Fortaleza colheu os lucros do algodão, do açúcar, do couro e do café até a Primeira República ou República Velha, período de 1889 a 1930.
Como resultado desse súbito enriquecimento, surgiu uma burguesia comercial e intelectual, que desempenhou um papel de grande importância na construção de uma nova ordem urbana. O comportamento, os hábitos e os costumes passariam a ser regidos por medidas saneadoras, embelezadoras e higienistas, ditadas pela cartilha européia.
Os imóveis construídos na época se destacavam pela sofisticação: o Palacete Guarani foi construído em 1908 pelo Barão de Camocim, que trouxe a planta de Paris. O prédio ainda existe, mas sofreu diversas modificações ao longo do tempo. A primeira, foi a retirada do telhado de ardósia, estilo europeu para enfrentar nevascas. (Arquivo Nirez)
O prédio da antiga cadeia, inaugurado em 1906, foi um dos muitos em estilo neoclassico, em voga na época.
Nesse período uma parcela de moradores mais abastados, ensaiava os primeiros passos nos caminhos do comércio internacional na busca por produtos diferenciados, não acessíveis à população em geral. Assim chegaram a Fortaleza a manteiga Le Pelletier e Betel Frères, as casimiras da Inglaterra, as sedas de Paris.
O estilo masculino na Fortaleza Belle Epoque: paletós, chapéus, bengalas e guarda-chuvas. (arquivo Nirez)
Os hábitos mudaram, os fortalezenses passaram a buscar diversões, a mostrar-se nos saraus, nos bailes, nos cinemas e nas praças. Sobrados, cafés, jardins e novidades desembarcadas dos navios começam a enfeitar a cidade e os moradores.
Os maiores impactos foram o surgimento dos novos edifícios com linhas necoclássicas e a disponibilidade no abastecimento com a chegada das casas Boris Frères.
Prédio da Casa Boris em foto de 1910 (arquivo Nirez)
De 1850 a 1875 – ano do plano urbanístico de Hebster Fortaleza já tinha calçamento nas ruas centrais, navios a vapor para o Rio de Janeiro e Europa, sistema de canalização de água, biblioteca pública, a Santa Casa de Misericórdia e o Lazareto da Lagoa Funda.
Os curtumes, matadouro e cemitério são transferidos para longe das vistas, loucos e doentes são afastados. Leis proíbem a nudez nos banhos de riacho e avisam que serão penalizados os donos de casas que não extinguissem seus formigueiros.
Passeio Público, em 1908 (arquivo Nirez)
A cidade ficava bem na foto. As imagens insinuam um estilo agradável à visão, composição estética complementada pelo uso de chapéus, vestidos longos e sombrinhas, prevalecendo os nos vestuários os tons claros, compatíveis com a intensa luminosidade do sol de Fortaleza.
Na última década da monarquia, o apuro: serviços e equipamentos urbanos e medidas de controle social – bondes, telégrafo, telefonia, Passeio Público, porto, fábrica de tecidos, abolição da escravatura, asilo de alienados e de mendicidade.
Fonte: Revista Fortaleza fascículo 9 – de 04 de junho de 2006.
Fortaleza Descalça, de Otacílio de Azevedo