Estes dois viviam na UFC. Foram retirados e adotados, escapando assim, da sanha assassina de covardes matadores que se escondem no anonimato Os grandes centros urbanos estão constantemente sendo submetidos a novos desafios que demandam soluções criativas. Um desses desafios é o abandono de animais em lugares públicos, especialmente de cães e gatos.
A superpopulação de cães e gatos é um problema que afeta a maioria das cidades, em maior ou menor grau. A equação é simples: existem mais animais do que lares para acolhê-los. A maioria desse animais é abandonada na rua pelos seus proprietários, irresponsáveis e desumanos, que optam por ter animais domésticos, mas não cuidam nem da sua saúde, nem do seu bem-estar.
Por outro lado, a superpopulação de qualquer espécie gera problemas ambientais e desequilibrio na cadeia alimentar. Os gatos são predadores de pássaros e pequenas aves. Também são portadores de doenças transmissíveis a humanos em razão da ausência de vacinas ou medidas de prevenção.
Atualmente em Fortaleza não há uma praça, um logradouro público, um condomínio privado, que não esteja repleto de gatos, de todas as cores, tamanho e raças.
Em busca de uma solução rápida, as autoridades da saúde freqüentemente recorrem ao sacrifício em massa. Milhares de animais são mortos, nem sempre de forma humanitária, por falta de informações, de incentivos, subsídios à esterilização dos animais.
Quando o poder público se omite, o que ocorre com uma frequência bem acima do aceitável, uma parcela da população, munida de veneno, crueldade e muita amargura na alma, se encarrega de exterminar os indefesos bichanos, que são mortos às centenas, sob o olhar cúmplice da outra parcela, que se não concorda, também não reage.
Mas há um item especialmente chocante nesse episódio sobre gatos abandonados: os que vivem (viviam) no campus do Pici, da Universidade Federal do Ceará. A matança de grande número deles, denúncias de maus-tratos e a proibição, por parte da direção da instituição para alimentá-los, repercutiu na mídia, (Diário do Nordeste, 12.07.2008 e 02.08.2008, Editoria Cidade), gerou polêmicas e causou indignação até em quem ignora o direito dos animais.
A universidade é a elite cultural e intelectual de uma nação. Acima da universidade não há governo, nem igreja, nenhum poder, nenhuma outra instituição que detenha tanto saber. A universidade cria conhecimentos, muda paradigmas, educa, ensina, mostra caminhos, aponta soluções.
Por isso é tão dificil aceitar que os administradores da UFC tenham optado por copiar a solução encontrado por broncos moradores de condomínios ou freqüentadores de locais públicos que por ignorância, intolerância e falta de respeito aos outros seres vivos, dão vazão aos seus maus instintos, com a desculpa de que estão solucionando um problema. Estão isso sim, cometendo um crime: são criminosos.
A mesma notícia do jornal, dá conta de que em parceria com algumas entidades, foi firmado um compromisso no qual a UFC se dispõe a buscar soluções como controle da natalidade pela castração e a prestar ajuda em campanhas educativas para adoção dos pequenos felinos.
Não era sem tempo. Esse é o papel que cabe a uma universidade mantida pela dinheiro público, que sabe da relevância de sua atuação junto à sociedade, que sabe mais do que todos, que exterminar animais é crime não só moral, mas também legal, em razão da existência da Lei número 9.605/98 de 12.12.1998, denominada Lei de Crimes Ambientais, que em seu artigo 32 § 1 e 2, prevê penas de detenção e multa para quem pratica crimes contra animais.