segunda-feira, 4 de abril de 2016

Conjunto Palmeiras

Ao contrário dos bairros que surgiram da formação de grandes conjuntos habitacionais, o Conjunto Palmeira nasceu da indignação e do espírito de luta por mudança de vida de algumas pessoas. 

 
Duas vias de Fortaleza que foram afetadas pela construção da Avenida Leste-Oeste na primeira metade dos anos 70: o final da Rua General Sampaio e a Rua Franco Rabelo, que sumiu totalmente. Os moradores foram todos removidos.

A história do lugar começa no início dos anos 70, quando da construção da Avenida Presidente Castelo Branco, conhecida popularmente como Avenida Leste-Oeste, com o objetivo de ligar a zona industrial da Avenida Francisco Sá ao Porto do Mucuripe. Para tanto, era preciso "desocupar" aquela faixa de litoral, densamente povoada, e ocupada por população de baixa renda.
 
Ao mesmo tempo em que facilitou o acesso ao litoral oeste da cidade, e propiciou a abertura de vias secundárias e perpendiculares, a obra provocou mudanças de grande impacto social, com a transferência de moradores das favelas conhecidas como Cinzas, Moura Brasil, Oitão Preto, Braga Torres e Soares Moreno. 

inauguração da Avenida Leste-Oeste em 1974
 
Parte da zona de meretrício que ocupava essa região foi transferida para o farol do Mucuripe, conhecida zona de prostituição criada alguns anos antes, por ocasião da retirada de moradores para construção da Avenida Beira-Mar. As mulheres foram recebidas com reservas e desconfiança pelas prostitutas que já habitavam o local.  

Mas a  maior parte dos moradores, juntamente com outros residentes em  ocupações irregulares existentes em Fortaleza, foram transferidos para áreas periféricas, como o Conjunto Rondon,  Vicente Pinzon, bairro Jurema em Caucaia, e uma área então pertencente ao território administrativo do Jangarussu, hoje conhecida por Conjunto Palmeiras. 

Na época o processo de remoção dos moradores, chamado de "desfavelização", foi considerado pela administração municipal como a maneira mais eficaz de sanear diferentes problemas, através da eliminação da zona de baixo meretrício e de pontos de concentração de marginais.

Quando esses moradores chegaram ao Conjunto Palmeiras, em 1973,  se deram conta de que não haviam casas nem a mínima infraestrutura básica. O que havia era um brejo no meio do nada, com muito mato ao redor. A "Terra Prometida" pela Prefeitura de Fortaleza, não passava de um lugar inóspito, distante do centro, desprovido de beneficiamentos e de equipamentos públicos, sem energia elétrica, sem água, sem transportes ou vias de acesso.  

Eles foram transportados em caçambas e despejados no local, onde só havia mato e lama. Os novos moradores foram acomodados em barracas de lona e em barracos de madeira, onde se amontoavam seis famílias em cada barraco. Na mesma época, em um terreno próximo, surgia o aterro sanitário do Jangurussu. Do lixão, muitos moradores do Conjunto Palmeiras passaram a sobreviver, condição que permaneceu por vários anos. 

Mas aquela gente não iria se conformar com a situação de miséria em que vivia. Ainda na década de 1970, depois de muita pressão sobre o poder público, vieram as primeiras conquistas. A primeira delas foi a demarcação da área em lotes – que foram vendidos às famílias – e o fornecimento de material para a construção de um cômodo. Em seguida, a comunidade passou a contar com uma escola de ensino fundamental e um posto de saúde, inaugurados em 1978. 

Sede da Associação de Moradores 

Depois veio a luta por transportes, havia apenas um ônibus da Viação Cruzeiro, que levava os moradores do bairro pela manhã para o centro e os trazia a noite. Para que a região prosperasse, entendeu-se que era necessário mobilizar as pessoas em torno de um ideal comum, em ação integrada. Foi então que, em 1981, nasceu a Associação dos Moradores do Conjunto Palmeiras (Asmoconp), agremiação que teve – e ainda tem – papel decisivo na melhoria de vida daquela população.

Rua do Conjunto Palmeiras

A eletricidade só foi instalada por conta da artimanhas  dos moradores, quando os integrantes da Associação dos Moradores tiveram a ideia de largar o Superintendente da COELCE  dentro do conjunto, às 9 horas da noite, que desesperado por não encontrar o caminho, e desnorteado devido a falta de iluminação, caiu num buraco e foi resgatado pela população. Com pouco mais de um mês depois do episódio, a rede de eletricidade foi instalada. 

E assim se construiu o Conjunto Palmeiras. Para quem visita o bairro hoje, é difícil acreditar que um dia tenha sido tão diferente. Mais ainda, que a transformação do local tenha sido feita pelos próprios moradores, quase sem nenhum aporte do poder público. Foram os moradores que ergueram o bairro, com os poucos recursos que tinham, em regime de mutirões. Eles construíram as casas, as ruas, a creche comunitária, o centro de nutrição e o sistema de drenagem, como alguns dos exemplos.

Na década de 1980, a maternidade mais próxima do Conjunto Palmeiras ficava a 15 quilômetros de distância. Não havia linhas de ônibus no local, e ninguém possuía carro. As mulheres que estavam prestes a conceber passavam por momentos de aflição. Daí surgiu a ideia de criar a Casa de Parto Comunitária. A iniciativa facilitou bastante a vida das moradoras, durante vários anos, onde uma ajudava no parto da outra. No final da década de 1990, a Prefeitura de Fortaleza desativou o estabelecimento, alegando falta de higiene no local. 

Outra iniciativa popular que resultou em grande benefício ao Conjunto Palmeiras foi a criação do Centro de Nutrição. A escassez de recursos serviu para estimular a criatividade das mulheres da comunidade, que começaram a preparar pratos alternativos a partir de cascas de alimentos. O Centro foi um grande aliado no combate à desnutrição infantil, e permanece em funcionamento até hoje.

Banco Palmas 

Em 1998, mais uma ação relevante da Associação dos Moradores do Conjunto Palmeiras: a criação do Banco Palmas, uma rede de solidariedade entre produtores e consumidores. A ideia é implantar programas e projetos de trabalho e geração de renda, com a utilização de sistemas econômicos solidários visando a superação da pobreza urbana local. 

O Banco começou com 10 clientes a partir de um empréstimo de R$ 2.000,00, e foi se expandindo tanto no número de clientes quanto nos valores em circulação. A paridade da moeda Palma é vinculada ao Real (1 Palma= Real), o que facilita a conversão.
  
Avenida Valparaiso

Em 2007, a Câmara Municipal de Fortaleza reconheceu, por meio de um decreto legislativo do vereador Guilherme Sampaio, o Conjunto Palmeiras como bairro, após ficar quase 30 anos como parte do Jangurussu. A iniciativa serviu para honrar o esforço daquelas pessoas, que tanto lutaram por melhores condições de vida. Por outro lado, criou um problema, na visão do coordenador do Banco Palmas. “A delimitação territorial não condiz com a área real, e isso tirou um pouco da identidade do bairro”, comenta Joaquim Melo. 

Além disso, segundo ele, os indicadores sociais apresentam números distorcidos, considerando a comunidade mais pobre e violenta do que realmente é, por abranger uma área três vezes maior do que o seu tamanho anterior.

Avenida Valparaíso, a principal via do bairro

População: 36.599 habitantes em 9.113 domicílios (IBGE-Censo 2010).  O Conjunto Palmeiras não aparece como bairro no mapa oficial da Prefeitura de Fortaleza, nem na delimitação dos bairros feita pelo IBGE.

Pesquisa:
http://hotsite.diariodonordeste.com.br/aniversariodefortaleza/noticia/conjunto-palmeiras-um-bairro-construido-pelos-proprios-moradores/

Contextualização: Análise do Processo de Formação  do Bairro Conjunto Palmeiras, em menção aos Agentes Produtores de Espaço.Marília Natacha de Freitas Silva
Simone Fernandes Soares

http://www.cidadessustentaveis.org.br/boas-praticas/banco-palmas

Desenvolvimento Urbano e Segregação Sócio-Espacial:Um Estudo da Avenida Leste-Oeste em Fortaleza – Ce
Carlos Henrique Lopes Pinheiro

fotos do arquivo Nirez, O Povo, Diário do Nordeste e Google Street view

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