domingo, 30 de janeiro de 2011

Uma Sessão Erótica no Cine Diogo

Durante dias não se falou de outra coisa, era o assunto da cidade.
O jornal católico “O Nordeste” fez uma declaração de guerra. Nas igrejas os sermões dos padres giravam em torno da imoralidade que vinha das telas, e ameaçava com as penas do inferno os fiéis que comparecesse a sessão.
Resistente às críticas, a Empresa de Severiano Ribeiro manteve-se firme em sua posição: marcou uma sessão especial, à noite, para exibir o filme Êxtase, no qual a atriz austríaca Hedy Lamarr, já então famosa estrela de Hollywood, aparecia nua. 
Êxtase teve lançamento recente em DVD
O histórico do filme dava asas à imaginação dos fãs de cinema e motivo para a indignação do clero e dos conservadores: 
feito em 1933, Êxtase entrou para a história por causa do escândalo - foi o primeiro filme exibido no circuito comercial normal a mostrar um nu frontal. 
No dia e hora anunciados, não houve medo de castigo divino, nem penas do inferno, nem vergonha de mostrar a cara nas filas do cinema, que impedisse a população, especialmente a população jovem, de comparecer ao Cine Diogo. 
Foi uma noite de descontrole total, gritos, empurrões, pancadarias, xingamentos. O salão de espera lotado, as bilheterias insuficientes para atender a demanda. A polícia foi chamada, e com a delicadeza de sempre, desceu o cacete para esfriar os ânimos.
Todos pareciam histéricos, tocados por uma curiosidade incomum, que afetava os sentidos e deixava os nervos à flor da pele.
Da multidão que compareceu, uma pequena parte ganhou a sorte grande de poder entrar no cinema. Enfim era chegada a hora de desvendar o mistério, de descobrir os atributos físicos e anatômicos de uma das deusas do cinema, numa época em que tudo girava em torno de astros e estrelas.
Êxtase é um filme sem diálogos, em que a fotografia de forte expressividade, narra a seu modo, a história sofrida de um homem maduro, já sexualmente em decadência, às voltas com uma ninfa de rara beleza.
E quanto à nudez... Uma cena rápida, apenas.
A personagem Eva monta em seu cavalo, galopa até um lago, nada nua; sai do lago quando seu cavalo se distancia dela, e então durante alguns minutos anda nua pelo campo; os seios são mostrados, mas de longe; as únicas tomadas em que ela aparece mais próxima com os seios à mostra são muito rápidas 


Uma frustração, um roubo!
Houve na platéia quem sugerisse quebrar tudo, seria uma forma de protestar contra a decepção.  A maioria saiu de cabeça baixa, sentindo-se lograda, sem perceber que acabara de ver uma obra-prima da sétima arte européia, que tinha como ponto alto, a força e a beleza das imagens.

Extraído do livro
Sessão das Quatro – cenas e atores de um tempo mais feliz,

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

As Sessões de Cinema na Fortaleza (nem tão) Antiga

Edificio Diogo, na Barão do Rio Branco onde funcionava o cinema
O Cine Diogo, aos domingos, na sessão das quatro, era a passarela do desfile de moda e elegância da cidade. As mulheres compareciam com seus vestidos mais caros, sapatos “carinha de bebê”, meias soquete. 
Em certa época passaram a usar “solidéu”, uma boininha moda nos anos 1950.  No tempo de “Gilda”, filme estrelado por Rita Hayworth, a moda era usar o mesmo modelo de blusa da atriz, estilo “tomara que caia”, com saia godê. 
o figurino usado pela atriz no filme Gilda ganhou adeptas em Fortaleza
Os homens, por sua vez, eram obrigados a usar paletó para ter acesso ao então luxuoso cinema. Mas a maioria, que não possuía a indumentária, recorria ao Osmar Damasceno, na Cabana, lanchonete da esquina da Rua Guilherme Rocha com Barão do Rio Branco. É que o Damasceno em questão, alugava um paletó que era mantido ao lado do caixa, com o compromisso de ser devolvido logo que terminasse a sessão. 
Lanchonete A Cabana, na esquina da Guilherme Rocha com Barão do Rio Branco
De modo que os rapazes não tinham a oportunidade de fazer o chamado “footing”, usando o paletó do Damasceno. O “footing” era o hábito de circular o quadrilátero entre as Ruas Barão do Rio Branco, Major Facundo, Liberato Barroso e Guilherme Rocha, com parada quase obrigatória na sorveteria das Lojas de Variedades.
Muitas histórias foram contadas no Cine Diogo, tanto na tela do cinema quanto fora dela.
A portaria e a entrada lateral do Cine Diogo
Um dos acontecimentos mais representativos da ingenuidade dominante e do espírito moleque que sempre animou a alma cearense, foi por ocasião da exibição do filme “E o Vento Levou”, que chegou por aqui com muitos anos de atraso, o mundo inteiro já tinha visto.
 Diante da informação de que a fita teria nada menos de quatro horas de projeção, os freqüentadores trataram de se prevenir: compareceram portando sacolinhas contendo merendas e guloseimas. 
Os mais abonados levaram sanduíches das “Lojas de Variedades”, enquanto os mais “quebrados” foram munidos dos famosos “cai-duro” acompanhados de garapa, manjares cuidadosamente preparados no Pega-pinto do Mundico, uma das referências da Praça do Ferreira.
Outro acontecimento diz respeito a uma das célebres sessões das quatro do Diogo.
Uma turma comandada por um certo “Pinduca”, morador da Rua 24 de maio, levou para dentro do cinema, alguns pombos. 
Num dos momentos mais emocionantes da fita, os pássaros foram soltos na sala escura, causando uma tremenda confusão. Luzes acesas, caçada difícil aos pombos assustados e indóceis, um rebuliço, até tudo voltar a normalidade. 
Os autores da brincadeira, (oficialmente), nunca foram descobertos. No Diogo, onde a freqüência era na maioria de ricos, fatos assim ficavam por isso mesmo. 
Fosse no Majestic, já que era frequentado também pelo canelau, rapidamente, uma fila inteira da geral desceria sob as ordens e o rebenque do inspetor Apolinário, o carrasco da época.
Aliás, no Majestic, havia algo inusitado e nunca visto em nenhum outro lugar do mundo: era proibido entrar na geral usando tamancos. 
Quem chegasse calçado desse modo, teria de deixá-los na portaria e apanhá-los na saída, porque os donos dos tamancos seriam os responsáveis pela insuportável barulheira nos momentos mais emocionantes da série “A Sombra do Escorpião”, dentre outros seriados.
Orson Welles, o Cidadão Kane
Outra ocorrência inesquecível foi o dia em que o ator Orson Welles foi barrado no Diogo. Nesse dia a Rua Guilherme Rocha foi palco de uma aglomeração invulgar, que logo se esclareceria. 
O Ator e diretor de Hollywood, Orson Welles, hospedado no Excelsior Hotel, viera a Fortaleza para filmar a história dos jangadeiros cearenses. 
Saiu do hotel usando uma espalhafatosa camisa multicolorida, por fora das calças e exibindo um penteado revolto. Dirigiu-se para o Diogo, certamente para conhecer a principal casa exibidora da cidade. Uma multidão seguia-lhe os passos. 
O que aconteceu a seguir, só aqui mesmo, e em mais nenhum outro lugar, em se tratando de um famoso diretor de cinema. 
Naquela época o Cine Diogo exigia o uso de paletó para ingresso em suas dependências. E Orson Welles estava esportiva e desalinhadamente trajado. Foi o bastante para ter sua entrada impedida no cinema. 
Gritos e confusões marcaram o evento: Orson Welles, um dos mais aplaudidos atores de Hollywood, hóspede ilustre que a cidade recebia, passou pelo vexame de não poder conhecer o cinema em cuja tela tantas vezes despontou como astro. Seu "Cidadão Kane" foi escolhido, reiteradas vezes, em diversos países, como o melhor filme já realizado.
Nem por isso teve direito a entrar sem paletó no Cine Diogo.  

extraído do livro
Sessão das Quatro, cenas e atores de um tempo mais feliz  
de Blanchard Girão  
fotos antigas: arquivo Nirez
foto Orson Welles: Blanchard Girão (imagem do livro)      

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Praça Luiza Távora (Praça do Ceart)

A Praça Luiza Távora, popularmente conhecida por praça do Ceart, tem história para contar.  Foi ali que, no inicio da década de 1920, um castelo começou a ser erguido na Aldeota, que já se consolidava como uma região da alta classe de Fortaleza. 


 O castelo pertencia ao empresário Plácido de Carvalho e sua esposa, Pierina. 
Em 1974, o castelo de Plácido foi vendido para um grupo empresarial, que o demoliu. Anos depois, o comprador – o grupo Romcy – foi à falência



 Atualmente a praça encontra-se em reforma para requalificação do projeto arquitetônico e paisagístico. 
 Os pontos principais visam a acessibilidade e a arborização do logradouro
  
o vagão abriga uma mini biblioteca
Localizada em ponto privilegiado de Fortaleza, entre a Avenida Santos Dumont,e as ruas Carlos Vasconcelos, Monsenhor Bruno e Costa Barros, a praça é uma referência na comercialização do artesanato local e da própria cultura cearense.

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

O Palácio do Plácido


Palácio do Plácido em 1964.
foto Mauricio Cals
Riquíssimo e de extremo bom gosto, O Palácio do Plácido foi considerado uma das residências mais suntuosas do Brasil.
Presente do comerciante Plácido de Carvalho para sua mulher Pierina, uma italiana de Milão, o imóvel ocupava uma quadra inteira, com frente para a Avenida Santos Dumont, entre as ruas Carlos Vasconcelos, Monsenhor Bruno e Costa Barros, na Aldeota, antigo bairro do Outeiro. 
Consta que Plácido adquiriu a planta de um palácio na Itália e reproduziu o imóvel em Fortaleza, que foi construído pelo engenheiro João Sabóia Barbosa. A obra teve inicio no ano de 1918 e foi concluída em 1921.
Pierina e Plácido ficaram casados até a morte deste, em 1935.  Mais tarde Pierina contraiu núpcias com o arquiteto húngaro Emilio Hinko, que construiu, a pedido da mulher, uma série de casas para aluguel em torno do palacete principal. 
Estas construções resistiram até hoje e são conhecidos por castelinhos do Ceart 

No dia 11 de fevereiro de 1974, o castelo foi vendido pelos herdeiros do comerciante, ao grupo Romcy. Imediatamente após, no dia 13, foi iniciada a demolição, sob protestos da imprensa, já que estava em curso uma ação visando o tombamento do imóvel. 
No local foi (ou seria) construído um supermercado.
O Palácio do Plácido ficava onde hoje está a pracinha do Ceart, na Santos Dumont.  

O Primeiro Aparelho de Rádio de Fortaleza

Rádio antigo marca Admiral
O primeiro aparelho de radio receptor surgiu em Fortaleza no ano de 1922, ano em que se comemora o centenário da independência do Brasil. Sua construção deve-se à habilidade do rádio-amador cearense Clóvis Meton de Alencar.
Corria o mês de outubro. De volta do Rio de janeiro, onde fora assistir aos festejos ali realizados, e onde tivera a oportunidade  de ver um aparelho de rádio em funcionamento, na residência do então ministro Francisco Sá, o engenheiro Clóvis de Alencar dedicou-se a tarefa de construir um aparelho idêntico. 
conjunto de válvulas para aparelhos de rádio
imagem:  http://www.museudoradio.com
Para realização do projeto, enfrentou várias dificuldades, a primeira delas, a falta de material adequado.  Ainda no Rio de Janeiro, tratou de conseguir o necessário.
Percorreu inutilmente várias casas comerciais cariocas, e grande foi sua decepção ao verificar que não havia permissão para a comercialização do tal material.
Por informação de um amigo, soube que a companhia West Eletric, com estação experimental instalada no alto do Corcovado, tinha distribuído, a título de propaganda, algumas lâmpadas receptoras 216-A (válvulas), de sua fabricação.
Mesmo com alguma dificuldade, comprou uma dessas lâmpadas pela importância de 150$000. Foi esse todo o material que obteve para o seu receptor, o qual trouxe para Fortaleza.
Logo no dia seguinte deu inicio aos trabalhos de montagem do receptor, num simples pedaço de madeira medindo 30cm de comprimento por 25 de altura.
Os demais componentes tais como soquetes, condensadores, resistências, bobinas e baterias, foram confeccionados por ele próprio. O aparelho montado de forma precária, passou a funcionar satisfatoriamente. 
modelo de aparelho receptor - 1935
imagem: http://www.museudoradio.com
E na noite do dia 4 de outubro, juntamente com um grupo de amigos, Clóvis de Alencar conseguiu, a certas horas da noite, ouvir com perfeita nitidez uma transmissão gerada no Rio de Janeiro, pela estação que estava em experiência no Corcovado, que era a Rádio Clube do Brasil.
Clóvis Meton de Alencar foi o primeiro a ouvir uma transmissão radiofônica, não só em Fortaleza, mas em todo Norte e Nordeste do Brasil.
Na opinião de técnicos, a esse tempo as transmissões  feitas pelas ondas de rádio das grandes estações tinham um alcance de 5 mil a 10 mil metros. Assim quando Meton falou para alguns amigos que estava montando um receptor para captar as irradiações da Europa, eles não levaram a sério, pois não achavam possível que um aparelho tão rudimentar, pudesse captar sinais de tamanha distância.
No entanto, graças à sua persistência e habilidade, conseguiu o seu intento, sendo esse aparelho de rádio construído exclusivamente graças ao seu esforço, o qual utilizou como manual de instruções uma brochura francesa de Consté, que ensinava como fazer a montagem de um aparelho regenerativo para ouvir, em Paris, as irradiações da Torre Eiffel.
Do primitivo aparelho de Clóvis Meton, nada restou, a não ser os condensadores e bobinas.

fonte:
Coisas que o Tempo Levou - crônicas históricas da Fortaleza antiga
de Raimundo Menezes 

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Parque Ecológico do Passaré



O Parque Ecológico do Passaré é um complexo formado por um horto municipal, uma área verde de preservação e o Zoológico Sargento Prata. 
Ocupa uma área de mais de quatro hectares e conta com alguns animais, entre aves, mamíferos e répteis. A média mensal de visitantes ao zoo é de 19 a 20 mil pessoas, a maioria formada por estudantes das escolas públicas e particulares.



O Zoológico surgiu com a idéia do Sargento Prata que mantinha alguns animais na Cidade da Criança, no centro de Fortaleza. 
Em 1979, a coleção de animais do sargento se mudou para o Horto no Passaré e foi inaugurado o zoológico



Área do Parque Infantil

Área do Zoológico
Cutia


(dasyprocta Primnolopha)
familia: Dasyproctidae
alimentação: flores, frutas, folhas, sementes, raizes, brotos e fungos
habitat: Caatinga
distribuição geográfica: norte e nordeste do Brasil indo até o norte de Minas Gerais  

Catetos
(Pecari Tajacu)
familia: Tayassuidae
alimentação: invertebrados, frutos, sementes e raízes
habitat: florestas tropicais úmidas, charcos, caatinga, savanas, desertos
distribuição geográfica; todo Brasil


Jaguatirica
(Leopardus Pardalis)
familia: felidae
alimentação: pequenos mamíferos, peixes, lagartos, serpentes e aves
habitat: cerrado, caatinga, pantanal, pampas, florestas tropicais e subtropicais, e matas ciliares
distribuição geográfica: todo Brasil  

Jabutipiranga
(Chelonoides Carbonaria)
familia: testudinidae
alimentação: invertebrados, frutos, verduras e eventualmente, carne
habitat: campos, matas e florestas tropicais
distribuição geográfica: nordeste, centro-oeste, sudeste e sul do Brasil


Coruja Rasga-Mortalha
 (Tyto alba)
familia: Tytonidae
alimentação: pequenos roedores
habitat: cidades e florestas
distribuição geográfica: Brasil, do Rio Grande do Sul ao Ceará 


Urubu-Rei
 (Sarcoramphus papa)
Familia: Cathartidae
alimentação: pequenos animais e carniça
habitat: floresta úmida, decidual, semi-decidual e de galeria
distribuição geográfica: toda américa latina até o sul do México


Carcará
(Caracara plancus)
Familia: Falconidae
Alimentação: pequenos animais, filhotes de pássaros e carniça
habitat: caatinga, cerrado e florestas
distribuição geográfica: sudeste e nordeste do Brasil


Arara Vermelha
(Ara chloropterus)
familia: Psittacidae
alimentação: amêndoas, coquinhos e frutas
habitat; várzeas com buritizais, babaçuais e bordas de matas
distribuição geográfica: desde a Amazônia até o Paraná. Presente também em outros países sul-americanos

O Parque Ecológico do Passaré fica na Rua Prudente Brasil, 100 – Bairro do Passaré
O lugar é mantido pela prefeitura de Fortaleza e a entrada é gratuita.
Funciona de 3ª. Feira a domingo, das 9h às 16h.

sábado, 22 de janeiro de 2011

Pequenos Detalhes da Época de Ouro do Rádio

Na chamada era de ouro do rádio cearense, tudo era realizado com muito esmero e eram observados pequenos detalhes que faziam parte da rotina da programação e das emissoras.
Entre esses detalhes havia os gongos, que serviam para separar os programas ou as sequências de um mesmo programa, ou ainda para dividir as diversas etapas dos noticiários. Outro detalhe era a música de transição, uma espécie de prefixo musical que era utilizado para preencher os espaços vagos nas programações. 
Se um programa musical terminasse antes da hora de inicio da próxima atração, o espaço de segundos ou minutos era preenchido com a música de transição, sempre a mesma melodia em cada emissora. 
Edificio Pajeú, onde passou a funcionar a Ceará Rádio Clube a partir de 1949, na Rua Sena Madureira (arquivo Nirez)
Na Ceará Rádio Clube, a música usada era o Intermezzo, trecho da ópera L’Amico Fritz, de Mascagni
Outro detalhe de importância, era o repertório do programa Audições A Cearense, apresentado pela Ceará Rádio Clube, na hora do almoço, uma criteriosa seleção de músicas clássicas. 
Também de músicas eruditas era o programa semanal noturno Orquestra de Concertos, no chamado horário nobre. A regência da orquestra ficava a cargo do maestro Mozart Brandão, que mais tarde de firmaria no Rio de Janeiro, como um dos maiores arranjadores do Brasil.
Maria de Lourdes Gondim, grande pianista, abrilhantava as noites da PRE-9 com um recital de clássicos (arquivo Marciano Lopes)
Semanalmente havia também na Ceará Rádio clube, o recital de piano de Maria de Lourdes Gondim, um recital noturno com a cantoria Zuila Aquiles, que fazia um estilo musical parecido com a cantora Elizeth Cardoso.  
Zuila Aquiles - antes de integrar o elenco da Ceará Rádio Clube, a cantora foi da Rádio Iracema (arquivo Marciano Lopes)
Zuila raramente se apresentava em programas de auditório, mas tinha público cativo nas suas apresentações de estúdio.
A sede da Rádio Uirapuru, com sua curiosa fachada reproduzindo um rádio de válvulas, chamou a atenção da cidade enquanto a emissora funcionou no velho casarão adpatado da Praça Clóvis Beviláqua, esquina das ruas Clarindo de Queiroz e General Sampaio. Era um rádio com todos os seus detalhes: os botões foram adaptados das entradas de luz do porão da casa; o dial era um enorme painel envidraçado, com números, prefixos e ponteiro, servia também para deixar passar a luz natural para a sala de diretoria.
o prédio onde funcionou a Rádio Uirapuru representava um rádio com todos os detalhes (arquivo Nirez)
Com o advento da revista Folha do Rádio, passou a existir concorrência entre artistas e emissoras, que passaram a cuidar mais da imagem, dos palcos, dos programas de auditório, da programação, e de suas atividades normais. 
Os artistas estavam sempre elegantes, bem vestidos e bem cuidados. O comportamento social também passou por transformações significativas, pois a revista de Neusa e Ciro Colares tinha seus olheiros que registravam tudo, elaborando até listas anuais de elegantes. Foi também a Folha do Rádio que criou ainda que involuntariamente, a idéia do mito, do estrelismo. E todos passaram a se auto-valorizar, cada qual querendo aparecer mais e melhor.   
Nascia a fase de estrelato do rádio cearense, dos artistas da terra. Paralelamente aos cuidados com a aparência e a elegância, os artistas procuravam se aperfeiçoar profissionalmente, de especializar-se em sua área, de serem melhores a cada performance. 
O rádio feito no Ceará, nas décadas de 1940/ 50, tinha o glamour que naqueles tempos coroava todos os acontecimentos relacionados com a arte.
E se o rádio não tinha o recurso da imagem, como o tinham o cinema e a televisão, por outro lado, havia o fascínio e o mistério daquilo que não se vê, só ouve, pois o raciocínio e a imaginação se encarregavam de fazer o que faltava: criar as imagens dos personagens, construir os cenários, imaginar cores e formas.  
O rádio era puro glamour. Do período mais glamoroso que o mundo já viveu.   
  
fonte:
Coisas que o Tempo Levou: a era do rádio no Ceará, de Marciano Lopes

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Revistas Antigas

Na primeira metade do século XX diversas revistas circularam em Fortaleza, nas quais eram abordados os mais diversos assuntos. Essas publicações retrataram uma época e registraram os usos e costumes em voga na cidade. Recentemente a Biblioteca Pública Governador Menezes Pimentel, detentora do acervo e de exemplares agora raríssimos destas revistas, resolveu disponibilizar de modo virtual algumas dessas obras, representativas da cultura cearense naquele período. A disponibilização virtual visa também a preservação dos documentos originais, já desgastados pelo tempo.
As obras disponíveis são:    
Bataclan 
capa da Revista Bataclan
 O primeiro número da Bataclan, revista ilustrada de arte e elegância, circulou em Fortaleza no dia 3 de julho de 1926.
Periódico destinado ao público feminino, publicado aos sábados, de propriedade da Empreza Cearense de Annuncios. A redação funcionava na Praça do Ferreira, 220.
O diretor assinava com o pseudônimo de Mister Butterfly; o secretário, Dom Casmurro; e o ilustrador, Queirós. O redator era Rogério de Alencar.  
De acordo com a apresentação da própria revista: “... registrando os mais notáveis acontecimentos do seu assaz movimento mundano”.
Crestomatia
Esta publicação orientou por quase três décadas, várias gerações de estudantes. Era composta de excertos escolhidos em prosa e verso dos melhores escritores brasileiros e portugueses. 
Este exemplar digitalizado representa a 8ª ed., de 1937, impressa em Porto Alegre.
Compêndio didático da língua portuguesa, adotado oficialmente pela maioria dos colégios e liceus da rede oficial de ensino. Elaborado com base nos parâmetros estabelecidos para o vocabulário da língua portuguesa, pela Academia de Ciências de Lisboa e aprovado pela Academia Brasileira de Letras, publicado no D.O.U de 31.01.1931.
A Jandaia 
capa da Revista Jandaia 
e os anúncios de lojas da época
Revista de arte, literatura, atualidades, publicada semanalmente, lançada pela Tipografia Renascença. 
A equipe redatorial da Jandaia tinha como Diretor o jornalista Aldo Prado; Diretor-Gerente: Abílio Gurgel; Redator-Chefe: Gastão Justa e Redator-Secretário: César Gonçalves. Trata-se de ótima fonte de pesquisa para quem se dedica ao estudo da literatura e a fatos notáveis ocorridos não só no âmbito da cidade de Fortaleza, mas do resto do país e do mundo.  
 Verdes Mares 
Veículo de divulgação do Grêmio José de Alencar, fundado pelos alunos do Colégio Cearense Sagrado Coração, dos irmãos Maristas. 
Serviu inicialmente para divulgar as manifestações intelectuais dos alunos. Posteriormente passou a divulgar também as atividades do ano letivo, datas comemorativas, boletim de notas dos alunos, atividades esportivas, necrológios, a ilustrar atividades dos ex-alunos com destaque no cenário nacional e de pessoas gradas da sociedade. 
Para a confecção desta amostra, a Biblioteca utilizou além dos exemplares disponíveis em seu acervo, os volumes existentes no Instituto do Ceará, gentilmente cedidos pelo seu presidente Dr. Eduardo Campos. 
 Material básico acerca do ensino das décadas de 20 a 40, período enfocado na coleção.
 Ceará Ilustrado
Semanário independente. A revista começou a circular no dia 27 de abril de 1924. 
Periódico local, fonte de consulta dos assuntos versando sobre política, literatura, sociais e humorismo. Tinha como proprietária e gerente: Adalgisa Cordeiro do Carmo; como Diretor Demócrito Rocha, futuro fundador do jornal O Povo, e Redator-Chefe, Tancredo Moraes. 

fonte: 
http://www.secult.ce.gov.br/equipamentos-culturais/biblioteca-publica/bpmg-disponibiliza-obras-raras-do-patrimonio/?searchterm=bataclan

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Praça Cristo Redentor

Praça Cristo Redentor

Antes de 1915, a face oeste desta praça praticamente não existia, ocupada por casebres e mocambos, motivo pelo qual foi fácil levantar o então suntuoso prédio do Circulo Operário São José, uma das primeiras iniciativas em terras cearenses do 3° bispo do Ceará e 1° arcebispo de Fortaleza, Dom Manuel da Silva Gomes, que emprestou o nome a uma avenida de Fortaleza (Avenida Dom Manuel). 

Prédio do Circulo Operário/Teatro São José - fundado em 19 de junho de 1913 sob os auspicios da greja Católica. (foto Mauricio Cals)

No centro da praça foi erguida em 1922, uma torre com a imagem de Cristo Redentor, abençoando a cidade com um dos seus braços e segurando uma cruz com o outro. A torre foi construída em comemoração ao centenário da independência do Brasil, por inspiração de Raimundo Frota, grande benfeitor do Circulo Operário, que concorreu para a construção do monumento com quarenta mil tijolos.  

A Torre do Cristo Redentor forma um conjunto harmonioso com a Igreja da Conceição (foto Mauricio Cals)

O Circulo Operário tomou a si essa tarefa e convocou os mestres Antonio Machado, Domingos Reis e Severino Moura, todos vicentinos e terceiros franciscanos. 
Sem a assistência de engenheiros ou arquitetos, o belo monumento provocou admiração no Rio de Janeiro, através de análises técnicas em revistas especializadas. 
Enquanto a torre era inaugurada, os quatro novos sinos da igreja da Nossa Senhora da Conceição da Prainha badalavam, saudando o evento. 

Igreja de Nossa Senhora da Conceição/Seminário da Prainha. 
A igreja foi inaugurada no dia 8 de dezembro de 1841, quando foi rezada a primeira missa (foto Mauricio Cals)

Na mesma ocasião, foi inaugurado o relógio de quatro faces, depois retirado em razão da oscilação da torre, e vendido à Igreja dos Remédios, no Benfica. 
A torre teve seus dias de glória, quando o bispo Dom Manuel vinha celebrar, em dias especiais, na capelinha que lhe servia de base, enquanto a imagem era iluminada à noite.  Durante a 2ª. Guerra mundial, as autoridades solicitaram a retirada da iluminação por questão de segurança, com a promessa de que poderia ser retornada no devido tempo, o que nunca aconteceu.

Praça do Cristo Redentor tendo ao fundo o prédio do Circulo Operário/Teatro São José

Aos domingos e dias festivos era franqueada a subida até o topo do monumento através de escada interna em espiral, de onde se descortinava uma bela imagem da cidade e do mar. 

fonte:
Aderaldo, Mozart Soriano. História Abreviada de Fortaleza e crônicas sobre a cidade amada. Fortaleza: Programa Editorial da Casa de José de Alencar, 1998.