quarta-feira, 13 de setembro de 2023

A Criação da Escola Militar de Fortaleza

 

Praça da Bandeira - postal de 1955

A Escola Militar foi fundada a 1° de fevereiro de 1889, e segundo alguns cronistas trouxe à Fortaleza uma das épocas mais agitadas em termos políticos e sociais. Foi instalada inicialmente nos fundos do quartel do 11° Batalhão de Infantaria, atual quartel da 10ª Região Militar. Foram matriculados 700 alunos, entre efetivos e adidos. Como não havia internato, formaram-se várias “repúblicas” espalhadas pela cidade.

Em seguida a escola passou a ocupar o prédio localizado na Avenida Santos Dumont, construído com recursos do Barão de Ibiapaba, que inicialmente seria destinado ao funcionamento de um asilo de mendicidade. Depois de concluído, ficou dois anos abandonado, até ser doado pelo Presidente do Ceará ao Governo Federal para instalação da Escola Militar.

Quando a noite chegava, depois das 21 horas e a cidade sossegava, os cadetes tomavam conta da capital. Praticavam atos absurdos, contra pessoas e contra o patrimônio público. Atacavam moças, agrediam rapazes, consumiam em cafés e restaurantes e não pagavam, invadiam festas particulares e sessões de cinemas, roubavam aves dos quintais das residências, e obrigavam as patrulhas policiais a pegar jumentos nos cercados para realizar suas farras noturnas.

A 16 de novembro daquele ano, ajudaram a proclamar a República no Ceará, que culminou com a deposição do presidente da província, coronel Jerônimo Rodrigues de Moraes Jardim.

Em 1892, dia 16 de fevereiro, fortemente armados, e em companhia de outras forças militares, atacaram o Palácio do governo e depuseram, depois de uma noite de combate, o governador José Clarindo de Queiroz, evento que contabilizou 13 mortes e muitos feridos.

Em 1897 os cadetes organizaram um bloco de carnaval denominado “Clube dos Gaiolas” que sobressaltou a cidade. Composto exclusivamente de alunos da Escola Militar, o clube tinha sede na Rua Senador Pompeu, em prédio ocupado à revelia do proprietário. Roubaram carroças do Passeio Público, sinos das igrejas, cadeiras, caixões para armações de cenários de vários estabelecimentos.

O clube ia sair à rua no domingo. Na véspera começaram a pegar jumentos. A polícia, sabedora que os cadetes iriam exibir carros com críticas às autoridades, exigiu um visto prévio ao desfile. Os cadetes, porém, não deram confiança. E saíram no dia e hora marcados. Indisciplinados e rebeldes, os cadetes faziam o que bem entendiam.

O comandante era o Coronel Siqueira de Menezes, militar de carreira, austero, disciplinador, sendo por isso malvisto pelos alunos. Um dia, resolveram que não iriam subordinar-se mais ao seu comandante, e aclamaram em seu lugar no comando da escola, o major Faustino. Em seguida, telegrafaram ao presidente da República, que concordou com a mudança, e ordenou a Siqueira de Menezes que retornasse ao Rio de Janeiro, então capital federal. E assim os rapazes da Escola Militar tiveram sua vitória, e seguiram com sua trajetória de vandalismo com maior intensidade, alarmando os pacatos fortalezenses, que acordavam sobressaltados à espera de mais alguma travessura que normalmente terminava com grandes prejuízos para alguém.

1930 - imagem Internet

imagem: mapa cultural de Fortaleza

A Escola Militar de Fortaleza foi extinta pela lei Geral 463, de 25 de novembro de 1897. O prédio que ocupavam, abrigou diversas instituições a partir de 1898, como o Colégio Nossa Senhora de Lourdes, a Força Pública do Estado, e o 9º Regimento de Artilharia Montada que ficou até 1919.

Com a criação do Colégio Militar o prédio lhe foi entregue, e em 1938, foi transformado em Colégio Floriano, ficando ali até 1941.

Em 1942, foi criada a Escola Preparatória de Fortaleza, que foi extinta em 1961, quando foi restabelecido o Colégio Militar que reiniciou suas atividades em 1962.


Fontes:

Raimundo de Menezes – Coisas que o Tempo Levou: crônicas históricas da Fortaleza Antiga

Antônio Bezerra de Menezes – Descrição da Cidade de Fortaleza

   

Um comentário:

Anônimo disse...
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