuquerque Cavalcante para escolherem um local, e a comissão indicou o que se acha atualmente o São João Batista, terreno comprado ao brigadeiro Francisco Xavier Torres. 


Capela do Cemitério São João Batista (arquivo Nirez)

Concluído em 1865, efetuou-se a benção desse cemitério, que recebeu o nome de São João Batista,  em 5 de abril, começando-se  a fazer nele os sepultamentos. Em 30 de abril foi contratada a construção da Capela, com o artista João Francisco de Oliveira. Em janeiro de 1870 foi contratado o empedramento da Rua das Flores (atual Castro e Silva) entre a Rua Senador Pompeu e o novo Cemitério, o qual ficou pronto no prazo de seis meses.

Por inexplicável coincidência, o cemitério foi construído de frente para a Igreja da Sé , uma a olhar para o outro na distância de um quilômetro. 
O cemitério de São Casimiro foi demolido e no local foi erguida a Estação João Felipe (arquivo Nirez)

O cemitério de São Casimiro foi desativado na mesma data em que o São João Batista entrou em funcionamento. Era localizado no terreno ocupado atualmente pela Estação João Felipe, na Praça da estação, que já pertenceu à estrada de Ferro Baturité. A partir de 1865, jazeu em completo abandono até que, em 1877 se resolveu sua demolição.

A autoridade competente mandou exumar alguns restos e os recolher ao Cemitério de S. João Batista. Em 1878 já estava quase tudo em ruínas: túmulos desmoronados, grades quebradas, ossos dispersos pelo chão, onde animais pastavam tranquilamente. Na reforma por que passou a estação Central em 1879, construiu-se parte das oficinas sobre túmulos antigos; até hoje as construções feitas no local pesam impiamente, sobre mortos. Quando se cava a terra por ali, é raro não se encontrarem restos humanos. 


é comum em templos mais antigos, encontrar-se lápides no chão ou nas paredes indicando que alguém foi sepultado no local. 
Outrora os enterramentos efetuavam-se nas igrejas, até que em 1° de maio de 1848 passaram a ser feitos no Cemitério de São Casimiro. A lei n° 660 de 29 de setembro de 1854, proibiu expressamente, inumações de corpos em todas as igrejas da província.


Fontes:
Descrição da Cidade de Fortaleza, de Antônio Bezerra de Menezes – introdução e notas de Raimundo Girão
Fortaleza Velha,  de João Nogueira  

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Guilherme Rocha A reforma urbana de Fortaleza


Guilherme César da Rocha (1846-1928) - Coronel da Guarda Nacional, vereador, presidente da Câmara Municipal, deputado, vice-presidente do Estado e Intendente de Fortaleza, de 1892 a 1912.

O coronel Guilherme Rocha tomou posse na Prefeitura de Fortaleza em 1902. Durante sua administração conseguiu realizar importantes reformas de praças e prédios, proporcionando maior lazer e bem estar para os moradores da província. 

Segundo o escritor Mozart Soriano Aderaldo, Guilherme Rocha foi o primeiro governante depois do boticário Ferreira, que se interessou agressivamente pela solução dos problemas urbanísticos da cidade.

De fato, Guilherme Rocha promoveu uma série de melhoramentos, inaugurando em 1902, o jardim da Praça do Ferreira, até então, um vasto areal, como de areia eram até a década de 1930, as Praças do Carmo, do Coração de Jesus e de Pelotas (depois da bandeira e hoje Clóvis Beviláqua.)

Jardim 7 de setembro, na Praça do Ferreira (arquivo Nirez)

Em 1903 o então intendente ajardinou as Praças da Sé e do Patrocínio (atual José de Alencar). Nesse mesmo ano a cidade foi enriquecida com a inauguração da Igreja do Pequeno Grande, anexa ao Colégio da Imaculada Conceição.  O templo dedicado a Nossa Senhora do Carmo, erguido no local onde antes se venerava a imagem de Nossa senhora do Livramento, foi entregue aos fiéis em 1906.

Antes da urbanização, a Praça do Ferreira, cercada de mongubeiras, não era revestida sequer de um calçamento tosco.  As árvores eram utilizadas também para amarrar animais dos comboios que traziam mercadorias do sertão para a capital. No centro da praça havia uma cacimba, de uso público.

jardim 7 de setembro, na Praça do Ferreira (arquivo Nirez)

Guilherme Rocha converteu tudo isso num jardim de encantos, rodeado por um amplo passeio do lado oposto à Câmara Municipal. Entre os Cafés Elegante e Iracema, erguia-se um belo chafariz com quatro torneiras. No centro do passeio, um alto catavento, e ao pé deste um grande depósito de água. Oito tanques com repuxos forneciam água aos numerosos canteiros de flores, situados dentro das áreas que dividiam o jardim.

Igreja do Carmo, inaugurada em 1906 
imagemhttp://www.photography-discussions.info/en/peCqiSN 

Guilherme Rocha nasceu em Fortaleza, em 16 de agosto de 1846, filho do comerciante português e cônsul da Bélgica Manuel Antônio da Rocha Júnior e de Joaquina Mendes da Rocha. Aos dez anos foi para o Rio de janeiro, onde fez estudos preparatórios no Colégio dos Padres Paiva. Matriculado na Escola de Guerra, abandonou tudo no terceiro ano por problemas de saúde. De volta ao Ceará dedicou-se à vida do comércio.


Conjunto arquitetônico Igreja do Pequeno Grande/Colégio da Imaculada Conceição (foto Ah, Fortaleza!)

Com o falecimento do pai, Guilherme Rocha foi nomeado cônsul da Bélgica, confirmada por carta imperial de 26 de janeiro de 1872. Eleito membro da Irmandade do S.S. Sacramento de Fortaleza em 1873, foi em 1878, nomeado tesoureiro da Santa Casa de Misericórdia, cargo que exerceu por mais de trinta anos. Por  Carta Imperial de 3 de fevereiro de 1883, foi nomeado 6° vice-presidente da província. 

Durante o Império  Guilherme Rocha foi vereador e presidente da Câmara Municipal. Foi nomeado Intendente no período Republicano, assumindo o cargo a 12 de julho de 1892, permanecendo no cargo até 1° de fevereiro de 1912, sendo assim o Intendente de mais longa administração, durante o qual realizou diversos melhoramentos urbanos.

Mercado de Ferro, construído na gestão de Guilherme Rocha (arquivo Nirez)

Em 1892 Guilherme Rocha pediu exoneração do cargo de Cônsul da Bélgica. Foi então nomeado agente do Loyde Brasileiro em Fortaleza, permanecendo nesse cargo por vinte anos.  Devido ao golpe político da época, foi eleito vice-presidente do Estado, tendo em seguida a patente de Coronel Comandante Superior da Guarda Nacional de Fortaleza.

Foi exonerado dos cargos de Intendente de Fortaleza, Tesoureiro da Santa Casa de Misericórdia e Agente do Loyde Brasileiro, após movimento armado que depôs o governo de Antônio Pinto Nogueira Accioly. Guilherme Rocha faleceu em Fortaleza, em julho de 1928.

fonte:
A História do Ceará passa por esta rua
de Rogaciano Leite Filho          

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Os Espaços do Legislativo Cearense

O primeiro edifício onde se instalou a Assembleia foi o que a Junta da Fazenda Nacional, em sessão de 17 de junho de 1829, mandou construir para as reuniões do Conselho Provincial, na conformidade da carta de lei de 7 de agosto de 1828. Ficava localizado na Rua Direita do Palácio do Governo, fronteiro à igreja matriz, na Praça Caio Prado. 

primeiro prédio onde funcionou a  Assembleia Provincial, na Praça Caio Prado (arquivo Nirez) 

Foi doado à província pela lei n° 778 de 6 de setembro de 1854, e nele funcionou o corpo legislativo em 1873, quando o presidente Francisco de Assis Oliveira Maciel , autorizado por resolução de 26 de setembro de 1872, ordenou ao Tesouro Provincial, que vendesse o imóvel a firme inglesa Singlehurst & Co, pela quantia de 10:00$000, o que efetuou-se por escritura pública perante o mesmo Tesouro em maio de 1873. 

A mudança para um novo prédio começou a ser articulada quando, em 1° de setembro de 1855, o presidente Joaquim Vilela de Castro Tavares, apresentando seu relatório à  Assembleia, na parte relativa a obras públicas, chamou a atenção para a necessidade de uma casa condigna às funções que exerciam os legisladores , visto que a casa que ocupavam na ocasião, mais parecida edifício destinado às sessões de alguma “municipalidade de  aldeia”.

No ano seguinte o presidente conselheiro Vicente Pires da Mota mandou levantar a planta da casa da Assembleia, encarregando ao presidente da Câmara Municipal, Antônio Rodrigues Ferreira, para comprar as casas denominadas quartos da Agostinha,  ordenando-lhe que pagasse pelos cofres da municipalidade, que logo seria indenizado pelo da província.

Palácio  Senador Alencar, que abrigou a Assembleia Legislativa até a década de 1970

Depois, sendo preciso mais terreno, compraram mais casas e três braças de frente. A obra foi iniciada em 25 de outubro de 1856, sendo destinado o edifício à Assembleia e ao Liceu. A obra foi orçada em 80:000$000. Não sendo conveniente  reunir num só prédio a Assembleia e o Liceu, o presidente João Silveira de Sousa pediu que se destinasse  outro local para o Liceu, ficando este separado da Assembleia.

A obra foi paralisada em 1857 e recomeçada em maio de 1860 pelo presidente Antônio Marcelino Nunes Gonçalves; novamente parada em 1861 e 1862, foi retomada em 1863.
O engenheiro Adolfo Herbster contratou sua conclusão em 14 de fevereiro de 1865, mas a obra  só foi recebida oficialmente em março de 1871, pelo engenheiro José Pompeu de Albuquerque Cavalcante.  

O antigo prédio da Assembleia agora acolhe o Museu do Ceará

Em seu oficio de junho à presidência, dizia ele que esperava  que a sessão legislativa daquele ano se efetuasse no novo edifício, pois faltavam apenas os corrimões da escada que já haviam sido contratados. A Assembleia fez sua sessão inaugural no dia 4 de julho e funcionou no novo prédio, hoje denominado Palácio Senador Alencar.

Plenário 13 de Maio
Fachada do Palácio Deputado Adauto Bezerra (foto jangadeiro online)

Em 1977 a Assembleia Legislativa mudou-se para a sua nova sede inaugurada no mês de maio daquele ano, com o nome de Palácio deputado Adauto Bezerra., projeto dos arquitetos José da Rocha Furtado Filho e Roberto Martins Castelo.  A inauguração contou com a presença do general Ernesto Geisel, então presidente da república. Está localizado na esquina das avenidas Desembargador Moreira e Pontes Vieira, bairro Dionísio Torres. 

fonte:
Descrição da Cidade de Fortaleza, de Antônio Bezerra de Menezes
introdução e notas de Raimundo Girão.