quarta-feira, 23 de outubro de 2024

Padre Palhano, o Prefeito de Sobral

 

José Palhano de Saboia era apenas um seminarista, quando caiu nas boas graças do bispo Dom José Tupinambá da Frota, primeiro bispo de Sobral, que o considerava como seu filho adotivo. O seminarista era um sujeito carismático, desportista, piloto de avião e moto, indisciplinado, inquieto e extremamente popular entre a população de Sobral. Foi ordenado por Dom José depois de ter sido expulso do Seminário da Prainha, por viajar para Sobral todo fim de semana, sem licença dos superiores. Depois foi estudar em Roma, onde pouco demorou na Universidade Gregoriana, retornando a Sobral. Muito inteligente e inquieto, Palhano não gostava de estudar.

Padre Palhano

Passou a trabalhar com Dom José, no Palácio Episcopal. Quando teve seu avião, levava o bispo a acompanhá-lo nas suas piruetas aéreas. Atuando como tesoureiro das riquezas da Diocese, era ele quem distribuía as honrarias e cargos da igreja. Usava sua camionete para ajudar aos mais pobres, como transportar uma grávida para a maternidade, ou um doente de volta para casa.

Por isso, não foi surpresa para ninguém quando ingressou na cena política, depois de indispor o bispo Dom José com um velho aliado, o cacique político da região, Chico Monte. Candidatou-se a prefeitura de Sobral em 1958, numa ruidosa campanha que repercutiu no Estado e no País inteiro, onde envolveu o próprio bispo, que viveu o vexame de passar por uma inspeção do arcebispo metropolitano, Dom Antônio de Almeida Lustosa, instrumentado pelas boas relações do então Ministro do Trabalho Parsifal Barroso, genro de Chico Monte, com a alta hierarquia da Igreja Católica.

 

Bispo Dom José ao lado do seminarista José Palhano de Saboia

O bispo Dom José, usado como trunfo na mesquinha campanha eleitoral – dada sua popularidade entre a população – era levado para cima e para baixo pelas ruas de Sobral, surdo, quase cego e senil, para ajudar o pupilo, que provocava pessoalmente o adversário Chico Monte. O veterano político tentou responder com a candidatura do monsenhor José Gerardo Ferreira Gomes. O bispo proibiu a disputa, sob pretexto de que não ia permitir a luta de entre dois padres.


vista aérea do Seminário Diocesano, inaugurado por Dom José em 1925. Funcionou até 1967

Padre Palhano venceu a eleição. Dom José ainda pode testemunhar o feito, presidindo o banquete em comemoração ao novo prefeito. Logo depois, morreu. A gestão de Palhano à frente da Prefeitura de Sobral foi cheia de percalços, devido a forte oposição de grupos políticos locais e do Governo do Estado.

Em 1962 candidatou-se ao cargo de deputado federal e na mesma época foi excomungado pelo Vaticano por haver processado na justiça comum o bispo Dom Walfrido Teixeira Vieira. Depois foi suspenso das ordens por Dom João da Mota. Na véspera da eleição, correu em Sobral um boletim apócrifo, atribuído ao secretário da Diocese, padre Sadoc, lamentando a punição ao padre Palhano, dizendo tratar-se de um grande equívoco. As cópias do boletim foram jogadas de um avião e inundou as ruas de Sobral. No ano de 1962, fundou a Rádio Tupinambá, que possuía vasta programação musical, e de onde o padre divulgava notícias bombásticas a respeito dos adversários.


Avenida Dom José, no Centro

O golpe militar de 1964 foi o fim da carreira política de Padre Palhano, cassado por Ato Institucional. Então, foi morar no Rio de Janeiro, onde se formou em Direito. Quando pode, voltou a Sobral, às suas polêmicas, aos banhos no açude do Quebra, sua paradisíaca propriedade na Serra da Meruoca.

Padre Palhano terminou seus dias aos sessenta anos sem votos, sem a sua emissora de rádio, sem a aura romântica que tanto cultivara. Seu enterro, no entanto, foi a consagração que ele teria gostado de presenciar. A cidade inteira, chorando, levou-o à sua última morada, lembrando seu carisma, sua alegria de viver, esquecendo e perdoando seus arrebatamentos e as paixões que suscitara.


Extraído do livro” Clero, Nobreza e Povo de Sobral/Lustosa da Costa. Rio-São Paulo- Fortaleza: ABC Editora,2004/publicação Fortaleza em Fotos/Imagens IBGE e Internet          


sexta-feira, 11 de outubro de 2024

Bairros de Fortaleza: entre Parques e Jardins

Por ser de lá
Na certa por isso mesmo
Não gosto de cama mole
Não sei comer sem torresmo
Eu quase não falo
Eu quase não sei de nada
Sou como rês desgarrada
Nessa multidão boiada caminhando a esmo
(Gilberto Gil - Lamento Sertanejo)

Nem só de figuras masculinas, a maioria desconhecida da população, vivem os bairros de Fortaleza.  Há ainda muitos parques, jardins, granjas e algumas praias. Os praianos são em menor número, mas são também os mais conhecidos. Afinal, quem nunca esteve nos Bairros Praia de Iracema e Praia do Futuro?

O Praia de Iracema é antigo reduto da boemia, da praia do peixe, dos armazéns do porto, dos estivadores, dos marinheiros, dos botecos e biroscas, e das zonas de baixo meretrício que ficavam por ali, a meio caminho, entre a praia e o centro. Depois virou lugar turístico, os armazéns viraram casas de show, os botecos se sofisticaram e os boêmios viraram senhores respeitáveis e abandonaram as farras noturnas. Hoje, a Praia de Iracema é só mais um bairro tentando sobreviver e de manter a tradição de lugar turístico.

A Praia do Futuro era só a praia deserta e de difícil acesso até o dia que chegaram os primeiros condomínios. Hoje o bairro foi dividido em dois e o movimento de visitantes e moradores se resume a orla e as gigantescos barracas, que oferecem muitas opções de culinária, diversão e lazer. A especulação imobiliária chegou, mas não vingou na Praia do Futuro.  

Os bairros de Fortaleza foram sendo criados ao longo do tempo, de acordo com a divisão territorial da cidade. Assim, à medida que a cidade crescia e áreas rurais, antes ocupada por grandes sítios e chácaras, foram sendo ocupadas, surgiram alguns espaços que receberam denominações que historicamente lembram áreas de paz e calmaria.

Os Jardins


praça do Jardim América (2012)


O Jardim América deve ser um dos bairros mais antigos a ostentar no nome o status de jardim. O espaço resultou de um plano para aumentar a demanda por áreas residenciais em Fortaleza. Primeiro, surgiu a Praça Presidente Roosevelt, em homenagem ao ex-presidente dos Estados Unidos, e daí surgiu o primeiro nome do bairro: Jardim das Américas, depois resumido para Jardim América. Em determinada época, o bairro chegou a ser chamado de bairro Laguna, devido ao fato de estar sempre alagado por conta dos escoadouros das lagoas, que depois foram direcionadas a um extenso canal. Ali, chegavam as águas das lagoas da Parangaba, do Bessa (localizada no bairro do Rodolfo Teófilo) e as do Tauape, que foi aterrada.


Bairro Bom Jardim, trecho com o Rio Maranguapinho (2013)

O Bom Jardim fica na região sudoeste de Fortaleza, limita-se com os bairros Granja Portugal, Granja Lisboa, Siqueira e Canindezinho. Segundo moradores mais antigos, os primeiros moradores chegaram no início da década de 1960. Até então aquela área era ocupada por uma grande fazenda, a qual foi loteada pelo empresário João Gentil.

O Jardim Guanabara fica na área de jurisdição da Regional 1, entre os bairros Quintino Cunha e Barra do Ceará. Antes da criação do bairro, aquela região pertencia a família do coronel José Antônio de Carvalho, com o nome de Parque Vila Velha. Com a criação do bairro, em 15 de outubro de 1970, passou a ser denominado Jardim Guanabara, nome escolhido pelos moradores.

O bairro Jardim Iracema fica na mesma região do Jardim Guanabara, zona Oeste da cidade, e tem histórias muito parecidas. O bairro também surgiu do parcelamento de terras que pertenciam a família do coronel José Antônio de Carvalho, na localidade denominada Sitio Santo Amaro. Era repleto de hortas e riachos, exploradas por posseiros, que abasteciam de frutas e verduras o Mercado São Sebastião. Depois de loteado, o lugar passou a ser chamado de Paulistinha, e passou a ser Jardim Iracema, a partir de 2008, quando o bairro foi criado oficialmente, através da lei Ordinária 435, de 25 de novembro de 2008.


Capela Nossa Senhora Aparecida, no Jardim das Oliveiras (foto Diário do Nordeste)

O Jardim das Oliveiras está localizado na região sudeste de Fortaleza, entre os bairros Aerolândia, Salinas, Cidade dos Funcionários. Por volta de 1910 a família Cordeiro veio do bairro Água Fria para mora no bairro Santa Luiza do Cocó (hoje Jardim das Oliveiras). A localidade era conhecida como Sete Sítios; pois essa era a quantidade de famílias tradicionais residentes no local na época: Estas eram as famílias, cada qual residindo em seu respectivo sítio: Porfírio, (antigo proprietário do Sitio Tunga, que deu origem a outros bairros da região); Rocha, Cordeiro, Branco, Mendes, Maranhão e Cocó. A família Cordeiro deu início a história do atual Jardim das Oliveiras, quando promoveu o loteamento de suas terras.

Jardim Cearense - a existência do bairro parece uma peça de ficção criada pela prefeitura, uma vez que os moradores da área onde deveria estar o bairro Jardim Cearense, negam a existência do mesmo e se declaram moradores da Maraponga. De acordo com os mapas da prefeitura, o Jardim Cearense fica entre os bairros da Maraponga, Dendê e Mondubim.   

Os Parques

Praça no Parque Araxá ( imagem DN)

O Parque Araxá – Até por volta da década de50, a região era coberta de mata, com poucas casas e terrenos alagados devido a existência de algumas lagoas. A família Diogo era proprietária das terras, que eram administradas por um certo Zé Crateús. A região era toda conhecida por Otávio Bonfim. Então ainda nos anos 50 os terrenos foram loteados e começaram a ser vendidos. Uma das imobiliárias chamou o loteamento de Araxá, em alusão a cidade mineira de águas termais e suas propriedades terapêuticas. O Parque Araxá fica os bairros Farias Brito (Otávio Bonfim), Parquelândia e Rodolfo Teófilo.

Parque Manibura – Bairro localizado na zona sul da cidade, entre os bairros Luciano Cavalcante, Cidade dos Funcionários e Cambeba. É um local quase que exclusivamente residencial, com predomínio de casas, reduto de classe média alta.    

Parque Iracema – o bairro surgiu numa área desmembrada do bairro da Messejana. Fica entre os bairros do Cambeba, Cidade dos Funcionários, Cajazeiras e Messejana.

Parque Dois Irmãos – localizado entre os bairros Mondubim, Dendê, Passaré, Prefeito José Walter e Itaperi, o bairro surgiu em meados dos anos 70. Os primeiros moradores contam que naquela época o local era coberto de mato, quando foi lançado um loteamento chamado Parque Dois Irmãos. No início as casas eram pequenas e simples. Hoje o bairro é bastante populoso.

Parque Santa Maria – Criado pela Lei Ordinária nº 9.064, de 21 de dezembro de 2005, com área desmembrada do Ancuri. Limita-se com os bairros Jangurussu, Messejana, Paupina e Ancuri.    

Parque Santa Rosa – a localidade é bem antiga. Surgiu com a chegada das irmãs que faziam parte da congregação do Bom Pastor e, posteriormente, com a vinda dos padres jesuítas, que na década de 1980 percorriam o território nacional para disseminar a evangelização. Os moradores mais antigos atualmente, chegaram ao bairro há mais de 30 anos, e contam que o lugar era cheio de mato, sem pavimentação, sem eletricidade e poucas residências. O Rio Maranguapinho que corta o bairro, era fonte de alimentação e lazer. O Parque Santa Rosa está localizado entre os bairros Conjunto Esperança, Parque Presidente Vargas, Canindezinho e Mondubim.  

Parque São José – localizado na região conhecida por Grande Bom Jardim, fica entre os bairros Vila Pery, Bom Jardim, Canindezinho e Vila Manoel Sátiro. O bairro surgiu por volta de 1935, quando foram construídas as primeiras casas, onde as ruas eram de areias, e a iluminação era à base de lamparinas, já que não havia energia elétrica. Hoje moram no Parque São José cerca de 17 mil pessoas.   

Parque Presidente Vargas – localizado na região do Grande Mondubim, o bairro surgiu a partir de um loteamento irregular, onde os compradores não receberam os documentos devidos. Até hoje o problema persiste, com grande número de imóveis sem registro. Está em curso uma ação da Defensoria Pública visando a regularização fundiária no bairro. Fica entre os bairros Canindezinho, Parque Santa Rosa, Mondubim e o município de Maracanaú. Cerca de 7.500 pessoas residem no local.   

 

 Consultados:

 https://issuu.com/oliiveiraph/docs/jardim_das_oliveiras_-_diagn_stico//jornal Diário do Nordeste//Jornal O Povo//https://www.seduc.ce.gov.br// https://desenvolvimentosocial.fortaleza.ce.gov.br/images/Mapa_Regionais_Fortaleza.pdf//https://globoplay.globo.com//https://www.defensoria.ce.def.br/noticia/regularizacao-fundiaria-do-bairro-presidente-vargas// 

domingo, 6 de outubro de 2024

Jangadeiros e Aventureiros

 

O transporte usado pelos jangadeiros para as incursões marítimas era a velha jangada de piúba, madeira leve, durável e resistente retirada da árvore piúba. A jangada partia antes do sol nascer, com três ou quatro pescadores, dependendo do número de dias que pretendiam ficar em alto mar, bem distante do litoral, de onde só se via, céu e mar.

A alimentação que levavam era geralmente constituída de farinha, rapadura e carne-seca para almoço e jantar, café em pó e bolachas para o café da manhã. Conduziam um fogareiro de lata, carvão, querosene e lampião. Este era para ser pendurado no mastro da jangada, e além da iluminação da jangada, servia como sinalizador, para evitar a colisão com embarcações maiores que transitassem pela área.


 
jangadas no Mucuripe

Durante o dia se orientavam pela posição do sol e à noite, a referência era a constelação Cruzeiro do Sul, formada por um conjunto de cinco estrelas que sempre aponta na direção sul. Essa forma de orientação pelas estrelas está atrelada ao período histórico das Grandes Navegações.

A experiência adquirida nessas viagens de trabalho, levaram dois grupos de pescadores cearenses a viajar ao Rio de Janeiro, em duas oportunidades e em datas diferentes, para fazer reivindicações junto às autoridades, da sempre carente classe dos pescadores.

A primeira viagem foi em 1941. Quatro jangadeiros partiram de Fortaleza para o Rio de Janeiro, então capital do Brasil navegando em uma jangada. O objetivo era chamar a atenção das autoridades para os problemas dos jangadeiros, que trabalhavam arriscando a vida, moravam precariamente em casas de palha, não eram proprietários das embarcações em que pescavam, pois trabalhavam para os patrões, ficavam com 50% do produto da pesca, pagavam alimentação quando iam para o mar, e a faca para cortar peixe. Ficavam a cargo dos jangadeiros, o desmonte da embarcação para refazê-la a cada oito meses, e 50% dos pescados para dividir com a tripulação. 

A viagem foi preparada e a jangada de nome São Pedro partiu levando como tripulantes os pescadores Raimundo Correia Lima, vulgo Tatá; Jerônimo André de Souza:  Manuel Pereira da Silva, vulgo Manuel Preto, comandados pelo mestre jangadeiro Manoel Olímpio Meira, vulgo Jacaré, presidente da colônia de pescadores Z1, localizada na Praia de Iracema. Era o dia 14 de setembro de 1941. A embarcação fez escala para abastecimento nas cidades de Natal, Recife, Salvador, Vitória, Macaé e Cabo Frio. Chegaram ao Rio de Janeiro em 15 de novembro do mesmo ano. A viagem durou 62 dias e percorreu cerca de 2.500 quilômetros, sem bússola ou outros instrumentos de navegação. 

os jangadeiros Jacaré, Tatá, Jerônimo e Manoel Preto

Os pescadores foram recebidos pelo presidente Getúlio Vargas, que prometeu atender as reivindicações e ainda acrescentou outras. O feito dos cearenses foi destaque na imprensa nacional e se espalhou pelo mundo. Tempos depois o ator e produtor de cinema americano, Orson Welles, convidou os jangadeiros para uma filmagem sobre o feito, que seria rodado no Rio de Janeiro. O convite foi aceito e eles viajaram novamente ao Rio para participar das filmagens.

As filmagens estavam sendo realizadas na Praia do Juá, numa jangada rebocada por uma lancha. Como o mar estava muito revolto, resolveu-se cortar o cabo que amarrava a jangada. No mesmo instante, uma grande onda envolveu a jangada, atirando-a de encontro as pedras existentes no local. Com o impacto, os tripulantes caíram na água. Os jangadeiros Tatá, Jerônimo e Manuel Preto, juntamente com o americano, conseguiram nadar até a lancha e escaparam. Mas o jangadeiro Jacaré morreu afogado. Seu corpo nunca foi encontrado.

Pouco tempo depois, o presidente Getúlio Vargas assinou um decreto que concedia aos jangadeiros o direito a aposentadoria e outros benefícios do Instituto de Aposentadoria dos Marítimos.

A segunda viagem de jangadeiros aconteceu vinte e seis anos depois. A situação dos jangadeiros continuava precária, com poucos direitos e muitos problemas. Por esse motivo, um novo grupo de pescadores resolveu realizar uma nova viagem ao Rio de Janeiro em busca do reconhecimento de seus direitos.

jangada Menino Deus em fase de preparação 

a tripulação da jangada Menino Deus em entrevista a um canal de TV no RJ

A embarcação foi uma jangada de nome Menino Deus, feita de piúba, com seis metros de comprimento, presente do prefeito de Fortaleza e do Vice-Governador do Ceará. A jangada foi modificada para suportar mais um mastro. No maior tinha içada a bandeira brasileira, e no outro, a bandeira do Ceará. O objetivo era cobrar do presidente, aquilo que Getúlio Vargas prometeu e não entregou. 


Jangada Menino Deus partiu da Praia do Mucuripe com 5 tripulantes

A jangada Menino Deus iniciou sua viagem no dia 8 de dezembro de 1967, levando os jangadeiros José de Lima, Manuel de Lima, João Rodrigues e Manuel Rodrigues, comandados por Luís Carlos de Sousa, conhecido por mestre Garoupa. A jangada parou para abastecimento de água e alimentos, a maioria doados pelos comerciantes, nos portos de Macau, Natal, Cabedelo, Recife, Salvador, Ilhéus, Vitória. No dia 28 de janeiro a embarcação foi dada como desaparecida, sendo localizada 2 dias depois, a 16 milhas da costa de Maricá-RJ, por um navio da Marinha Mercante.  Após esse incidente, a viagem foi concluída e os navegantes chegaram ao Rio de Janeiro no dia 31 de janeiro de 1968, após 54 dias de navegação. No Rio de Janeiro, a decepção: o presidente Costa e Silva se recusou a recebê-los.

Com o passar do tempo a madeira piúba ficou cada vez mais difícil de ser obtida, e de alto custo financeiro. A solução foi passar a fabricar jangadas com tábuas de madeira louro, na forma que já era utilizada na fabricação de pequenos barcos a motor. Atualmente a pesca em jangadas está em franco processo de extinção. Os pescadores preferem os barcos, mais seguros e com potencial para oferecer algum conforto.



83 anos passados da aventura de Jacaré e seus parceiros de viagem, a realidade não mudou muito nas colônias de pescadores cearenses. Segundo dados publicados em jornal de Fortaleza, cerca de 80% dos mais de 80 mil pescadores do Ceará ainda vivem com menos de um salário mínimo por mês. Ainda sofrem com a ação de atravessadores, não contam com nenhum apoio para melhoria das embarcações, enfrentam limitações na época do defeso e temem a força dos ventos que, nessa época do ano, tanto assustam quanto matam. A maioria dos jangadeiros é muito pobre, ainda vive na miséria, em casas simples e expostos a muitas doenças. 


Extraído dos livros ‘A Praia de Iracema dos anos 50”/ Jaildon Correia Barbosa – Fortaleza: Premius, 2010// “Ideal Clube - história de uma sociedade”/Vanius Meton Gadelha Vieira-Fortaleza:Tiprogresso,2003//Jornal Diário do Nordeste e outros//publicação Fortalezaemfotos.com.br//imagens: IBGE, revista O Cruzeiro, site Memória Santista - https://memoriasantista.com.br//jornal Diário do Nordeste