terça-feira, 27 de dezembro de 2022

Lugares para visitar em Fortaleza

De uns anos para cá Fortaleza tem sido um dos destinos turísticos mais procurados, a cada ano aumenta o número de visitantes, atraídos pela beleza da cidade, pela culinária e pelas diversas opções oferecidas. Cada vez mais se investe em equipamentos turísticos, em meios de hospedagens e em centros de compras, alguns, a preços bem populares. Aqui estão algumas sugestões, que são quase uma unanimidade para quem visita a cidade. Segundo projeção da Secretaria Municipal de Turismo Municipal (Setfor), Fortaleza deverá receber 600 mil turistas entre 20 de dezembro a 5 de janeiro de 2023. 

   


1 – Avenida Beira Mar





O espaço ao longo da orla que já foi Avenida Presidente Kennedy e hoje é Beira Mar começou a ser urbanizado em 1961, quando foi iniciada a construção da via. Recentemente, foi encerrada mais uma requalificação da avenida na qual foram investidos em torno de R$120 milhões. A nova Beira-Mar conta com 125 mil m² de área urbanizada, 3 km de nova pavimentação com piso intertravado, calçadas, barracas, estacionamentos, quadras, academia ao ar livre, sistema de drenagem, e algumas “cositas” a mais. Reforçaram também a segurança, com o aumento do contingente de policiais na área, mas os ladrões ainda estão por lá. Lugar bom para passear, para descontrair, para admirar a paisagem, para comer e beber, para caminhar, para comprar na feirinha ou nos vendedores ambulantes, e para ter cuidado com os pertences. A feirinha funciona diariamente, das 16 às 22 horas. 

 

2 – Mercado Central



O Mercado Central é um clássico em se tratando de local de compras de artesanatos e produtos produzidos no Ceará. Conta com cerca de 600 boxes em 5 pavimentos, restaurantes, lanchonetes, rampas de acesso e estacionamento com manobristas. Funciona de segunda a sexta das 8 às 18 hs, aos sábados das 8 às 17 hs e aos domingos das 8 às 13 hs.  Fica na Avenida Alberto Nepomuceno, 199, ao lado da Catedral Metropolitana, centro. Nas imediações do Mercado Central, há uma infinidade de galpões que abrigam comércios populares, de confecções em geral, a preços bem convidativos. 

   

3 – Barracas da Praia do Futuro


foto Diário do Nordeste

As barracas surgiram junto com a urbanização da praia do Futuro. Eram simples, desmontáveis, um tanto improvisadas. Com o tempo foram aumentando de tamanho, de estrutura, e número de clientes. Hoje são superestruturas, algumas com parques aquáticos, cozinha típica e internacional, e uma infinidade de oferta de serviços, sem similares em praias do Nordeste. Atualmente existem entre 55 e 60 barracas, com estruturas de pequeno, médio e grande porte. Se for para o mar, tomar cuidado, porque as correntes marítimas aliadas ao vento forte, são intensas na região.

   

4 – Polo de Gastronomia da Varjota


foto O Povo

O Corredor Gastronômico da Varjota foi criado em 2009, mas a atividade já existia no local há muito tempo. O bairro reúne o maior número de bares e restaurantes de Fortaleza, com mais de 120 estabelecimentos e atende a todos os públicos e gostos com bares e restaurantes, servindo desde a comida a tradicional cozinha regional até a cozinha internacional. Possui grande variedade de restaurantes temáticos, clássicos, self services, pizzarias, choperias, entre outros espaços de atendimento. 


5 – Complexo Ambiental e Gastronômico da Sabiaguaba



Inaugurado em julho deste ano, localizado às margens do Rio Cocó o polo gastronômico conta com um píer, vários quiosques com programação cultural variada, apresentações artísticas, shows musicais, além da culinária tradicional da cidade. O polo da Sabiaguaba integra duas unidades de proteção integral, o Parque Ecológico do Cocó e o Parque das Dunas da Sabiaguaba. Está instalado numa área de 2,5 hectares, conta com estacionamento e segurança. Funciona de 15 às 22 horas, exceto às 3ª. Feira. Fica na Rua da Sabiaguaba, 430.


6 – Encetur – Centro de Turismo do Ceará




Localizada na Rua Senador Pompeu, 350, esquina com a Rua General Sampaio, ao lado da Praça da Estação, o atual centro de turismo está instalado em importante prédio histórico: O que era ocupado pela antiga cadeia pública de Fortaleza, iniciado em 1850 e concluído 16 anos depois, em 1866, projeto do engenheiro Manuel Caetano de Gouveia. As antigas celas foram transformadas em lojas de artesanato, o pavilhão central abriga o Museu de Mineralogia e Arte Popular e a Administração – outrora alojamento do carcereiro e enfermarias. O Centro de Turismo oferece toda sorte de artesanato produzido na região, desde roupas e calçados a produtos em couro, cerâmica, rendas, madeira, roupas de cama, mesa e banho, castanhas, frutas, doces e bebidas. Ficar atento ao transitar a pé nas imediações. 

  

7 – Praia de Iracema


foto O Povo


Muitos estabelecimentos da Praia de Iracema encerraram atividades nos últimos anos, mas o lugar continua interessante para passeio e gastronomia. A configuração da praia mudou bastante, com um aterro extenso, que aumentou a distância entre o calçadão e o mar tornou o banho de mar numa preocupação a mais. Acredite nas placas que alertam sobre a profundidade da praia.


      

8 – Catedral Metropolitana




Se já estiver na área central, não deixe de visitar a nossa bela Catedral Metropolitana, inaugurada em 1978, depois de ter passado quase quarenta anos sendo construída. A nave é enorme, tem capacidade para um total de 5.000 pessoas. O estilo tem influências do românico e do gótico e isso dá o estilo eclético. O templo destaca-se pela imponência arquitetônica e pela beleza dos vitrais que representam passagens da Bíblia, os santos sacramentos e personagens eclesiásticas. 

  

9 – Assistir a um show de humor


foto Mapa Cultural do Ceará

Os shows de humor são facilmente encontrados nas regiões da Praia de Iracema, da Avenida Beira mar e Praia do Futuro, mas não se restringem a esses locais. São oferecidos em muitos outros espaços da cidade. Os shows são alegres, engraçados e descontraídos, mas, às vezes, a piada pode ser você. Faz parte.


10 – Centro das Tapioqueiras




Esse fica fora da área de turismo, distante cerca de 30 minutos do centro de Fortaleza, na estrada de acesso as praias do litoral leste (Aquiraz, Cascavel, Aracati...). O centro foi inaugurado no início dos anos 2000, com a finalidade de reunir as Tapioqueiras em um único espaço. A criatividade na culinária, por lá é ilimitada. Além das tapiocas, sempre acompanhadas de café, doces, licores e algum artesanato são encontrados no local, que tem amplo estacionamento. Fica na Avenida Washington Soares 10125, Messejana.



Por Fátima Garcia
fotos Fortaleza em Fotos   

quinta-feira, 27 de outubro de 2022

Lendas Urbanas

 

As assombrações mais famosas de Fortaleza, tinham lugar certo para fazer suas aparições. Jamais alguém fotografou ou entrevistou ou registrou qualquer evento que sirva de prova à existência dessas entidades exóticas, embora os testemunhos orais sejam abundantes. 

  

O Cão da Itaoca 

 

Uma das lendas mais conhecidas é a do Cão que apareceu na Itaoca, no início dos anos 40. Era no Beco da Itaoca que se localizava a fonte de água, a famosa água da Pirocaia, em terras do Dr. Manoel Sátiro. Ali também em 1938, Antônio Ferreira de Almeida instalou o Centro Espírita Joana D'arc, às margens de um riacho, a atual Rua Edith Braga. Mas não foram essas histórias que fizeram a fama do bairro. 

 

Rua do bairro Itaoca

fotos Fortaleza em Fotos 2012


O capeta veio cheio de atitude, se instalou numa casa do Beco da Itaoca, atual rua Romeu Martins, e por lá aprontou o que era e o que não era permitido. A casa pertencia a um servidor da Polícia Militar, considerado um homem respeitável e de boa reputação, muito estimado pelos moradores do Beco. Alguns dos eventos foram presenciados até por um repórter do jornal Gazeta de Notícias, que visitou a casa, e descreveu o que viu: “Observamos verdadeiros aspectos trágicos na casa do digno oficial da Força Pública. Um santuário, sem que ninguém identificasse o autor do fato, foi lançado à distância, espatifando-se. As imagens que estavam no móvel, também se partiram, no choque contra o solo”.


A atuação atraiu a curiosidade de centenas de pessoas que diariamente se postavam em frente à residência, esperando o início do espetáculo, com a devida cobertura da mídia existente à época. Para enfrentarem a presença demoníaca, os moradores tentaram tudo: chamaram a imprensa (alguns jornais e uma emissora de rádio), a polícia e alguns religiosos. Nada intimidou o capeta. 

 




Uma antiga moradora, contou com riqueza de detalhes, a história que gerou o mito do Cão da Itaoca. Dizia ter presenciado coisas estranhas naquela residência, onde tinha acesso por ser amiga da família do major João Lima, que era um homem bom e estimado pelos moradores do beco. Para a moradora, foi real a presença do capeta naquela casa. O cão encerrou sua atuação depois de alguns dias e desapareceu. Mas botou a Itaoca no mapa.


A Mula sem Cabeça do Cercado do Zé Padre



Eis que de uma hora para outra, sem mais nem porque, começou a aparecer uma mula sem cabeça no Cercado do Zé Padre, aquela região no bairro Farias Brito que é Otávio Bonfim, por trás da avenida Bezerra de Menezes, em frente à igreja das Dores. Alguns historiadores contam que foi naquele local que em tempos passados foi instalado um campo de concentração (ou abarracamento) para receber retirantes da seca, aproveitando a proximidade do abarracamento com a antiga Estação do Matadouro. Isso aconteceu por volta dos anos 30.



imagem Pinterest


A mula sem cabeça aparecia tarde da noite, percorria todo o cercado, tocando o terror nos moradores, que não ousavam pôr os pés fora das casas depois que a noite caía. Vinha envolta em um manto preto, sempre em desabalada carreira, soltando fogo pelo pescoço, com um lampião a iluminar seus desventurados caminhos.


Uma noite, um morador mais ousado, resolveu montar vigília noite adentro, disposto a desvendar o enigma da visagem. Não deu. Mal o bicho apareceu, vindo exatamente em sua direção, o homem em pânico total, correu para o abrigo de sua choupana, implorando aos céus por misericórdia, que o livrasse da ação maléfica da burra do padre que corria a solta no Cercado.


Contam que a mula sem cabeça foi uma vingança premeditada pelo Zé, um dos pioneiros do Cercado, que agora via seu pedaço de chão sendo cobiçado e invadido por novos moradores. Dizem ainda, que o Zé, que de padre não tinha nada, tinha uma amante, casada, que ele visitava em altas horas, e a oportuna aparição da mula mantinha os bisbilhoteiros trancados dentro de casa. Além do mais ficavam garantidos o sigilo e a discrição quanto ao seu amor proibido. Apesar de ser considerado um santo, Zé Padre era astucioso e gostava de correr durante a noite, fazendo visagem no cercado que levava seu nome.


 A bailarina do Teatro José de Alencar



Teatro José de Alencar - imagem Arquivo Nacional


É difícil encontrar por aí um teatro histórico que não seja frequentado por almas penadas, alguns costumam ter seus fantasmas fixos.  Eles estão no cinema, na literatura e, claro, no palco. Às vezes são brincalhões, outras, assustadores. Há quem diga que são só lendas e há quem jure que eles existem de fato.


Embora muitos não acreditem, os mistérios existem e são contados frequentemente pelos que trabalham nos espaços cênicos. No Teatro Municipal do Rio de Janeiro, o espírito de uma bailarina, que teria morrido em frente ao prédio, no dia de sua formatura, e do poeta Olavo Bilac, que fez um discurso na inauguração do teatro, em 1909, foram vistos vagando pelas dependências do teatro por muitos funcionários. 

  


Teatro José de Alencar - imagem Pinterest

      

E o Teatro José de Alencar, instituição com 112 anos de existência, não foge à regra: tem em seu elenco um fantasma, uma moça, uma bailarina, que por motivos desconhecidos, resolveu habitar as dependências da histórica casa de espetáculos.


A bailarina é atemporal, já foi vista por várias gerações de funcionários e frequentadores do teatro José de Alencar. Foi descrita pelos que a avistaram como uma mulher jovem, de cabelos longos, vestido azul, que flutua pelos corredores e ronda o palco e o imaginário dos frequentadores. A bailarina é uma figura etérea, quase transparente, que sussurra como se quisesse transmitir alguma mensagem. Já foi vista dançando na madrugada, rodopiando no palco, e desaparecendo instantaneamente, nas brumas que escondem mistérios e segredos guardados no local.



segunda-feira, 19 de setembro de 2022

Dez Bairros de Fortaleza, uma Breve História

 

No início do século XX, a cidade já apresentava uma divisão por bairros em nível social. O primeiro "bairro chique" a se configurar foi o Jacarecanga, formado em sua maioria pela elite que antes residia no Centro.


Foto Brasiliana Fotográfica ( O. Justa)

Alguns tiveram seus nomes modificados ao longo do tempo, e em épocas diversas, de modo que existiam bairros cujas denominações foram apagadas do mapa da cidade, como o bairro Antônio Diogo, localizado na região do Mucuripe, hoje Praia do Futuro II, Jardim Glória no Distrito de Messejana, Cachoeirinha, no distrito de Antônio Bezerra, hoje bairro Padre Andrade, e Marupiara, no distrito da Parangaba, hoje bairro Demócrito Rocha. Mas novos bairros foram criados em função do crescimento e da expansão dos horizontes de Fortaleza. Atualmente a cidade está dividida em 12 secretarias executivas regionais e 121 bairros. Esta é uma breve história de 10 bairros de Fortaleza.

1 – O São Gerardo ocupa uma parte do antigo Alagadiço (SER 3)


Bairro São Gerardo - Lagoa do Alagadiço 


A exemplo de muitos outros bairros, o São Gerardo se formou no entorno da igreja. A primeira capela dedicada a São Gerardo nasceu da iniciativa de um grupo de fiéis, que conseguiram a doação de um terreno localizado na Avenida Bezerra de Menezes, no ano de 1924, quando o lugar ainda era conhecido como Alagadiço Grande, e ficava no percurso do bonde do Alagadiço.

A capela, inaugurada em 18 de outubro de 1925, foi reformada e ampliada em 1934, e elevada ao status de Paróquia de São Gerardo Majella pelo Arcebispo Dom Manoel da Silva Gomes. O bairro, nascido e criado a partir desse ponto, herdou o nome da igreja.

Hoje o São Gerardo é considerado de renda média, teve um período de alta valorização de imóveis e com forte perfil comercial, tendência que ficou acentuada a partir 1991 com a inauguração do North Shopping, o maior daquela região. A instalação do shopping atraiu grande número de novos comércios e prestadores de serviços dos mais variados, tendência que se reverteu em parte, devido a nova configuração da Avenida Bezerra de Menezes, que baniu estacionamentos e retornos, e dificultou o acesso aos estabelecimentos comerciais.

O São Gerardo está localizado entre os bairros Ellery, Monte Castelo, Farias Brito, Parquelândia e Presidente kennedy.


2 – O Bairro Autran Nunes era chamado de Alto do Bode (SER 11)

No início, era quase desabitado, com terrenos cobertos de mato e barro vermelho. A dona-de-casa Raimunda Sousa de Carvalho, conhece bem a história do lugar, porque foi uma das primeiras a chegar ao bairro. Moradora do Autran Nunes há mais de 40 anos, Raimunda mudou-se para a região com o marido Raimundo, e sete filhos pequenos.

Nos idos dos anos 1960, ela abriu um comércio que virou ponto de encontro. Nessa época, o bairro já era conhecido pela alcunha de Alto do Bode. Quem denominou, segundo Raimunda, foi o seu próprio marido - que morreu nos anos 1970. Pelo menos uns 50 anos antes, o casal morava ainda no bairro ao lado, o Antônio Bezerra. Nesse tempo, um vizinho, que criava bodes, sentiu falta de um par de caprinos. Deram conta de que os animais estavam amarrados no Alto do São Vicente, a região onde fica o atual Autran Nunes.

Os bodes não foram recuperados nem o ladrão localizado, mas a alcunha pegou. Mais tarde, arrependido, seu marido tentou de tudo para emplacar o nome Alto do São Vicente com placas e faixas. Foi em vão, todos conheciam por Alto do Bode. Depois, o bairro foi batizado com um novo nome: Autran Nunes, em homenagem a um juiz amigo, que promoveu algumas ações sociais em benefício dos moradores.

Localizado na zona Oeste, o Autran Nunes fica entre os bairros Antônio Bezerra, Dom Lustosa, Henrique Jorge e Genibaú.

3 – Bairro Vila União (SER 4)


Vila União - monumento ao vaqueiro

O bairro Vila União foi fundado pela prefeitura de Fortaleza em 23 de agosto de 1940. Antigamente o lugar era chamado de Barro Preto, terras de propriedade da Sra. Maria de Conceição Jacinto, natural da cidade de União, hoje Jaguaruana. Em 1938 as terras foram vendidas para o Dr. Manoel Sátiro, que loteou as terras e batizou o loteamento de Vila União.

O loteamento se expandiu rapidamente justificando a criação do bairro. Em 1942 foi criada a linha férrea que corta o bairro ligando a Parangaba ao Mucuripe; em 1965 foi inaugurada a Avenida Luciano Carneiro que se tornava o principal acesso ao Aeroporto Pinto Martins. A avenida atualmente dá acesso ao terminal de cargas do aeroporto.

O Vila União conta com vários equipamentos públicos, como parques, hospital infantil, clube social, e shoppings de revendedores. Fica entre os bairros Aeroporto, Parreão e Montese.

4 – Bairro Conjunto Ceará (SER 11)


Avenida no Conjunto Ceará

Na década de 1970, vários conjuntos habitacionais foram edificados em Fortaleza, com base na política do Banco Nacional de Habitação, que utilizava recursos do FGTS para financiar habitações populares a baixo custo. A maioria dos conjuntos foi implantada em terrenos baratos e distantes, na direção do Distrito Industrial de Maracanaú, e junto ao leito das linhas férreas – tronco Fortaleza – Maracanaú e tronco Fortaleza – Caucaia.

O Conjunto Ceará foi inaugurado em 1978, na área do bairro Granja Portugal. A exemplo de outros conjuntos habitacionais populares, o lugar era totalmente desprovido de infraestrutura, que foi sendo implantada aos poucos, mediante reivindicações dos primeiros moradores. 

As primeiras 996 casas do novo conjunto habitacional foram entregues em 1977, por meio de sorteios promovidos pelo sistema da COHAB (Companhia de Habitação), responsável pela política de construção dos conjuntos. O lugar cresceu tanto que virou bairro de Fortaleza.

O Bairro Conjunto Ceará foi criado em 11 de outubro de 1989, através da lei 6.504, que desmembrou o Conjunto Ceará da jurisdição do Bairro Granja Portugal. Segundo o Censo Demográfico de 2010, do IBGE, a população do Conjunto Ceará era de 42.894 habitantes, sendo 19.848 homens e 23.046 mulheres. Esse número de moradores era maior do que a de 141 dos 184 municípios cearenses. Depois o bairro foi dividido entre Conjunto Ceará I e Conjunto Ceará II.

5 – Bairro Pici (SER 11)

O nome Pici vem do antigo Sítio Pici, localizado às margens do Riacho Cachoeirinha, adquirido em 1927, pelo advogado Daniel Queiroz, pai da escritora Raquel de Queiroz. O bairro já teve área bem maior, com grandes sítios seguidos de grandes vazios urbanos, num tempo em que a Santa Casa de Misericórdia e a Legião Maçônica eram detentoras de grandes lotes de terrenos na região. 

A geografia do Pici mudou radicalmente no início dos anos 40 quando os extensos sítios ganharam uma vizinhança inusitada, com a instalação de uma base militar norte-americana, de onde partiam e chegavam aviões de bombardeios e dirigíveis, estranhos objetos voadores, desconhecidos do grande público, que monitoravam a costa cearense.

Depois que os americanos foram embora, chegou a universidade e ocupou parte das instalações da antiga base. Atualmente o campus da Universidade Federal ocupa a maior parte da área do Pici que abriga também importantes equipamentos esportivo e culturais, como a sede do Fortaleza Esporte Clube e do Maracatu Nação Pici.

O Pici está localizado a Oeste de Fortaleza, entre os bairros São Gerardo, Parquelândia, Amadeu Furtado, Bela Vista, Panamericano, Demócrito Rocha, Jóquei Clube, Henrique Jorge, Dom Lustosa, Padre Andrade e Presidente Kennedy.

6 – Bairro Presidente Kennedy, antigo Monte Picu (SER 3)


Parque Rachel de Queiroz - bairro Presidente kennedy - imagem G1


O Guia Turístico da Cidade, editado pela Prefeitura Municipal de Fortaleza em 1961, não registra a existência de alguns bairros localizados na zona Oeste de Fortaleza. Assinala no lugar, uma área denominada Alagadiço, delimitada ao Norte pela Avenida Sargento Hermínio; a Leste Rua Padre Frota, Rua Prof. Castelo e Rua Prof. Anacleto; ao Sul, Avenida Jovita Feitosa e a Oeste pelos limites dos Distritos de Parangaba e Antônio Bezerra. O Presidente Kennedy surgiu nessa região, provavelmente pelo parcelamento do Alagadiço, cuja área era bem maior do que a correspondente ao atual bairro São Gerardo, tido como o antigo Alagadiço.

O bairro tem sua origem na ocupação por populações vindas do interior, ficando conhecido como Monte Picu. Lá foi construído um conjunto habitacional, durante os anos 60, nomeado Conjunto Castelo Branco, para abrigar essa população retirante. No entorno do conjunto, só havia áreas verdes virgens e algumas áreas alagadas. Atualmente, poucas casas sobraram desse habitacional. Com a inauguração de um grande shopping center na região, a abertura de novas avenidas, o lançamento de unidades residenciais direcionados à classe média e a conclusão do Parque Rachel de Queiroz, o Presidente kennedy vem sendo alvo de profunda especulação imobiliária.

Limita-se com os bairros Parquelândia, São Gerado, Ellery, Floresta, Padre Andrade e Pici.

7 – Bairro Eng. Luciano Cavalcante – antigos Santa Luzia do Cocó, Salineiro do Cocó (SER 7)

Antigamente o bairro era chamado de Salineiro do Cocó, e o que mais tinha naquela região, eram salinas. Em fins dos anos 60, início dos 70, foi construída no local, o Conjunto Habitacional Santa Luzia do Cocó, pela COHAB (Companhia de Habitação Popular), utilizando recursos do BNH (Banco Nacional de Habitação).  O habitacional, com 294 unidades residenciais, representou um redirecionamento das ações do BNH, que até então era voltado para construções de conjuntos habitacionais populares para pessoas de baixa renda. O Santa Luzia do Cocó atendia a uma faixa de renda mais elevada e de maior poder aquisitivo no caso os servidores públicos municipais e estaduais. 

O terreno onde foi erguido era distante e isolado, a infraestrutura era precária e não havia serviços regulares. A população precisava se deslocar para outros bairros ou para o Centro, sempre percorrendo grandes distâncias, em busca de serviços e gêneros de abastecimento. O acesso ao transporte público era difícil, pois não existiam vias de tráfego, apenas pequenas vielas de calçamento, cercadas de mato.

Essa realidade mudou quando, nos arredores do Rio Cocó, o engenheiro Luciano Cavalcante fundou uma fábrica de canos de PVC, e por seu intermédio, foi realizada a primeira obra de infraestrutura do bairro, a eletrificação da região, que também ganhou pavimentação, abertura de novas ruas e linhas regulares de ônibus. Com estas melhorias, e as que se seguiram, outras empresas se estabeleceram no local.

O lugar se desenvolveu rapidamente a partir dos anos 80, quando começaram a surgir os inúmeros edifícios de apartamentos, casas de alto padrão, faculdades, shoppings e supermercados. O bairro foi criado oficialmente, no dia 31 de maio de 1968, através da lei 3549/68, quando o bairro Salineiro do Cocó passou a chamar-se engenheiro Luciano Cavalcante.

Localizado na zona Leste, entre os bairros Jardim das Oliveira, Salinas, Guararapes, Edson Queiroz, Parque Manibura e Cidade dos Funcionários.

8 – Bairro De Lourdes (Ou Dunas) – SER 2


Bairro Dunas

O bairro surgiu a partir de um grande loteamento, lançado pelo ex-deputado Jeová Costa Lima, que ia da Avenida Trajano de Medeiros à Dolor Barreira, por trás da Igreja Nossa Senhora de Lourdes. O acesso ao loteamento, construído no alto das dunas remanescentes da Praia do Futuro, só era possível com a utilização de uma camionete Rural, que transportava combustível para os tratores que aplainavam o terreno.

Até o ano 2000 era praticamente deserto. A partir da inauguração do marco zero, a Cruz do Cruzeiro, o lugar começou a crescer demograficamente, levando o nome da paróquia local, Nossa Senhora de Lourdes.

O bairro, de baixa densidade demográfica (apenas 3.370 habitantes em 2010 segundo o IBGE), formado de mansões e condomínios de luxo, foi criado oficialmente pela lei Municipal 8945, de 2005, desmembrado da Praia do Futuro. Fica entre os bairros Praia do Futuro, Manuel Dias Branco, Papicu e Vicente Pinzon.

9 – Bairro Jacarecanga (SER 1)


Jacarecanga - Avenida Francisco Sá

Localizado na zona Oeste, próximo ao centro, o bairro surgiu nas proximidades do riacho do mesmo nome, onde se aglutinaram em sobrados, os representantes das elites comercial e agrária, tornando-se um local privilegiado, com mansões e chácaras com plantas e fachadas copiadas de revistas e publicações especializadas europeias. 

A partir do cruzamento com a Avenida Imperador, a Travessa Municipal formava um corredor diferenciado pelo seu conjunto de luxuosas residências. Era o início do bairro. Hoje, a maioria das residências construídas no período do apogeu, foi demolida,  descaracterizada ou se encontra em precário estado de conservação.

O Jacarecanga perdeu sua condição de área nobre a partir de meados do século passado, quando a sua avenida principal, a Avenida Francisco Sá, começou a ser ocupada por uma série de indústrias de transformação e com a instalação do ramal ferroviário e das oficinas da Rede Viação Cearense. Os novos equipamentos atraíram vizinhos de menor poder aquisitivo, que se alojaram em vilas operárias ou ocuparam irregularmente as terras situadas entre a principal avenida do bairro e a zona litorânea, dando origem ao que viria ser a maior favela de Fortaleza, o Pirambu.

Fica entre o Oceano Atlântico, e os bairros Moura Brasil, Centro, Farias Brito, Monte Castelo, Carlito Pamplona e Pirambu.


10 – Bairro Prefeito José Walter (SER 8)


Bairro Prefeito José Walter  

Concluído no início dos anos 1970, dentro da mesma ótica que norteou o lançamento de vários conjuntos habitacionais, financiados com recursos do Banco Nacional de Habitação (BNH), que utilizava valores do FGTS para financiar habitações populares. O Conjunto Habitacional Prefeito José Walter, foi primeiro deles, localizado na zona Oeste de Fortaleza, construído entre 1967 e 1970.

As propagandas referentes a esses Conjuntos Habitacionais se utilizavam do sonho da casa própria, que seria construída em um local distante da cidade, porém com toda a infraestrutura necessária, como água encanada, fornecimento de energia, saneamento básico, escolas, igrejas, parques, posto de saúde, transporte. Propagandas em grande parte enganosas que fizeram com que muitos se aventurassem e fossem morar num bairro isolado localizado no distrito de Mondubim. Na realidade, o conjunto foi entregue somente com as casas.

Estes conjuntos foram fundamentais para a expansão da cidade porque, os moradores, uma vez instalados, passaram a exigir infraestrutura e serviços, os quais favoreciam a valorização dos vazios urbanos.

O habitacional começou a ser habitado em 1970, numa área originalmente ocupada pelo antigo Núcleo Integrado Habitacional do Mondubim, que era habitada por inúmeras famílias pobres. Foi projetado pelo arquiteto Marrocos Aragão seguindo o modelo de cidade planejada. Possui 4 etapas tendo o modelo original projetado com 5500 casas. Em sua inauguração foi considerado o maior conjunto habitacional da América Latina.

O Conjunto está limitado ao Norte pelos bairros Passaré e Parque Dois Irmãos; Ao Sul, pelo Bairro Pajuçara (Maracanaú); a Leste pelo Conjunto Palmeiras; e a Oeste, pelos bairros Mondubim e Planalto Airton Sena.



Fotos: Fortaleza em Fotos feitas entre 2012 a 2015

 

domingo, 11 de setembro de 2022

Cem Anos do Rádio no Brasil

 

A história da Radiodifusão no Brasil começa oficialmente no dia  7 de setembro de 1922, com a transmissão um discurso do então Presidente Epitácio Pessoa, em comemoração ao centenário da Independência do Brasil. Porém a instalação do rádio de fato ocorreu efetivamente alguns meses depois, em 20 de abril de 1923 com a criação da Rádio Sociedade do Rio de Janeiro. A existência do rádio foi possibilitada pela união de três tecnologias: a telegrafia, o telefone sem fio e as ondas de transmissão.



cartão de divulgação distribuído pela Rádio Iracema (imagem internet)

A emissora pioneira não tinha vínculos governamentais nem patrocinadores empresariais, legalmente, constituiu-se sob a forma de associação, reunindo inúmeros associados, popularmente chamados filiados, que contribuíam mensalmente com certa quantia monetária para mantê-la e cobrir as despesas normais de funcionamento.


Seus idealizadores foram intelectuais de diversas áreas, influenciados por Henrique Morize e Edgar Roquette-Pinto, e a emissora tinha uma proposta de caráter educativo, inclusive com aulas disciplinares na programação. Em fins dos anos 1920, surgiu uma outra emissora que revolucionou a maneira de fazer rádio no Brasil. Trata-se da Rádio Mayring Veiga, também no Rio de Janeiro, que se tornou a primeira emissora comercial do país e criou o rádio espetáculo, com apresentadores e cantores fixos, e programação que serviu de   modelo para diversas emissoras criadas no país naquele período.


No Ceará, a primeira emissora oficialmente instalada, foi a Ceará Rádio Clube – PRE 9, inaugurada em 1934, iniciativa do comerciante José Demétrio Dummar, sírio que migrara para o Ceará em 1910. Dummar já vinha fazendo diversas experiências para instalar uma emissora de rádio local desde 1931. Mesmo ainda não tivesse emissoras no Ceará, os aparelhos de rádio podiam captar sinais de emissoras de outros estados e até do exterior.




Fachada do prédio da Ceará Rádio Clube, em 1936, no bairro Damas  (fotos Rádio Universitária)

Programa de auditório na Ceará Rádio Clube: a partir da esquerda: Keyla Vidigal (cantora); Barbosa (locutor-radioator); Nozinho Silva (cantor); Mirian Silveira (radioatriz); Ismy Fernandes (radioatriz); Guilherme Neto (cantor e produtor); João Ramos (locutor-apresentador); Maria José Braz (radio atriz); Laura Santos (radio atriz) e Marilena Romero (cantora).
do livro de Marciano Lopes - Os Dourados Anos


A PRE-9 começou a funcionar precariamente em 1933, sendo oficializada a 30 de maio do ano seguinte.  O número de aparelhos era reduzido – na verdade, era um artigo de luxo, acessível a poucas pessoas, da mesma forma que era o aparelho de TV na época da inauguração da televisão no Ceará, em 1960 – embora, depois tenha se popularizado.


Apenas em 1948 a PRE-9 ganharia uma concorrente, com a inauguração da Rádio Iracema de Fortaleza, iniciativa dos irmãos José e Flávio Parente, associados a José Josino da Costa. A nova emissora foi instalada no Edifício Vitória, na esquina das ruas Guilherme Rocha e Barão do Rio Branco, onde ocupava o segundo andar e a “terrace” da cobertura.


O rádio viveu seu apogeu nos anos 40 e 50, e ao final da década de 1950, Fortaleza é a sétima capital brasileira com cinco estações de rádio: Ceará Rádio Clube, Rádios Iracema, Uirapuru, Verdes Mares e Dragão do Mar. Entrevista personalidades e políticos, cobre partidas de futebol, transmite concursos de misses, encena grandiosas novelas,  populariza cantores, atores e locutores e conta, para quem está em casa, as tragédias e comédias das ruas.



Prédio da Rádio Uirapuru, no centro, na esquina das ruas Clarindo de Queiroz e general Sampaio (imagem Arquivo Nirez)


Não se efetivavam inaugurações ou comemorações oficiais sem a presença de microfones. O rádio está em toda a parte, fala dos estádios, dos teatros, do Palacio da luz, do Aeroporto; não falta nem às festas públicas nem às despedidas dos que se vão.



Auditório da Rádio Nacional no Rio de Janeiro (foto agência Brasil EBC)

Um capítulo à parte no rádio cearense, foram os programas de auditório, criados na Rádio Nacional, no Rio de Janeiro, e que aqui se tornaram célebres, com apresentadores e estrelas locais, apresentados nas dependências da Ceará Rádio Clube e Rádio Iracema de Fortaleza. Os auditórios eram frequentados por todas as classes sociais e até a chamada classe A comparecia, a prova eram os carrões da época estacionados em volta das sedes da PRE-9 e da Rádio Iracema: “Cadilaques, “Aero-Willys” e “Chambords”. Sem outras opções além dos cinemas e das sorveterias, os programas de auditório eram um convite à descontração e ao mais puro relax.

    

Nas palavras de Marciano Lopes, o rádio praticado no Ceará nas décadas 40 e 50, tinha o glamour que naqueles tempos coroava todos os acontecimentos relacionados com a arte. E se o rádio não tinha a magia da imagem, como o cinema e a já emergente televisão, possuía, por outro lado, o fascínio e mistério daquilo que não se vê, só se ouve.


O rádio foi o principal veículo de comunicação no Estado até 1960, quando a televisão se tornou uma realidade para os cearenses, dez anos depois de chegar ao Brasil, o que não impediu a criação de novas emissoras de rádio a exemplo da Rádio Assunção, criada em 1962.


A pegadinha de Orson Wells

 


O poder da rádio sobre o comportamento das pessoas ficou comprovado com o histórico episódio de "A Guerra dos Mundos", uma transmissão radiofônica feita nos Estados Unidos, por Orson Wells, em 1938. 

 

Na noite de 30 de outubro, a rede de rádio CBS interrompeu sua programação musical para noticiar uma suposta invasão de marcianos. A "notícia em edição extraordinária", na verdade, era o começo de uma peça de radio teatro, que não só ajudou a CBS a bater a emissora concorrente (NBC), como também desencadeou pânico em várias cidades norte-americanas. "A invasão dos marcianos" durou apenas uma hora, mas marcou definitivamente a história do rádio.


O programa narrou a chegada de centenas de marcianos a bordo de naves extraterrestres à cidade de Grover's Mill, no Estado de Nova Jersey. A adaptação, produção e direção da peça eram do então jovem e quase desconhecido ator e diretor de cinema norte-americano Orson Welles.


A dramatização, transmitida às vésperas do halloween (dia das bruxas), em forma de programa jornalístico, tinha todas as características do radio jornalismo da época, às quais os ouvintes estavam acostumados. Reportagens externas, entrevistas com testemunhas que estariam vivenciando o acontecimento, opiniões de peritos e autoridades, efeitos sonoros, sons ambientes, gritos, a emoção dos supostos repórteres e comentaristas. Tudo dava impressão de o fato estar sendo transmitido ao vivo.


A CBS calculou, na época, que o programa foi ouvido por cerca de seis milhões de pessoas, das quais metade o sintonizou quando já havia começado, perdendo a introdução que informava tratar-se do radio teatro semanal. Pelo menos 1,2 milhão de pessoas acreditou ser um fato real. Dessas, meio milhão teve certeza de que o perigo era iminente, entrando em pânico, sobrecarregando linhas telefônicas, com aglomerações nas ruas e congestionamentos causados por ouvintes apavorados tentando fugir do perigo.


O medo paralisou três cidades e houve pânico principalmente em localidades próximas a Nova Jersey, de onde a CBS transmitia e onde Welles ambientou sua história. Houve fuga em massa e reações desesperadas de moradores também em Newark e Nova York. O jornal Daily News resumiu na manchete do dia seguinte a reação dos ouvintes: Guerra falsa no rádio espalha terror pelos Estados Unidos”  

  

 

Fontes consultadas:

LOPES, Marciano. Coisas que o Tempo Levou. A Era do rádio no Ceará. Fortaleza, 1994.

Rádio Sociedade do Rio de Janeiro. Disponível em https://atlas.fgv.br/verbetes/radio-sociedade-do-rio-de-janeiro

Jornal Diário do Nordeste – edição de 22.12.2007

1938: Pânico após transmissão de Guerra dos Mundos. Disponível em https://www.dw.com/pt-br/1938-p%C3%A2nico-ap%C3%B3s-transmiss%C3%A3o-de-guerra-dos-mundos/a-956037