No início do século XX, a
cidade já apresentava uma divisão por bairros em nível social. O primeiro
"bairro chique" a se configurar foi o Jacarecanga, formado em sua
maioria pela elite que antes residia no Centro.
Foto Brasiliana Fotográfica ( O. Justa)
Alguns tiveram seus nomes modificados
ao longo do tempo, e em épocas diversas, de modo que existiam bairros cujas
denominações foram apagadas do mapa da cidade, como o bairro Antônio Diogo, localizado
na região do Mucuripe, hoje Praia do Futuro II, Jardim Glória no Distrito de
Messejana, Cachoeirinha, no distrito de Antônio Bezerra, hoje bairro Padre
Andrade, e Marupiara, no distrito da Parangaba, hoje bairro Demócrito Rocha. Mas novos bairros foram
criados em função do crescimento e da expansão dos horizontes de Fortaleza. Atualmente
a cidade está dividida em 12 secretarias executivas regionais e 121 bairros. Esta
é uma breve história de 10 bairros de Fortaleza.
1 – O São Gerardo ocupa uma
parte do antigo Alagadiço (SER 3)
Bairro São Gerardo - Lagoa do Alagadiço
A exemplo de muitos outros
bairros, o São Gerardo se formou no entorno da igreja. A primeira capela
dedicada a São Gerardo nasceu da iniciativa de um grupo de fiéis, que
conseguiram a doação de um terreno localizado na Avenida Bezerra de Menezes, no
ano de 1924, quando o lugar ainda era conhecido como Alagadiço Grande, e ficava
no percurso do bonde do Alagadiço.
A capela, inaugurada em 18 de
outubro de 1925, foi reformada e ampliada em 1934, e elevada ao status de
Paróquia de São Gerardo Majella pelo Arcebispo Dom Manoel da Silva Gomes. O
bairro, nascido e criado a partir desse ponto, herdou o nome da igreja.
Hoje o São Gerardo é
considerado de renda média, teve um período de alta valorização de imóveis e
com forte perfil comercial, tendência que ficou acentuada a partir 1991 com a
inauguração do North Shopping, o maior daquela região. A instalação do shopping
atraiu grande número de novos comércios e prestadores de serviços dos mais
variados, tendência que se reverteu em parte, devido a nova configuração da
Avenida Bezerra de Menezes, que baniu estacionamentos e retornos, e dificultou
o acesso aos estabelecimentos comerciais.
O São Gerardo está localizado
entre os bairros Ellery, Monte Castelo, Farias Brito, Parquelândia e Presidente
kennedy.
2 – O Bairro Autran Nunes era
chamado de Alto do Bode (SER 11)
No início, era quase
desabitado, com terrenos cobertos de mato e barro vermelho. A dona-de-casa
Raimunda Sousa de Carvalho, conhece bem a história do lugar, porque foi uma das
primeiras a chegar ao bairro. Moradora do Autran Nunes há mais de 40 anos,
Raimunda mudou-se para a região com o marido Raimundo, e sete filhos pequenos.
Nos idos dos anos 1960, ela
abriu um comércio que virou ponto de encontro. Nessa época, o bairro já era
conhecido pela alcunha de Alto do Bode. Quem denominou, segundo Raimunda, foi o
seu próprio marido - que morreu nos anos 1970. Pelo menos uns 50 anos antes, o
casal morava ainda no bairro ao lado, o Antônio Bezerra. Nesse tempo, um vizinho,
que criava bodes, sentiu falta de um par de caprinos. Deram conta de que os
animais estavam amarrados no Alto do São Vicente, a região onde fica o atual
Autran Nunes.
Os bodes não foram recuperados
nem o ladrão localizado, mas a alcunha pegou. Mais tarde, arrependido, seu
marido tentou de tudo para emplacar o nome Alto do São Vicente com placas e
faixas. Foi em vão, todos conheciam por Alto do Bode. Depois, o bairro foi
batizado com um novo nome: Autran Nunes, em homenagem a um juiz amigo, que
promoveu algumas ações sociais em benefício dos moradores.
Localizado na zona Oeste, o
Autran Nunes fica entre os bairros Antônio Bezerra, Dom Lustosa, Henrique Jorge
e Genibaú.
3 – Bairro Vila União (SER 4)
Vila União - monumento ao vaqueiro
O bairro Vila União foi
fundado pela prefeitura de Fortaleza em 23 de agosto de 1940. Antigamente o lugar era chamado de Barro Preto, terras de propriedade da
Sra. Maria de Conceição Jacinto, natural da cidade de União, hoje Jaguaruana.
Em 1938 as terras foram vendidas para o Dr. Manoel Sátiro, que loteou as terras
e batizou o loteamento de Vila União.
O loteamento se expandiu
rapidamente justificando a criação do bairro. Em 1942 foi criada a linha férrea
que corta o bairro ligando a Parangaba ao Mucuripe; em 1965 foi inaugurada a
Avenida Luciano Carneiro que se tornava o principal acesso ao Aeroporto Pinto
Martins. A avenida atualmente dá acesso ao terminal de cargas do aeroporto.
O Vila União conta com vários
equipamentos públicos, como parques, hospital infantil, clube social, e
shoppings de revendedores. Fica entre os bairros Aeroporto, Parreão e Montese.
4 – Bairro Conjunto Ceará (SER
11)
Avenida no Conjunto Ceará
Na década de 1970, vários
conjuntos habitacionais foram edificados em Fortaleza, com base na política do
Banco Nacional de Habitação, que utilizava recursos do FGTS para financiar
habitações populares a baixo custo. A maioria dos conjuntos foi implantada em
terrenos baratos e distantes, na direção do Distrito Industrial de Maracanaú, e
junto ao leito das linhas férreas – tronco Fortaleza – Maracanaú e tronco
Fortaleza – Caucaia.
O Conjunto Ceará foi
inaugurado em 1978, na área do bairro Granja Portugal. A exemplo de outros
conjuntos habitacionais populares, o lugar era totalmente desprovido de
infraestrutura, que foi sendo implantada aos poucos, mediante reivindicações
dos primeiros moradores.
As primeiras 996 casas do novo
conjunto habitacional foram entregues em 1977, por meio de sorteios promovidos
pelo sistema da COHAB (Companhia de Habitação), responsável pela política de
construção dos conjuntos. O lugar cresceu tanto que virou bairro de Fortaleza.
O Bairro Conjunto Ceará foi
criado em 11 de outubro de 1989, através da lei 6.504, que desmembrou o
Conjunto Ceará da jurisdição do Bairro Granja Portugal. Segundo o Censo
Demográfico de 2010, do IBGE, a população do Conjunto Ceará era de 42.894
habitantes, sendo 19.848 homens e 23.046 mulheres. Esse número de moradores era
maior do que a de 141 dos 184 municípios cearenses. Depois o bairro foi
dividido entre Conjunto Ceará I e Conjunto Ceará II.
5 – Bairro Pici (SER 11)
O nome Pici vem do antigo
Sítio Pici, localizado às margens do Riacho Cachoeirinha, adquirido em 1927,
pelo advogado Daniel Queiroz, pai da escritora Raquel de Queiroz. O bairro já
teve área bem maior, com grandes sítios seguidos de grandes vazios urbanos, num
tempo em que a Santa Casa de Misericórdia e a Legião Maçônica eram detentoras
de grandes lotes de terrenos na região.
A geografia do Pici mudou
radicalmente no início dos anos 40 quando os extensos sítios ganharam uma
vizinhança inusitada, com a instalação de uma base militar norte-americana, de
onde partiam e chegavam aviões de bombardeios e dirigíveis, estranhos objetos
voadores, desconhecidos do grande público, que monitoravam a costa cearense.
Depois que os americanos foram
embora, chegou a universidade e ocupou parte das instalações da antiga base. Atualmente
o campus da Universidade Federal ocupa a maior parte da área do Pici que abriga
também importantes equipamentos esportivo e culturais, como a sede do Fortaleza
Esporte Clube e do Maracatu Nação Pici.
O Pici está localizado a Oeste
de Fortaleza, entre os bairros São Gerardo, Parquelândia, Amadeu Furtado, Bela
Vista, Panamericano, Demócrito Rocha, Jóquei Clube, Henrique Jorge, Dom
Lustosa, Padre Andrade e Presidente Kennedy.
6 – Bairro Presidente Kennedy,
antigo Monte Picu (SER 3)
Parque Rachel de Queiroz - bairro Presidente kennedy - imagem G1
O Guia Turístico da Cidade,
editado pela Prefeitura Municipal de Fortaleza em 1961, não registra a
existência de alguns bairros localizados na zona Oeste de Fortaleza. Assinala
no lugar, uma área denominada Alagadiço, delimitada ao Norte pela Avenida
Sargento Hermínio; a Leste Rua Padre Frota, Rua Prof. Castelo e Rua Prof.
Anacleto; ao Sul, Avenida Jovita Feitosa e a Oeste pelos limites dos Distritos
de Parangaba e Antônio Bezerra. O Presidente Kennedy surgiu nessa região,
provavelmente pelo parcelamento do Alagadiço, cuja área era bem maior do que a
correspondente ao atual bairro São Gerardo, tido como o antigo Alagadiço.
O bairro tem sua origem na
ocupação por populações vindas do interior, ficando conhecido como Monte Picu.
Lá foi construído um conjunto habitacional, durante os anos 60, nomeado
Conjunto Castelo Branco, para abrigar essa população retirante. No entorno do
conjunto, só havia áreas verdes virgens e algumas áreas alagadas. Atualmente,
poucas casas sobraram desse habitacional. Com a inauguração de um grande
shopping center na região, a abertura de novas avenidas, o lançamento de
unidades residenciais direcionados à classe média e a conclusão do Parque
Rachel de Queiroz, o Presidente kennedy vem sendo alvo de profunda especulação
imobiliária.
Limita-se com os bairros
Parquelândia, São Gerado, Ellery, Floresta, Padre Andrade e Pici.
7 – Bairro Eng. Luciano
Cavalcante – antigos Santa Luzia do Cocó, Salineiro do Cocó (SER 7)
Antigamente o bairro era
chamado de Salineiro do Cocó, e o que mais tinha naquela região, eram salinas.
Em fins dos anos 60, início dos 70, foi construída no local, o Conjunto
Habitacional Santa Luzia do Cocó, pela COHAB (Companhia de Habitação Popular),
utilizando recursos do BNH (Banco Nacional de Habitação). O habitacional, com 294 unidades
residenciais, representou um redirecionamento das ações do BNH, que até então
era voltado para construções de conjuntos habitacionais populares para pessoas
de baixa renda. O Santa Luzia do Cocó atendia a uma faixa de renda mais elevada
e de maior poder aquisitivo no caso os servidores públicos municipais e
estaduais.
O terreno onde foi erguido era
distante e isolado, a infraestrutura era precária e não havia serviços
regulares. A população precisava se deslocar para outros bairros ou para o
Centro, sempre percorrendo grandes distâncias, em busca de serviços e gêneros
de abastecimento. O acesso ao transporte público era difícil, pois não existiam
vias de tráfego, apenas pequenas vielas de calçamento, cercadas de mato.
Essa realidade mudou quando,
nos arredores do Rio Cocó, o engenheiro Luciano Cavalcante fundou uma fábrica
de canos de PVC, e por seu intermédio, foi realizada a primeira obra de infraestrutura
do bairro, a eletrificação da região, que também ganhou pavimentação, abertura
de novas ruas e linhas regulares de ônibus. Com estas melhorias, e as que se
seguiram, outras empresas se estabeleceram no local.
O lugar se desenvolveu
rapidamente a partir dos anos 80, quando começaram a surgir os inúmeros
edifícios de apartamentos, casas de alto padrão, faculdades, shoppings e
supermercados. O bairro foi criado oficialmente, no dia 31 de maio de 1968,
através da lei 3549/68, quando o bairro Salineiro do Cocó passou a chamar-se
engenheiro Luciano Cavalcante.
Localizado na zona Leste,
entre os bairros Jardim das Oliveira, Salinas, Guararapes, Edson Queiroz,
Parque Manibura e Cidade dos Funcionários.
8 – Bairro De Lourdes (Ou
Dunas) – SER 2
Bairro Dunas
O bairro surgiu a partir de um
grande loteamento, lançado pelo ex-deputado Jeová Costa Lima, que ia da Avenida
Trajano de Medeiros à Dolor Barreira, por trás da Igreja Nossa Senhora de
Lourdes. O acesso ao loteamento, construído no alto das dunas remanescentes da
Praia do Futuro, só era possível com a utilização de uma camionete Rural, que
transportava combustível para os tratores que aplainavam o terreno.
Até o ano 2000 era
praticamente deserto. A partir da inauguração do marco zero, a Cruz do
Cruzeiro, o lugar começou a crescer demograficamente, levando o nome da
paróquia local, Nossa Senhora de Lourdes.
O bairro, de baixa densidade
demográfica (apenas 3.370 habitantes em 2010 segundo o IBGE), formado de
mansões e condomínios de luxo, foi criado oficialmente pela lei Municipal 8945,
de 2005, desmembrado da Praia do Futuro. Fica entre os bairros Praia do Futuro,
Manuel Dias Branco, Papicu e Vicente Pinzon.
9 – Bairro Jacarecanga (SER 1)
Jacarecanga - Avenida Francisco Sá
Localizado na zona Oeste,
próximo ao centro, o bairro surgiu nas proximidades do riacho do mesmo nome,
onde se aglutinaram em sobrados, os representantes das elites comercial e
agrária, tornando-se um local privilegiado, com mansões e chácaras com plantas
e fachadas copiadas de revistas e publicações especializadas europeias.
A partir do cruzamento com a
Avenida Imperador, a Travessa Municipal formava um corredor diferenciado pelo
seu conjunto de luxuosas residências. Era o início do bairro. Hoje, a maioria
das residências construídas no período do apogeu, foi demolida, descaracterizada ou se encontra em precário
estado de conservação.
O Jacarecanga perdeu sua
condição de área nobre a partir de meados do século passado, quando a sua
avenida principal, a Avenida Francisco Sá, começou a ser ocupada por uma série
de indústrias de transformação e com a instalação do ramal ferroviário e das
oficinas da Rede Viação Cearense. Os novos equipamentos atraíram vizinhos de
menor poder aquisitivo, que se alojaram em vilas operárias ou ocuparam
irregularmente as terras situadas entre a principal avenida do bairro e a zona
litorânea, dando origem ao que viria ser a maior favela de Fortaleza, o
Pirambu.
Fica entre o Oceano Atlântico,
e os bairros Moura Brasil, Centro, Farias Brito, Monte Castelo, Carlito
Pamplona e Pirambu.
10 – Bairro Prefeito José Walter (SER
8)
Bairro Prefeito José Walter
Concluído no início dos anos
1970, dentro da mesma ótica que norteou o lançamento de vários conjuntos
habitacionais, financiados com recursos do Banco Nacional de Habitação (BNH),
que utilizava valores do FGTS para financiar habitações populares. O Conjunto
Habitacional Prefeito José Walter, foi primeiro deles, localizado na zona Oeste
de Fortaleza, construído entre 1967 e 1970.
As propagandas referentes a
esses Conjuntos Habitacionais se utilizavam do sonho da casa própria, que seria
construída em um local distante da cidade, porém com toda a infraestrutura
necessária, como água encanada, fornecimento de energia, saneamento básico,
escolas, igrejas, parques, posto de saúde, transporte. Propagandas em grande
parte enganosas que fizeram com que muitos se aventurassem e fossem morar num
bairro isolado localizado no distrito de Mondubim. Na realidade, o conjunto foi
entregue somente com as casas.
Estes conjuntos foram fundamentais
para a expansão da cidade porque, os moradores, uma vez instalados, passaram a
exigir infraestrutura e serviços, os quais favoreciam a valorização dos vazios
urbanos.
O habitacional começou a ser
habitado em 1970, numa área originalmente ocupada pelo antigo Núcleo Integrado
Habitacional do Mondubim, que era habitada por inúmeras famílias pobres. Foi
projetado pelo arquiteto Marrocos Aragão seguindo o modelo de cidade planejada.
Possui 4 etapas tendo o modelo original projetado com 5500 casas. Em sua
inauguração foi considerado o maior conjunto habitacional da América Latina.
O Conjunto está limitado ao
Norte pelos bairros Passaré e Parque Dois Irmãos; Ao Sul, pelo Bairro Pajuçara
(Maracanaú); a Leste pelo Conjunto Palmeiras; e a Oeste, pelos bairros Mondubim
e Planalto Airton Sena.
Fotos: Fortaleza em Fotos feitas entre 2012 a 2015