terça-feira, 26 de janeiro de 2021

Os primeiros fatos históricos de Fortaleza

7 de dezembro de 1660 – nesse dia João de Melo Gusmão, nomeado capitão-mor, teve permissão para conduzir sua mulher e filhos para o Ceará, sendo esta a primeira família a residir no então Povoado do Forte;

16 de fevereiro de 1699 – nomeação do padre João de Matos Serra, o primeiro vigário do povoado do Forte;

25 de janeiro de 1700 – primeira eleição para a Câmara;


primeiro mapa de Fortaleza, autoria atribuída ao capitão-mor Manuel Francês - 1726

Considerada a foto mais antiga de Fortaleza, mostra a Praia Formosa, em 1892 
(Arquivo Nirez)

13 de abril de 1726 – instalação da Vila de Fortaleza de Nossa Senhora da Assunção;

29 de novembro de 1726 – provisão de Manuel Martins Viana no cargo de advogado, o primeiro que teve a Villa da Fortaleza;

11 de junho de 1751 – Manoel do Nascimento de Albuquerque é escolhido pela Câmara para os cargos de alcaide e carcereiro da vila, sendo o primeiro a exercer essas funções;

17 de agosto de 1755 – nomeado, por concurso, para o ofício de almoxarife da Vila, Francisco Ferreira Marinho, o primeiro funcionário público nomeado por concurso;

25 de novembro de 1786 – é promovido a mestre de escrita e leitura, o sr. Manuel de Siqueira Braga, o primeiro mestre da villa;

2 de agosto de 1791 – é expedida a carta de aprovação em favor de Vicente Maria de Saboia, o primeiro boticário da Villa de Fortaleza;

25 de fevereiro de 1793 – nomeado por provisão régia, o primeiro professor de gramática latina, João da Silva Tavares;

12 de janeiro de 1795 – já havia na Villa da Fortaleza o primeiro alfaiate, de nome Salvador, morador na rua da cadeia (atual Rua General Sampaio)

24 de janeiro de 1799 – é nomeado o primeiro Juiz dos Feitos da Fazenda, Manuel Leocádio Rademaker;

26 de outubro de 1799 – fundeia no Mucuripe o correio marítimo “Príncipe Real”, sendo este o primeiro que chegou ao Ceará;

1 de julho de 1880 – é nomeado o arruador da vila, Manuel Ferreira da Silva, o primeiro arquiteto que se tem notícia;

18 de maio de 1802 – é aberto por Manuel Ferreira o primeiro açougue, localizado à Rua da Boa Vista (atual Floriano Peixoto);

7 de maio de 1804 – feita a primeira concessão à firma Bento Bandeira de Melo & Cia, com privilégio de 10 anos para extração de resinas e gomas;

1809 – parte do Ceará a galera Dois Amigos, levando produtos e amostras do algodão;

Maio de 1810 – chega a vila, o irlandês William Wara, que funda a primeira casa de comercio direto com o exterior;


A casa que pertenceu a José Antônio Machado, e onde funcionaram diversos órgãos públicos, foi a primeira sede do Correio (arquivo Nirez)

1 de maio de 1812 – instalação dos Correios no antigo edifício da Tesouraria da Fazenda;

1 de julho de 1812 – instalação da Alfândega, situada no Outeiro da Prainha;

Resolução Imperial de 02 de janeiro de 1823 – decreto imperial de 24 de fevereiro de 1823 e carta imperial de 17 de março de 1823,  elevam Fortaleza à condição de cidade com a denominação de Fortaleza da Nova Bragança, por Dom Pedro I, “pela Graça de Deus e unânime aclamação dos povos, Imperador constitucional e Defensor Perpétuo do Brasil”;

1 de abril de 1824 – circulação do primeiro jornal denominado Diário do Governo do Ceará sob o comando do padre Gonçalo Inácio de Albuquerque Mororó, e impresso por Francisco José de Sales sendo esses o primeiro jornalista e o primeiro tipógrafo da terra.

1 de dezembro de 1824 – instalação do primeiro conselho da Província, no edifício nª 34, da Praça do Conselho (atual Praça da Sé)

3 de julho de 1837 – empossado o primeiro inspetor da Alfândega, Manuel do Nascimento Castro e Silva;


25 de março de 1854 – criado pelo presidente Pires da Mota o primeiro hospital de Fortaleza, depois transformado em Santa Casa de Misericórdia;

1 de novembro de 1860 – iniciada a construção de um paredão pelo engenheiro Berthot, a primeira tentativa do porto de Fortaleza, no Meireles;

16 de julho de 1861 – criação da Diocese do Ceará, sendo nomeado Dom Luís Antônio dos Santos, o primeiro bispo do Ceará;

17 de maio de 1862 – começa a circular o primeiro jornal católico, intitulado “Fortaleza”;

27 de novembro de 1862 – concedida a José Paulino Hoonholtz, concessão para distribuição de água, para toda a cidade, privilégio por 50 anos;

10 de dezembro de 1864 – instalação do Seminário da Prainha;

28 de janeiro de 1865 – apresenta-se ao presidente do Estado o primeiro voluntário da Guerra do Paraguai, Israel Bezerra de Menezes;

25 de março de 1867 – instalação da Biblioteca e Arquivos Públicos da cidade, na Praça do Patrocínio (atual José de Alencar);


A Ceará Gas Company Ltd, com sede em Londres, foi a primeira concessionaria de iluminação a gás em Fortaleza (foto do livro A História da Energia no Ceará, de Ary Bezerra Leite)

17 de setembro de 1867 – inauguração oficial da iluminação a gás em alguns trechos da cidade e de alguns edifícios, entre os quais o Palácio do Governo e o Clube Cearense;

12 de novembro de 1867 – são aprovados pelo governo os estatutos da Associação Comercial da Praça do Ceará;

30 de novembro de 1873 – inauguração da estação de Arronches, da Estrada de Ferro Baturité;

3 de fevereiro de 1874 – instalação do Tribunal de Relação;

25 de abril de 1880 – inauguração do transporte público com a utilização de bondes à tração animal, pela Companhia Ferro Carril do Ceará, com 4210 metros de linha.

30 de março de 1882 – inauguração do Cabo Submarino ligando Fortaleza ao Sul do país;


Fábrica Progresso, fundada  por Tomás Pompeu de Sousa Brasil, e Antônio Pinto Nogueira Accioly exclusivamente para fabricação de redesimplantação dessa indústria foi o marco inicial do processo de industrialização do Ceará, onde até então a única atividade equipada com maquinário era a tipografia. (foto Revista do Instituto do Ceará)

1882 – Iniciada a instalação da primeira fábrica de tecidos de algodão em Fortaleza, propriedade de Tomás Pompeu de Sousa Brasil e Antônio Pinto Nogueira Accioly;

11 de fevereiro de 1883 – inauguração do serviço telefônico de Fortaleza;

22 de março de 1884 – inauguração da Escola Normal, em prédio construído especialmente para esse fim, na praça Marquês de Herval (atual Praça José de Alencar);

28 de junho de 1884 – inauguração do Clube Iracema;

8 de abril de 1888 – inauguração da estátua do General Tibúrcio, a primeira da cidade na praça homônima;

1 de fevereiro de 1889 – criação da Escola Militar de Fortaleza;

25 de maio de 1889 – morte do governador Caio Prado, sendo uma das vítimas da epidemia de febre amarela que assolava a cidade. A morte do governador, tido como belo, culto, rico, educado na Europa e filho de tradicional família paulista, causou grande comoção em Fortaleza. 

 

Café Java, na Praça do Ferreira (Arquivo Nirez)


30 de maio de 1892 – Fundação da Padaria Espiritual, no Café Java, na Praça do Ferreira;

18 de abril de 1896 – inauguração do Mercado de Ferro, na Praça Carolina (atual praça Waldemar Falcao), na gestão do intendente Guilherme Rocha;

13 de maio de 1896 – começa o assentamento dos trilhos dos bondes de burros, no Outeiro;

1 de outubro de 1899 – começam a funcionar as Caixas Postais, distribuídos pela cidade;

7 de setembro de 1902 – inauguração da Avenida 7 de setembro, na Praça do Ferreira;


O primeiro automóvel chegou por aqui em 28 de março de 1909, vindo dos Estados Unidos pelo vapor inglês “Cearense”. Era um automóvel da marca “Rambler” usado, comprado pela Empresa Auto Transporte, de propriedade do Dr. Meton de Alencar e de Julio Pinto,  dirigido por John Peter Bernard e Rafael Dias Marques.  (arquivo Nirez)

28 de março de 1909 – chegada do primeiro automóvel, importado pela empresa Auto Transporte Cearense;

Outubro de 1922 – construção do primeiro aparelho de rádio receptor, instalado por Clóvis Meton de Alencar.

 

Fonte: Coisas que o Tempo Levou – crônicas históricas da Fortaleza Antiga, de Raimundo de Menezes.

 

segunda-feira, 18 de janeiro de 2021

As Ruas e Avenidas que Mudaram de Nome

Ultrapassado o estágio inicial do seu povoamento, quando Fortaleza ainda era uma  de vila de índios e alguns colonos, invadida por soldados holandeses e portugueses e cortada por riachos de águas límpidos, os nomes de travessas, ruelas e becos eram dados pelos moradores, de acordo com algum referencial que o lugar oferecia: assim, tivemos o Beco da Apertada Hora, supostamente utilizado nos apertos fisiológicos; o Beco das Almas, a Travessa da Municipalidade, da Misericórdia, a rua de Baixo, de Cima, da Direita, do Quartel, da Cacimba, do Gasômetro. 

 

Rua Major Facundo, início do século XX (original p&b do Arquivo Nirez)
    

Com o passar do tempo, os logradouros foram sendo disciplinados. A partir de 1800 a cidade já contava com um arruador, mas o disciplinamento começou realmente a partir de 1812, com a chegada do governador Sampaio que trouxe a Fortaleza, o tenente coronel de engenheiros Silva Paulet, que elaborou a “Planta do Porto e Villa da Fortaleza”, em 1813.

Com o crescimento e a consequente urbanização, ruas foram alinhadas, becos foram eliminados, as calçadas demarcadas e a identificação dos logradouros ganhou ares de modernidade, a identificação pela funcionalidade virou coisa do passado. Assim, muitas vias tiveram seus nomes modificados, algumas delas, várias vezes. As ruas e avenidas aqui citadas, estão entre os logradouros mais antigos de Fortaleza, motivo pelo qual não registram modificações recentes.

Apesar disso mudança de nomes de vias públicas, é coisa corriqueira em nossa cidade. A prática cria transtornos reais, não só aos moradores, que de repente, mudam de endereço sem sair do lugar, mas também aos prestadores de serviço que dependem de informações exatas, para bom desempenho de suas tarefas, como os motoristas de aplicativos, os estabelecimentos que atuam no sistema de entregas, e os funcionários do Correio. Vejam como se chamaram antes algumas avenidas e ruas de Fortaleza.


Avenida Bezerra de Menezes

Avenida Bezerra de Menezes – antiga Rua do Alagadiço; (Teófilo Rufino Bezerra de Menezes, advogado, professor do Liceu, deputado provincial e jornalista, natural de Fortaleza)

Duque de Caxias – antigos Boulevard do Livramento e Travessa nº 1 (Luís Alves de Lima e Silva – o Duque de Caxias, Patrono do Exército Brasileiro, nascido no Rio de Janeiro). 

Dom Luís – antiga rua Farias Brito (Luís Antônio dos Santos – primeiro bispo do Ceará, nascido no Rio de Janeiro) 

Francisco Sá –  antiga Estrada do Urubu, avenida Demóstenes Rockert, avenida 6 de Julho; (Francisco Sá, Senador da República, Ministro de Estado, natural de Minas Gerais). 

Santos Dumont – antiga Rua do Colégio, Gustavo Sampaio, Boulevard Nogueira Accioly e Travessa 9-A; (Alberto Santos Dumont, o “Pai da Aviação”. Nasceu em Minas Gerais).

Tristão Gonçalves – Rua da Lagoinha, 14 de Maio, Trilho de Ferro; (Tristão Gonçalves de Alencar Araripe, famoso pelas lutas da independência no Ceará, revolucionário da Confederação do Equador. Nascido no Crato, Ceará). 



Almirante Tamandaré - antiga rua Três de Outubro, Avenida Epitácio Pessoa e Atlântica; (Joaquim Marques Lisboa, Visconde de Tamandaré, Patrono da Marinha do Brasil, nascido no Rio Grande do Sul). 

Visconde do Rio Branco – antiga rua Joaquim Távora, Estrada de Messejana, Calçamento de Messejana e Rua 13; (José Maria da Silva Paranhos, conselheiro do Império, natural de Salvador, BA) 


Avenida da Universidade 

Avenida da Universidade – antigo Boulevard Visconde de Cauípe, Rua do Benfica (nome antigo em homenagem a Severiano Ribeiro da Cunha, comendador e visconde , nascido em Caucaia, CE); nome atual em homenagem à universidade Federal).

Senador Virgílio Távora – antiga Avenida Estados Unidos; (Virgílio de Morais Fernandes Távora, político e militar, ex-governador do Ceará, natural d Jaguaribe – CE).

Historiador Raimundo Girão – antiga avenida Aquidabã (Raimundo Girão, escritor, político, historiador, ex-prefeito de Fortaleza, natural de Morada Nova, CE).

Avenida Domingos Olímpio – antiga Travessa dos Coelhos, Travessa nº 8. (Domingos Olímpio Braga Cavalcante, jornalista, cronista e romancista, nascido em Sobral, autor do romance "Luzia Homem", dentre outros).

Avenida Gomes de Matos – antiga Estrada do Gado, Boulevard 14 de Julho. (Raimundo Gomes de Matos, jurista e professor cearense nascido no Crato). 


Avenida Beira Mar

Avenida Beira Mar – antiga Avenida dos Jangadeiros, Getúlio Vargas, e Presidente Kennedy. 

As Ruas e seus nomes Antigos 

Adolfo Caminha – antiga Pessoa Anta; (Adolfo Ferreira Caminha, romancista, autor dentre outras obras, do famoso “A Normalista”. Natural de Aracati – CE.). 

Adolfo Herbster – antiga Rua Paraíba; (Adolfo Herbster era Pernambucano de nascimento, engenheiro, arquiteto, responsável pela urbanização e pelo desenho de ruas e avenidas de Fortaleza). 

Antônio Augusto – antiga Rua Monte Flor; (Antônio Augusto de Vasconcelos foi catedrático e um dos fundadores da Faculdade de Direito do Ceará. Natural de Maranguape).

Barão de Aracati – antiga Rua do Aracati; (José Pereira da Graça, Barão de Aracati, nascido em Fortaleza. Magistrado, deputado geral e provincial, membro do Supremo Tribunal de Justiça. Foi presidente da Província do Maranhão). 


Rua João Brígido

João Brígido – antiga Rua da Assunção, da Bomba, Conselheiro Liberato Barroso (João Brígido dos Santos foi a figura mais representativa do jornalismo de combate no Ceará; deputado provincial e geral; historiador e cronista. Natural de São João da Barra, RJ). 

Rua Justiniano de Serpa – antiga Estrada do Gado; (Justiniano de Serpa, jurisconsulto, parlamentar, orador. Deputado Federal pelo Ceará e pelo Pará. Presidente do Ceará entre 1920 e 1924, faleceu antes de completar o mandato. Nasceu em Aquiraz, CE). 

Dom Jerônimo – antigas Rua Alto Alegre e Major Rangel (Jerônimo Tomé da Silva, natural de Sobral, era doutor em filosofia e teologia. Bispo do Pará e Arcebispo Primaz do Brasil). 

José Avelino – antigas Ruas do Chafariz, Singlehurst, General Mesquita e Travessa19-B; (José Avelino Gurgel do Amaral, jornalista, advogado, deputado federal e poligrafo. Cearense de Aracati).

Marechal Deodoro – antiga Rua da Cachorra Magra; (Manuel Deodoro da Fonseca, líder da Proclamação da República, primeiro presidente republicano, nascido em Alagoas).

Pedro Borges – antiga Rua do Cajueiro e Travessa 7-B; (Pedro Augusto Borges, médico do Exército, deputado federal, senador e presidente do Ceará no período de 1900 a 1904. Natural de Fortaleza). 

Senador Alencar – antiga Rua das Hortas e Travessa nº 13; (Padre José Martiniano de Alencar, nascido em Barbalha, então Distrito do Crato-CE. Senador do Império, pai do escritor José de Alencar).
 

Rua Dr. João Moreira esquina com Barão do Rio Branco (Anuário do Ceará)

Dr. João Moreira – antiga Rua Nova da Fortaleza, Travessa do Quartel, da Misericórdia, General Tibúrcio e Travessa nº 17; (João da Rocha Moreira, natural de Fortaleza. Médico da Santa Casa de Misericórdia, Professor do Liceu e Inspetor de Saúde). 

Gustavo Sampaio – antiga Rua da Aratanha; (Gustavo Sampaio nasceu em Baturité. Tenente do Exército, morreu lutando na Revolta da Armada, em 1893). 

Conselheiro Tristão – antiga Rua da Cruz e Rua nº 16; (Tristão de Alencar Araripe, conselheiro do Estado, Ministro do Supremo Tribunal de Justiça, Ministro de Estado, historiador e jurisconsulto. Presidiu as províncias do Rio Grande do Sul e do Pará. Natural de Icó, CE).


Rua Clarindo de Queiroz (Arquivo Nirez)

Clarindo de Queiroz – Antiga Rua do Livramento e Travessa nº 2 ; (José Clarindo de Queiroz, presidente das províncias do Amazonas e do Ceará. Natural de Fortaleza, foi deposto do Governo do Ceará em 1892). 

Padre Francisco Pinto – antiga Rua N. S. dos Remédios (Francisco Pinto, natural dos Açores, era um padre jesuíta que veio para o Ceará em 1607, em companhia de Luís Figueira, em missão de colonização. Foi atacado e sacrificado pelos índios Tacarijus). 


Rua Dona Isabel (Arquivo Nirez)

Rua Princesa Isabel – antiga Rua Santa Isabel e Dona Isabel (Isabel Cristina Leopoldina Augusta Micaela Gabriela Rafaela Gonzaga de Bourbon-Duas Sicílias e Bragança, foi a segunda filha, a primeira menina, do imperador Pedro II. Na qualidade de regente assinou a Lei Áurea que aboliu a escravatura no Brasil em 13 de maio de 1888. A Princesa Isabel nasceu no Rio de Janeiro) 


Fontes: 
Coisas que o Tempo Levou – crônicas históricas da Fortaleza antiga, de Raimundo de Menezes
Guia Turístico da Cidade – Prefeitura Municipal de Fortaleza – 1961
Geografia Estética de Fortaleza, de Raimundo Girão
Fotos: Fortaleza em Fotos, Google

segunda-feira, 11 de janeiro de 2021

Pinto Martins, o herói esquecido


Euclides Pinto Martins nasceu em Camocim, em 1 de abril de 1892, filho de Antônio Pinto Martins e Maria de Araújo do Carmo Martins. Foi criado no vizinho Estado do Rio Grande do Norte porque seu pai, natural de Mossoró, foi convidado a representar a Companhia de Salinas Mossoró Assú, em Macau. Pinto Martins começou a trabalhar em Natal, como embarcadiço e com apenas 17 anos, era piloto de navio. No início de 1909, ainda adolescente, com a anuência do pai, foi para os Estados Unidos fazer um curso de Engenharia Mecânica. Concluído o curso, fez estágio na “Baldwin Locomotive”, uma fábrica de vagões.

Voltando ao Brasil em 1911, trabalhou na Inspetoria Federal de Obras contra as Secas, no cargo de engenheiro e na Estrada de Ferro em Natal. Retornou aos Estados Unidos por volta de 1918, depois da morte da esposa, a americana Gertrudes Mc Mullan, com quem teve uma filha chamada Ceres. Casou-se pela segunda vez com a também americana Adelaide Sulivan, com quem teve sua segunda filha, Adelaide Lillian, em 1920.  

Durante a década de 1920, Pinto Martins se interessou pela aviação, que se encontrava em pleno desenvolvimento. Em 1921, entrou em um curso de pilotagem e conseguiu o brevê.  Com sua entrada no meio aeronáutico, conheceu um veterano na área: Walter Hilton, instrutor de voo na Flórida. No ano seguinte, o jovem aviador cearense e Hilton lutaram para realizar um sonho, o de atravessar a América em um hidroavião, ação bastante temerária para a época. A primeira tentativa, levada a cabo em agosto de 1922 fracassou, e o hidroavião Sampaio Correa I caiu no mar próximo a Cuba.



Mas a dupla não desistiu, e ganhou patrocínio do jornal The New York World para uma nova tentativa.  A viagem começou em Nova Iorque, em novembro de 1922, e terminou no Rio de Janeiro, em fevereiro de 1923. Foram 175 dias de travessia, 5.678 km de percurso, e cerca de cem horas de voo, interrompidas muitas vezes pelos mais variados problemas, a bordo do hidroavião Sampaio Correa II. A rota New York/Rio de Janeiro não tinha sido realizada até então.

Desde o final da década de 1910 e por toda década de 1920, a história registra alguns feitos realizados por ousados viajantes, pioneiros nas viagens áreas transatlânticas. Já em 1919, os pilotos britânicos John William Alcock e Arthur Whitten Brown, realizaram o primeiro vôo transatlântico sem escalas. Eles partiram de St. John's, Terra Nova e Labrador, Canadá, para Clifden, Irlanda. O voo percorreu 3.138 km, e durou cerca de 12 horas. Foram premiados com 50 mil dólares. O feito dos britânicos foi superado logo após, em 1927, pelo piloto americano Charles Lindbergh, que realizou o primeiro voo solitário transatlântico, sem escalas em avião.

Lindbergh partiu do Condado de Nassau, Estado de Nova Iorque, nos Estados Unidos, em direção a Paris, França, em 20 de maio de 1927, tendo pousado na capital francesa no dia seguinte. O voo de Lindbergh durou 33 horas e 31 minutos. Pelo feito, o piloto recebeu o "Prêmio Orteig", de 25 mil dólares, em oferta desde 1919.



Pinto Martins também teve seu feito reconhecido: foi recepcionado pelo Presidente Artur Bernardes e recebeu um prêmio de 200 contos de réis. Pinto Martins faleceu no Rio de Janeiro em 12 de abril de 1924, num episódio que nunca foi devidamente esclarecido. É sabido que ele foi encontrado morto, ao que se diz por suicídio, em seu apartamento. Tinha 32 anos de idade.      

O herói apagado



Uma lei definiu o nome do aeroporto de Fortaleza:  A Lei nº 1602, de 13 de maio de 1952, denomina “Aeroporto Pinto Martins” o Aeroporto do Cocorote, em Fortaleza. Assinada por João Café Filho, que à época acumulava as funções de vice presidente da República e a Presidência do Senado Federal. Mas o aeroporto de Fortaleza já não ostenta o nome de Pinto Martins em sua fachada. Normal. Como cobrar de estrangeiros a preservação da memória de nossas personalidades, se nós mesmo não temos essa preocupação?       

fotos da Internet


domingo, 3 de janeiro de 2021

Alguns dos Imóveis da Universidade Federal no Benfica

Coube ao professor Antônio Martins Filho a articulação de esforços visando a criação de uma universidade no Ceará. Contando com o apoio do governador Faustino de Albuquerque e lideranças do Estado, o objetivo foi atingido pela Lei nº 2.373, de 16 de dezembro de 1954, quando foi autorizada a criação da Universidade do Ceará. Sua instalação ocorreu no ano seguinte, em solenidade realizada no Teatro José de Alencar, a 25 de junho de 1955. A instituição foi constituída inicialmente pela Faculdade de Direito do Ceará, fundada em 1903 pela Associação Comercial do Ceará como Faculdade Livre de Direito do Ceará; pela Faculdade de Farmácia e Odontologia do Ceará, instituída em 1916 e federalizada em 1950; pela Escola de Agronomia do Ceará, estabelecida em 1918 e até então pertencente a Superintendência do Ensino Agrícola e Veterinário, do Ministério da Agricultura; e pela Faculdade de Medicina do Ceará, instituição privada criada em 1948. A universidade se instalou inicialmente no bairro Benfica, onde ao longo dos anos 50 e 60, foram adquiridas várias propriedades que foram demolidas ou readequadas aos usos próprios da instituição. 

postal do Benfica anos 60

Um dos primeiros imóveis a ser comprado foi o da antiga residência da família do banqueiro José Gentil, na então Avenida Visconde de Cauípe, esquina com a Avenida Treze de Maio. A chácara que existia no local foi vendida em 1909 pelo então proprietário Henrique Alfredo Garcia, ao banqueiro José Gentil Alves de Carvalho, que demoliu a casa e construiu o palacete em 1918, com projeto do arquiteto João Sabóia Barbosa. Em 1956, a área foi comprada pelo primeiro reitor da UFC, Antônio Martins Filho, da Imobiliária José Gentil S/A pertencente aos herdeiros de José Gentil. Hoje, o imponente palacete abriga a reitoria da Universidade. 

Casa de Cultura Britânica



Antiga residência do Sr. Francisco Queiroz Pessoa, comerciante e proprietário de terras, que a vendeu para a UFC em 18.03.1960. A casa foi construída em 1907, na esquina das Avenidas da Universidade com Treze de Maio, projeto do arquiteto José Gonçalves da Justa. Desde 1963 esse imóvel abriga a casa de Cultura Alemã, da Universidade Federal do Ceará. No início, tinha muros e grades e ostentava uma placa com a identificação do curso. 

Rádio Universitária, antigo Centro de Cultura Hispânica



Antiga chácara do Dr. Edgar Cavalcante de Arruda, deputado, senador e candidato ao governo do Estado em 1950. Derrotado nesta eleição, retirou-se para o Rio de Janeiro. A casa foi construída em 1940 e vendida à Universidade em 1957, por CR$ 3,2 milhões de Cruzeiros. Fica na Avenida da Universidade, 2910. 

Sede do Museu de Arte 



Localizado no terreno correspondente a 1 quarteirão onde esteve a chácara de propriedade do doutor em Ciências Políticas Carlos Eduardo Saulnier Pierreleveé. O imóvel foi vendido, e em 1911 foi instalada uma escola de educação feminina dirigida por Dona Almerinda Albuquerque. No início dos anos 50, a antiga escola de Dona Almerinda transformou-se no Colégio Santa Cecília, dirigido pelo Instituto das Damas da Instrução Cristã, congregação belga fundada em 1823. O Santa Cecília ficou no Benfica até 1960, quando o prédio foi vendido à UFC, totalmente reformado e hoje abriga o Museu de Arte da instituição. 

Casa de Cultura Germânica



A casa ampla e moderna construída em 1938, era a antiga residência do doutor Tomás Pompeu Magalhães e sua esposa dona Maria José Ferreira Magalhães, vendida à UFC em 30.12.1964. Maria José era filha do coronel Pergentino Ferreira, proprietário do sítio Canadá, e doador do terreno onde foi erguida a Igreja de Nossa Senhora de Fátima.

Casa de Cultura Francesa



O imóvel pertenceu a Bráulio Bezerra Lima e sua mulher Cora Jandira Ribeiro Lima. A casa dois pisos e muitos compartimentos, ostentava arquitetura diferenciada em relação à sua vizinhança. Vendida à UFC pelo dono original, teve sua fachada conservada e inalterada. 

Sede do Conservatório de Música Alberto Nepomuceno



Antiga residência de propriedade dos Bernardo da Cruz até o começo dos anos 1900. O prédio foi adquirido pelo reitor da UFC em 31 de julho de 1961. O Conservatório foi criado em 1938, e funcionou anteriormente na Rua Barão do Rio Branco, centro. Em 1964, foi incorporado à UFC, onde seria unidade universitária autônoma, após aprovação no Conselho Federal de Educação. Em 1969, jornais dão conta das dificuldades previstas para o Conservatório com reforma financeira na UFC. Em 1975, com a criação da UECE – Universidade Estadual do Ceará, 0 Conservatório de Música Alberto Nepomuceno é uma dentre as seis instituições de ensino junto com o ensino de filosofia, enfermagem, serviço social, veterinária e administração, a constituir a UECE. O prédio, segundo sites diversos, ainda é propriedade da UFC. 

A Torrinha (C.A. de Psicologia)

Foto Pinterest - Henrique Lima

A famosa “torrinha” fica localizada no Centro de Humanidades II, que hoje abriga o C.A. da Psicologia na avenida da Universidade, 2700, e teria sua origem numa época muito anterior à chegada da universidade naquela região. Consta que, em tempos remotos, aquelas terras pertenceram a um pesquisador cearense chamado Fonseca Lobo, que enriqueceu indo trabalhar na Amazônia, e ao voltar para o Ceará, adquiriu muitas terras na Região Metropolitana e em Fortaleza. Sua moradia na área urbana era próxima às propriedades da família Gentil, que mais tarde, vendida ao ex-governador do Ceará João Tomé de Saboia e Silva (1916-1920), ficou conhecida por Villa Angelita". João Miguel da Fonseca Lobo, que residiu no local, nasceu em 1849 numa localidade na Serra da Ibiapaba e faleceu em 1938, aos 88 anos de idade. Astrofísico e estudioso de fenômenos relativos aos sistemas planetários, o cearense foi autor de estudos sobre a lei da Relatividade, publicados vinte anos antes da teoria formulada por Albert Einstein. 

A torrinha sobrevivente do Centro de Humanidades, possui um terraço e uma rosa dos ventos, que, provavelmente, foram utilizados como local das observações astronômicas do cientista cearense. "Realmente a torrinha era usada para observações, creio que ainda há uma Rosa dos Ventos no teto, naturalmente usada para determinação dos pontos cardeais, o que seria um auxílio para a observação do céu, não sei se a olho nu ou através de um pequeno telescópio". (Newton Lobo, em citação do blog astronomia em fortaleza). 

Em um de seus livros, Fragmentos de Filosofia Natural e Especulativa, publicado em 1909, Fonseca Lobo escreve: “Que é o Tempo? Uma ficção, sem correspondente na realidade. Não existe Tempo. A Eternidade não tem passado e não tem futuro; é só o presente. Não tem ontem nem amanhã. Hoje somente. As cousas desenvolvem-se simultaneamente no infinito..." O morador seguinte, o político, e engenheiro João Tomé de Saboia e Silva, também era dado aos estudos, especialmente quando o assunto eram o clima e as secas no Nordeste. 

Fontes: 
Anuário do Ceará, 1979/80 
http://astronomiaemfortaleza.blogspot.com/2017/01/um-intelectual-precursor-do-einstein-no.html 
http://portal.ceara.pro.br
Benfica de Ontem e de Hoje, de Francisco de Andrade Barroso
Fotos: Memorial da Universidade Federal do Ceará