domingo, 29 de dezembro de 2024

Capela de Santa Teresinha, na Avenida Leste-Oeste (avenida Presidente Castelo Branco)

 

Capela de Santa Teresinha

e seu vizinho Hotel Marina Park 

É um templo de aparência modesta, localizado na Avenida Leste-Oeste, nas imediações de um empreendimento turístico de grande porte, o que já representou uma ameaça à sua permanência. A capela dedicada à Santa Teresinha foi construída entre 1926 e 1928, no antigo Arraial Moura Brasil, onde outrora, em tempos de estiagem severa, funcionou um campo de concentração de flagelados da seca.

Os campos de concentração foram criados em períodos de seca, quando um grande contingente de sertanejos, fugindo da miséria absoluta de suas localidades, invadia a capital em busca de condições mínimas de vida. Temia-se a repetição dos acontecimentos de 1877, quando Fortaleza transformou-se na capital do desespero: de 21 mil habitantes pelo censo de 1872, passou a ter 130 mil. Uma multidão de miseráveis, em busca de alimentos, trabalho, teto, remédios e assistência social. A economia da província, já abalada pela crise do algodão, entrou em colapso de vez.

Aquelas invasões incomodavam os moradores, pois dizia-se que  traziam consigo, doenças, desordens e maus hábitos; os jornais da época davam conta do temor dos comerciantes, com possíveis saques e assaltos. Para manter os retirantes em seus lugares de origem e evitar que alcançassem Fortaleza ou outras grandes cidades do interior, as autoridades construíram esses chamados “campos de concentração”, acampamentos murados ou cercados com arame farpado, onde as pessoas eram confinadas, uma experiência que começou a ser posta em prática em 1915, no Alagadiço.

Passado o período mais crítico da pós-estiagem, muitos retornaram para suas casas, suas cidades de origem ou migraram para outros Estados. Mas boa parte dos ocupantes do campo de concentração permaneceu na área, e se expandiu ocupando a região que hoje compreende o Pirambu, e o bairro Moura Brasil.

Com o apoio da igreja católica, e a ajuda dos moradores, a capela foi construída entre os casebres, refúgio de oração e de convivência da comunidade. Mas o progresso chegou e alcançou a área onde estava a capela de Santa Teresinha. No início dos anos 70, foi decidida que seria construída uma avenida à beira-mar que ligaria a Barra do Ceará à zona portuária do Mucuripe, a atual Avenida Leste-Oeste. No projeto, por estarem no caminho da obra, havia a previsão de remoção de grande parte dos moradores, e a demolição do templo.


Início da construção da Avenida Leste-Oeste

O projeto vingou em parte. A maioria da comunidade foi efetivamente removida, mas a capela de Santa Teresinha permaneceu, por conta de manifestações contrárias à demolição e protestos populares. Outra tentativa de demolição da capela ocorreu algum tempo depois, em 1984, com a execução do projeto do Hotel Marina Park.  Como compensação, foi proposta a construção de outra igreja, mais moderna, apta a receber não apenas os moradores do bairro, mas pessoas de diferentes áreas da cidade. O projeto ganhou simpatias e teve o apoio da Paróquia a que estava subordinado o templo. À época, as atividades da Capela de Santa Terezinha estavam parcialmente suspensas, em virtude das obras do hotel que estava sendo construído no seu entorno.


Traçado da Avenida Leste-Oeste em 1974

Novamente os protestos não permitiram a demolição. Para garantir a manutenção e para evitar novas especulações, a Capela de Santa Terezinha foi tombada como patrimônio histórico do Município através da Lei 6087 de 09 de junho de 1986.  Em cumprimento da promessa feito pelo empreendimento hoteleiro, uma nova igreja foi construída e inaugurada em 1995, a Igreja de Santa Edwiges, na Avenida Leste-Oeste, a alguns metros da capela de Santa Teresinha.

Mas capela de Santa Teresinha ficou abandonada por anos, invadida por marginais e servindo de esconderijo de infratores da lei, até ser resgatada e recuperada pela Prefeitura de Fortaleza e várias entidades privadas. Foi reaberta à visitação pública em 13 de dezembro de 2012.    


consultados: Fortaleza, uma breve História/Artur Bruno e Airton de Farias/Revista porque Reportar - O Povo/Fotos Fortaleza em Fotos/O Povo e Pinterest  


  

segunda-feira, 23 de dezembro de 2024

A Criação da Universidade no Ceará

 

reitor Antônio Martins Filho

No ano de 1944 o médico cearense Dr. Antônio Xavier de Oliveira, encaminhou ao Ministério da Educação e Saúde, um relatório sobre a federalização da Faculdade de Direito do Ceará. No mesmo documento foi mencionada a ideia de criação de uma universidade com sede em Fortaleza, sendo esta a primeira vez que o assunto foi levantado em um documento oficial.

Três anos depois, em 1947, a cidade recebeu a visita do então Ministro da Educação, professor Clemente Mariani. Recepcionado na Faculdade de Direito, fez ali um pronunciamento em favor da solicitação da comunidade, através de um documento com dez mil assinaturas, que pleiteava uma universidade para o Ceará.


Escola de Agronomia

A Universidade do Ceará foi criada oficialmente no dia 16 de dezembro de 1954, através da lei 2.373, sancionada pelo presidente Café Filho, na gestão do governador Paulo Sarasate. O primeiro reitor, escolhido por meio de uma lista tríplice, foi o professor Antônio Martins Filho, por ato publicado no Diário Oficial em 18 de maio de 1955.

A reitoria foi instalada provisoriamente em uma sala pequena, com aproximadamente 22 metros quadrados, no pavimento térreo da Faculdade de Direito, na atual praça Clóvis Beviláqua, antiga Praça da Bandeira.

Finalmente, no dia 25 de junho de 1955, foi efetivamente realizada a Assembleia Universitária para a instalação oficial da universidade, com a presença de representantes da Presidência da República e do Ministro da Educação, além do governador Paulo Sarasate, do arcebispo metropolitano de Fortaleza Dom Antônio de Almeida Lustosa, professores universitários e do reitor Martins Filho.


Faculdade de Direito

Quatro meses depois da instalação oficial, a Universidade teve efetivamente a sua sede, em razão do aluguel de um imóvel situado à Rua Senador Pompeu, 1613, na então Praça da Bandeira, hoje Clóvis Beviláqua, nas proximidades da Faculdade de Direito. Eram tempos difíceis, as instalações eram precárias e as condições de trabalho eram adversas devido à escassez de recursos materiais e financeiros.

Mas a Reitoria só ficou no imóvel por um semestre, uma vez que já se encontravam em curso as negociações para a compra de um prédio de propriedade da Imobiliária José Gentil, no caso, um palacete no Benfica, antiga residência do banqueiro José Gentil, àquela altura em posse de herdeiros. 


Faculdade de Farmácia e Odontologia

A universidade nasceu já com três unidades federais: a Faculdade de Direito, a Faculdade de Farmácia e Odontologia do Ceará, ambas mantidas pelo Ministério da Educação e Cultura, e a Escola de Agronomia, que até então era vinculada ao Ministério da Agricultura. Mais tarde, foi federalizada e incorporada à universidade a Faculdade de Medicina, que já funcionava como um estabelecimento de ensino superior, mantido por uma entidade de direito privado.


Faculdade de Medicina

A Faculdade de Engenharia, criada pela Lei nº 2,383, de 3 de janeiro de 1955, deveria ser incorporada à Universidade, uma vez que não se compreenderia seu funcionamento como estabelecimento de ensino superior isolado, dada sua condição de instituto mantido pelo Governo Federal. Recebeu a denominação de Escola de Engenharia.

 O primeiro diretor foi o engenheiro Antônio Pinheiro Filho, professor catedrático da Escola de Engenharia de Ouro Preto. O prédio que serviu de sede para a Escola de Engenharia, localizado no Benfica, foi adquirido ao comerciante José Thomé de Saboya e Silva.

No início de 1956, após sucessivos entendimentos com o Sr. João Gentil, diretor-presidente da Imobiliária José Gentil, foi concluída a compra do palacete José Gentil, adquirida com todos os móveis, troféus e adornos existentes na antiga residência. O valor pago foi de 500 Mil Cruzeiros. Depois de reformada e ampliada, a nova sede da Reitoria foi inaugurada no dia 25 de junho de 1956.

Durante o ano de 1956, outros estabelecimentos isolados passaram a compor a Universidade federal mediante agregação, como a Faculdade de Ciências Econômicas do Ceará, mantida pelo Governo do Estado; Escola de Serviço Social, do Instituto Social de Fortaleza; e Escola de Enfermagem São Vicente de Paulo, da Província Brasileira das Filhas de Caridade de São Vicente de Paulo.

Até a metade dos anos 1940, a Universidade do Ceará era só uma ideia na cabeça de alguns professores, especialmente da Faculdade de Direito, que sonhavam com a instalação de um estabelecimento de ensino superior, público e gratuito, dedicado à pesquisa científica e que contribuísse efetivamente para a melhoria da qualidade de vida dos cearenses.


Decorridos 70 anos desde a sua criação, a Universidade do Ceará, depois denominada Universidade Federal do Ceará, é considerada a melhor instituição do gênero em todo Norte e Nordeste. Na UFC são ofertados 123 cursos de graduação (incluindo 10 cursos à distância) e 153 de pós-graduação, sendo 82 mestrados, 51 doutorados e 20 especializações.

Na graduação, as vagas de todos os cursos, com exceção de Letras-Libras, são ofertadas no Sistema de Seleção Unificada (SISU), do governo federal. Trata-se da principal forma de ingresso na UFC. Para concorrer a uma das vagas, é necessário ter participado do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) em sua edição mais recente.

Conta com três campi em Fortaleza (Benfica, Pici e Porangabuçu), e em algumas cidades no interior do Ceará, como Crateús, Quixadá, Russas, Itapajé e Sobral, atuando no desenvolvimento socioeconômico dessas regiões.


Fontes: O Outro Lado da História/Antônio Martins Filho/Edições Universidade Federal do Ceará, 1983. Portal da UFC/Instituto do Ceará. Fotos Memorial da UFC/Arquivo Nirez/IBGE/Publicação Fortaleza e Fotos.