terça-feira, 29 de setembro de 2009

Santa Casa da Misericórdia de Fortaleza

Edificio da Santa Casa da Misericórdia na rua Barão do Rio Branco, de frente para o Passeio Público


A instituição surgiu em Lisboa, no ano de 1498, por iniciativa de frei Miguel de Contreiras, confessor da rainha Leonor, esposa do rei Dom João II. Daí surgiu a Irmandade da Misericórdia, que passaria a cuidar de pessoas doentes e necessitadas.

Com a expansão do domínio português, a irmandade foi sendo implantada nas novas terras conquistadas. Foi trazida para o Brasil em 1540, com a Santa Casa da Misericórdia de Santos. Depois vieram a de Vitória-ES (1545), a de Porto seguro- BA e a de Olinda-PE (1560), a do Rio de Janeiro - RJ (1582).

A Irmandade da Misericórdia gozava de grande prestígio durante o império, seus membros participavam de vários privilégios, tinham poder político e opinavam em vários assuntos ligados a cidade. Eram identificados pelo uso de uma capa preta e a sua bandeira era olhada com grande respeito pela sociedade.

Enquanto as Santas Casas se espalhavam pelo Brasil, a do Ceará só se instalou 300 anos depois da Santa Casa de Santos. Preocupado com as conseqüências da seca de 1845, que deixara grande número de pessoas doentes e sem tratamento, o presidente da província Cel. Inácio Correia de Vasconcelos, tomou a iniciativa de construir o que ele chamou de Hospital da Caridade.

Mas o presidente foi exonerado em julho de 1847 e as obras foram paralisadas, pois seu sucessor, Casemiro José Morais Sarmento, preferiu investir na construção de um cemitério no Morro do Croatá, que recebeu o nome de São Casemiro, em homenagem ao fundador. (O cemitério de São Casemiro ficava na atual Praça Castro Carrero, mais conhecida por Praça da Estação).

Somente em 1854 as obras foram retomadas. Na época, todo o estado do Ceará havia sido atingido por uma epidemia de cólera, que devastou a população. O então presidente Padre Vicente Pires da Mota, com o apoio de pessoas de posses, resolveu retomar as obras do Hospital da Caridade. Entregou a direção da construção ao Boticário Ferreira, que era intendente da cidade e realizara um excelente trabalho na urbanização de Fortaleza.

O prédio ficou pronto em 1857 no mesmo local onde funciona até hoje a Santa Casa, que tinha o nome de Largo da Pólvora, por causa da existência de um paiol; depois que o paiol foi retirado, passou a chamar-se Largo da Misericórdia, e por fim, Praça dos Mártires.
A construção foi concluída, mas não iniciou o funcionamento porque não havia pessoal treinado para trabalhar no hospital.

O Hospital da Caridade, mais tarde, Santa Casa da misericórdia. O 2° andar só foi construído em 1920
Foto Arquivo NIREZ

Em 07 de outubro de 1859, o presidente Antonio Marcelino Nunes Gonçalves decidiu organizar a Irmandade da Misericórdia em Fortaleza, processo que durou até 1861. A Partir daí, o Hospital da Caridade passou a denominar-se Santa Casa da Misericórdia de Fortaleza, tendo como mantenedora a irmandade beneficente da Santa Casa da Misericórdia de Fortaleza.

A Santa Casa da Misericórdia funciona na Rua Barão do Rio Branco, n° 20, Centro de Fortaleza, e atende em torno de 13 mil pessoas por mês. O hospital também trabalha com atendimento a preços populares.
Uma consulta para não segurados dos SUS custa R$ 15,00.

Fontes:
Sucupira, Luis. Origem e Desenvolvimento da Santa Casa de Fortaleza. Revista do Instituto Histórico do Ceará. Tomo XCIX, 1985. Pg. 212-220.
http://www.santacasace.org.br/

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Fortaleza e o aquecimento local

Praia de Iracema

Nos últimos 30 anos, a temperatura média histórica de Fortaleza aumentou em 0,5 graus Celsius. A mudança pode não estar ligada diretamente ao aquecimento global e à queima de gases de efeito estufa, mas é atribuída ao desenvolvimento descontrolado da cidade, ao aumento da área asfaltada, à ocupação da orla e a interferências no regime de ventos.
Mesmo não estando diretamente associadas com o aumento da temperatura do planeta, as mudanças locais podem afetar fenômenos naturais no Ceará. Futuramente, se as tendências se confirmarem, os ventos fortes podem mudar de período, as chuvas tendem a diminuir em até 30% e as secas acontecerão com mais freqüência.
Quanto maior o aumento da temperatura, mais irregularidades haverá no clima e na ocorrência de chuvas, explica o coordenador da Área de Satélites e Radar da Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme), Raul Fritz Teixeira. Ele afirma ainda que, se as tendências se sustentarem, as secas aumentarão no Nordeste e na Amazônia.
Como informa o físico, o prognóstico mundial é que até 2100 a temperatura do planeta se eleve em até seis graus Celsius e o nível do mar, em 80 centímetros. "Isso causará derretimento das calotas polares", observa. Até 2000, o aumento havia sido de 10 centímetros.
Em Fortaleza, a temperatura média gira em torno de 27 a 28 graus Celsius. Porém, não raramente a sensação de calor sugere que o índice seja maior. Mas não é. É que essa sensação depende muito do vento e da umidade do ar. Exemplo disso é que, se a temperatura local for de 29 graus; a umidade, de 70%; e a velocidade do vento, de 12,5 a 21,5 quilômetros por hora, a sensação térmica equivale a 32 graus.
Portanto, o calor de que todos reclamam não é tanto dos 0,5 graus a mais, mas da sensação térmica elevada.
Estudo realizado pela EMBRAPA em 2004 revela que a temperatura média histórica de Fortaleza que até 1966 era de 26,9° Celsius, passou para 27,3° em 2003.


Fontes:
Jornal Diário do Nordeste, 29 de Junho de 2006
Dados climatológicos: Estação de Fortaleza, 2003. / Maria de Jesus
Nogueira Aguiar... [et al.] - Fortaleza : Embrapa Agroindústria
Tropical, 2004
.

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

O Relatório Brundtland (Nosso Futuro Comum)

O relatório Brundtland já em 1987, alertava para o aquecimento global, problema que, à época não era objeto de discussão.
Em 1983 foi criada por iniciativa da ONU, a Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, para avaliar os avanços dos processos de degradação do meio ambiente e as políticas ambientais vigentes. A decisão de criar a Comissão ocorreu após uma avaliação dos 10 anos da Conferência de Estocolmo, com objetivo de promover audiências em todo mundo e produzir um resultado formal das discussões.
Somente quatro anos após, em 1987, a comissão publicou suas conclusões num documento intitulado “Nosso Futuro Comum” também conhecido como Relatório Brundtland.
O documento ficou conhecido por esse nome porque a Comissão era presidida por Gro Harlem Brundtland, então primeira-ministra da Noruega.
O Relatório Brundtland apontou para a incompatibilidade entre o desenvolvimento sustentável e os padrões de produção e consumo vigentes;
reconheceu as disparidades entre as Nações e a forma como se agravaram com a questão da dívida dos países pobres;
profetizou problemas ambientais como o aquecimento global e a destruição da camada de ozônio, que eram conceitos novos para a época;
expressou preocupação em relação a velocidade das mudanças estar excedendo a capacidade das disciplinas cientificas e das habilidades humanas de avaliar e propor soluções.
Também apresentava uma lista de ações a serem tomadas pelos Estados e definia metas a serem realizadas no nível internacional, tendo como agentes as diversas instituições multilaterais.
Entre as medidas apontadas pelo relatório, constam
a diminuição do consumo de energia,
a preservação dos ecossistemas e da biodiversidade,
o controle da urbanização desordenada,
o desenvolvimento de tecnologias para uso de fontes energéticas renováveis, e
o aumento da produção industrial nos países não-industrializados com base em tecnologias ecologicamente adaptadas.
O Relatório Brundtland busca um terreno comum onde propor medidas de consenso, capaz de reduzir as diferentes visões e interesses dos países na questão do desenvolvimento. O modelo também não sugere a estagnação do crescimento econômico, mas sua conciliação com as questões ambientais e sociais.
Teve como uma de suas principais recomendações a realização de uma conferência mundial para direcionar os assuntos ambientais – o que culminou com a Rio-92.
Nesse relatório foi cunhada a clássica definição de desenvolvimento sustentável: o desenvolvimento que atende às necessidades das gerações atuais sem comprometer a capacidade de as futuras gerações terem suas próprias necessidades atendidas.

Fontes:
LEFF, Enrique. Saber Ambiental: Sustentabilidade, Racionalidade, Complexidade, Poder.
Petrópolis: Editora Vozes, 1998.
NOSSO FUTURO COMUM. Relatório da Comissão Mundial sobre Meio ambiente e
Desenvolvimento. 2ª. Ed. Rio de Janeiro: FVG, 1991.

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

A Conferência de Estocolmo

cidade de Cubatão na década de 80: o lugar mais poluído do mundo

No ano de 1972, representantes de governos de 113 países reuniram-se em
Estocolmo, na Suécia, para a primeira Conferência Mundial das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente.
A Conferência de Estocolmo foi o primeiro marco da ONU, no trato das questões ambientais. A partir desse evento a segurança ecológica passou a ser o seu quarto objetivo principal. Até então as preocupações do órgão estavam restritas à paz mundial, aos direitos humanos e ao desenvolvimento eqüitativo.
Na década de 1970, o mundo vivia o auge da guerra fria. Os países socialistas ligadas à hoje extinta União Soviética não compareceram ao evento, boicotaram a conferência em solidariedade à Alemanha Oriental, cuja participação fora vetada pela ONU.
Sem a presença dos países socialistas, o principal embate do encontro de Estocolmo ocorreu entre os países desenvolvidos do hemisfério Norte e os países subdesenvolvidos do Sul.
Os primeiros preocupados com a poluição industrial, a escassez de recursos naturais, a degradação ambiental e outros problemas decorrentes dos seus processos de desenvolvimento; os segundos, com a pobreza e a perspectiva de se desenvolverem nos moldes que eram até então conhecidos.
A posição do Brasil foi a de defender o desenvolvimento a qualquer custo e não reconhecer a gravidade dos problemas ambientais. O Governo do Brasil defendia que para se chegar a um nível de desenvolvimento adequado não se podia poupar qualquer esforço para alcançá-lo. Alegava, ainda, que a maior poluição era a nossa pobreza.
A postura brasileira deveu-se a pelo menos a dois fatores:
primeiro devido ao fato de o país ter um projeto de combate à pobreza, através do crescimento econômico, amparado na industrialização e na expansão de fronteiras agrícolas, nos mesmos moldes que estavam sendo questionados na Conferência.
Em segundo lugar, porque o Brasil encontrava-se se sob uma ditadura militar, e o
governo brasileiro temia que a questão ambiental pudesse servir de veículo para interferência da ONU em assuntos internos.
No ano da Conferência de Estocolmo, o Brasil era comandado pelo General Emilio Garrastazu Médici (1969-1974), cujo governo ficou conhecido como “os anos negros da ditadura”.
O objetivo maior da Conferencia de Estocolmo era encorajar a ação governamental e de organismos internacionais, bem como oferecer diretrizes para a proteção e aprimoramento do meio ambiente humano mediante cooperação internacional.
Incluiu entre seus temas para discussão, o crescimento populacional, a necessidade de crescimento econômico, principalmente dos países em desenvolvimento, e a conservação do meio ambiente, trazendo uma nova percepção sobre uso dos recursos naturais.
Os debates giraram em torno da constatação de que o modelo tradicional de
crescimento econômico levaria ao esgotamento completo dos recursos naturais, pondo em
risco a própria sobrevivência do planeta.
O principal documento da Conferência foi a “Declaração sobre o Ambiente Humano” conhecido como Declaração de Estocolmo, defendendo que tanto as gerações
presentes como as futuras tenham reconhecido como direito fundamental, a vida num
ambiente sadio e não degradado.
A Declaração de Estocolmo incluiu alguns princípios destinados às necessidades
especiais dos países do terceiro mundo: reafirmava a soberania e o direito dos países de
explorarem seus próprios recursos; no caso de dúvida, o desenvolvimento econômico tinha
prioridade sobre a proteção ambiental.
Essas atenuantes deram margem para os países tratarem as questões ambientais
como bem entendessem. Além do mais a Declaração de Estocolmo não era de caráter
vinculante, ou seja, não obrigava os países legalmente.
No mesmo ano da Conferência de Estocolmo, foi publicado o estudo do Clube de
Roma intitulado “Limites do Crescimento”. O documento alerta para os riscos de um
crescimento exponencial do consumo dos recursos naturais, bem como da população mundial.
O trabalho do Clube de Roma colocou a questão ambiental num novo patamar técnico e político, apesar de todas as distorções que uma abordagem excessivamente global pode apresentar, apesar das criticas e da grande controvérsia gerada pelo documento.
Apesar das divergências, a Conferência de 1972 representou um avanço nas negociações entre países na discussão dos problemas relacionados às questões desenvolvimento econômico e preservação ambiental. O Brasil firmou sem restrições a Declaração de Estocolmo. No ano seguinte o governo brasileiro assinou um decreto instituindo a Secretaria Especial de Meio Ambiente, que iniciou suas atividades em janeiro de 1974.
O dia 5 de junho, que marcou o início dos trabalhos da Conferência, foi oficializado pela ONU como o Dia Mundial do Meio Ambiente.


Bibliografia
AMARAL, Weber A. N. do et al. Políticas Públicas em Biodiversidade: Conservação e Uso Sustentado no País da Megadiversidade. International Studies on Law and Education. EDF - Dep. de Filosofia e Ciências da Educação da Faculdade de Educação da USP. São Paulo: Editora Mandruvá, 1999.
BARBIERI, José Carlos. Desenvolvimento e Meio Ambiente: as Estratégias de Mudanças da Agenda 21. Petrópolis, RJ: Vozes, 1997.
BUARQUE, Sérgio C. Desenvolvimento Sustentável: conceitos e desafios. BAHIA, Análise & Dados. Salvador. SEI. V 6 n° 2, p.5-15 Set /96.
GADOTTI, Moacir. Agenda 21 e Carta da Terra. Disponível em Acesso em 15.06.2006

KÜSTER, Ângela. Democracia e Sustentabilidade. Experiências no Ceará, Nordeste do
Brasil. (Tradução e Revisão: Tito Lívio Crus Romão). Fortaleza: Expressão Gráfica e Editora,2003. 230p.
NOGUEIRA NETO, Paulo. Conferência de Estocolmo. Ministério das Relações Exteriores. Disponível em

Acesso em 02.07.2006.

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Imóveis antigos e suas histórias II

O requinte e o luxo das residências também ocorriam nos imóveis destinados ao comércio.
Palacete Ceara, conhecido popularmente como “Rotisserie. (foto Marciano Lopes
Em 1914 o banqueiro José Gentil Alves de Carvalho contratou a firma Rodolfo F. da Silva & Filho para construir o Palacete Ceará, um projeto de João Sabóia Barbosa. Por muitos anos o prédio abrigou no seu andar térreo o Rotisserie Sportman , restaurante, sorveteria, café e casa de chá, e na parte superior, o aristocrático Clube Iracema.
Palacete Ceará após a restauração
Em 1922 o palacete foi ampliado em dois blocos pelo lado da rua Floriano Peixoto e o Rotisserie instalou um salão de bilhares. Em 1955 a Caixa Econômica comprou o Palacete Ceará
Em 1982 o prédio foi destruído por um grande incêndio, restando apenas sua fachada. Chegaram a planejar sua demolição para levantar um prédio moderno, mas diante dos protestos de vários segmentos da sociedade, os dirigentes da Caixa reconsideraram e o Palacete Ceará foi reconstruído. 
Fica localizado na rua Floriano Peixoto na Praça do Ferreira.

Fachada do Cine Moderno. foto arquivo Marciano Lopes)
O Cine Moderno tinha uma fachada com duas torres e uma marquise de vitral que sugeria uma cauda de pavão. Sua sala de espera era um monumento “art-Nouveau” em madeiras lavradas e entalhadas, espelhos bisotés e sofás de couro negro.
Foi inaugurado em 7 de setembro de 1921, na rua Major Facundo, 594, na Praça do Ferreira, e era propriedade do grupo Severiano Ribeiro. A sala de projeção ficava de frente para a rua, e tinha 709 poltronas também de couro preto. 
Foi o primeiro cinema a adotar a sonorização, com o filme Broadway Melody, em 1930. O Cine Moderno foi fechado em 21.05.1968 e o prédio foi vendido para o grupo Edson Queiros.

fontes:
Lopes, Marciano.Royal Briar: A Fortaleza dos anos 40. Fortaleza: ABC, Coleção Nostalgia, 1996
Azevedo, Miguel Ângelo de (NIREZ). Cronologia Ilustrada de Fortaleza:roteiro para um turismo histórico e cultural. Fortaleza: Banco do Nordeste, 2001.

Imóveis antigos e suas histórias III

Na Fortaleza do inicio do Século XX, boa parte dos palacetes e mansões existentes na cidade eram réplicas de imóveis europeus. Os ricos proprietários viam as fachadas por lá e reproduziam aqui. O material da construção também era importado: telhas de Marselha; ardósia importada da França; da Inglaterra vinham as louças sanitárias; Portugal mandava as pinhas, os jarrões, as estátuas e os ladrilhos de fainça. Algumas casas utilizavam até madeiras européias e o precioso e agora raro pinho de Riga servia para assoalhos, portas, janelas e bandeirolas.
casa do banqueiro José Gentil - foto reprodução
A chácara foi vendida em 1909 pelo proprietário Henrique Alfredo Garcia ao Dr. José Gentil Alves de Carvalho. A casa que existia no local foi demolida em 1918. O projeto da nova casa construída no local foi do Dr. João Sabóia Barbosa. Em 1956, a propriedade foi comprada pelo primeiro reitor da UFC, Prof. Antonio Martins Filho, à Imobiliária José Gentil S/A pertencente aos herdeiros de José Gentil.

Reitoria da UFC
Um ano após a compra, o Reitor Martins Filho resolveu demolir o casarão, construído em 1918, mandando projetar, a atual sede da Reitoria. O projeto elaborado pelo departamento de obras mantinha as mesmas linhas arquitetônicas da casa construída pelo Dr. João Sabóia Barbosa. O imóvel está localizado na Avenida da Universidade, no Benfica.

casa da familia Thomaz Pompeu na av. do Imperador - foto reprodução

Casa da família Thomaz Pompeu na avenida do Imperador em frente a praça da Lagoinha. Típica mansão francesa, com uma fachada de tijolinhos vermelhos, enegrecida pelo tempo, platibanda com muitos detalhes, e uma imponente varanda no andar superior. Palácio Plácido - foto reprodução
Palácio Plácido, cópia de um castelo renascentista de Florença. Localizado na Av. Santos Dumont, 1545, no Antigo bairro do Outeiro, atual Aldeota, ocupava um quarteirão inteiro entre as atuais ruas Carlos Vasconcelos, Monsenhor Bruno, Costa Barros e Avenida Santos Dumont. Foi construído em 1920 pelo comerciante Plácido de Carvalho e mais tarde foi adquirido pelo grupo Romcy, que em fevereiro de 1974, mandou demolir para construir um supermercado.
Itapuca Villa - foto reprodução

Itapuca Villa na Rua Guilherme Rocha. Todos os materiais para sua construção vieram do exterior inclusive as madeiras. Seu proprietário era Alfredo Salgado que viajava para a Europa com freqüência para contratar novos jardineiros. Foi abandonada em 1946 quando seu proprietário faleceu.

casa de Oscar Pedreira - foto reprodução
O bairro da Jacarecanga concentrava o maior número de palacetes e mansões de Fortaleza. Com 3 pisos, o casarão do empresário Oscar Pedreira era uma das mais bonitas residências da área.
O bairro Jacarecanga, na zona oeste de Fortaleza, formou-se antes da Aldeota.

Fonte:
LOPES, Marciano. Royal Briar: a Fortaleza dos anos 40. Fortaleza: ABC, Coleção Nostalgia, 1996. 311p. AZEVEDO, Miguel Ângelo (NIREZ). Indice Analitico e Iconografia da Cronologia Ilustrada de Fortaleza: roteiro para um turismo histórico e cultural. Fortaleza: Banco do Nordeste, 2001. Diário do Nordeste 09.08.2009 - coluna tirada do baú.

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Nossos comerciais II

Estas propagandas eram publicadas em jornais e revistas nacionais, e muitas delas devem ter aparecido nas publicações locais, lá pelas décadas de 1930/40/50.
Royal Briar era uma linha de cosméticos muito apreciada pelas mulheres de Fortaleza


Refrigerante criado por J. M. Thompson em1916, em Chicago, nos Estados Unidos, a Crush chegou ao Brasil na década de 1930 em vários sabores (laranja, uva, limão, lima, pêssego e cereja). As garrafas de vidro âmbar, fornecidas pela Cisper, tinham um selo com a marca impresso em serigrafia, que depois foi substituído por um alto-relevo. Em 1963, a embalagem âmbar foi trocada por uma incolor. A Crush sobreviveu no sabor laranja, fabricada por pequenas indústrias como Golé e Pakera, franqueadas pela multinacional Cadbury Schweppes, atual dona da marca na maior parte do mundo. No Brasil, a Crush foi vendida para a Coca-Cola, que a retirou do mercado.

Produto comercializado até os dias de hoje. O comercial acima era da década de 40, de um dos produtos que não podia faltar nos lares brasileiros: era bom "até para os bebês".
O creme dental e o líquido enxaguatório bucal Odol, inventados na Alemanha por Karl August Lingner, chegaram ao Brasil na década de 1920, produzidos pelos Laboratórios Daudt. Com uma agressiva campanha publicitária, Odol já era líder de mercado na década seguinte. Depois de anúncios simples, apresentando os produtos, apareceram os mais ousados, com desenhos de mulheres com partes do corpo à mostra. Em 1928, Di Cavalcanti, um dos maiores pintores brasileiros, fez a ilustração para um anúncio de Odol, publicado na revista O Cruzeiro. A peça destacava um casal sorridente, com traços modernistas. O exagerado texto de rodapé classificava Odol como “O melhor dentifrício do mundo”.
anúncio de 1945 - revista O Cruzeiro
nos anos 30, a Johnson & Johnson iniciou a comercialização do primeiro absorvente descartável do mercado brasileiro: o MODESS.

anúncio de 1951 publicado na revista O Cruzeiro
O Sabonete Eucalol lançado no mercado em 1926, encontrou dificuldade de aceitação, por sua cor verde, junto aos atacadistas e varejistas. Durante meses não se vendeu uma dúzia. Começou a ser aceito pela freguesia depois de alguma propaganda, sendo o grande impulsionador de vendas o lançamento das Estampas Eucalol dois anos depois.
anúncio de 1951 - sabonete vale quanto pesa
O nome já dizia tudo, era um sabonete grande, bom e barato. Produto popular, fazia contraponto ao sabonete Lever, que era conhecido pelo perfume. Os anúncios da época ainda completavam: “com novo formato retangular, de preço mais econômico que o oval”. Esteve no mercado brasileiro até o início do anos 80.

fontes:
http://www.embalagemmarca.com.br/embmarca/menu/edicoes_anteriores/2008/abril/almanaque?eZSESSIDembmarca=35616722fc543c35369a4140910e02c1
http://www.nautilus.com.br/clientes/pontes/comercio/2008/magnesia.htm
http://www.mofolandia.com.br/mofolandia_nova/cosmeticos_banho.htm
http://www.geocities.com/artemodelismovirtual/eucalol.htm
http://www.seculovinte.com.br/pt/produtos/produto.php?codigo=154

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Fortaleza no tempo dos lampiões

No tempo em que os casais/podiam mais se namorar
Nos lampioes de gás/sem os ladroes atrás
Tempo em que o medo se chamou
 jamais
(Sivuca/ Paulinho Tapajos)


Até meados do Século XIX, para andar nas ruas escuras de Fortaleza depois que o sol se punha, era necessário levar um ou dois escravos, lamparina na mão, clareando o caminho. A história começou a mudar em 1834, quando veio a ideia de iluminar Fortaleza.

O Conselho da Província propôs esse melhoramento ao presidente Inácio Correia de Vasconcelos; a obra incluiria as principais ruas e travessas da cidade, para tanto, seriam necessários cem lampiões.

A ideia não prosperou no momento, só vindo a se concretizar 14 anos depois. A iluminação foi iniciada em 01 de março de 1848. O trabalho foi contratado com Vitorino Augusto Borges, que se obrigava, entre outras coisas, a instalar 44 lampiões, que deveriam ser mantidos sempre limpos e brilhantes, e a conservá-los acesos entre as 6 horas da tarde até o raiar do dia seguinte, ou até que saísse a lua.

O privilégio da concessão foi transferido, com autorização do governo para a companhia inglesa Ceara Gaz Company Limited. No ano de 1848 foram colocados nas ruas de Fortaleza 25 lampiões pendentes com iluminação de azeite de peixe. Nas noites de lua os lampiões não eram acesos, o que levou alguns cronistas da época a denominarem o acordo de "contrato com a lua".

Os lampiões tinham 4 faces, eram mais estreitos em baixo do que em cima, com tampa e fundo de metal. Ficavam suspensos de uma armação de metal, cravados nas esquinas de modo que iluminassem tanto as ruas como as travessas. Pendiam de uma corda, que passavam por duas roldanas que permitia que descessem até a altura necessária a que se pudesse limpar e acender.

Cada lampião continha uma caixinha cheia de azeite de peixe com pavio de algodão. O encarregado de limpar e acender os lampiões era um tal de Chico Lampião.



A era do azeite de peixe sucedeu a do gás carbônico que começou em 17 de setembro de 1866 com a iluminação de algumas ruas, do clube cearense e de alguns edifícios. Os combustores de gás foram instalados em ziguezague, com distância de 30 metros entre cada um e colocados do mesmo lado da rua.

A iluminação pública era excelente devido a pouca distância entre os combustores, a pouca altura (cerca de 2,40m), a tampa pintada de branco por dentro, servindo como refletor , espalhando a luz pelas calçadas e ruas. Os combustores eram todos numerados e ficavam em cima de uma coluna de férreo fundido, canelada e elegante.

combustor na rua floriano Peixoto - foto arquivo Nirez


Com a guerra de 1914 o fornecimento do carvão de pedra tornou-se deficiente, pelo que a companhia apagou metade dos combustores da cidade. E para atender melhor a iluminação da Praça do Ferreira e de outras, transportou para lá alguns dos combustores que estavam nas ruas. E assim ficou a outrora iluminada Fortaleza: praças iluminadas, ruas e travessas escuras.
A era do gás carbônico sucedeu a de eletricidade com fios. Em 10 de maio de 1933 foram instaladas, a titulo de experiência, quatro lâmpadas de cem velas na Rua Formosa (atual Barão do Rio Branco), e finalmente, em 08 de dezembro de 1934, foi inaugurada a iluminação geral, começando com a colocação de algumas lâmpadas na Praça do Ferreira.



Fonte:

Nogueira, João. A Iluminação de Fortaleza. Revista do Instituto do Ceará. Disponível http://www.institutodoceara.org.br/Rev-apresentacao/RevPorAno/1939/1939-Iluminacao_da_Fortaleza.pdf

Menezes, Raimundo. Coisas que o Tempo Levou: crônicas históricas da Fortaleza antiga. Fortaleza: Edições Demócrito Rocha, 2000.

terça-feira, 8 de setembro de 2009

Passamos dos limites do crescimento?

Em 1972 foi publicado um livro que causou muita polêmica: "Os Limites do Crescimento". O livro divulgava o resultado do trabalho de investigação realizado por uma equipe do Massachusetts Institute of Technology (MIT) coordenada por Donella Meadows, a pedido do Clube de Roma, uma associação informal de empresários, estadistas e cientistas.

Basicamente, afirmava-se que, ao ritmo do crescimento da população, da utilização de recursos naturais, da poluição, etc., por finais do Séc. XXI a Humanidade correria sérios riscos de sobrevivência. As principais conclusões do grupo de pesquisadores foram: 
1 – se persistirem as tendências atuais (de 1972) de crescimento da população mundial, níveis de industrialização, de poluição, produção de alimentos e utilização de recursos naturais, os limites de crescimento no planeta serão alcançados algum dia dentro dos próximos cem anos. O resultado mais provável será um declínio súbito e incontrolável tanto da população quanto da capacidade industrial; 
2 – é possível modificar essas tendências de crescimento se for criada uma condição de estabilidade ecológica e econômica que possa se manter até um futuro remoto. O estado de equilíbrio global poderá ser planejado de tal modo que as necessidades básicas de cada pessoa na terra sejam satisfeitas; 
3 - se a população mundial optar por obter esse segundo resultado em vez de lutar pelo primeiro, quanto mais cedo ela começar a trabalhar para alcançá-lo, maiores serão suas possibilidades de êxito.

Quando foi publicado, no ano de 1972, o livro foi alvo de muitas criticas, e provocou inúmeros debates em diversas partes do mundo. Pela primeira vez a humanidade era alertada para a crua realidade dos limites físicos do planeta diante das condições geradas pelos impactos humanos. 

O Futuro já começou

A população mundial em 1970, dois anos antes do Clube de Roma publicar “Os Limites do Crescimento” era de 3,69 bilhões de pessoas; em 2000 a população mundial já somava 6,08 bilhões. Este crescimento de 80 milhões de habitantes por ano equivale mais ou menos, a acrescentar sobre o nosso planeta, a população de um país como a Alemanha, e isto todos os anos. Para 2009 a população mundial (estimada) é de 6,72 bilhões de pessoas.
A ONG ambientalista WWF estima que o consumo humano já supera em 25% a capacidade de recuperação dos recursos ambientais. Um dos fatores que mais influencia esse desequilíbrio é o tamanho da população.

O estudo da WWF ressalta que em 1970 o consumo humano era equivalente a 60% da capacidade de renovação biológica do planeta; atualmente é o dobro, 120%, uma situação insustentável uma vez que a biosfera, à exceção da energia solar, é finita, fechada e não cresce. Também destaca que desde 1961 houve um aumento de 700% no consumo de energia, e que as consequências desse aumento em termos de modificações planetárias são ainda desconhecidas em muitos aspectos. 

Outras conclusões do estudo do WWF: Desde 1970 foi registrada uma diminuição de 40% das espécies naturais silvestres do planeta; A degradação ambiental é a principal responsável pela destruição do habitat de plantas e animais silvestres, especialmente o desmatamento, a contaminação do ar e da água, e a exploração dos recursos marítimos pela pesca predatória e excessiva. O maior causador da degradação ambiental é o consumo excessivo de energias não renováveis por parte dos países industrializados.

Segundo estimativa da ONU a população mundial continuará crescendo, e só entrará em retração em 2050, ao atingir 9,2 bilhões de habitantes; isto representa um aumento de cerca de 37% em relação aos 6,72 bilhões atuais. Até essa data a renda per capita dos países em desenvolvimento deve crescer em torno de 3% ao ano. Cada ponto percentual de melhoria da economia desses países tem seu preço em recursos naturais. O que se espera é que novas tecnologias e fontes alternativas de energia minimizem o impacto que essa superpopulação causará ao planeta, já as centenas de tratados, convenções, pactos, acordos, etc, firmados nas conferências mundiais não foram honrados como disseram que seriam, e a prometida solução final chamada de desenvolvimento sustentável, não parece viável num mundo globalizado dominado pela força do capital.


quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Caminhos e Descaminhos da Praça do Ferreira

A Praça é do Povo Como o céu é do condor
Castro Alves


Lei municipal de 06 de dezembro de 1842 autorizava a reforma do plano da cidade de Fortaleza, eliminando-se dele a rua do cotovelo, a fim de construir-se uma praça, que receberia o nome de Pedro II. Quem executaria o plano seria o presidente eleito da câmara, Antonio Rodrigues Ferreira, chamado o boticário Ferreira.

O novo logradouro foi chamado também de Feira Nova, Praça Municipal, até que foi batizado de Praça do Ferreira. A praça era na verdade um vasto areal movendo-se ao sabor da ventania. Era o ano de 1845 e Fortaleza não tinha mais do que 5.000 habitantes.
No inicio do novo século, Fortaleza já com 48.369 habitantes, melhora sensivelmente o seu aspecto urbano. 

Depois do boticário Ferreira foi o Coronel Guilherme Rocha (1892-1912), quem mais se empenhou na urbanização de Fortaleza, inaugurando em 1902, o jardim da Praça do Ferreira. Praças que eram tomadas de arbustos e capins foram ajardinadas pelo novo intendente.
A praça do Ferreira ganhou ainda, cinco quiosques, sendo quatro cafés que funcionavam em cada esquina da praça: Café Java, Café do Comércio, Restaurante Iracema e Café Elegante, e um quinto quiosque que servia de posto de fiscalização da companhia de luz. 

No centro do passeio foi colocado um catavento sobre uma cacimba gradeada, com uma imensa caixa d’água pintada de roxo. O centro onde ficava o jardim era cercado por grades de ferro. Havia 4 fileiras de bancos de taliscas verdes.

Em 1920 o então prefeito Godofredo Maciel (1920-1920) promoveu uma reforma: os quiosques foram retirados e foi construído um coreto no centro, onde a banda da polícia executava retretas às 5as. Feiras. A praça veio a ser modernizada mais uma vez em 1925, na nova gestão do prefeito Godofredo Maciel (1924-1928) com a transferência da caixa d’água, existente no centro da praça, para o Parque da Liberdade, com pavimentação a mosaico que persistiu até 1969, e com a construção de novo coreto, este coberto, que ficou na praça até 1933.

coreto da Praça do Ferreira foto: arquivo NIREZ
Em 1933 o prefeito Raimundo Girão (1932-1934) mandou demolir o coreto e no lugar mandou erguer no centro do logradouro a Coluna da Hora.


Praça do Ferreira com a Coluna da Hora e sem o coreto - arquivo NIREZ


O histórico edifício da intendência municipal foi demolido em 1946 e no lugar foi construído o abrigo central. Concebido inicialmente como terminal de ônibus, foi inaugurado em 1949 pelo prefeito Acrisio Moreira da Rocha (1948-1951).

Abrigo Central em foto de 1949 - Arquivo NIREZ

Na gestão do prefeito Murilo Borges (1963-1967), em 1966, sob a alegação de que a construção estava comprometida, foram demolidos o abrigo central e a coluna da hora. A reforma, feita à revelia da vontade popular, como era usual na vigência do regime militar, desagradou à maioria da população.

Praça do Ferreira anos 60 depois da reforma
foto: arquivo NIREZ



A reforma terminou em 1969, já na administração do prefeito José Walter Cavalcante (1967-1971), deixando a praça totalmente descaracterizada. Nessa época o local teve instalações subterrâneas que abrigaram a Galeria Antônio Bandeira até sua última reforma.
Em 1991 a praça foi novamente reformada, na gestão de Prefeito Juraci Magalhães (1990-1993). O velho poço foi encontrado e mantido e foi novamente erguida a Coluna da Hora em estilo semelhante a primeira, com projeto contemporâneo dos arquitetos Fausto Nilo e Delberg ponce de León.

A Praça como é atualmente foto: reprodução


Através da Lei municipal n° 8605, de 20.12.2001, a Praça do Ferreira foi declarada Marco Histórico e Patrimonial de Fortaleza.
Nos últimos anos, todos os acontecimentos da cidade, sejam eventos políticos, carnavalescos, juninos, literários, culturais, folclóricos, movimentos paredistas ou de protestos, passaram pela Praça do Ferreira; o que acontecer, se acontecer, acontecerá primeiro na Praça do Ferreira, o coração de Fortaleza, a Praça do Povo.

fontes:
Fortaleza e a Crônica Histórica autor Raimundo Girão
Fortaleza Descalça autor Otacílio de Azevedo
História Abreviada de Fortaleza e Crônicas sobre a Cidade autor Mozart Soriano Aderaldo
Revista Fortaleza Fascículo n° 9 - A Nossa História de 04.06.2006 - Editora O Povo