terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Uma Vila Sobre a Areia

Forte de São Sebastião (1612)

Era preciso fechar os olhos. Não só porque ao sol do meio dia a luz fosse incandescente, mas também as rajadas de areia, fina e branca ameaçavam a vista. 
Na Vila da Fortaleza de Nossa senhora da Assunção, acanhada capital da província do Siará Grande, a paisagem encontrada pelo visitante, na primeira metade do século XIX,  era bastante inóspita. 

A primeira coisa que se pode dizer do Ceará é que a cidade é inteiramente construída sobre a areia. Desde a praia até o bairro mais distante só se vê areia, escreveu Daniel Kidder, viajante norte-americano que desembarcou no porto da Prainha na década de 1830. 
Duas décadas antes o inglês Henry Koster teve impressão semelhante ao relatar que a Vila de Fortaleza era edificada sobre a areia. Vindo de Recife em 1810, o inglês ficou surpreso com a simplicidade da capital. A Vila tinha formato quadrangular, com quatro ruas partindo da praça, e mais outra, ao lado norte deste quadrado correndo paralelamente, mas sem conexão. 
As casas tinham apenas o pavimento térreo, as ruas não tinham calçamento. Havia três igrejas, o palácio do Governador, a Casa da Câmara e a prisão. Notou ainda que apenas o Palácio do Governador era assoalhado.  

Gravura de Joaquim José dos Reis Carvalho quando de sua vinda como componente da Comissão Científica de Exploração (Comissão das Borboletas) em 1859. 
Mostra Fortaleza vista do mar com o Forte em primeiro plano, as torres da Sé, coqueiros e um casario escasso. É a iconografia mais antiga da capital. A obra original encontra-se no Museu Histórico do Crato. 

Alçada à condição de capital da Capitania do Ceará em 1799, a Vila de Fortaleza não fazia jus ao título. Ficava a dever, em porte, a outros núcleos urbanos dentro da própria Capitania, como o Aracati. E muitas décadas ainda se passariam antes que os ares de cidade grande viessem remexer nesse areal. Fortaleza só veio adquirir alguma importância, poder político e econômico, como capital do estado, a partir da afirmação do porto da cidade como local de escoamento das exportações no porto da Prainha (hoje Praia de Iracema).
O algodão cearense ganhou o mercado internacional devido a Guerra de Secessão, nos Estados Unidos, que restringiu a produção do algodão americano. O boom nas exportações deu a Fortaleza um crescimento econômico rápido. O mesmo porto que levava o algodão, via chegar as novidades da Europa. A cidade foi se embelezando a medida que os outros núcleos do Estado foram minguando.

Cartão postal da Fortaleza de Nossa Senhora da Assunção, inicio do Século XX

É desse período – final do Século XIX, início do Século XX – que vem as principais edificações consideradas hoje como patrimônio histórico da cidade. Até os primeiros anos de 1900, o perímetro urbano de Fortaleza era pouco mais do que o que é hoje conhecido como Centro Histórico, cujo limite era o Riacho Pajeú. Para além dali, a leste, apenas a trilha que levava ao Mucuripe e algumas poucas casas. 

Vila da Fortaleza de Nossa Senhora da Assunção ou Porto do Siará, atribuído a Francisco Antonio Marques Giraldes - 1811

No mapa riscado pelo capitão Francisco Antonio Marques Giraldes – que tinha o intuito de registrar a geografia da enseada da vila – aparecem algumas edificações que podem ser localizadas: além do Forte e da Matriz, que tiveram novas edificações posteriores, a Igreja do Rosário, a mais antiga edificação da capital que permanece em pé até os dias atuais.

Fonte:

Revista Fortaleza – fascículo 10, de 11 de junho de 2006
Fotos:  Ah! Fortaleza

Um comentário:

Unknown disse...

Prezada Fátima, O Forte do Siara já era de pedra em 1612? Isso é algo muito estranho no seu texto. Quando lemos os originais vemos que em 1621 o tal forte era só de madeira. Já em 1638 lemos que o forte era de pedras soltas sem argamassa.