sexta-feira, 22 de abril de 2016

O Bairro de Fátima já foi chamado de Redenção


No final dos anos 30/início dos 40, em um arrabalde de Fortaleza, no encontro da atual Avenida Visconde do Rio Branco (antiga Estrada de Messejana) com a Avenida Pontes Vieira, havia um ponto de parada de dezenas de comboieiros vindos do interior, que ficavam ali para descanso e organização das tropas. A este ponto de encontro os nativos deram o nome de Tauape, que significa “caminho de barro”. No local foi erguida uma capela por invocação a São João, surgindo o nome São João do Tauape.  
  
Avenida Visconde do Rio Branco, antigo Calçamento de Messejana

Os mercadores já se encontravam próximo ao centro da cidade, mas não podiam seguir adiante, pela Avenida Visconde do Rio Branco, com cargas em carros de bois e carroças conduzidas por cavalos e mulas. Dizia-se que a passagem das caravanas gerava tumulto e confusão entre os moradores, atrapalhava os carros e o bonde que percorria toda a avenida até o fim da linha, que ficava próximo de onde funcionou o Cine Atapu. O crescimento da cidade impunha uma nova ordem. Já não era permitido o ingresso de animais por vias principais, a sujar a avenida e o centro.

Avenida Treze de maio, década de 40 

Surgiu então a ideia de abrir uma nova via que unisse o São João do Tauape ao antigo Prado, mais tarde Benfica.  O caminho já existia, só que bastante precário. Planejaram então transformar esse caminho numa avenida que desse acesso aos mercados e a algumas ruas já existentes, facilitando o acesso entre os bairros.

Todos os meios de transporte seriam beneficiados, especialmente os comboieiros, que seguiriam com suas mercadorias por toda a avenida, sem impedimentos, até o Prado ou Benfica. Por essa época aquela região compreendida entre os atuais bairros de Fátima e Benfica, era cheia de bangalôs e chácaras com grandes jardins e amplos quintais.

Em 1948, o então prefeito Acrisio Moreira da Rocha (1948-1951) fez um acordo com o empresário Eugênio Porto, proprietário de terrenos na área, que se estendiam da atual Rua Joaquim Magalhães até a Avenida Treze de Maio. Teria sido discutida a criação de uma grande rua que beneficiasse toda a região.  A prefeitura demarcaria as demais vias de acesso com calçamento e fio de pedra, e em troca, o latifundiário venderia os terrenos. Estava aberto o caminho para a construção da via inicialmente chamada de Avenida Flor do Prado.

Quando abriram a avenida um cidadão identificado como Pergentino Ferreira, proprietário de um terreno na região, doou uma quadra para a construção da Igreja de Fátima e do Colégio Santo Tomás de Aquino. O templo foi construído no ponto mais alto de uma elevação de terra, do que talvez tenha sido uma extensa vegetação. O Colégio Santo Tomás de Aquino foi criado em 07 de março de 1963, pelo então pároco da Igreja de Fátima, Monsenhor Gerardo de Andrade Ponte, tendo como mantenedor o Conselho Paroquial de Nossa Senhora de Fátima.


A ideia de construção da igreja estava ligada a visita da imagem peregrina de Nossa Senhora de Fátima que percorreu vários países da Europa e alguns Estados do Brasil.

Em 9 de outubro de 1952, a imagem chegou a Fortaleza. A recepção foi a maior demonstração de fé, jamais vista em terras cearenses. Faixas, ruas enfeitadas, casas ornamentadas com flores, para saudar a Virgem de Fátima em seu trajeto.  Baseado nessa manifestação de fé, Pergentino Ferreira doou o terreno para a construção da Igreja e do colégio. O doador também visava a valorização daquela parte da cidade. A partir daí, o bairro que era chamado de Redenção, ganhou o nome de Fátima. 

Campo do Prado em dia de clássico do futebol

Após a construção da igreja, a ocupação da área foi intensificada, com a construção de residências de alto padrão, e a chegada de novos moradores. No entanto, algumas áreas próximas já eram ocupadas, antes mesmo da construção da igreja de Fátima. Havia um grande espaço construído, conhecido por Campo do Prado, onde havia um estádio de futebol e uma pista de corrida de cavalos. Em 1938, o então interventor federal no Ceará Francisco Pimentel, cedeu parte do terreno do Prado para a instalação do 23° BC, que antes estava localizada na Avenida Alberto Nepomuceno, no local onde hoje se encontra a 10a. Região Militar. 

 visão panorâmica da área do 23° Batalhão de Caçadores
 (foto:http://www.legiaodainfantariadoceara.org)

Mais tarde, em 1940, o restante da área do Prado foi cedida para a construção da sede do atual IFCE, uma vez que o Campo do Prado estava desativado em razão da iminente inauguração do Estádio Presidente Vargas. 

A Avenida ganhou o nome de Treze de Maio em 1960, quando tinha pouco mais de três quilômetros de extensão e ainda não mantinha ligação com a Avenida Jovita Feitosa. Hoje ela começa na Rua José Jatahy e termina no viaduto da Avenida Pontes Vieira. 

Avenida Treze de Maio, trecho do atual IFCE
O Bairro de Fátima nasceu em consequência da abertura da Avenida Treze de Maio e em torno da igreja de Fátima. Localizado na zona sul de Fortaleza, limita-se ao Norte pelas Ruas Saldanha Marinho e Coronel Solon; a Leste pela Avenida Visconde do Rio Branco e a BR 116, ao Sul pela Via Férrea e Avenida Borges de Melo e a Oeste, pela Avenida dos Expedicionários e Rua Senador Pompeu. Fica entre os bairros do Benfica, Parreão, José Bonifácio, Joaquim Távora, e São João do Tauape. De acordo com o IBGE, censo demográfico de 2010, o bairro tem uma população de 23.309 habitantes: 10.091 são homens e 13.218 mulheres.

Fontes:
As Pouco lembradas Igrejas de Fortaleza, de Eduardo Fontes
Cronologia Ilustrada de Fortaleza, de Nirez
Jornais O Povo, Diário do Nordeste
fotos do arquivo Nirez

sexta-feira, 15 de abril de 2016

O Palácio da Luz e o Imposto da Cachaça


foto: anuário de Fortaleza 2012/2013

O Palácio da Luz foi construído no final do Século XVIII, com auxilio de mão-de-obra indígena, para servir de residência ao capitão-mor Antonio de Castro Viana. No tempo da Fortaleza antiga, o atual palácio era um casarão situado fora dos limites do perímetro da ainda Vila da Fortaleza de Nossa Senhora da Assunção, que era compreendido, praticamente entre o velho Quartel da Força de Linha (atual 10ª RM) e as ruelas que, vindas da beira do mar, avançavam poucas quadras para o sul, entre o Campo da Pólvora (atual Passeio Público) e o Largo do Conselho (Praça da Sé). 

Praça General Tibúrcio -1900
O capitão-mor faleceu em 1801, em situação de débito para com os cofres públicos, razão pela qual a Junta da Fazenda penhorou o imóvel, vendendo-o à Câmara Municipal por Oitocentos Mil Réis.

Para pagar o prédio, a câmara cujos rendimentos eram diminutos, não chegando para quitar um edifício, criou um imposto que se chamava Subsídio das Aguardentes, o qual consistia em cobrar 4$000 (quatro mil réis) por cada pipa de cachaça importada que desembarcasse em qualquer porto do termo da vila, até finalizar aquele pagamento, não se aplicando de forma alguma esse rendimento, a qualquer outra despesa. O primeiro pagamento à Real Fazenda foi feito em 27 de novembro de 1802, e o último em 03 de novembro de 1807.


Em 1803 o terreno foi cercado  com uma paliçada de altas estacas juntas de pau-ferro, detalhe que  denota a pobreza dos cofres públicos.  Mais tarde, o governador Luis Barba Alardo de Menezes, sendo comunicado que algumas repartições estaduais vinham sendo furtadas e sofrendo arrombamentos, transferiu as  mesmas para o seu local de residência - Rua Sena Madureira, 42 - e escreveu à câmara pedindo para ocupar o prédio que lhe pertencia, onde poderia exercer separadamente suas funções. 

Em sessão realizada no dia 14 de janeiro de 1809, os vereadores acharam justa a argumentação do governador e concordaram com o empréstimo.  Em 1811 o governador Barba Alardo empreendeu pequenas obras de adaptação interna. 

Em 12 de março, 26 de abril e 30 de junho de 1810 a câmara enviou ofícios ao governador pedindo-lhe a devolução do prédio; como não obtivessem uma solução a respeito, os vereadores fizeram uma representação ao príncipe regente, se queixando que o governador se apossara da casa que lhes pertencia. 

A Câmara comprou, pagou, mas não levou: continuou a funcionar em prédio alheio até que em 1819 recebeu um ofício do então governador Manuel Inácio de Sampaio, com a Provisão Régia acerca da permuta feita pelo antecessor Luis Barba Alardo - o prédio da câmara pelas casas que eram de residência dos governadores - cuja permutação fora aprovada em provisão de junho de 1814.


situação em que ficou a sala de frente do Palácio da Luz depois da revolta de 1892, que culminou com a deposição do governador Clarindo de Queiroz  (foto cedida por Isabel Pires)

Depois da posse definitiva pelo governo do Estado, o prédio e seu entorno passaram por várias transformações até atingir a dimensão e a aparência que ostentou até início dos anos 60.  Em 1839, já império o Brasil, e Fortaleza já guindada à condição de cidade, o prédio ganhou ampliação que o levou até a Rua de Baixo, o que lhe deu o aspecto assobradado que tem até hoje.  É desse tempo o antigo salão de recepções, de janelas avarandadas que davam para o antigo Largo do Palácio (atual Praça General Tibúrcio).

Em 1856, na administração do presidente Francisco Paes Barreto,  fizeram-se grandes melhorias nas salas de frente, reconstruiram o terraço e fizeram o jardim e os aterros do quintal.

A última reforma por que passou foi em consequência da revolução de 16 de fevereiro de 1892, quando o lugar foi atacado pelas forças legalistas (alunos da Escola Militar, marinheiros e força federal) comandadas pelo major Bezerra de Albuquerque que exigiam a renúncia do governador Clarindo de Queiroz. O palácio foi atacado com tiros de canhões e de metralhadoras. 


 
aspectos do interior do palácio que passa por reformas

Na administração do governador Parsifal Barroso perdeu parte da área que ocupava o seu jardim interno para prolongamento da rua Guilherme Rocha, que tinha início na Rua do Rosário. A parte perdida foi demolida e vendida a terceiros. Esse prolongamento visava a continuação dessa rua ligando-a a Avenida Santos Dumont, projeto que nunca se concretizou. 

O lugar passou a ser chamado de Palácio da Luz a partir de 1º de março de 1975, quando nele se instalou a Casa de Cultura Raimundo Cela. Atualmente abriga a Academia Cearense de Letras. 

o palácio no início dos anos 60, antes da reforma que retirou parte de sua fachada. foto da Aba Film

O Palácio da Luz ainda funcionou como sede do Governo e residência do governador até 1963, quando a sede do poder foi transferida para a Avenida Barão de Studart. Fica na Rua do Rosário n° 1, centro de Fortaleza. Tombamento estadual de 1983.



fontes:
Crônicas da Fortaleza e do Siará Grande, de Otacílio Colares
Descrição da Cidade de Fortaleza, de Antônio Bezerra de Menezes. Introdução e notas de Raimundo Girão.
fotos do arquivo Nirez

 

quarta-feira, 13 de abril de 2016

A Fortaleza que eu vi


A Fortaleza Que Eu Vi - uma contribuição de imagens dos leitores do Fortaleza em Fotos para vídeo em homenagem aos 290 anos de Fortaleza. 
Trilha sonora - Música: Baião da Serra Grande. Intérprete: Mário Zan. 




13 de Abril é Dia de Fortaleza

Conta o professor José Liberal de Castro que, um dia, foi procurado por Cláudio Pereira, então presidente da Fundação Cultural do Município, que dizia estar recebendo insistentes solicitações de um vereador, no sentido de que fosse escolhida uma data na qual Fortaleza pudesse usar como referencial para comemorar alguma data que fosse significativa do seu passado. Na solicitação do vereador havia uma incontestável reverência ao passado fortalezense, mas também resultava na promoção artificial  de celebrações com as quais a cidade jamais se preocupou. 

********************
                                                                                

O forte de N.S.da Assunção foi construído pelos holandeses em 1649. Era uma edificação precária, construída em taipa e palha, sobre paus enterrados a espaços e outros atravessados por dentro em formato pentagonal. Só se tornou uma fortaleza de fato, com a aparência atual, a partir da reforma promovida pelo Governador Sampaio (1812-1820), que mandou reconstruir a edificação com tijolo, pedra e cal, com base num projeto de Silva Paulet. 

********************

                                                               
Poucos dias depois, o professor apresentou ao presidente da Fundação Cultural, uma curta lista datas, acompanhadas de sucintas considerações pertinentes, a fim de que ele escolhesse a que melhor conviesse, com o alerta de que as datas não deveriam ser consideradas propriamente como referências históricas, mas como simples marcos simbólicos. 


Em 17 de março de 1823, o Imperador D. Pedro I “pela Graça de Deus e unânime aclamação dos povos, Imperador Constitucional e Defensor Perpétuo do Brasil”, elevou a Villa de Fortaleza à categoria de Cidade, com a denominação de Cidade da Fortaleza da Nova Bragança. Nessa época já existia o atual Paço Municipal. Construído no início do século XIX, o edifício da Rua São José era um armazém de alimentos de propriedade do sargento-mor Antônio Francisco da Silva. 

********************                         
  

Nessa perspectiva, qualquer das datas sugeridas poderia ser escolhida, inclusive outras mais, lembradas por terceiros. Incontáveis datas poderiam ser aventadas, em particular aquelas alusivas a primazias, quer dizer, “data do primeiro este, à data do primeiro aquele”.

De qualquer modo, fossem quais fossem, deveria portar significados de ampla abrangência e constituir fontes geradoras de novas fontes retentoras de memórias. Por tais motivos, era aconselhável evitar datas desconhecidas ou propostas baseadas unicamente em propostas pessoais.



Após as devidas ponderações, foi escolhida a data de 13 de abril de 1726 – data em que o povoado do forte foi elevada à categoria de Vila – decisão que, juntamente com os argumentos justificativos da escolha, foram levados ao conhecimento do vereador Idalmir Feitosa, interessado na consulta, que aceitou sem relutância a data sugerida.

O consequente projeto apresentado e defendido por Idalmir Feitosa transformou-se na Lei Municipal n° 7535, de 16 de junho de 1994, que instituiu o dia 13 de abril como o Dia da Cidade. A lei aprovada pela Câmara Municipal entrou em vigor no ano seguinte e logo se incorporou ao calendário de eventos da cidade. 

Neste 13 de abril de 2016, Fortaleza completa 290 anos desde que se tornou Vila. O povoado, este nasceu bem antes. 

Fonte:

As Comemorações do 13 de Abril, de José Liberal de Castro, publicado no livro “Ah, Fortaleza!”. 
fotos: arquivo Nirez e Fortaleza, 27 graus

sábado, 9 de abril de 2016

Uma Vila Inexpressiva

A cidade antiga é próxima, pois é o lugar que reconhecemos como casa; ou como deveria ser uma Fortaleza. Então temos o nosso encontro marcado com o tempo, o tempo de fazer da cidade o que de melhor seria para cada um de nós; com o tempo de construirmos a cidade que sonhamos e que perdemos. 
(do artigo O Encontro marcado com o tempo do professor Antônio Otaviano Vieira Junior) 

Centro de Fortaleza  (foto de Muhammad Said)

Uma das Capitanias hereditárias criadas na época da colonização portuguesa, a Capitania do Ceará foi praticamente relegada ao abandono por parte do seu donatário, Antônio Cardoso de Barros. Apenas índios habitavam o sitio onde viria a surgir Fortaleza. Somente em 1603, o açoriano Pero Coelho de Sousa construiu o forte de São Tiago, na Barra do Ceará, ao redor do qual nasceu o povoado de Nova Lisboa.

Vista da Barra do Ceará com o Forte de São Sebastião. Desenho de Frans Post - 1645 

Em 1612 o capitão português Martim Soares Moreno edificou o forte de São Sebastião no mesmo local, mais precisamente junto a ermida de Nossa Senhora do Amparo.

A Capitania do Ceará esteve subordinada à Capitania do Maranhão e Grão-Pará e depois a Pernambuco, além de ter sido alvo da cobiça colonialista europeia.

Forte de São Sebastião, na Barra do Ceará, construído em 1612 por Martim Soares Moreno, no mesmo local onde,  em 1603, o açoriano Pero Coelho, erguera o fortim de São Tiago. 

Em 1637 chegou ao Ceará a primeira expedição holandesa que ocupou o semi-abandonado  forte de São Sebastião, onde permaneceu por sete anos explorando sal e âmbar gris, até que seus integrantes foram dizimados pelos índios

Outra expedição holandesa comandada por Matias Beck, desembarcou em 1649 no Mucuripe, e construiu o forte Schoonenborch, na embocadura do Riacho Pajeú, para defender-se dos nativos aliados dos portugueses, ali permanecendo também por sete anos. Assim que os invasores foram expulsos, o forte foi apropriado pelos portugueses e renomeado de Fortaleza de Nossa Senhora da Assunção. 

Entre 1660 e 1698 surgiu um acanhado povoado, no qual foi erigida uma capela dedicada a Nossa Senhora da Assunção, além de uma praça de armas. 

A Carta Régia que autorizou a criação da Vila do Ceará ou de São José de Ribamar em 1699, originou muita polêmica em torno da questão fundamental onde estabelecer o Pelourinho, coluna de pedra ou madeira simbolizando a autonomia municipal. Os desentendimentos entre as autoridades levaram a decisão de elevar Aquiraz à condição de vila e sede da Capitania em 1713.
    
A decisão de instalar a vila em Aquiraz não foi das mais acertadas. Em agosto de 1713 os índios atacaram aquela comunidade ocasionando muita destruição e morte – cerca de 200 pessoas  perderam a vida –  levando muitos habitantes a buscarem proteção dos ataques no fortim de Nossa Senhora de Assunção.  Dos ataques dos índios Paiacus e Anassés, só escapou quem fugiu para Fortaleza. 

A ofensiva levou os próprios integrantes da Câmara, os chamados camareiros, a mudarem de ideia. Passaram então a defender que a sede da Vila do Ceará deveria ficar em Fortaleza. 

 Primeira planta da Vila de Fortaleza de Nossa Senhora de Assunção, de 1726, atribuída ao capitão-mor Manuel Francês. O traço forte do Pajeú divide a Vila em duas.

Contrariado com a situação, o rei de Portugal, em vez de simplesmente transferir a sede da vila, mandou criar outra. Assim, a 13 de abril de 1726 foi instalada a vila de Fortaleza de Nossa Senhora de Assunção, a segunda do Ceará,  pelo capitão-mor Manuel Francês. A motivação para a instalação desta segunda vila foi o de incentivar o desenvolvimento da capitania.
 
Planta da Villa de Fortaleza de Antônio da Silva Paulet

A "Planta da Villa", elaborada por Antônio da Silva Paulet, em 1818, mostra prédios dispersos nas margens do Pajeú e na Prainha, e caminhos que chegavam do interior. Coube ao mesmo Silva Paulet a proposta de um novo arruamento para a vila, o projeto e a construção da nova Fortaleza da Assunção.

fontes: 
Fortaleza, 27 Graus - Prefeitura de Fortaleza
História do Ceará - Airton de Farias 

segunda-feira, 4 de abril de 2016

Conjunto Palmeiras

Ao contrário dos bairros que surgiram da formação de grandes conjuntos habitacionais, o Conjunto Palmeira nasceu da indignação e do espírito de luta por mudança de vida de algumas pessoas. 

 
Duas vias de Fortaleza que foram afetadas pela construção da Avenida Leste-Oeste na primeira metade dos anos 70: o final da Rua General Sampaio e a Rua Franco Rabelo, que sumiu totalmente. Os moradores foram todos removidos.

A história do lugar começa no início dos anos 70, quando da construção da Avenida Presidente Castelo Branco, conhecida popularmente como Avenida Leste-Oeste, com o objetivo de ligar a zona industrial da Avenida Francisco Sá ao Porto do Mucuripe. Para tanto, era preciso "desocupar" aquela faixa de litoral, densamente povoada, e ocupada por população de baixa renda.
 
Ao mesmo tempo em que facilitou o acesso ao litoral oeste da cidade, e propiciou a abertura de vias secundárias e perpendiculares, a obra provocou mudanças de grande impacto social, com a transferência de moradores das favelas conhecidas como Cinzas, Moura Brasil, Oitão Preto, Braga Torres e Soares Moreno. 

inauguração da Avenida Leste-Oeste em 1974
 
Parte da zona de meretrício que ocupava essa região foi transferida para o farol do Mucuripe, conhecida zona de prostituição criada alguns anos antes, por ocasião da retirada de moradores para construção da Avenida Beira-Mar. As mulheres foram recebidas com reservas e desconfiança pelas prostitutas que já habitavam o local.  

Mas a  maior parte dos moradores, juntamente com outros residentes em  ocupações irregulares existentes em Fortaleza, foram transferidos para áreas periféricas, como o Conjunto Rondon,  Vicente Pinzon, bairro Jurema em Caucaia, e uma área então pertencente ao território administrativo do Jangarussu, hoje conhecida por Conjunto Palmeiras. 

Na época o processo de remoção dos moradores, chamado de "desfavelização", foi considerado pela administração municipal como a maneira mais eficaz de sanear diferentes problemas, através da eliminação da zona de baixo meretrício e de pontos de concentração de marginais.

Quando esses moradores chegaram ao Conjunto Palmeiras, em 1973,  se deram conta de que não haviam casas nem a mínima infraestrutura básica. O que havia era um brejo no meio do nada, com muito mato ao redor. A "Terra Prometida" pela Prefeitura de Fortaleza, não passava de um lugar inóspito, distante do centro, desprovido de beneficiamentos e de equipamentos públicos, sem energia elétrica, sem água, sem transportes ou vias de acesso.  

Eles foram transportados em caçambas e despejados no local, onde só havia mato e lama. Os novos moradores foram acomodados em barracas de lona e em barracos de madeira, onde se amontoavam seis famílias em cada barraco. Na mesma época, em um terreno próximo, surgia o aterro sanitário do Jangurussu. Do lixão, muitos moradores do Conjunto Palmeiras passaram a sobreviver, condição que permaneceu por vários anos. 

Mas aquela gente não iria se conformar com a situação de miséria em que vivia. Ainda na década de 1970, depois de muita pressão sobre o poder público, vieram as primeiras conquistas. A primeira delas foi a demarcação da área em lotes – que foram vendidos às famílias – e o fornecimento de material para a construção de um cômodo. Em seguida, a comunidade passou a contar com uma escola de ensino fundamental e um posto de saúde, inaugurados em 1978. 

Sede da Associação de Moradores 

Depois veio a luta por transportes, havia apenas um ônibus da Viação Cruzeiro, que levava os moradores do bairro pela manhã para o centro e os trazia a noite. Para que a região prosperasse, entendeu-se que era necessário mobilizar as pessoas em torno de um ideal comum, em ação integrada. Foi então que, em 1981, nasceu a Associação dos Moradores do Conjunto Palmeiras (Asmoconp), agremiação que teve – e ainda tem – papel decisivo na melhoria de vida daquela população.

Rua do Conjunto Palmeiras

A eletricidade só foi instalada por conta da artimanhas  dos moradores, quando os integrantes da Associação dos Moradores tiveram a ideia de largar o Superintendente da COELCE  dentro do conjunto, às 9 horas da noite, que desesperado por não encontrar o caminho, e desnorteado devido a falta de iluminação, caiu num buraco e foi resgatado pela população. Com pouco mais de um mês depois do episódio, a rede de eletricidade foi instalada. 

E assim se construiu o Conjunto Palmeiras. Para quem visita o bairro hoje, é difícil acreditar que um dia tenha sido tão diferente. Mais ainda, que a transformação do local tenha sido feita pelos próprios moradores, quase sem nenhum aporte do poder público. Foram os moradores que ergueram o bairro, com os poucos recursos que tinham, em regime de mutirões. Eles construíram as casas, as ruas, a creche comunitária, o centro de nutrição e o sistema de drenagem, como alguns dos exemplos.

Na década de 1980, a maternidade mais próxima do Conjunto Palmeiras ficava a 15 quilômetros de distância. Não havia linhas de ônibus no local, e ninguém possuía carro. As mulheres que estavam prestes a conceber passavam por momentos de aflição. Daí surgiu a ideia de criar a Casa de Parto Comunitária. A iniciativa facilitou bastante a vida das moradoras, durante vários anos, onde uma ajudava no parto da outra. No final da década de 1990, a Prefeitura de Fortaleza desativou o estabelecimento, alegando falta de higiene no local. 

Outra iniciativa popular que resultou em grande benefício ao Conjunto Palmeiras foi a criação do Centro de Nutrição. A escassez de recursos serviu para estimular a criatividade das mulheres da comunidade, que começaram a preparar pratos alternativos a partir de cascas de alimentos. O Centro foi um grande aliado no combate à desnutrição infantil, e permanece em funcionamento até hoje.

Banco Palmas 

Em 1998, mais uma ação relevante da Associação dos Moradores do Conjunto Palmeiras: a criação do Banco Palmas, uma rede de solidariedade entre produtores e consumidores. A ideia é implantar programas e projetos de trabalho e geração de renda, com a utilização de sistemas econômicos solidários visando a superação da pobreza urbana local. 

O Banco começou com 10 clientes a partir de um empréstimo de R$ 2.000,00, e foi se expandindo tanto no número de clientes quanto nos valores em circulação. A paridade da moeda Palma é vinculada ao Real (1 Palma= Real), o que facilita a conversão.
  
Avenida Valparaiso

Em 2007, a Câmara Municipal de Fortaleza reconheceu, por meio de um decreto legislativo do vereador Guilherme Sampaio, o Conjunto Palmeiras como bairro, após ficar quase 30 anos como parte do Jangurussu. A iniciativa serviu para honrar o esforço daquelas pessoas, que tanto lutaram por melhores condições de vida. Por outro lado, criou um problema, na visão do coordenador do Banco Palmas. “A delimitação territorial não condiz com a área real, e isso tirou um pouco da identidade do bairro”, comenta Joaquim Melo. 

Além disso, segundo ele, os indicadores sociais apresentam números distorcidos, considerando a comunidade mais pobre e violenta do que realmente é, por abranger uma área três vezes maior do que o seu tamanho anterior.

Avenida Valparaíso, a principal via do bairro

População: 36.599 habitantes em 9.113 domicílios (IBGE-Censo 2010).  O Conjunto Palmeiras não aparece como bairro no mapa oficial da Prefeitura de Fortaleza, nem na delimitação dos bairros feita pelo IBGE.

Pesquisa:
http://hotsite.diariodonordeste.com.br/aniversariodefortaleza/noticia/conjunto-palmeiras-um-bairro-construido-pelos-proprios-moradores/

Contextualização: Análise do Processo de Formação  do Bairro Conjunto Palmeiras, em menção aos Agentes Produtores de Espaço.Marília Natacha de Freitas Silva
Simone Fernandes Soares

http://www.cidadessustentaveis.org.br/boas-praticas/banco-palmas

Desenvolvimento Urbano e Segregação Sócio-Espacial:Um Estudo da Avenida Leste-Oeste em Fortaleza – Ce
Carlos Henrique Lopes Pinheiro

fotos do arquivo Nirez, O Povo, Diário do Nordeste e Google Street view