segunda-feira, 19 de setembro de 2022

Dez Bairros de Fortaleza, uma Breve História

 

No início do século XX, a cidade já apresentava uma divisão por bairros em nível social. O primeiro "bairro chique" a se configurar foi o Jacarecanga, formado em sua maioria pela elite que antes residia no Centro.


Foto Brasiliana Fotográfica ( O. Justa)

Alguns tiveram seus nomes modificados ao longo do tempo, e em épocas diversas, de modo que existiam bairros cujas denominações foram apagadas do mapa da cidade, como o bairro Antônio Diogo, localizado na região do Mucuripe, hoje Praia do Futuro II, Jardim Glória no Distrito de Messejana, Cachoeirinha, no distrito de Antônio Bezerra, hoje bairro Padre Andrade, e Marupiara, no distrito da Parangaba, hoje bairro Demócrito Rocha. Mas novos bairros foram criados em função do crescimento e da expansão dos horizontes de Fortaleza. Atualmente a cidade está dividida em 12 secretarias executivas regionais e 121 bairros. Esta é uma breve história de 10 bairros de Fortaleza.

1 – O São Gerardo ocupa uma parte do antigo Alagadiço (SER 3)


Bairro São Gerardo - Lagoa do Alagadiço 


A exemplo de muitos outros bairros, o São Gerardo se formou no entorno da igreja. A primeira capela dedicada a São Gerardo nasceu da iniciativa de um grupo de fiéis, que conseguiram a doação de um terreno localizado na Avenida Bezerra de Menezes, no ano de 1924, quando o lugar ainda era conhecido como Alagadiço Grande, e ficava no percurso do bonde do Alagadiço.

A capela, inaugurada em 18 de outubro de 1925, foi reformada e ampliada em 1934, e elevada ao status de Paróquia de São Gerardo Majella pelo Arcebispo Dom Manoel da Silva Gomes. O bairro, nascido e criado a partir desse ponto, herdou o nome da igreja.

Hoje o São Gerardo é considerado de renda média, teve um período de alta valorização de imóveis e com forte perfil comercial, tendência que ficou acentuada a partir 1991 com a inauguração do North Shopping, o maior daquela região. A instalação do shopping atraiu grande número de novos comércios e prestadores de serviços dos mais variados, tendência que se reverteu em parte, devido a nova configuração da Avenida Bezerra de Menezes, que baniu estacionamentos e retornos, e dificultou o acesso aos estabelecimentos comerciais.

O São Gerardo está localizado entre os bairros Ellery, Monte Castelo, Farias Brito, Parquelândia e Presidente kennedy.


2 – O Bairro Autran Nunes era chamado de Alto do Bode (SER 11)

No início, era quase desabitado, com terrenos cobertos de mato e barro vermelho. A dona-de-casa Raimunda Sousa de Carvalho, conhece bem a história do lugar, porque foi uma das primeiras a chegar ao bairro. Moradora do Autran Nunes há mais de 40 anos, Raimunda mudou-se para a região com o marido Raimundo, e sete filhos pequenos.

Nos idos dos anos 1960, ela abriu um comércio que virou ponto de encontro. Nessa época, o bairro já era conhecido pela alcunha de Alto do Bode. Quem denominou, segundo Raimunda, foi o seu próprio marido - que morreu nos anos 1970. Pelo menos uns 50 anos antes, o casal morava ainda no bairro ao lado, o Antônio Bezerra. Nesse tempo, um vizinho, que criava bodes, sentiu falta de um par de caprinos. Deram conta de que os animais estavam amarrados no Alto do São Vicente, a região onde fica o atual Autran Nunes.

Os bodes não foram recuperados nem o ladrão localizado, mas a alcunha pegou. Mais tarde, arrependido, seu marido tentou de tudo para emplacar o nome Alto do São Vicente com placas e faixas. Foi em vão, todos conheciam por Alto do Bode. Depois, o bairro foi batizado com um novo nome: Autran Nunes, em homenagem a um juiz amigo, que promoveu algumas ações sociais em benefício dos moradores.

Localizado na zona Oeste, o Autran Nunes fica entre os bairros Antônio Bezerra, Dom Lustosa, Henrique Jorge e Genibaú.

3 – Bairro Vila União (SER 4)


Vila União - monumento ao vaqueiro

O bairro Vila União foi fundado pela prefeitura de Fortaleza em 23 de agosto de 1940. Antigamente o lugar era chamado de Barro Preto, terras de propriedade da Sra. Maria de Conceição Jacinto, natural da cidade de União, hoje Jaguaruana. Em 1938 as terras foram vendidas para o Dr. Manoel Sátiro, que loteou as terras e batizou o loteamento de Vila União.

O loteamento se expandiu rapidamente justificando a criação do bairro. Em 1942 foi criada a linha férrea que corta o bairro ligando a Parangaba ao Mucuripe; em 1965 foi inaugurada a Avenida Luciano Carneiro que se tornava o principal acesso ao Aeroporto Pinto Martins. A avenida atualmente dá acesso ao terminal de cargas do aeroporto.

O Vila União conta com vários equipamentos públicos, como parques, hospital infantil, clube social, e shoppings de revendedores. Fica entre os bairros Aeroporto, Parreão e Montese.

4 – Bairro Conjunto Ceará (SER 11)


Avenida no Conjunto Ceará

Na década de 1970, vários conjuntos habitacionais foram edificados em Fortaleza, com base na política do Banco Nacional de Habitação, que utilizava recursos do FGTS para financiar habitações populares a baixo custo. A maioria dos conjuntos foi implantada em terrenos baratos e distantes, na direção do Distrito Industrial de Maracanaú, e junto ao leito das linhas férreas – tronco Fortaleza – Maracanaú e tronco Fortaleza – Caucaia.

O Conjunto Ceará foi inaugurado em 1978, na área do bairro Granja Portugal. A exemplo de outros conjuntos habitacionais populares, o lugar era totalmente desprovido de infraestrutura, que foi sendo implantada aos poucos, mediante reivindicações dos primeiros moradores. 

As primeiras 996 casas do novo conjunto habitacional foram entregues em 1977, por meio de sorteios promovidos pelo sistema da COHAB (Companhia de Habitação), responsável pela política de construção dos conjuntos. O lugar cresceu tanto que virou bairro de Fortaleza.

O Bairro Conjunto Ceará foi criado em 11 de outubro de 1989, através da lei 6.504, que desmembrou o Conjunto Ceará da jurisdição do Bairro Granja Portugal. Segundo o Censo Demográfico de 2010, do IBGE, a população do Conjunto Ceará era de 42.894 habitantes, sendo 19.848 homens e 23.046 mulheres. Esse número de moradores era maior do que a de 141 dos 184 municípios cearenses. Depois o bairro foi dividido entre Conjunto Ceará I e Conjunto Ceará II.

5 – Bairro Pici (SER 11)

O nome Pici vem do antigo Sítio Pici, localizado às margens do Riacho Cachoeirinha, adquirido em 1927, pelo advogado Daniel Queiroz, pai da escritora Raquel de Queiroz. O bairro já teve área bem maior, com grandes sítios seguidos de grandes vazios urbanos, num tempo em que a Santa Casa de Misericórdia e a Legião Maçônica eram detentoras de grandes lotes de terrenos na região. 

A geografia do Pici mudou radicalmente no início dos anos 40 quando os extensos sítios ganharam uma vizinhança inusitada, com a instalação de uma base militar norte-americana, de onde partiam e chegavam aviões de bombardeios e dirigíveis, estranhos objetos voadores, desconhecidos do grande público, que monitoravam a costa cearense.

Depois que os americanos foram embora, chegou a universidade e ocupou parte das instalações da antiga base. Atualmente o campus da Universidade Federal ocupa a maior parte da área do Pici que abriga também importantes equipamentos esportivo e culturais, como a sede do Fortaleza Esporte Clube e do Maracatu Nação Pici.

O Pici está localizado a Oeste de Fortaleza, entre os bairros São Gerardo, Parquelândia, Amadeu Furtado, Bela Vista, Panamericano, Demócrito Rocha, Jóquei Clube, Henrique Jorge, Dom Lustosa, Padre Andrade e Presidente Kennedy.

6 – Bairro Presidente Kennedy, antigo Monte Picu (SER 3)


Parque Rachel de Queiroz - bairro Presidente kennedy - imagem G1


O Guia Turístico da Cidade, editado pela Prefeitura Municipal de Fortaleza em 1961, não registra a existência de alguns bairros localizados na zona Oeste de Fortaleza. Assinala no lugar, uma área denominada Alagadiço, delimitada ao Norte pela Avenida Sargento Hermínio; a Leste Rua Padre Frota, Rua Prof. Castelo e Rua Prof. Anacleto; ao Sul, Avenida Jovita Feitosa e a Oeste pelos limites dos Distritos de Parangaba e Antônio Bezerra. O Presidente Kennedy surgiu nessa região, provavelmente pelo parcelamento do Alagadiço, cuja área era bem maior do que a correspondente ao atual bairro São Gerardo, tido como o antigo Alagadiço.

O bairro tem sua origem na ocupação por populações vindas do interior, ficando conhecido como Monte Picu. Lá foi construído um conjunto habitacional, durante os anos 60, nomeado Conjunto Castelo Branco, para abrigar essa população retirante. No entorno do conjunto, só havia áreas verdes virgens e algumas áreas alagadas. Atualmente, poucas casas sobraram desse habitacional. Com a inauguração de um grande shopping center na região, a abertura de novas avenidas, o lançamento de unidades residenciais direcionados à classe média e a conclusão do Parque Rachel de Queiroz, o Presidente kennedy vem sendo alvo de profunda especulação imobiliária.

Limita-se com os bairros Parquelândia, São Gerado, Ellery, Floresta, Padre Andrade e Pici.

7 – Bairro Eng. Luciano Cavalcante – antigos Santa Luzia do Cocó, Salineiro do Cocó (SER 7)

Antigamente o bairro era chamado de Salineiro do Cocó, e o que mais tinha naquela região, eram salinas. Em fins dos anos 60, início dos 70, foi construída no local, o Conjunto Habitacional Santa Luzia do Cocó, pela COHAB (Companhia de Habitação Popular), utilizando recursos do BNH (Banco Nacional de Habitação).  O habitacional, com 294 unidades residenciais, representou um redirecionamento das ações do BNH, que até então era voltado para construções de conjuntos habitacionais populares para pessoas de baixa renda. O Santa Luzia do Cocó atendia a uma faixa de renda mais elevada e de maior poder aquisitivo no caso os servidores públicos municipais e estaduais. 

O terreno onde foi erguido era distante e isolado, a infraestrutura era precária e não havia serviços regulares. A população precisava se deslocar para outros bairros ou para o Centro, sempre percorrendo grandes distâncias, em busca de serviços e gêneros de abastecimento. O acesso ao transporte público era difícil, pois não existiam vias de tráfego, apenas pequenas vielas de calçamento, cercadas de mato.

Essa realidade mudou quando, nos arredores do Rio Cocó, o engenheiro Luciano Cavalcante fundou uma fábrica de canos de PVC, e por seu intermédio, foi realizada a primeira obra de infraestrutura do bairro, a eletrificação da região, que também ganhou pavimentação, abertura de novas ruas e linhas regulares de ônibus. Com estas melhorias, e as que se seguiram, outras empresas se estabeleceram no local.

O lugar se desenvolveu rapidamente a partir dos anos 80, quando começaram a surgir os inúmeros edifícios de apartamentos, casas de alto padrão, faculdades, shoppings e supermercados. O bairro foi criado oficialmente, no dia 31 de maio de 1968, através da lei 3549/68, quando o bairro Salineiro do Cocó passou a chamar-se engenheiro Luciano Cavalcante.

Localizado na zona Leste, entre os bairros Jardim das Oliveira, Salinas, Guararapes, Edson Queiroz, Parque Manibura e Cidade dos Funcionários.

8 – Bairro De Lourdes (Ou Dunas) – SER 2


Bairro Dunas

O bairro surgiu a partir de um grande loteamento, lançado pelo ex-deputado Jeová Costa Lima, que ia da Avenida Trajano de Medeiros à Dolor Barreira, por trás da Igreja Nossa Senhora de Lourdes. O acesso ao loteamento, construído no alto das dunas remanescentes da Praia do Futuro, só era possível com a utilização de uma camionete Rural, que transportava combustível para os tratores que aplainavam o terreno.

Até o ano 2000 era praticamente deserto. A partir da inauguração do marco zero, a Cruz do Cruzeiro, o lugar começou a crescer demograficamente, levando o nome da paróquia local, Nossa Senhora de Lourdes.

O bairro, de baixa densidade demográfica (apenas 3.370 habitantes em 2010 segundo o IBGE), formado de mansões e condomínios de luxo, foi criado oficialmente pela lei Municipal 8945, de 2005, desmembrado da Praia do Futuro. Fica entre os bairros Praia do Futuro, Manuel Dias Branco, Papicu e Vicente Pinzon.

9 – Bairro Jacarecanga (SER 1)


Jacarecanga - Avenida Francisco Sá

Localizado na zona Oeste, próximo ao centro, o bairro surgiu nas proximidades do riacho do mesmo nome, onde se aglutinaram em sobrados, os representantes das elites comercial e agrária, tornando-se um local privilegiado, com mansões e chácaras com plantas e fachadas copiadas de revistas e publicações especializadas europeias. 

A partir do cruzamento com a Avenida Imperador, a Travessa Municipal formava um corredor diferenciado pelo seu conjunto de luxuosas residências. Era o início do bairro. Hoje, a maioria das residências construídas no período do apogeu, foi demolida,  descaracterizada ou se encontra em precário estado de conservação.

O Jacarecanga perdeu sua condição de área nobre a partir de meados do século passado, quando a sua avenida principal, a Avenida Francisco Sá, começou a ser ocupada por uma série de indústrias de transformação e com a instalação do ramal ferroviário e das oficinas da Rede Viação Cearense. Os novos equipamentos atraíram vizinhos de menor poder aquisitivo, que se alojaram em vilas operárias ou ocuparam irregularmente as terras situadas entre a principal avenida do bairro e a zona litorânea, dando origem ao que viria ser a maior favela de Fortaleza, o Pirambu.

Fica entre o Oceano Atlântico, e os bairros Moura Brasil, Centro, Farias Brito, Monte Castelo, Carlito Pamplona e Pirambu.


10 – Bairro Prefeito José Walter (SER 8)


Bairro Prefeito José Walter  

Concluído no início dos anos 1970, dentro da mesma ótica que norteou o lançamento de vários conjuntos habitacionais, financiados com recursos do Banco Nacional de Habitação (BNH), que utilizava valores do FGTS para financiar habitações populares. O Conjunto Habitacional Prefeito José Walter, foi primeiro deles, localizado na zona Oeste de Fortaleza, construído entre 1967 e 1970.

As propagandas referentes a esses Conjuntos Habitacionais se utilizavam do sonho da casa própria, que seria construída em um local distante da cidade, porém com toda a infraestrutura necessária, como água encanada, fornecimento de energia, saneamento básico, escolas, igrejas, parques, posto de saúde, transporte. Propagandas em grande parte enganosas que fizeram com que muitos se aventurassem e fossem morar num bairro isolado localizado no distrito de Mondubim. Na realidade, o conjunto foi entregue somente com as casas.

Estes conjuntos foram fundamentais para a expansão da cidade porque, os moradores, uma vez instalados, passaram a exigir infraestrutura e serviços, os quais favoreciam a valorização dos vazios urbanos.

O habitacional começou a ser habitado em 1970, numa área originalmente ocupada pelo antigo Núcleo Integrado Habitacional do Mondubim, que era habitada por inúmeras famílias pobres. Foi projetado pelo arquiteto Marrocos Aragão seguindo o modelo de cidade planejada. Possui 4 etapas tendo o modelo original projetado com 5500 casas. Em sua inauguração foi considerado o maior conjunto habitacional da América Latina.

O Conjunto está limitado ao Norte pelos bairros Passaré e Parque Dois Irmãos; Ao Sul, pelo Bairro Pajuçara (Maracanaú); a Leste pelo Conjunto Palmeiras; e a Oeste, pelos bairros Mondubim e Planalto Airton Sena.



Fotos: Fortaleza em Fotos feitas entre 2012 a 2015

 

Um comentário:

Jorge Luiz de Castro e Silva disse...

Parabenizo pela excelente texto sobre os bairros de Fortaleza. Senti falta do bairro do Benfica, onde moravam personalidades de Fortaleza antiga, e também da Gentilândia, bairro mais recente.