quinta-feira, 31 de março de 2011

Fortaleza Bela e Descalça

Fortaleza colheu os lucros do algodão, do açúcar, do couro e do café até a Primeira República ou República Velha, período de 1889 a 1930. 
Como resultado desse súbito enriquecimento, surgiu uma burguesia comercial e intelectual, que desempenhou um papel de grande importância na construção de uma nova ordem urbana. O comportamento, os hábitos e os costumes passariam a ser regidos por medidas saneadoras, embelezadoras e higienistas, ditadas pela cartilha européia.
Os imóveis construídos na época se destacavam pela  sofisticação: o Palacete Guarani foi construído em 1908 pelo Barão de Camocim, que trouxe a planta de Paris. O prédio ainda existe, mas sofreu diversas modificações ao longo do tempo. A primeira, foi a retirada do telhado de ardósia, estilo europeu para enfrentar nevascas. (Arquivo Nirez) 
O prédio da antiga cadeia, inaugurado em 1906, foi um dos muitos em estilo neoclassico, em voga na época.
Nesse período uma parcela de moradores mais abastados, ensaiava os primeiros passos nos caminhos do comércio internacional na busca por produtos diferenciados, não acessíveis à população em geral. Assim chegaram a Fortaleza a manteiga Le Pelletier e Betel Frères, as casimiras da Inglaterra, as sedas de Paris.
O estilo masculino na Fortaleza Belle Epoque: paletós, chapéus, bengalas e guarda-chuvas. (arquivo Nirez)
 Os hábitos mudaram, os fortalezenses passaram a buscar diversões, a mostrar-se nos saraus, nos bailes, nos cinemas e nas praças. Sobrados, cafés, jardins e novidades desembarcadas dos navios começam a enfeitar a cidade e os moradores. 
Os maiores impactos foram o surgimento dos novos edifícios com linhas necoclássicas e a disponibilidade no abastecimento com a chegada das casas Boris Frères. 
Prédio da Casa Boris em foto de 1910 (arquivo Nirez)
De 1850 a 1875 – ano do plano urbanístico de Hebster Fortaleza já tinha calçamento nas ruas centrais, navios a vapor para o Rio de Janeiro e Europa, sistema de canalização de água, biblioteca pública, a Santa Casa de Misericórdia e o Lazareto da Lagoa Funda. 
Os curtumes, matadouro e cemitério são transferidos para longe das vistas, loucos e doentes são afastados. Leis proíbem a nudez nos banhos de riacho e avisam que serão penalizados os donos de casas que não extinguissem seus formigueiros. 
Passeio Público, em 1908 (arquivo Nirez)
A cidade ficava bem na foto. As imagens insinuam um estilo agradável à visão, composição estética complementada pelo uso de chapéus, vestidos longos e sombrinhas, prevalecendo os nos vestuários os tons claros, compatíveis com a intensa luminosidade do sol de Fortaleza.
Na última década da monarquia, o apuro:  serviços e equipamentos urbanos e medidas de controle social – bondes, telégrafo, telefonia, Passeio Público, porto, fábrica de tecidos, abolição da escravatura, asilo de alienados e de mendicidade.  

Fonte: Revista Fortaleza fascículo 9 – de 04 de junho de 2006.
Fortaleza Descalça, de Otacílio de Azevedo 

terça-feira, 29 de março de 2011

Cenários da Fortaleza Antiga

Belos prédios no quarteirão da Rua da Boa Vista entre a Rua São Paulo e a Praça do Ferreira, com a torre da intendência. À esquerda, detalhe do Palácio Senador Alencar (Assembléia). Em primeiro plano, uma primitiva bomba de gasolina.
Rua da Boa Vista (Floriano Peixoto) sob a ótica de quem está na Rua das Belas (São Paulo), olhando na direção do Passeio Público. O Mercado de Ferro aparece à direita.
Esquina da Rua da Boa Vista (Floriano Peixoto) com a Rua das Belas (São Paulo). Em primeiro plano, a loja de tecidos A Central, de Pedro Lazar. Em seguida, o prédio onde funcionou o Banco do Brasil. Ao fundo, a torre da Intendência Municipal.
Adentrando a Praça do Ferreira, o palácio da Intendência Municipal, com sua torre-relógio e suas sacadas de ferro no segundo piso. E os trilhos dos bondes sobre o calçamento tosco.
Esquina das Ruas Solon Pinheiro e Pedro Pereira, com o moderno prédio do Jornal O Nordeste, editado pela Arquidiocese.
Rua General Bezerril e o artístico Mercado de Ferro, obra em ferro, importado da Europa, mais tarde desmembrado para formar o Mercado dos Pinhões e o Mercado São Sebastião. No local agora se erguem a Praça Waldemar Falcão e o Banco do Brasil. 
Boulevard do Livramento - atual Avenida Duque de Caxias - esquina com a Rua Barão do Rio Branco. A casa em primeiro plano era a residência do livreiro Luiz Quinderé.
Adentrando a antiga Praça do Patrocínio - Atual Praça José de Alencar - com o belo prédio Phenix caixeiral, na esquina da Rua General Sampaio com a Guilherme Rocha. As duas casas logo após à Phenix eram moradias da familia Moraes. A casa de maior porte era o solar dos Theophilo Gaspar de Oliveira. 
A Praça do Ferreira no inicio da década de 1930, vista do Excelsior Hotel, mostrando uma panorâmica de parte do centro, com total ausência de edifícios.  
A Rua da Boa Vista (atual Floriano Peixoto) na direção da Praça do Ferreira, a partir da esquina com a Rua das Hortas (Senador Alencar). À esquerda, emoldurado por lampiões de gás, o Mercado de Ferro.
Avenida Santos Dumont, com a igreja do Cristo Rei, os trilhos por onde corria o bonde do Outeiro e o amplo espaço onde anos mais tarde, seria construída uma praça.
A mesma Avenida Santos Dumont. A casa ao lado da igreja, desapareceu, bem como os trilhos do bonde.  
Praça José de Alencar, esquina com a Rua 24 de Maio. No destaque, o prédio da Phenix Caixeiral.

fotos:
Arquivo Nirez
Arquivo Marciano Lopes

segunda-feira, 28 de março de 2011

Mercado São Sebastião


No inicio o que havia era a Praça São Sebastião, um espaço imenso onde os circos armavam suas lonas: Nerino, Thiany, Garcia. 

Sem a presença dos circos, o local virava campo de peladas. 
Depois mudaram o nome da praça para Paula Pessoa e levaram o mercado para lá. Em 1937, quando o Mercado de Ferro, localizado na antiga Praça José de Alencar, começou a ser desmontado, uma parte da estrutura importada, foi para a Aldeota, no que é hoje o Mercado dos Pinhões, e outra parte foi para a Praça Paula Pessoa, para o Mercado São Sebastião.


Após alguns anos, a estrutura metálica tornou-se pequena para atender o comércio da praça Paula Pessoa, e o mercado foi novamente desmontado e levado desta feita para a Aerolândia, onde ainda  se encontra, sendo construída na praça São Sebastião uma nova estrutura que foi sendo ampliada ao correr do tempo.

O Mercado São Sebastião é um equipamento público municipal administrado pelo Sindicato do Comércio Varejista de Frutas e Verduras de Fortaleza (SINCOFRUTAS), por outorga concedida pela Município de Fortaleza.  Foi reformado e inaugurado no final de 1997, pelo prefeito Juraci Magalhães. No entanto, sua história é bem mais antiga, remontando ao início do século XX.  Foi construído em local onde se realizava uma feira livre de venda de gêneros alimentícios.


No inicio o São Sebastião era dedicado principalmente ao comércio de frutas, verduras e carnes. Atualmente conta com 449 boxes que comercializam uma grande variedade de produtos , como artesanatos, plásticos, descartáveis, raízes, castanhas, ferragens, material elétricos, hidráulico e de construção. Conta ainda com lanchonetes, farmácias e estacionamento. 

A Praça Paula Pessoa  é praticamente toda ocupada pelo Mercado São Sebastião e sua estrutura de apoio.
o Mercado São Sebastião funciona de 2a a sábado das 5 às 17 horas, e aos domingos até o meio dia. 
Fica na Rua Clarindo de Queiroz, 1745, centro de Fortaleza. 


sexta-feira, 25 de março de 2011

Edifício Palácio do Comércio

O Palácio do Comércio na época de sua inauguração. No térreo funcionava o Café Belas Artes. Ao fundo o prédio dos Correios - ainda não havia o edificio do Banco do Brasil - e do lado direito, as lojas do Mercado Público. (Foto Sales - arquivo Nirez)  
O terreno para construção do edifício Palácio do Comércio, sede da Federação das Associações de Comércio e Indústria do Ceará – FACIC, foi adquirido junto a Prefeitura de Fortaleza em dezembro de 1936. 
Em 17 de janeiro de 1938 aconteceu a solenidade de lançamento da pedra fundamental, que contou com a presença do Ministro da Aviação, General João de Mendonça Lima. 
No local onde se iniciou a construção, foi desenterrada a pedra fundamental do primitivo Mercado Público (Mercado de Ferro), que fora colocada no dia 18 de abril de 1896.
O Palácio do Comércio foi inaugurado em 25 de maio de 1940, projeto do arquiteto Silvio Jaguaribe Ekman e construção de Omar O’Grady. A solenidade de inauguração foi presidida pelo Interventor Federal do Estado, Francisco de Menezes Pimentel. 

   O térreo do Palácio do Comércio. Em frente, o prédio do Museu do Ceará.  
O Palácio do Comércio fica na Praça Capistrano de Abreu s/n°, centro de Fortaleza.


fonte:
Cronologia Ilustrada de Fortaleza, de Miguel Ângelo de Azevedo (Nirez) 

quarta-feira, 23 de março de 2011

Os Boulevards de Adolfo Hebster

Rua Barão do Rio Branco (arquivo Nirez)
Na segunda metade do Século XIX,  a Vila de Fortaleza era a Fortaleza de Nova Bragança. 
Foi uma época de prosperidade para a província, em três décadas sem seca (1845-1877).
Na cidade o casario de palha passa a dar lugar a casas de tijolos, fabricados com material proveniente das lagoas próximas. 
Rua Major Facundo (arquivo Nirez) 
O areal é aos poucos coberto pela pavimentação com pedra tosca. Chega a iluminação pública e domiciliar a gás (1865), os bondes puxados a burro (1880), a ferrovia (1872) que permitem o gradual domínio da capital sobre os núcleos urbanos do interior, e também influi na expansão da cidade.
embarque de passageiros no bonde na Praça do Ferreira (arquivo Nirez)
A organização enxadrezada da vila, proposta por Silva Paulet, encontrou no presidente da Câmara Antonio Rodrigues Ferreira – o Boticário Ferreira, um grande entusiasta.
Por encomenda dele outros mapeamentos da cidade foram feitos, mas eram muito imprecisos. 
A primeira representação precisa da organização urbana de Fortaleza, é a Planta Exacta da Capital do Ceará, de 1859, a primeira das três plantas feitas pelo pernambucano Adolfo Hebster. As outras viriam em 1875 e 1888. 
Planta da Cidade de Fortaleza e Subúrbios, organizada pelo engenheiro Adolfo Hebster em 1875 (arquivo Ah, Fortaleza!)
Com um levantamento preciso de ruas e edificações, a planta de Hebster traz o esboço do que é hoje o Centro de Fortaleza, com as ruas configuradas de maneira semelhante ao desenho que se consolidou.
A Praça do Ferreira, coração da cidade, já estava nesta planta: era a Praça Pedro II, ou apenas, Praça Municipal. Arquiteto da Câmara Municipal, Hebster sucedeu Paulet na missão de planejar o crescimento da cidade.
 A sua segunda planta, de 1875, reflete não apenas a situação real da cidade, mas o seu plano de expansão. A configuração do plano de Hebster persistiu até meados da década de 1930. Ele propõe os boulevards, as grandes avenidas circundando o espaço habitado. 
Assim surgem o Boulevard Duque de Caxias (atual Avenida Duque de Caxias), o do Imperador (atual avenida com o mesmo nome) e o da Conceição, hoje Avenida Dom Manuel.
São cintas circundantes do espaço urbano já habitado, que tinha o mar complementando o quadrilátero. 
Praça do Ferreira com grande movimentação de passageiros dos bondes. Era desse ponto que saía o maior número de linhas. Uma profusão de chapéus e ternos brancos (Arquivo Nirez)
Era o estilo Belle Epoque instalado na capital: tal como a moda, a literatura e o comportamento, o desenho da cidade também ganhava toques afrancesados. A organização proposta para Fortaleza guardava semelhanças com as idéias do Barão de Haussman, prefeito e remodelador de Paris, que era o centro cultural mundial.

Fonte: 
Revista Fortaleza, fascículo 10, de 11 de junho de 2006.

terça-feira, 22 de março de 2011

Bairros de Fortaleza: Barra do Ceará



No inicio dos anos 1960, durante a construção do que seriam as novas dependências do Clube de Regatas, um operário desenterrou acidentalmente, quatro grandes balas de ferro, que foram identificadas como munição para os canhões do forte instalado no local pelos primeiros colonizadores de Fortaleza. 

Quando a noticia foi publicada nos jornais, as balas viraram munição para uma grande polêmica travada entre dois notórios historiadores: Raimundo Girão e Ismael Pordeus. 
O centro da polêmica: a fundação da cidade. 
O perito que examinou o local afirma não restarem dúvidas sobre a existência naquele local de um antigo forte, mas não se pode concluir, a partir disso, que a fortificação tivesse dado origem a esta cidade. 
Polêmicas à parte, o que é certo  é que a Barra do Ceará é o bairro mais antigo, considerado o berço da capital do Ceará.

Rio Ceará


Localizado no extremo oeste de Fortaleza, o bairro é o segundo mais populoso da cidade (o primeiro é o Pirambu), e tem muitas histórias para contar. 
É na Barra do Ceará que fica o marco zero da cidade,  no local onde foi construído o Forte de São Tiago, a primeira edificação de Fortaleza.

O cruzeiro com as imagens de São Tiago, do Cristo Crucificado, de Nossa Senhora de Assunção, e São José, foi presente do Governo da Espanha.  



Os primeiros registros de tentativa de colonização da foz do Rio Ceará e do seu entorno,  datam do século XVII, através de expedições que tinham por objetivo defender a costa. 
As primeiras tentativas de colonização acontecem a partir do século XVII, com as expedições dos portugueses Pero Coelho de Souza, fundando, em 1603, o fortim de São Tiago, e Martim Soares Moreno, em 1612, implantando o Forte de São Sebastião, ambos na barra do rio Ceará. 


As expedições fracassaram devido à inexistência de um porto natural, pela distância dos mananciais de água potável e pelas hostilidades indígenas. 
Vale destacar que os fortes construídos na barra do rio Ceará foram encobertos pelas dunas.



Em 1930 a barra do rio Ceará começa a ganhar expressão no contexto de Fortaleza, por causa da construção de um Hidroporto (Condor). 
Na mesma década e na década seguinte, Fortaleza começa a sofrer um acelerado processo de favelização, e a Barra do Ceará, com a construção da Avenida Leste-Oeste na década de 1970, passa a integrar o circuito dos bairros industriais da zona oeste de Fortaleza.



A ocupação das dunas da Barra do Ceará se intensifica entre as décadas de 1970/ 80 devido, principalmente, ao direcionamento da classe pobre para o extremo oeste da cidade. Atualmente as dunas estão quase que totalmente ocupadas.


A ocupação das zonas de praia pelos pobres corresponde essencialmente, à demanda por habitação reprimida, dos retirantes que não conseguem se estabelecer na cidade, vendo-se forçados por questões financeiras, de ordenamento e controle social, a ocupar terrenos de marinha.

Praia das Goiabeiras
 escola de surf
lazer, esporte e trabalho, são opções que os moradores encontram no bairro 




Obras do Projeto Costa Oeste concebido ainda no Governo Lúcio Alcântara (2003-2007). 
As obras foram iniciadas em 2003 e prevê a construção de uma avenida na orla, com 5,36 km de extensão no trecho entre a Barra do Ceará e o antigo kartódromo, no Pirambu. 
A via tera duas pistas, canteiro central, ciclovia e calçadão.
Entre a avenida e o mar haverá equipamentos comunitários como posto de saúde, usina de reciclagem de lixo, e um mercado para comercialização de pescados, artesanatos, farmácia-viva, frutas e verduras.  


Patrimônio construído: a Ponte sobre o Rio Ceará e o Cuca Che Guevara 


a Ponte José Martins Rodrigues tem uma extensão de 633,75 metros e mede 20,2 metros de  largura. Liga a faixa litorânea de Fortaleza às praias do litoral oeste. Foi inaugurada em 1997 pelo prefeito Juraci Magalhães
o Cuca Che Guevara, inaugurado em setembro de 2009 pelo presidente Lula, tem capacidade para atender 3.500 jovens por dia e é considerado o maior equipamento  cultural público da América latina

fotos de fevereiro de 2011

fontes:

Análise Geoambiental e Impactos Ambientais nas Dunas da Barra do Ceará -CE/Brasil, de Magalhães, Gledson Bezerra 
Governo do Estado
Revista Fortaleza Fascículo 4