sexta-feira, 15 de dezembro de 2023

A Execução de Chesmann e a repercussão em Fortaleza

 

Uma execução na câmara de gás, ocorrida no dia 2 de maio de 1960, no estado americano da Califórnia, nos Estados Unidos, causou tremenda comoção em todo o Brasil, atingindo inclusive Fortaleza. O condenado à pena de morte chamava-se Caryl Chesmann, tinha 39 anos quando morreu e foi acusado de assaltos, furtos e estupros. Era chamado de “bandido da luz vermelha”, porque usava um automóvel de cor clara, e colocava uma luz vermelha no teto, simulando uma viatura da polícia, e assim abordava jovens casais, que não tinham tempo de fugir ou esboçar uma reação. O suspeito era dono de uma extensa ficha criminal, com registro de crimes e infrações cometidas desde a adolescência. Na vida adulta passou boa parte de seu tempo nas prisões de Los Angeles. Ficou em regime de liberdade condicional até ser novamente preso em janeiro de 1948, agora sob acusação de ser o bandido da luz vermelha, um temido estuprador que roubava e molestava suas vítimas.


Num julgamento considerado parcial e cheio de falhas, sem provas contundentes, baseado numa confissão em que o acusado alegava ter sido torturado, e no depoimento de duas testemunhas, Chesmann foi condenado à pena de morte. A polêmica já começou a partir desse ponto, porque Chesmann não era acusado de assassinato, portanto não era caso de pena de morte. Começou ali uma batalha jurídica que durou 12 anos, rendeu 10 apelos, inúmeras apelações à Suprema Corte, 16 recursos a tribunais secundários 9 decisões proferidas pelo Superior Tribunal da Califórnia.  Na prisão Chesmann dispensou advogados e fez sua própria defesa. Estudou direito, tornando-se um especialista na área penal e escreveu quatro livros: 2455 – Cela da Morte; A Lei Quer Que Eu Morra; A Face Cruel da Justiça; O Garoto era um Assassino (romance). Todos transformaram-se em best-sellers internacionais.



A sentença foi adiada por 7 vezes. Afinal tudo foi em vão. Caryl Chesmann foi executado na câmara de gás, no presídio de San Quentin, na Califórnia. A morte na câmara de gás era um método cruel e demorado. De acordo com reportagens da época, o condenado sobreviveu por longos 9 minutos, se contorcendo e gritando, desde o início do processo que começou com a colocação das pastilhas do gás letal, às 14:03 e terminou com a constatação de que o homem estava morto às 14:12 horas. A anunciada execução de Chesmann provocou um debate mundial em torno da pena de morte, dos critérios do julgamento e desencadeou um clamor pela clemência do presidente dos Estados Unidos, que nunca foi concedida.


Enquanto isso em Fortaleza...


O radialista Peixoto de Alencar, então em grande evidência nos microfones da Rádio Dragão do Mar, promoveu uma campanha popular em busca de assinaturas para um enorme abaixo-assinado que seria entregue ao presidente Dwigh Eisenhower, que estava com uma viagem agendada para o Brasil. Segundo se informava, o avião presidencial faria uma escala técnica em Fortaleza.


prédio da Assembleia Legislativa

A possível estadia do presidente, ainda que breve, animou os defensores da ideia. Peixoto e companheiros de imprensa, numa camionete da “Dragão do Mar” percorriam as ruas da cidade em todas as direções, coletando apoio da população ao movimento “Chesmann não deve morrer”.  A campanha foi um sucesso. Em poucos dias foram colhidas milhares de assinaturas, reunidas em numerosos volumes para o devido encaminhamento ao presidente norte-americano.

Tudo pronto para a solenidade, eis que chega a mais nova informação: o voo de Eisenhower não faria mais escala em Fortaleza. E chegou-se à conclusão que remeter todos aqueles pacotes à Casa Branca chegaria fora de tempo, ou seja, tarde demais para Chesmann, que vivia seus últimos momentos no corredor da morte em San Quentin.


prédio da Rádio Dragão do Mar (imagem Marciano Lopes)

Foi então que a coisa começou a se desenhar como mais uma página das histórias folclóricas, nascidas em nossa cidade: o vereador José Diogo da Silveira, apresentou uma mensagem na Câmara Municipal, que foi aprovada por unanimidade, através da qual o vereador se oferecia ao governo americano para morrer na câmara de gás no lugar de Chesmann. Argumentava que era um homem já alquebrado, podia ser sacrificado em favor da sobrevivência de um jovem que muito ainda poderia fazer, no Direito e pela humanidade.

Os jornais de Fortaleza abriram grandes reportagens – “Zé Diogo quer morrer no lugar de Chesmann”. O assunto virou destaque, formando-se grupos favoráveis e contrários à ideia de José Diogo. Como se não bastasse, despontou a figura de Edmundo de Castro – Dedé de Castro – jornalista irreverente, sarcástico, típico daquela imprensa de então. Dedé elaborou um manifesto, assinado por inúmeros jornalistas e intelectuais da terra, formalizando o apelo ao presidente Eisenhower no sentido de que fosse aceito o oferecimento de José Diogo.

O apelo publicado nos jornais da cidade, foi mais uma das artes praticadas pelo atuante “Ceará Moleque” naqueles anos finais dos anos 50/início dos anos 60.  

 

 

Fontes consultadas:

Paulo César Dutra - Caryl Chessman:O Bandido da Luz Vermelha. Disponível em <https://www.folhadiaria.com.br/materia/69/2413/paulo-cesar-dutra/caryl-chessman-o-bandido-da-luz-vermelha>

Luiz Roberto da Costa Júnior – Chesmann um inocente executado na Câmara de Gás. Disponível em <https://www.recantodasletras.com.br/artigos-de-politica/6934684>

https://memoria.bn.br/pdf/386030/per386030_1960_00345.pdf

Blanchard Girão – Sessão das Quatro cenas e atores de um tempo mais feliz. ABC Fortaleza – 1998.

imagens da Internet

sexta-feira, 24 de novembro de 2023

Porto Canoa o Resort abandonado de Aracati

 



A promessa é que seria um megaempreendimento à beira-mar, no aprazível litoral de Aracati, nível internacional, com capacidade para receber até 1.100 pessoas. O projeto contava com salão de convenções, auditório com capacidade para 130 pessoas, salas de apoio para a realização de eventos, dois restaurantes, parque aquático, piscinas, lojas, um hotel resort 5 estrelas com 166 apartamentos, uma pousada com 20 apartamentos e três condomínios num total de 96 apartamentos.

O local denominado Porto Canoa foi inaugurado em 1996, com boa parte construída, iniciativa do empresário Clodomir Girão e aporte de capital de sócios estrangeiros. Seria o primeiro grande empreendimento hoteleiro de Canoa Quebrada, mais próximo, porém, da Praia de Majorlândia.  O projeto se arrastou por 10 anos, sem se estabilizar. Os investimentos ficaram escassos e houve debandada dos investidores estrangeiros. O resort nunca chegou aos 100% de ocupação e decaiu mais ao longo do tempo. O Porto Canoa mostrou-se um retumbante fracasso.

Hoje quem passa no sentido Leste a partir de Canoa Quebrada em direção a praia de Majorlândia se depara com os restos da construção: a parte do empreendimento que corresponde ao condomínio de apartamentos adquiridos por particulares, ainda está lá. São três blocos de apartamentos de tamanhos variados, regularmente ocupados, geralmente no sistema de aluguel por temporada, em local isolado, com praia privativa, mas sem acesso, sem infraestrutura por perto, e bem longe dos atrativos da famosa Vila de Canoa Quebrada.

O resto é abandono. As únicas vizinhas são as ruínas e a solidão. A começar pelo acesso pela praia ao resort, uma via em mau estado, cheia de mato, deserta e solitária. À noite, é de se esperar que a escuridão tome de conta. (tem acesso também pela CE 371). As ruínas das construções ficam dos dois lados da estrada, prédios, piscinas, colunas, pisos, azulejos, testemunhas do enorme desperdício de recursos empregados no malogrado projeto hoteleiro, que pretendia ser o maior da região.

De bom e bonito, restam a paisagem natural, o mar verde esmeralda de Aracati, as belas praias e alguns coqueiros, que felizmente não dependem nem dos recursos nem da (falta de) competência de nenhum empreendedor, e continuam formosas. Apesar deles.  


 






Fotos e vídeos: Fortaleza em Fotos nov/2023

sábado, 7 de outubro de 2023

Colégios Antigos – Doces Lembranças

 

A escola é certamente o primeiro relacionamento sério da vida de alguém, um relacionamento que cobra responsabilidade, exige comprometimento. Em troca, abre portas com tantas possibilidades, que a jovem imaginação de uma criança sequer havia sonhado. É o lugar onde se passa mais tempo, depois da casa paterna. As escolas deixam marcas, lembranças inesquecíveis, a maioria boas, que ficarão para sempre no imaginário e nos ensinamentos que levamos pela vida afora. Por isso, é tão desanimador constatar que sua escola, o seu lugar de memória mais representativo, não existe mais. Algumas dessas escolas:   

Colégio Brasil

Colégio Brasil na Rua Dona Leopoldina. foto do Anuário do Ceará

Criado nos anos 60, por iniciativa do professor Amadeu Arraes, o Colégio Brasil iniciou as atividades com apenas 63 alunos, distribuídos em 2 salas de aula, em prédio alugado, localizado na Rua Rodrigues Júnior, 384. Na década de 70 contava com 1500 alunos e funcionava em prédio próprio, na Rua Dona Leopoldina, 480. A nova sede tinha 3 pavimentos, 21 salas de aula, 4 laboratórios, biblioteca e cursos de língua estrangeira e educação artística.  

Colégio São José

funcionava na Avenida Visconde do Rio Branco, 1257, ao lado do Parque da Liberdade (Cidade da Criança). Foi autorizado a funcionar como colégio pelo Decreto nº 17.700, de 30 de janeiro de 1945. Até então era o Ginásio São José.

Colégio Nogueira

Localizado na Praça do Carmo esquina com a Rua Barão do Rio Branco. Foto Arquivo Nirez

No início das atividades funcionava na antiga residência de Meton de Alencar, na Rua General Sampaio, ao lado da Casa Juvenal Galeno, com a denominação de Externato Pedro II, de Francisco Gonçalves. A partir de 1918, passou a chamar-se Instituto de Humanidades, (Colégio Nogueira), criado pelo professor Joaquim da Costa Nogueira. O colégio destacou-se pelo revolucionário método didático, tornando-se o melhor e mais procurado educandário de Fortaleza. Tinha como lema na pedagogia da época, de ensinar não muito, mas ensinar bem, ensinar certo, levando o aluno por processos naturais e ensinamentos concretos, a formar juízo perfeito de cada uma das disciplinas professoradas na escola. Ficava na Praça do Carmo, esquina com a Rua Barão do Rio Branco, local onde depois esteve o Colégio Farias Brito.

Colégio Capital (Evolutivo)

Antes de se tornar uma unidade de uma das maiores organizações educacionais do Ceará, a Organização Educacional Evolutivo (que também já fechou), o prédio localizado na avenida Heráclito Graça, número 826, antes abrigou o Colégio Capital. A marca Evolutivo se tornou uma das mais conhecidas na educação cearense. O colégio chegou a ter nove sedes em seu auge e era conhecido por ter preços acessíveis comparados a outras instituições privadas, à época. Em 2012, o Evolutivo fechou as portas. Atualmente, no prédio que já foi Colégio Capital e Evolutivo Capital, funciona a Faculdade Ari de Sá.

Colégio Rui Barbosa

sala de aula do Colégio Rui Barbosa, com o professor Clodomir Teófilo Girão, no centro, com alguns de seus alunos, no ano de 1949. Foto Arquivo Nirez. 

O colégio Rui Barbosa foi inaugurado em 01 de maio de 1945, pelo professor Clodomir Teófilo Girão, instalado na Rua Senador Pompeu em prédio antes ocupado pelo Colégio Dom Bosco.  Mais tarde o colégio foi vendido, mudando-se para a Avenida do Imperador nº 372.

Colégio Nossa Senhora Aparecida

prédio onde funcionou a Escola Jesus Maria José e o Colégio Nossa Senhora Aparecida 2012 acervo Fortaleza em Fotos 

A Escola Nossa Senhora Aparecida foi fundada em 1963, pelo padre Valdemar Marques, na paróquia do Cristo Rei, funcionando da 5ª. a 8ª séries na qualificação de empregados domésticos. A partir de 1980 passou a funcionar no prédio localizado na Rua Coronel Ferraz, n° 120, no centro, construído para abrigar a Escola Jesus Maria José, destinada à educação de meninos pobres ou órfãos. Em 1987 criou os cursos pedagógicos, científico e profissionalizante, mediante convênio com o Senac e a UECE. A partir daí foi reconhecida como de utilidade pública pelo Conselho Estadual de Educação e manteve convênio com as Secretarias de Educação do Estado e do Município. Era administrada pela Paróquia da Catedral de Fortaleza.

Colégio Pio X

Fundada por Frei Mansueto em 1908. O prédio foi construído em terreno doado pelo padre João Augusto da Frota, na esquina sudeste do Boulevard do Livramento (atual Avenida Duque de Caxias) com a Rua Pero Coelho (atual Barão de Aratanha). Os recursos para construção foram obtidos por Frei Marcelino de Milão através de campanhas movidas pelas várias confrarias religiosas. Foi inaugurado em 5 de julho de 1908, mantido e dirigido pelos frades capuchinhos; era uma obra das vocações missionárias, misto e gratuito.  O prédio passou por reforma e ampliação em 1924, quando foi construído o segundo pavimento. Atualmente o imóvel está alugado a uma faculdade.

Colégio Padre Champagnat

Fundado em 14/09/1971, sob direção do professor Miguel Elpídio Dantas Silveira, encerrou as atividades em 2007. Funcionou inicialmente no prédio onde antes estivera o Cine Familiar, de propriedade dos padres franciscanos, depois vendido a Luiz Severiano Ribeiro, que fechou o cinema.  Depois abriu filiais em outros endereços. O nome era em homenagem ao padre Marcelino Champagnat, fundador da Congregação dos Irmãos Maristas.

Colégio Castelo Branco

O colégio Castelo Branco foi fundado no dia 1° de junho de 1900 com o nome de Instituto Miguel Borges, pelo professor Odorico Castelo Branco, na Rua Major Facundo, 156-B. Em 1910 mudou-se para a Rua Senador Pompeu, 24, depois mudou-se para a Praça Senador José Júlio (Praça do Coração de Jesus) onde permaneceu até a morte de Odorico, em 1921. Após o falecimento do seu fundador, o estabelecimento de ensino recebeu a denominação de Colégio Castelo Branco, teve seu patrimônio alienado à Arquidiocese de Fortaleza e mudou-se para a Avenida Dom Manuel no final da década de 1930.

Escola Alba Frota/Cidade da Criança

foto da Internet

A escola foi fundada em 26 de maio de 1937, pelo prefeito Raimundo de Alencar Araripe (1936/1945) com a denominação de Serviço de Educação Infantil, composto de duas seções: Jardim da Infância (para crianças de 3 a 6 anos) e Parque Recreativo (crianças de 7 a 14 anos), transformando o Parque da Independência em Cidade da Criança. A primeira diretora foi a professora Zilda Martins Rodrigues. Em 1967, por sugestão da escritora Rachel de Queiroz a nome da escola foi mudado para Alba Frota, ex-professora e diretora da escola entre 1946 e 1954. Em 1966 foi construída uma nova escola na Avenida Dom Manuel, em melhores instalações, junto ao Parque Pajeú.

Colégio Juventus

Fundado em fins dos anos 60, situado na Rua João Siqueira, bairro Joaquim Távora. Foi extinto em 2008, a pedido do seu diretor, Padre Gotardo Thomaz de Lemos.

Colégio Fênix Caixeiral

primeira sede da Fênix Caixeiral na Rua Guilherme Rocha esquina com a Rua General Sampaio. acervo Instituto do Ceará 

Um dos estabelecimentos de ensino mais tradicionais de Fortaleza, a Fênix Caixeiral surgiu como escola de comércio, inaugurada em 24 de junho de 1905, na esquina da Rua General Sampaio com a Guilherme Rocha. O palacete com um andar superior e um porão tinha o acesso voltado para a atual Praça José de Alencar. Como o palacete logo se tornou pequeno para abrigar as diversas dependências da associação e a sua escola de comércio, a instituição iniciou a construção de uma casa maior, no terreno da Rua 24 de maio esquina com a Rua Guilherme Rocha, onde estivera a residência do Comendador Antônio Nogueira Pinto Acioly. A segunda sede ficou em poder da Fênix até a década de 1970, quando a instituição a vendeu e mudou-se para a Avenida do Imperador.

Grupo Escolar Rodolfo Teófilo

em 1923 ano da inauguração. Foto Nirez

O Grupo Escolar Rodolpho Teófilo foi instalado em 2 de janeiro de 1923, projeto do arquiteto José Gonçalves da Justa, no bairro Benfica, atual Avenida da Universidade. Inicialmente era chamado de Grupo Escolar do Benfica, depois passou a denominar-se Grupo Escolar Rodolfo Teófilo. Em 20 de agosto de  1956, o estabelecimento de ensino foi transferido para outra rua próxima, e o prédio passou a abrigar o Museu Antropológico e o Instituto do Ceará.   Depois de sucessivos usos, como o Museu Antropológico e o Instituto do Ceará, hoje o prédio abriga a Faculdade de Economia, Administração, Atuária e Contabilidade da Universidade Federal do Ceará. Os Grupos Escolares foram extintos nos primeiros anos da década de 1970, substituídos paulatinamente pelo sistema de ensino de 1° Grau determinada pela Lei n. 5.692/71, durante o regime militar, na gestão do presidente Emílio Garrastazu Médici.


Veja mais sobre os antigos colégios: 

http://www.fortalezaemfotos.com.br/2017/05/colegios-desativados-de-fortaleza.html

http://www.fortalezaemfotos.com.br/2014/04/antigos-colegios-de-fortaleza.html


sábado, 16 de setembro de 2023

Igrejas Centenárias do Centro

O nosso centro da cidade, que perdeu importância econômica, financeira, política e social nos últimos tempos, ainda detém as construções mais representativas de uma época em que os templos católicos refletiam o status e a fé da população, e atingiam todas as classes sociais: As Igrejas Católicas. A maioria construída com donativos, enfrentando os desafios dos tempos atuais, as igrejas resistem: cercadas de grades, fechadas em boa parte do tempo, enfrentando a concorrência de igrejas evangélicos, mas ainda acolhedoras e receptivas aos homens e mulheres de boa vontade.

Estas são cinco primeiras igrejas de Fortaleza, que já foram fundadas nos mesmos locais onde se encontram até os dias atuais. Algumas foram reconstruídas com características totalmente diferentes dos modelos originais, como as Igrejas do Coração de Jesus, de São Benedito e a de São José (Catedral Metropolitana); a maioria, no entanto, sofreu ampliações e adaptações, no entanto, foram poucas as modificações em relação a construção original.      


1 – Igreja do Rosário - 1730




A Igreja do Rosário foi construída por volta de 1730, pelos negros da Irmandade de Nossa Senhora dos Pretos, em uma época em que havia separação de raças e classes sociais em templos religiosos. Era uma pequena capela de taipa e palha, erguida com donativos ofertados pelos fiéis, num arrabalde da vila, que muitos anos mais tarde se tornaria a atual Praça General Tibúrcio.

Em 1753, a capela foi reconstruída com pedra e cal, porque ameaçava desabar. A capela mor ficou pronta em 1755. No período de 1821 a 1854, Igreja do Rosário serviu de matriz enquanto a Catedral Metropolitana passava por reformas. Construído em estilo barroco, é o mais antigo templo de Fortaleza, tombada pelo Estado em 1983. Fica na Rua do Rosário, s/n, Praça General Tibúrcio, Centro.



2 – Igreja do Patrocínio – 1852



A pedra fundamental da Igreja de Nossa Senhora do Patrocínio foi lançada em 02 de fevereiro de 1850, e ficaria pronta dois anos mais tarde. Em 1849 o cabo da esquadra Fortunato José da Rocha disparou um tiro contra o Capitão Jacarandá, mas acertou o joelho do Alferes Luís de França Carvalho, que estava ao lado do capitão. Vendo-se em risco de perder a vida, Luís de França fez voto à Senhora do Patrocínio, que se escapasse, faria uma igreja em sua devoção.

No ano seguinte, curado do ferimento, lançou a pedra fundamental da igreja, ao norte da atual Praça José de Alencar. O oficial teve que deixar Fortaleza e os trabalhos de construção passaram a ser muito lentos, apesar da ajuda de muitos fiéis que apoiaram a ideia do militar. A planta do templo foi feita pelo mestre Antônio de Rosa e Oliveira.

As obras iniciadas por França só foram concluídas devido aos esforços do cônego João Paulo Barbosa, que contou com o auxílio de particulares, das Assembleias Provinciais, da Sociedade Auxiliadora dos Templos, e dos materiais foram doados pelo governo nos períodos de secas. Situada na Rua Guilherme Rocha, 536, Praça José de Alencar.



3 – Igreja de São Bernardo – 1854



Em 1854 o Tenente Bernardo José de Melo construiu uma pequena capela de taipa e palha, em honra de Nossa Senhora do Bom Parto. No primeiro inverno, com a força das chuvas que caíram, a capela foi ao chão. Graças ao seu prestígio, o tenente Bernardo conseguiu um empréstimo do governo, e com esse dinheiro construiu a atual Igreja de São Bernardo. A igreja sofreu um único acréscimo em relação a construção original: a sacristia, feita por Monsenhor Quinderé, durante os anos 40.

Inicialmente o povo chamava a Igreja do Seu Bernardo, que com o tempo mudou para São. Ficou sendo a Igreja de São Bernardo, embora a devoção maior fosse em louvor a Nossa Senhora do Bom Parto. Para justificar o batismo da igreja o Tenente Bernardo mandou vir da Espanha uma imagem de São Bernardo, que passou a ser o titular da igreja.

A Igreja de São Bernardo conta com dois altares herdados da antiga Igreja da Sé, demolida em 1938: o Altar de São José e o de N. S. do Bom Parto.  Fica na esquina das ruas Senador Pompeu e Pedro Pereira.



4 - Igreja do Pequeno Grande – 1903

imagem: https://www.tiagoguedes.com.br/post/igreja-para-casar-em-fortaleza

imagem: https://www.tripadvisor.com.br

A história da Igreja do Pequeno Grande está intimamente ligada à história do Colégio da Imaculada Conceição.  A pedra fundamental foi lançada em 1898, pelo padre Chevalier, reitor do Seminário e capelão do Colégio da Imaculada.  As obras, mal iniciadas, sofreram paralisação no ano seguinte, sendo retomadas em 1898 até a sua conclusão em 1903, quando se verificou a benção do templo.

Para que o templo ficasse concluído, a Irmã Chambeaudrie doou à igreja uma herança de família. Por sua vez, os membros de diversas associações – Filhas de Maria, Senhoras de Caridade e as próprias freiras se dedicaram a missão de angariar recursos para a obra. Situada na Avenida Santos Dumont, 55.


5 – Igreja de Nossa Senhora do Carmo – 1906


imagem UOL

Originalmente era a capela de Nossa Senhora do Livramento, um pequeno templo erigido pela Irmandade dos Pardos, administrada pela Paróquia do Patrocínio, erguida em área distante do centro, cercada de árvores, com uma lagoa nas proximidades. No início do século XX, foi decidida a construção de uma igreja em substituição à capela, que se encontrava em péssimas condições. Ainda na construção, foi permitido que fosse mudada a invocação para Nossa Senhora do Carmo.

O templo foi inaugurado em 25 de março de 1906, sendo o primeiro capelão monsenhor José Gurgel do Amaral. A imagem que ocupa o centro do altar-mor tem uma história de desencontro: o Padre Dantas tinha encomendado a imagem de Nossa Senhora do Carmo em Portugal. Quando a efígie da santa chegou a Fortaleza, ele foi avisado de que deveria pagar os direitos alfandegários para que pudesse recebê-la, o que ele não fez por esquecimento.

Então a imagem foi a leilão, tendo sido arrematada pelo Sr. José Rossas, que procurado pelo padre negou-se a cedê-la por qualquer preço. Dias depois José adoeceu gravemente, e fez uma promessa de entregar a imagem à Igreja caso ficasse curado. Alguns dias depois, mandou que sua esposa procurasse o Pe. Dantas para entregar-lhe a imagem da Virgem Maria, sem qualquer compensação.  A Igreja do Carmo fica na Avenida Duque de Caxias, s/n.




Foram totalmente reconstruídas:


Igreja do Sagrado Coração de Jesus – 1886/1961

imagem Instituto do Ceará
imagem Pinterest

Inaugurada em 25 de março de 1886, a construção da Igreja do Sagrado Coração de Jesus foi uma iniciativa do casal José Francisco da Silva Albano e Liberalina Angélica da Silva Albano (Barão e Baronesa de Aratanha), com o apoio do bispo Dom Luís Antônio dos Santos. Ficou conhecida como Igreja dos Albanos. O templo era simples, em linhas neoclássicas e neogóticas, se assemelhava à Igreja do Carmo.

Em 1952, os engenheiros Luciano Pamplona e Valdir Diogo aumentaram a altura da torre e colocaram um imenso relógio trazido de Roma na fachada. Cinco anos depois, em 1957, a torre cedeu e soterrou a entrada da igreja. Não houve vítimas. Ao invés de reconstruir a igreja, pois apenas a torre fora afetada, os capuchinhos optaram por derrubar toda a igreja para construírem um templo maior, com rampas para subida dos carros, uma torre vazada e uma grande cúpula sobre a nave principal.  A nova igreja foi inaugurada em 1961. Localizada na Avenida Duque de Caxias,135, Centro.



Igreja de São Benedito – 1885




                                                     imagem Arquidiocese de Fortaleza

A inauguração da Igreja de São Benedito ocorreu na manhã do dia 8 de abril de 1885.  Era uma igrejinha pequena, original, com quatro frentes para os quatro pontos cardeais, com torre de madeira envidraçada, situada ao lado oriental do Boulevard do Imperador, atual Avenida do Imperador. No dia 27 de julho de 1938 foi instalado o Santuário da Adoração Perpétua, na Igreja de São Benedito. Depois nos anos 1960 foi construída uma nova igreja na Rua Clarindo de Queirós, que fica ao lado, e o antigo templo foi transformado em uma livraria, e foi demolido em 1974.


Catedral Metropolitana – 1795/1978

imagem Arquivo Nirez


A primeira Igreja da Sé, que tem São José como patrono, foi concluída em 1795 e demolido em 1820.

Em 1854 teve início a construção da segunda igreja de São José, em estilo colonial, o espaço em frente passou a ser chamado de Largo da Matriz; Hoje é conhecida por Praça da Sé. Essa segunda igreja foi demolida em 1938.

A Catedral Metropolitana atual foi inaugurada no dia 22 de dezembro de 1978, tendo o padre Tito Guedes à frente de suas obras e como Arcebispo Metropolitano, Dom Aloísio Lorscheider. Fica na Rua Conde D' Eu. entre as ruas General Bezerril, Dr. João Moreira, Castro e Silva e Rufino de Alencar.

As nossas igrejas são bastante modestas se comparadas aos imponentes templos construídos na Bahia, Pernambuco e Minas Gerais,  sob os ciclos da cana de açúcar e do ouro. A arte do Ciclo do Gado é a mais humilde, toda a sua arquitetura se faz, pela falta da pedra apropriada para a obra, em simples alvenaria, na qual se executa uma ornamentação própria. Nem esculturas, nem cinzeladuras, nem obras de talha, nem ouro, nem mármore e só algumas exibem azulejos.    

 

Fontes:

FONTES, Eduardo. As Pouco Lembradas Igrejas Fortaleza: subsídio à história dos templos católicos de Fortaleza. Fortaleza: Secretaria de Cultura e Desporto, 1983.

BEZERRA DE MENEZES, Antonio. Descrição da Cidade de Fortaleza. Introdução e Notas de Raimundo Girão. UFC/Prefeitura Municipal de Fortaleza, 1992

BARROSO, GUSTAVO. À Margem da História do Ceará. Imprensa Universitária do Ceará,  1962 

quarta-feira, 13 de setembro de 2023

A Criação da Escola Militar de Fortaleza

 

Praça da Bandeira - postal de 1955

A Escola Militar foi fundada a 1° de fevereiro de 1889, e segundo alguns cronistas trouxe à Fortaleza uma das épocas mais agitadas em termos políticos e sociais. Foi instalada inicialmente nos fundos do quartel do 11° Batalhão de Infantaria, atual quartel da 10ª Região Militar. Foram matriculados 700 alunos, entre efetivos e adidos. Como não havia internato, formaram-se várias “repúblicas” espalhadas pela cidade.

Em seguida a escola passou a ocupar o prédio localizado na Avenida Santos Dumont, construído com recursos do Barão de Ibiapaba, que inicialmente seria destinado ao funcionamento de um asilo de mendicidade. Depois de concluído, ficou dois anos abandonado, até ser doado pelo Presidente do Ceará ao Governo Federal para instalação da Escola Militar.

Quando a noite chegava, depois das 21 horas e a cidade sossegava, os cadetes tomavam conta da capital. Praticavam atos absurdos, contra pessoas e contra o patrimônio público. Atacavam moças, agrediam rapazes, consumiam em cafés e restaurantes e não pagavam, invadiam festas particulares e sessões de cinemas, roubavam aves dos quintais das residências, e obrigavam as patrulhas policiais a pegar jumentos nos cercados para realizar suas farras noturnas.

A 16 de novembro daquele ano, ajudaram a proclamar a República no Ceará, que culminou com a deposição do presidente da província, coronel Jerônimo Rodrigues de Moraes Jardim.

Em 1892, dia 16 de fevereiro, fortemente armados, e em companhia de outras forças militares, atacaram o Palácio do governo e depuseram, depois de uma noite de combate, o governador José Clarindo de Queiroz, evento que contabilizou 13 mortes e muitos feridos.

Em 1897 os cadetes organizaram um bloco de carnaval denominado “Clube dos Gaiolas” que sobressaltou a cidade. Composto exclusivamente de alunos da Escola Militar, o clube tinha sede na Rua Senador Pompeu, em prédio ocupado à revelia do proprietário. Roubaram carroças do Passeio Público, sinos das igrejas, cadeiras, caixões para armações de cenários de vários estabelecimentos.

O clube ia sair à rua no domingo. Na véspera começaram a pegar jumentos. A polícia, sabedora que os cadetes iriam exibir carros com críticas às autoridades, exigiu um visto prévio ao desfile. Os cadetes, porém, não deram confiança. E saíram no dia e hora marcados. Indisciplinados e rebeldes, os cadetes faziam o que bem entendiam.

O comandante era o Coronel Siqueira de Menezes, militar de carreira, austero, disciplinador, sendo por isso malvisto pelos alunos. Um dia, resolveram que não iriam subordinar-se mais ao seu comandante, e aclamaram em seu lugar no comando da escola, o major Faustino. Em seguida, telegrafaram ao presidente da República, que concordou com a mudança, e ordenou a Siqueira de Menezes que retornasse ao Rio de Janeiro, então capital federal. E assim os rapazes da Escola Militar tiveram sua vitória, e seguiram com sua trajetória de vandalismo com maior intensidade, alarmando os pacatos fortalezenses, que acordavam sobressaltados à espera de mais alguma travessura que normalmente terminava com grandes prejuízos para alguém.

1930 - imagem Internet

imagem: mapa cultural de Fortaleza

A Escola Militar de Fortaleza foi extinta pela lei Geral 463, de 25 de novembro de 1897. O prédio que ocupavam, abrigou diversas instituições a partir de 1898, como o Colégio Nossa Senhora de Lourdes, a Força Pública do Estado, e o 9º Regimento de Artilharia Montada que ficou até 1919.

Com a criação do Colégio Militar o prédio lhe foi entregue, e em 1938, foi transformado em Colégio Floriano, ficando ali até 1941.

Em 1942, foi criada a Escola Preparatória de Fortaleza, que foi extinta em 1961, quando foi restabelecido o Colégio Militar que reiniciou suas atividades em 1962.


Fontes:

Raimundo de Menezes – Coisas que o Tempo Levou: crônicas históricas da Fortaleza Antiga

Antônio Bezerra de Menezes – Descrição da Cidade de Fortaleza