As assombrações mais famosas de Fortaleza, tinham lugar certo para fazer suas aparições. Jamais alguém fotografou ou entrevistou ou registrou qualquer evento que sirva de prova à existência dessas entidades exóticas, embora os testemunhos orais sejam abundantes.
O Cão da Itaoca
Uma das lendas mais conhecidas é a do Cão que apareceu na Itaoca, no início dos anos 40. Era no Beco da Itaoca que se localizava a fonte de água, a famosa água da Pirocaia, em terras do Dr. Manoel Sátiro. Ali também em 1938, Antônio Ferreira de Almeida instalou o Centro Espírita Joana D'arc, às margens de um riacho, a atual Rua Edith Braga. Mas não foram essas histórias que fizeram a fama do bairro.
fotos Fortaleza em Fotos 2012 |
O capeta veio cheio de
atitude, se instalou numa casa do Beco da Itaoca, atual rua Romeu
Martins, e por lá aprontou o que era e o que não era permitido. A casa pertencia
a um servidor da Polícia Militar, considerado um homem respeitável e de boa
reputação, muito estimado pelos moradores do Beco. Alguns dos eventos foram
presenciados até por um repórter do jornal Gazeta de Notícias, que visitou a
casa, e descreveu o que viu: “Observamos verdadeiros aspectos trágicos na casa
do digno oficial da Força Pública. Um santuário, sem que ninguém identificasse
o autor do fato, foi lançado à distância, espatifando-se. As imagens que estavam
no móvel, também se partiram, no choque contra o solo”.
A atuação atraiu a curiosidade de centenas de pessoas que diariamente se postavam em frente à residência, esperando o início do espetáculo, com a devida cobertura da mídia existente à época. Para enfrentarem a presença demoníaca, os moradores tentaram tudo: chamaram a imprensa (alguns jornais e uma emissora de rádio), a polícia e alguns religiosos. Nada intimidou o capeta.
Uma antiga moradora, contou
com riqueza de detalhes, a história que gerou o mito do Cão da Itaoca. Dizia
ter presenciado coisas estranhas naquela residência, onde tinha acesso por ser
amiga da família do major João Lima, que era um homem bom e estimado pelos
moradores do beco. Para a moradora, foi real a presença do capeta naquela casa.
O cão encerrou sua atuação depois de alguns dias e desapareceu. Mas botou a
Itaoca no mapa.
A Mula sem Cabeça do Cercado
do Zé Padre
Eis que de uma hora para
outra, sem mais nem porque, começou a aparecer uma mula sem cabeça no Cercado
do Zé Padre, aquela região no bairro Farias Brito que é Otávio Bonfim, por trás
da avenida Bezerra de Menezes, em frente à igreja das Dores. Alguns
historiadores contam que foi naquele local que em tempos passados foi instalado
um campo de concentração (ou abarracamento) para receber retirantes da seca,
aproveitando a proximidade do abarracamento com a antiga Estação do Matadouro.
Isso aconteceu por volta dos anos 30.
A mula sem cabeça aparecia
tarde da noite, percorria todo o cercado, tocando o terror nos moradores, que
não ousavam pôr os pés fora das casas depois que a noite caía. Vinha envolta em
um manto preto, sempre em desabalada carreira, soltando fogo pelo pescoço, com
um lampião a iluminar seus desventurados caminhos.
Uma noite, um morador mais ousado,
resolveu montar vigília noite adentro, disposto a desvendar o enigma da visagem.
Não deu. Mal o bicho apareceu, vindo exatamente em sua direção, o homem em
pânico total, correu para o abrigo de sua choupana, implorando aos céus por misericórdia,
que o livrasse da ação maléfica da burra do padre que corria a solta no
Cercado.
Contam que a mula sem cabeça
foi uma vingança premeditada pelo Zé, um dos pioneiros do Cercado, que agora
via seu pedaço de chão sendo cobiçado e invadido por novos moradores. Dizem
ainda, que o Zé, que de padre não tinha nada, tinha uma amante, casada, que ele
visitava em altas horas, e a oportuna aparição da mula mantinha os
bisbilhoteiros trancados dentro de casa. Além do mais ficavam garantidos o
sigilo e a discrição quanto ao seu amor proibido. Apesar de ser considerado um santo, Zé Padre era astucioso e gostava de correr durante a noite, fazendo visagem no cercado que levava seu nome.
A bailarina do Teatro José
de Alencar
É difícil encontrar por aí um
teatro histórico que não seja frequentado por almas penadas, alguns costumam
ter seus fantasmas fixos. Eles estão no
cinema, na literatura e, claro, no palco. Às vezes são brincalhões, outras,
assustadores. Há quem diga que são só lendas e há quem jure que eles existem de
fato.
Embora muitos não acreditem, os mistérios existem e são contados frequentemente pelos que trabalham nos espaços cênicos. No Teatro Municipal do Rio de Janeiro, o espírito de uma bailarina, que teria morrido em frente ao prédio, no dia de sua formatura, e do poeta Olavo Bilac, que fez um discurso na inauguração do teatro, em 1909, foram vistos vagando pelas dependências do teatro por muitos funcionários.
Teatro José de Alencar - imagem Pinterest |
E o Teatro José de Alencar,
instituição com 112 anos de existência, não foge à regra: tem em seu elenco um fantasma,
uma moça, uma bailarina, que por motivos desconhecidos, resolveu habitar as
dependências da histórica casa de espetáculos.
A bailarina é atemporal, já
foi vista por várias gerações de funcionários e frequentadores do teatro José
de Alencar. Foi descrita pelos que a avistaram como uma mulher jovem, de
cabelos longos, vestido azul, que flutua pelos corredores e ronda o palco e o
imaginário dos frequentadores. A bailarina é uma figura etérea, quase transparente,
que sussurra como se quisesse transmitir alguma mensagem. Já foi vista dançando
na madrugada, rodopiando no palco, e desaparecendo instantaneamente, nas brumas
que escondem mistérios e segredos guardados no local.