Belle Époque é o termo em francês que expressa a
euforia de setores sociais urbanos com as invenções e descobertas científicas e
tecnológicas decorrentes da Segunda Revolução Industrial (1850-1870) e demais
novidades, modas e produções artístico-culturais ocorridas entre 1880 e 1918,
ano que marcou o fim da Primeira Guerra na Europa; no Brasil, a belle époque se estendeu até
os anos1920.
O surgimento vertiginoso nesse período de máquinas e
inovações fantásticas como o automóvel, o cinema, o telefone, a eletricidade e
o avião, causou furor e o culto à ciência e ao progresso. Trata-se, portanto,
de uma época de intensas transformações que afetaram a economia e a política, e
alteraram de maneira profunda o modo de viver, perceber e sentir.
Inglaterra e França foram os principais centros
produtores desses novos objetos, valores e padrões que irradiaram mundialmente
atingindo sobretudo as cidades. Não escaparam a esse processo, os principais
centros urbanos brasileiros, que respaldados pelo crescimento advindo da
exportação de matérias primas e objetivado por uma nova geração de políticos e
de agentes do saber, foram remodelados tendo como referência a modernização
urbana da Europa.
Remodelar cidades e sociedades compreendia introduzir
equipamentos e serviços urbanos modernos, introduzir noções de higiene,
trabalho, beleza e progresso, eliminar os focos naturais de insalubridade e
disciplinar o grande contingente de miseráveis, vadios, loucos – estigmatizados
como a horda de bárbaros que colocavam em perigo a constituição de uma
nova ordem social modernizante e excludente.Foi assim que Fortaleza foi preparada para viver a belle époque. A época, portanto, só foi bela para as elites e
parcelas sociais médias; para os pobres foi um tempo de vigilância,
controle de hábitos e confinamento de corpos.
O processo remodelador que
significou a inserção de Fortaleza, teve como base econômica as exportações
de Algodão, através do seu porto a partir da década de 1860. Daí em diante Fortaleza
acumulou capital, expandindo-se em todos os sentidos – comercial, populacional,
espacial, cultural, etc – e tornou-se ainda no final do século XIX, o principal
centro urbano do Ceará e um dos primeiros do Brasil. Empolgados com esse
crescimento, a burguesia enriquecida com as vendas do algodão, negociantes
estrangeiros radicados na cidade, médicos e demais elites políticas e
intelectuais, procuraram modernizar a cidade por meio de reformas e
empreendimentos que a alinhasse aos padrões materiais e estéticos de grandes metrópoles
ocidentais.
Isso posto, Fortaleza inicia sua belle époque na
década de 1880, absorvendo com rapidez algumas inovações que acabavam de
despontar nos centros de referência, o que demonstra o estreito convívio que a
capital tinha com a Europa.
Dessa forma, ainda nos anos 80 foram instalados
equipamentos nunca vistos na cidade e que causaram a maior sensação: bondes e
Passeio Público (1880); fotografia, telégrafo submarino, ligando Fortaleza ao
Sul do País e à Europa (1882); telefone (1883); e cafés afrancesados na Praça
do Ferreira. Além disso surgiu o Clube Iracema (o segundo clube elegante da
Cidade) e a abolição da escravatura (1884); o Asilo da Parangaba (1886), para
confinar os loucos e o Asilo de Mendicidade, para enclausurar os idosos pobres.
Dos equipamentos cabe destacar o Passeio
Público, por ter sido projetado por ser o lugar, por excelência, da fruição
daqueles belos tempos da cidade. Nenhum outro logradouro de Fortaleza era tão belo, tão
confortável, tão iluminado – tinha vista para o mar, bancos, coreto, jardins,
lagos artificiais, estátuas de figuras mitológicas, árvores frondosas e grades.
Era um éden a servir de passarela para o desfile de elegantes e palco para o exercício
de uma sociabilidade europeizada. Não era à toa que o Passeio Público ficava
lotado às quintas e domingos, dias em que as bandas tocavam. Assim era o primeiro plano, inaugurado e logo
ocupado pelas elites. Pouco depois construíram no declive da encosta o segundo
e o terceiro planos, não tão ornamentados como o primeiro, e que acabaram sendo
utilizados, respectivamente, pelas camadas médias e populares.
Na década seguinte, as fascinantes novidades
continuaram a chegar, trazidas pelos quatro navios que vinham mensalmente da
Europa: o fonógrafo, em 1891, o kinetoscópio (que fazia fotografia em
movimento, precursor do cinema), e o Mercado de Ferro em 1897, todo em
art-nouveau – estilo bastante enfeitado que reinou absoluto durante a belle époque.
Enquanto isso as ruas se enchiam de sobrados, palacetes e mansões que
completavam os adornos do novo perfil da então intitulada “princesa do Norte”.
Mal começou o tão aguardado século XX, as principais praças – a do Ferreira, a Marquês do Herval (atual José de Alencar) e a da Sé – sofreram intervenções estéticas entre 1902 e 1903, recebendo amplos jardins com gradis e adornos semelhantes ao Passeio Público. Por ser o coração da cidade, a Praça do Ferreira já vinha sendo aformoseada desde os anos 1880 com a construção de quatro cafés à feição de chalés franceses nos cantos do logradouro.
Boêmios e janotas deviam sentir-se como que em Paris enquanto sentavam nas mesas ao ar livre desses cafés e contemplavam fascinados o belo jardim do centro da praça e, no entorno, o surgimento na cidade da loja Maison Art-Nouveau, do Cinematógrafo Parisiense (1907) do automóvel (1909) e dos bondes, passando de tração animal a elétricos (1914).
Fonte: Fortaleza Belle Époque -1880-1925, de Tião
Pontes
fotos Arquivo Nirez e do livro Ah, Fortaleza!
fotos Arquivo Nirez e do livro Ah, Fortaleza!