sexta-feira, 30 de julho de 2010

A Vida em Fortaleza na visão de Moreira Campos

Um dos mais belos conjuntos arquitetônicos da Praça do Ferreira era formado pela Casa Almeida, o Majestic Palace e a Farmácia Pasteur. (foto Arquivo Nirez) 
Prédio da Farmácia e Drogaria Pasteur, na Rua Major Facundo, 538 - Praça do Ferreira (foto Arquivo NIREZ) 

Quando o escritor Moreira Campos veio morar em Fortaleza, em 1930 já existiam pelo menos três cinemas importantes: o Polyteama, o Majestic e o Moderno. O Polyteama era o mais poeira, era o cinema da plebe, com a entrada mais barata. Havia duas entradas, uma pela Barão do Rio Branco e a outra pela Major Facundo.  
O  Majestic teve sua importância. Mas o cinema da classe alta, dos abonados, era o Moderno – pertencia a Plácido Carvalho, o dono do castelo. Nas ruas centrais – Barão do Rio Branco, Major Facundo, Floriano Peixoto – Senador Pompeu – que marcam pelo alinhamento, o tabuleiro de xadrez, só havia de casas de famílias, casas comerciais, só na praça. 
As atividades do povo do Ceará estavam todas em volta da Praça do Ferreira: farmácias, lojas, restaurantes, cinemas, lanchonetes, tudo. A Praça do Ferreira era o cartão postal da cidade. Havia inicialmente quatro cafés: Café Java, Café do Comércio, Café Iracema, Café Elegante. No Café Java foi onde surgiu um dos movimentos literários mais importantes do Ceará: a padaria Espiritual, de que era presidente Antonio Sales. A praça era ponto de encontro das personalidades do Ceará, na Política, na Literatura, na Advocacia, nas Artes, no Comércio. A opinião popular tinha até um banco, de costas para a farmácia Pasteur, com a inscrição “O Banco” em um azulejo no chão. 
Banco da Opinião Pública era uma instituição na cidade (foto Arquivo Nirez)
Havia o coreto, onde a banda de musica municipal se apresentava. Depois o Prefeito Raimundo Girão mandou destruir o coreto e construiu a Coluna da Hora. Crimes bárbaros ocorreram na Praça do Ferreira, por motivos políticos, passionais, ou discussões tolas. Certa feita um oficial de policia matou friamente um outro colega, no Bar da Brahma. Dizem que matou, sangrou com o punhal, limpou o punhal no culote, meteu na bainha, olhou para a Coluna da Hora e acertou o relógio. Friamente. 
Foi também pela Praça do Ferreira que passaram os mártires da Confederação do Equador em direção à Igreja do Rosário, para receberem a encomendação, e daí serem encaminhados para o Passeio Público onde seriam fuzilados. 
Naquela época havia ainda as cadeiras na calçada, onde conversavam homens e mulheres. Praticamente não existiam carros, só os muito ricos possuíam um automóvel em 1930, e à tardinha arriavam as capotas dos carros e passeavam. As cadeiras nas calçadas eram uma coisa natural, porque naquele tempo as casas eram conjugadas, uma perto da outra, e relativamente pequenas. 
Havia os sobrados, as casas grandes, mas na maioria não havia espaço interno para conversas. Na calçada havia o vento, sobretudo se era na Barão do Rio Branco, na Major Facundo. O vento vinha do Passeio Público, vinha do mar.Os homens vestiam-se com paletós de linho branco, e usavam chapéus, tudo compatível com o clima; as mulheres vestiam-se com elegância, mas com muito pudor.
Moreira Campos fez um soneto em que sintetiza sua primeira impressão, o impacto que sentiu com a vinda para Fortaleza.
“Cheguei aqui em 30, Fortaleza 
Era então provinciana, era menina,
Cadeiras nas calçadas e tristezas
 
Dos lampiões a gás em cada esquina"

Fonte:
Roteiro Sentimental de Fortaleza/ Depoimentos de História Oral de Moreira Campos, Antonio Girão Barroso e José barros Maia/ Coordenadores: Simone de Souza e Sebastião Rogério Ponte. Prefácio de José Carlos Sebe B. Meihy; transcriadores: Oswald Barroso, Caterina de Saboya Oliveira e Sebastião R. Ponte. Fortaleza: UFC-NUDOC/SECULT-CE, 1996.

 

quarta-feira, 28 de julho de 2010

Coisas do Futebol Cearense

Estádio do Prado, O Pioneiro


espectadores atentos durante partida de futebol no Campo do Prado
(foto reprodução)
O Estádio do Prado inaugurado em 1913, foi o principal palco dos jogos de futebol de Fortaleza durante 28 anos. Até 1941, com a inauguração do Estádio Presidente Vargas, o Prado reinou absoluto no futebol cearense.


Adquirido pelo empresário Alcides Santos, um dos fundadores do Stela e do Fortaleza, nele foram realizados os jogos da Liga Metropolitana Cearense de 1915 a 1919, e do Estadual de 1920 e 1941.
O Campo do Prado não possuía gramado, o campo era de terra batida e precisava ser molhado antes dos grandes jogos. Quando vinham times de fora, o carro dos bombeiros entrava em campo antes dos jogadores, para diminuir a poeira.
O estádio recebeu o nome de Prado porque ao redor do campo podiam ser disputadas provas de turfe em uma pista de corrida. Além do Prado, só houve outro estádio, entre as décadas de 1920/30 que recebia jogos do estadual: o campo do Alagadiço, inaugurado em 1923. Ficava ao lado de onde está atualmente a Igreja de São Gerardo, na Avenida Bezerra de Menezes.
Com o surgimento do Presidente Vargas, o Prado caiu em desuso, já que a infra-estrutura foi toda aproveitada pelo novo local.
O campo do antigo Prado está atualmente dentro do IFCE, Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará, e é utilizado pelos alunos da instituição de ensino.

Clubes do Passado



Time do Guarani Futebol Clube, fundado em 1919 no Clube dos Diários no Palácio Guarani. Extinto em 1930 (foto reprodução - Arquivo NIREZ)
Pelo menos dez times bastante tradicionais de Fortaleza foram extintos em pouco mais de cem anos de futebol no Ceará. A maioria fechou por conta de dificuldades financeiras ou por falta de apoio das empresas que os patrocinavam, deixando órfãos os seus torcedores, que se viram obrigados a “trocar de camisa”.
Entre os maiores times que foram extintos estão o Maguary e o Gentilândia. O primeiro arqui-rival do Ceará na primeira metade do século passado foi entre as décadas de 1920 a 1940, o clube mais aristocrático da cidade. Então bicampeão estadual, foi derrotado pelo Ferroviário na final do campeonato cearense de 1945, e precisou acabar com a equipe de futebol em razão das dívidas acumuladas.
Seus torcedores migraram para o Fortaleza e o Ferroviário, o que fez com que a volta da equipe do Maguary em 1972 fosse efêmera, fechando as portas definitivamente três anos depois.
Já o Gentilândia, clube de estudantes do bairro do mesmo nome, foi outro que não conseguiu pagar as dívidas, encerrando as atividades em 1968


Time do Orion Futebol Clube, surgiu em 1929 e foi extinto em 1932 (foto reprodução - Arquivo NIREZ)
O Maguary foi o campeão cearense de 1929 fundado em 1929 e fechado definitivamente em 1975 (foto reprodução - Arquivo NIREZ)

Equipe do Ceará Sporting Club, campeã de 1939. O Ceará é time mais antigo do Estado, tendo sido fundado em 02 de junho de 1914, sob o nome de Rio Branco Football Club (foto reprodução - Arquivo NIREZ)

Houve ainda algumas equipes que tiveram que abandonar o futebol devido o fim do patrocínio das empresas que os apoiavam. O Tramways, da Ceará Light, fornecedora de energia e bondes de Fortaleza, despediu-se do estadual em 1941. O Nacional, dos Correios, deu adeus ao campeonato em 1966. O Usina Ceará, da Fábrica Siqueira Gurgel, foi extinto em 1965, devido a perseguição da ditadura militar ao deputado federal e empresário Moysés Pimentel.
Outros cinco clubes tradicionais que se extinguiram com o passar dos anos foram o Guarany de Fortaleza (1930), Orion (1932), Estrela do Mar (1939) Luso (1949) e Peñarol (1950).
fonte: Revista Fortaleza – fasciculo 8 – Fortaleza: O Povo, 2006.

terça-feira, 27 de julho de 2010

Moreira Campos: Um Escritor e Sua História

José Maria Moreira Campos nasceu em Senador Pompeu no dia 06 de janeiro, no ano de 1914, filho de Francisco José Gonçalves e Adélia Moreira Campos. Teve dois irmãos – um irmão e uma irmã – que morreram cedo. 
O estudo inicial, básico foi feito no interior, em Lavras da Mangabeira. Em 1930 a família veio morar em Fortaleza, por um motivo que foi considerado pelo escritor como trágico: seu pai passou a se dedicar ao comércio em 1924. Em Lavras da Mangabeira, mantinha um bem sucedido comércio de algodão, peles e cera de carnaúba.
O desastre começou quando a fabrica incendiou-se e não estava no seguro. Devido às dificuldades financeiras, a família mudou-se para a capital.
Moreira Campos aos 12 anos em foto de 1926

Em Fortaleza Moreira Campos ingressou no Educandário Moacir Caminha; lá fez o vestibular e ingressou no secundário. Acostumado à vida pacata do interior, onde passou a infância e parte da adolescência, encantou-se e impressionou-se com os serviços que encontrou na capital. Um dos encantos foi andar de bonde, outro foi o cinema. Gostava tanto de cinema que chegava a assistir ao mesmo filme quatro vezes.

Depois do Educandário Moacir Caminha estudou no Liceu, mas não pode terminar o curso em razão do falecimento dos pais. O pai faleceu aos 44 anos em 1931; ano seguinte morreu a mãe, aos 38 anos. Pobre e sozinho foi acolhido por um primo, e morou em casa de algumas tias. Mais tarde conseguiu um emprego de ajudante de arquivista na Secretaria do Interior e da Justiça e foi morar numa pensão.

Retomou os estudos fazendo um Curso Madureza*, trabalhando de dia e estudando à noite. Fez vestibular para Direito e concluiu o curso em 1946. Depois, ingressou na Faculdade Católica de Filosofia e Formou-se em Letras. A vida literária começou quando ainda era muito jovem. Ainda no interior, gostava de ler romances ,e aos 13 anos já fazia sonetos sem sequer saber ao certo o que seria um soneto, posto que não conhecesse métrica e rima. Retomou a vida literária quando chegou a Fortaleza. 

Junto com os colegas do Liceu criou a Escola Moça de Cultura. Depois surgiram os moços do grupo Clã, grupo que consolidou o movimento modernista no Ceará. A denominação Clã – Clube de Literatura e Arte – era porque no inicio o grupo contava com literatos e artistas plásticos: Antonio Bandeira, Aldemir Martins, Barbosa Leite e Márcio Barata. Depois os artistas plásticos foram embora, ficaram apenas os intelectuais.

Moreira Campos participou da fundação da Escola Moça de Cultura, grupo literário que surgiu espontaneamente, sem sede, sem estatutos, sem regimentos. As reuniões ocorriam nos cafés da Praça do Ferreira.


Moreira Campos no dia do seu casamento com Maria José Alcides Campos (14.12.1937)

O escritor casou-se em 14 de dezembro de 1937 com Maria José Nogueira Alcides, que trabalhava com Moreira campos na mesma repartição – Secretaria do Interior e da Justiça. O casal teve três filhos: Natércia, Marisa e Cid.
Moreira Campos foi funcionário público e diretor de repartição, mas sonhava com o magistério. Foi professor de Geografia na Fênix Caixeral e lecionou Português no Colégio Padre Champagnat. 

Em 1965, Ingressou no magistério, na UFC, e fez novo vestibular para licenciatura em Letras na Faculdade Católica de Filosofia. Na UFC foi Professor e Chefe do Departamento de Letras; (1970-71) Decano do Centro de Humanidades na administração de Fernando leite; Pró-reitor de graduação durante seis anos (1973 a 1979); e Reitor substituto em algumas ocasiões.
O seu livro de estreia foi Vidas Marginais em 1949. Depois de Vidas Marginais lançou o segundo livro Portas Fechadas, em 1957, editado pela Cruzeiro no tempo de Assis Chateaubriand. O livro de contos foi bem aceito pela crítica e recebeu o prêmio do Instituto Nacional do Rio em 1957.
Em seguida veio o Terceiro livro: As Vozes do Morto, em 1963. Os contos versam sobre as estórias mais diversas. Foi publicado pela Editora Francisco Alves, mas o autor não gostou da edição e mandou tirar de circulação.O próximo livro de Moreira Campos foi O Puxador de Terço, de 1969, que retrata uma figura que o autor conheceu no sertão. 
Depois veio o quinto livro: Os Doze Parafusos, em 1978, que relata um caso que foi contado ao autor por outro intelectual: uma mulher neurótica, com ciúme exacerbado, que para mostrar sacrifício ao marido, retirou dezoito parafusos de uma janela para se atirar lá de cima. Ao escrever o conto o autor reduziu os parafusos a doze por achar que dezoito era muito. 
Contos Escolhidos de 1981, é uma seleção feita pelo autor de histórias publicadas nos livros anteriores.Depois foi lançado em 1985, A Grande Mosca no Copo de Leite, livro que o ator considera de cunho erótico. 
O último livro a ser lançado por Moreira Campos foi Dizem que os Cães Veem Coisas, de 1987, outra seleção de contos já publicados. O título é uma tradição do folclore. Dizem que os animais veem e pressentem acontecimentos da natureza antes dos humanos, que os cães são capazes de perceber um fato extraordinário antes que o homem perceba.
Há ainda um livro de poesias: Momentos.


O escritor em sua biblioteca
Moreira Campos participa de cerca de catorze antologias, entre nacionais e estrangeiras. Suas obras já foram traduzidas para o francês, italiano, inglês, alemão e hebraico. Membro da Academia Cearense Letras, da Academia Cearense de Língua Portuguesa e Professor Emérito da Universidade Federal do Ceará; foi agraciado com diversos prêmios e comendas ao longo de sua existência

Fotos e dados biográficos extraídos do Livro:
Roteiro Sentimental de Fortaleza/ Depoimentos de História Oral de Moreira Campos, Antonio Girão Barroso e José barros Maia/ Coordenadores: Simone de Souza e Sebastião Rogério Ponte. Prefácio de José Carlos Sebe B. Meihy; transcriadores: Oswald Barroso, Caterina de Saboya Oliveira e Sebastião R. Ponte. Fortaleza: UFC-NUDOC/SECULT-CE, 1996.


  • Moreira Campos faleceu no dia seis de maio do ano de 1994, aos 80 anos.
    Em agosto, é instituída a Comenda Moreira Campos em Senador Pompeu, sua terra natal, a ser entregue anualmente a três pessoas de destaque no município.
    Os Encontros Literários do Departamento de Letras da UFC passam a se denominar Moreira Campos.
  • É descerrada uma placa com o seu nome na sala dos professores do Curso de Letras.
    Em novembro, foi inaugurada a Sala Literária Moreira Campos no Palácio da Cultura.
  • Em maio de 1995, é inaugurado o Auditório Moreira Campos no Centro Cultural da Abolição e a sala de leitura Professor Moreira Campos na Biblioteca Pública Municipal Dolor Barreira.
    Em setembro, é criado o Prêmio Moreira Campos pela Assembléia Legislativa de Fortaleza, para escritores. Em dez de outubro, é inaugurado o Bosque Moreira Campos no Campus da UFC.
*Curso MadurezaEra um curso de educação de jovens e adultos que ministrava disciplinas dos antigos ginásio e colegial, a partir da Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB), de 1961. Fixava em 16 e 19 anos as idades mínimas para o início dos cursos, respectivamente, de Madureza Ginasial e de Madureza Colegial. Em 1971, o Curso de Madureza foi substituído pelo Projeto Minerva e, posteriormente, pelo Curso Supletivo

segunda-feira, 26 de julho de 2010

Patrimônio edificado: O Palacete Carvalho Mota






Localizado na zona central da cidade de Fortaleza, o Palacete Carvalho Motta foi construído em 1907 para servir de residência para a família do Coronel Antonio Frederico de Carvalho Motta. A edificação em questão inscreve-se no elenco de obras do chamado Ecletismo Arquitetônico.

Em 1909 o solar foi alugado à Inspetoria de Obras Contra as Secas – IOCS, à qual seria vendido em 1915. Reformado e ampliado por volta de 1930, foram mantidos os seus traços gerais de forma a não transparecer as alterações a que foi submetido

Erguido em gleba contígua ao centro urbano, voltava-se para uma rua valorizada pela passagem de uma linha de bondes à tração animal que demandava o arrabalde do Benfica. Distava apenas um quarteirão da Praça Marques do Herval.

O palacete reproduz o padrão das chamadas casas de “porão alto”, erguidas ainda no alinhamento das ruas, inspirado em modelos nacionais de procedência sulina, já bem antigos no Rio de Janeiro e um tanto posteriores em São Paulo, ficando inserido, na primeira fase daquele ciclo de transformações da casa senhorial brasileira, observado a partir de meados do Segundo Império.

As suas características arquitetônicas aliadas ao seu valor histórico como primeira sede da Inspetoria de Secas motivou o seu tombamento em 19 de maio de 1983,pelo IPHAN.

Ao longo dos anos o solar abrigou as instalações da IOCS, posteriormente DNOCS, vindo a ser desocupada, apenas, ao final da década de 70 com a construção da nova sede da Diretoria Regional do Ceará.

Em 1983, o imóvel foi restaurado com base em projeto elaborado pelo IPHAN, tendo por objetivo a instalação do Museu das Secas, o qual abrigaria o acervo da instituição.

Sem a devida manutenção as instalações do denominado Museu das Secas que viria a ocupar uma área relativamente pequena do prédio, terminaria por não ter condições de atender ao público que buscava visitá-lo.

Com uma área construída total de 1.344,20 m², o Palacete Carvalho Mota fica localizado na Rua Pedro Pereira 683, esquina com a Rua General Sampaio, Centro de Fortaleza.
Uma placa afixada na fachada informa que o imóvel passa por processo de restauração, sob a responsabilidade do IPHAN. Mas a ausência de movimentação de trabalhadores, as paredes externas com pichações e falta de previsão para o término da obra, são indícios de que a restauração encontra-se paralisada.

Fonte: www.ana.gov.br/aguaecultura/anexos/dnocs.doc

sábado, 24 de julho de 2010

Revisitando a Praia de Iracema

Antigo Prédio do DNOCS

Neste local ocupado atualmente pelo antigo prédio do DNOCS, será construído o Acquário Ceará, projeto do governo do Estado.
O projeto prevê a construção de áreas de estacionamento (um dos grandes problemas da Praia de Iracema é a escassez de vagas para estacionar), praças agregadas ao equipamento que formará um conjunto de lazer e cultura com o Centro Dragão do Mar, a antiga alfândega e a Praia de Iracema.
Igreja de São Pedro

Em 1934 uma comissão de fiéis, tendo à frente Mariinha Holanda, resolveu construir uma igreja. O terreno foi doado pela Prefeitura, no ano seguinte. O lançamento da pedra fundamental ocorreu no dia 24 de dezembro de 1935, tendo sido a futura igreja dedicada a São Pedro, santo padroeiro dos pescadores. O templo foi inaugurado em 22 de janeiro de 1939.
Vila Morena (Estoril)

Vista da Ponte dos Ingleses

Entrada principal pela Rua dos Tabajaras
Construído por volta de 1920 representou a realização do sonho do coronel pernambucano José Magalhães Porto.
Anos depois, durante a Segunda Guerra foi transformada em cassino pelos oficiais americanos que vieram para Fortaleza.
Na época, o local tornou-se o reduto das famosas Cocas-Cola, moças da sociedade local, de tradicionais famílias cearenses, que desafiaram as críticas e condenações da época, e assumiram relacionamentos amorosos com os soldados americanos.
Torres da Catedral de Fortaleza

Edificios residenciais

Casa de Show Pirata

recuperação do calçadão
Ponte Metálica

Teve suas obras iniciadas em 1902, e foi concluída em 1906. Serviria de ponto de desembarque de passageiros e cargas. A armação era de ferro, mas o lastro foi construído com madeira. Posteriormente o piso foi substituído por uma estrutura metálica, daí a denominação popular de ponte metálica.
 A ponte metálica serviria de porto durante duas décadas.
A ponte foi desativada na década de 1940, com a inauguração do Porto do Mucuripe.
Ponte dos Ingleses


Equivocadamente chamada de Ponte Metálica, a Ponte dos Ingleses teve sua construção iniciada em 1920, no Governo do Presidente Epitácio Pessoa.
Sua estrutura foi desenhada por engenheiros da empresa inglesa Nastor Griffts que mantinha interesses comerciais no Ceará, daí veio a nome de “Ponte dos Ingleses”.
Em 1994, a Câmara Municipal de Fortaleza aprovou projeto determinando sua recuperação. A nova Ponte dos Ingleses foi uma ação tomada pela Secretaria da Cultura do Estado. O projeto recuperou a estrutura para uso público e urbanizou para uso de lazer. Ao todo são 120 m de comprimento, muretas de proteção e piso de madeira
Estaleiro do INACE (Industria Naval do Ceará)

Equipamento horroroso que enfeia e degrada a Praia de Iracema.
Acharam que um só era pouco e tentaram implantar outro estaleiro na orla, desta feita no Titanzinho. Pelo menos uma vez o bom senso prevaleceu e os donos do empreendimento foram poluir noutro local.
Praia do Titanzinho vista da ponte dos Ingleses
embarcações: o global e o local porque navegar é preciso...

Fotos: Rodrigo Alboim

quinta-feira, 22 de julho de 2010

Patrimônio Edificado: O Prédio Sociedade União Cearense

Fachada do prédio da Coelce em diferentes datas


No Final do Século XIX o imponente sobrado já podia ser visto. As janelas se abriam para o Passeio Público (Praça dos Mártires), ajardinada e urbanizada por ordem do presidente da província. O edifício pertenceu primeiro ao Hotel do Norte; depois, à Sociedade União Cearense; mais tarde passou para os Correios; depois para a Ceará Tramway Light and Power, e finalmente, à COELCE – Companhia Energética do Ceará, que é até hoje a proprietária do imóvel.
Apesar de tombado pelo Estado, ruiu parcialmente em decorrência das chuvas de 2000.
Mas o século XXI trouxe boas noticias para o velho edifício: O antigo Hotel do Norte está sendo recuperado com verbas do mecenato. Será em breve a sede do IAB-CE da Orquestra Filarmônica e do Museu da Indústria.
Fica situado na Rua Dr. João Moreira na esquina com a Rua Floriano Peixoto.


Fotos: Rodrigo Alboim

quarta-feira, 21 de julho de 2010

Lâmpadas Fluorescentes Usadas: para onde vai esse lixo?


Desde o apagão de 2001, quando a população foi obrigada a cumprir cotas de consumo de energia, que as lâmpadas fluorescentes se incorporaram à vida brasileira. A partir daí a venda desse tipo de produto tem se mantido em escala ascendente. Só nos últimos quatro anos, a média de crescimento foi da ordem de 20% ao ano.
O produto tem vantagens evidentes que os fabricantes não se cansam de ressaltar apesar do preço alto: gasto menor de energia, tempo de vida útil maior do que as lâmpadas incandescentes comuns.
O que muita gente não sabe, é que as lâmpadas fluorescentes contêm mercúrio, substância poluente, nociva ao ser humano e ao meio ambiente. E por ser um produto que gera resíduos perigosos, necessita de alguns cuidados tanto na hora do manuseio quanto no descarte.
No manuseio, recomenda-se nunca segurar a lâmpada pelo vidro; em caso de quebra acidental, o local deve ser limpo, os cacos coletados e colocados em caixas de papelão ou protegidos com jornal de modo a não ferir quem os manipula. Mas fica a questão do descarte: o que fazer com essas lâmpadas depois de queimadas?
Fortaleza, na contra mão da realidade dos problemas urbanos, da necessidade de se resolver os problemas criados a partir da geração do lixo, da necessidade premente da reciclagem e da preservação ambiental, não conta com uma coleta diferenciada que contemple esse tipo de produto nocivo ao meio ambiente;
aliás, até hoje não existe em Fortaleza, sequer a coleta seletiva do lixo reciclável ou reaproveitável: pilhas, lâmpadas, baterias, papéis, óleo de cozinha, lixo eletrônico, embalagens, plásticos, vidros, vai tudo para o mesmo saco e acabam nos aterros sanitários, junto com o lixo comum.
O que ameniza um pouco o problema é a ação dos recicladores e de alguns segmentos da iniciativa privada que recebem lixo eletrônico. Os fabricantes também são omissos, não dispõem de programas para recolher produtos descartáveis e que muitas vezes, são reaproveitáveis. Apesar da omissão, muitos deles publicam páginas na web para falarem de responsabilidade sócio-ambiental em suas empresas: é o vale tudo para parecerem ambientalmente corretos; na prática não existe nada, nem responsabilidade, nem gestão ambiental, nem preocupação com a poluição ou com o meio ambiente, nem tecnologias limpas. Só discursos vazios.
Utilizei os famosos “fale conosco” de inúmeros fabricantes de lâmpadas fluorescentes, no qual solicitei – via email – informações a respeito do descarte de seus produtos. O único que respondeu, recomendava que eu procurasse a Secretaria de Meio ambiente do Município; os demais ficaram convenientemente calados.
A luz no fim do túnel é que, depois de 19 longos anos de discussão, a Política Nacional de Resíduos Sólidos foi aprovada em março deste ano na Câmara dos Deputados. Pela primeira vez, uma lei distribui a responsabilidade sobre os resíduos entre fabricantes, governo e sociedade.
As empresas serão obrigadas a recolher e dar destino adequado a seus produtos. A lei proíbe a eliminação de resíduos onde possa haver contaminação da água ou do solo.
A Lei ainda precisa ser sancionada pela Presidência da República.
Enquanto a legislação não sai, é recomendável que a população não misture essas lâmpadas com o lixo doméstico, pois é grande o risco de contaminação do meio ambiente, que põe em risco a saúde dos funcionários que manuseiam o lixo e dos catadores e recicladores que sobrevivem nos aterros e lixões.
Mas fica ainda no ar a pergunta que é o Xis da questão:
O que a população de Fortaleza está fazendo com esse lixo?

terça-feira, 20 de julho de 2010

Fortaleza à moda Francesa

Prédio da empresa Boris Fréres & Cie Ltd, em foto de 1910.
(foto - arquivo NIREZ)

A mania começou por volta de 1869, quando por aqui se instalou a casa de comércio de Theodore Boris & Irmão. Este estabelecimento, de propriedade de dois irmãos de nacionalidade francesa, transformou-se depois na firma Boris Frères, com sede em Paris.
Em 1878 um dos sócios – Isaie Boris – veio residir no Ceará, o que deu prestigio, respeito e credibilidade ao estabelecimento. O nome Boris era sinônimo de confiança, garantia de seriedade nos negócios. O espírito popular começou a chamar o oceano de Açude do Boris; qualquer impasse que surgia em determinada situação, o gracejo é que seria resolvido pelo Boris; à Justiça deram a alcunha de mãe do Boris, significando que até os tribunais eram influenciados pelo comerciante.
Isaie Boris tornou-se Vice Cônsul da França e elevou-se mais ainda na consideração e estima da sociedade fortalezense, do comércio e dos poderes públicos. Coordenou e foi presidente da comissão Organizadora quando da participação do Ceará na Exposição Internacional de Chicago em 1892-93, elaborando o catálogo de produtos cearenses que deveriam figurar na exposição. Com o afastamento de Isaie Boris, a firma Boris Frères passou a ser administrada em Fortaleza por Achille Boris, outro grande empreendedor.
A tal ponto chegou a influência e a atuação dos Boris em Fortaleza, que algumas vezes, teve a Fazenda do Estado de recorrer ao seu financiamento para atender as carências monetárias dos cofres públicos.
Por conta dessa crescente ingerência da Casa Boris nos negócios e na vida da cidade, essa influência foi se acentuando, e ficou ainda maior com as viagens à Europa, de preferência à França, de várias personalidades cearenses, algumas acompanhadas das famílias, onde às vezes se demoravam meses e anos, segundo dizem, as expensas da Casa Boris.
Muitos foram os cearenses que estudaram, se graduaram médicos, engenheiros na França, e casaram com damas francesas.

 
Fachada da Loja Torre Eiffel na Rua Major Facundo, n° 88.
(foto - Arquivo NIREZ)

A Casa Boris também abriu caminho para que vários franceses se estabelecessem por aqui, como o professor Louis Vergeot, correspondente-redator de “Le Journal” de Paris e delegado da “Alliance Française”, que se destinava a propagação da língua francesa nas colônias e Norberto Golignac, que mantinha um serviço de carruagens de luxo, para casamentos, passeios e batizados.
Ao lado de outros estabelecimentos que foram abertos na mesma época, tais como os de Gradvohl Frères, Levy Frères, Benoit Levy & Dreifuss, e outros, generalizou-se a moda de dar nomes franceses às empresas cearenses. Assim surgiram estabelecimentos com atuação em ramos diversos, com denominações como Au Phare de La Bastille, Louvre, Bom Marché, Notre Dame de Paris, Rendez-Vous dês Amis, Torre Eifel, Hotel de France, Hôtel de l’Univers, Art-Nouveau, Café Riche, Farmácia Pasteur, Farmácia Francesa – todas vendendo artigos de procedência francesa: modas, tecidos, sapatos, chapéus, perfumes, bijouterias, conservas, vinhos, bebidas, licores e produtos farmacêuticos.


Cartaz de propaganda da Farmácia Pasteur, fundada em 1894.
(foto  - Arquivo NIREZ)

Os colégios ensinavam o idioma francês e as famílias cultivavam hábitos, vestuários e maneiras à moda francesa, que nada tinham em comum com os hábitos e costumes em voga na provinciana Fortaleza. O modismo se estendeu a praticamente todos os setores e a mania do afrancesamento dominou Fortaleza durante longo período.


quinta-feira, 15 de julho de 2010

O Liceu do Ceará

Liceu do Ceará (foto reprodução)

O Liceu foi criado pela Lei n° 304 de 15 de julho de 1844 e instalado no dia 19 de outubro de 1845, na sala do sobrado de Odorico Segismundo de Arnaut, alugado pela quantia de 350 mil Réis anuais, conforme autorização da Presidência ao diretor, Dr. Thomas Pompeu de Sousa Brasil.
Funcionou em diversos imóveis, até o dia 15 de março de 1894, quando passou para o edifício à Praça dos Voluntários, no Centro, construído especialmente para o funcionamento do Liceu. As aulas foram iniciadas em 15 de março, de conformidade com o regulamento do mesmo ano, que reorganizou o ensino público secundário. O curso era equivalente ao do ginasial e compreendia as seguintes disciplinas:
Aritmética, Álgebra, Geometria, Trigonometria, Mecânica, Astronomia, Física, Química, Meteorologia, Mineralogia, Geologia, Botânica, Biologia, Geografia, História, Sociologia e Moral. Letras e artes: línguas portuguesa, inglesa, alemã, latina, grega, literatura nacional, desenho, música, ginástica, evoluções militares e esgrima.
O curso tinha duração de sete anos e ao candidato que obtivesse pelo menos as aprovações plenas, era conferido o titulo de Bacharel em Letras e Ciências.
Na época em que o Liceu do Ceará foi criado, estudar era um privilégio da elite, só estudava quem tinha recursos, não apenas porque os colégios eram poucos, mas também pelos custos que representavam a manutenção de um estudante.
Retrato de uma época em que o ensino público era sinônimo de qualidade, o Liceu completa 165 anos em 2010.

Fonte: BEZERRA DE MENEZES, Antonio. Descrição da Cidade de Fortaleza. Introdução e Notas de Raimundo Girão. Fortaleza: Edições UFC/Prefeitura Municipal de Fortaleza, 1992.

segunda-feira, 12 de julho de 2010

A Fortaleza que não existe mais: A Usina Elétrica SERVILUZ

A Usina Elétrica do SERVILUZ funcionava no bairro do Mucuripe
(foto: IBGE)
Em 1960, o serviço público de energia elétrica em Fortaleza era operacionalizado - de forma precária - pela SERVILUZ - Serviço de Luz e Força de Fortaleza, a partir de energia gerada por usinas termelétricas.
A SERVILUZ era uma autarquia pertencente ao município de Fortaleza, resultante da encampação da antiga Ceará Tramways, Light & Power.
Em 1962 o controle acionário da SERVILUZ passou da prefeitura de Fortaleza para a ELETROBRÁS, quando então a empresa transformou-se na CONEFOR - Companhia Nordeste de Eletrificação de Fortaleza

domingo, 11 de julho de 2010

Pelos Palcos da Cidade – O Teatro Taliense

inicio da rua Formosa em época não especificada.

Em 1842 foi inaugurado na Rua Formosa (atual Barão do Rio Branco) n° 72, no local que atualmente tem os números 1080 e 1084, o Teatro Taliense, sucessor do Teatro Concórdia, antes situado na esquina da Travessa Municipal (Rua Guilherme Rocha) com a Rua do Quartel (General Bezerril).

Animadíssimo palco de festas artísticas e cívicas, o Teatro Taliense e suas reuniões constituíam ponto de destaque para a vida da cidade. Pertenceu a uma associação de moços, composta de comerciantes lusos e empregados do comércio. Os próprios associados levavam ao palco as peças do repertório, geralmente dramalhões. A casa ficava cheia de senhoras da elite, com seus penteados rebuscados, arrematados por altos pentes de tartaruga, expressão de máxima elegância.

Em um dia de festa nacional, o teatro regurgitava de gente. Antes do inicio da peça, era do programa encenar um prólogo que rememorasse o fato que ia ser representado em seguida. Neste espetáculo em particular, de nome "O Gênio do Brasil”, o personagem principal, vestido de anjo, descia das alturas envolto em uma nuvem para deitar falação, ao respeitável público, em mensagem de felicitações. Coube ao português, alferes do Exército, conhecido por Alferes Castiga, Francisco Edwirgens de Sousa Mascarenhas, o papel de “Gênio do Brasil”, por ser esguio e leve.

Dado o sinal de inicio, o “Gênio do Brasil” desceu do teto, escarranchado na sua nuvem, e a meia altura, soltou o verbo, com todos os olhares voltados para o anjo nas alturas. O final, porém, deveria ser no palco e em pé.

Mas quando Castiga foi pular no palco, tentando um salto, não conseguiu desembaraçar-se da nuvem, ficando pendurado no cenário. Com o esforço que o artista fez para se soltar, o calção que era de meia, muito colado às pernas, partiu-se.

O apito troou para descer o pano de boca, mas a engenhoca emperrou também, deixando o alferes Castigas exposto ao maior ridículo, pendurado, seminu, com a roupa rasgada. As respeitáveis senhoras viraram a cara, mas da platéia, apupos, vaias e gargalhadas estridentes acolhiam o “Gênio do Brasil”, que só desceria por uma corda. Esta cena tornou célebre o artista que ficou conhecido como o “Anjo Penca” (torto).

Em maio de 1852 O Teatro Taliense acolheu o primeiro espetáculo com artistas internacionais, os famosos Uguccioni, pai e filho. Eram excelentes músicos que tiveram de permanecer no Ceará mais tempo que estava previsto, a pedido das famílias, a fim de ministrarem aulas de canto e música instrumental – piano, violão e rabeca.

No calor do estímulo deixado pelos Uguccioni, foi fundada em 1854, a primeira banda de música do Batalhão Policial. O Teatro Taliense resistiu até 1872. Um dos seus últimos programas deu-se em benefício da atriz Emília Augusta da Câmara com a execução de várias comédias, todas de um ato.

Com o desaparecimento desse teatro, cuidou a administração pública de edificar uma outra casa para esse fim, chegando a Assembléia Legislativa a votar a Lei 1509, de 21 de dezembro de 1872, com a qual autorizava o governo a utilizar uma verba de até cem contos de Réis numa obra dessa natureza.

Fonte:
GIRÃO, Raimundo. Geografia Estética de Fortaleza. Fortaleza: Imprensa Universitária do Ceará, 1959

sexta-feira, 9 de julho de 2010

A Passagem do Tempo na Vila de Fortaleza

A Coluna da Hora foi construída em 1933 pelo Prefeito Raimundo Girão
(Arquivo NIREZ)


Na Vila colonial, o tempo era contado pelos sinos. A cidade dormia cedo, ás 21 horas, avisada da hora de recolher pelas cornetas do quartel. Por volta de 1854, uma novidade na Matriz: o primeiro relógio público.
No final do Século XIX, é a Intendência Municipal que passar a ditar o ritmo das horas. E em 1933, surge a Coluna da Hora, no local de maior visibilidade da cidade: a Praça do Ferreira – que concentrava bondes, cinemas, lojas, cultura e política.
O relógio da Coluna da Hora passou a representar o controle do tempo na pequena urbe. Seus ponteiros decretavam a hora oficial, e por elas as fábricas, o comércio, e os habitantes controlavam seus horários.
Os relógios sempre foram essenciais para o homem urbano, servindo para a orientação e organização do cotidiano em decorrência da multiplicidade de compromissos a serem cumpridos no espaço de 24 horas. Todavia, só após término da Segunda Guerra Mundial o seu uso popularizou-se, antes os relógios de pulso eram usados apenas pela elite, simbolizando riqueza e poder. 
Aos desprovidos de fortunas restavam os relógios públicos, que ornamentavam as fachadas de prédios, as torres das igrejas e de outros espaços públicos, como as praças.

quinta-feira, 8 de julho de 2010

As Alegres Pensões do Centro

Rua Conde D'Eu, década de 1940

Os cabarés, pensões altas ou alegres – como eram chamados nos idos dos anos 1940 e 50 – eram locais de diversão garantida e bastante freqüentados nas noites de Fortaleza. A maioria ficava no centro da cidade, nas ruas Major Facundo, Floriano Peixoto, Barão do Rio Branco e arredores, e funcionavam em antigos casarões, nos quais as pensões ocupavam o andar superior.
Esses antigos casarões eram sobrados em que durante o dia, funcionavam estabelecimentos comerciais no térreo, e à noite, o andar superior tornava-se ponto de encontro dos amantes da diversão, da boemia, da música e da companhia de belas mulheres.
Os vizinhos reclamavam da intensa algazarra que provinha destes estabelecimentos, e não eram raros os episódios de conflitos, brigas e confusões que estes ambientes produziam. Tampouco eram raros os casos de agressão as donas das pensões, pois muitas vezes elas tentavam apaziguar os conflitos existentes entre os fregueses e as meretrizes ou entre os próprios freqüentadores.
As proprietárias das pensões chamadas de “Madames” eram geralmente pessoas experientes que sabiam lidar com esses conflitos; eram responsáveis pela direção das casas de prostituição e agenciamento das “meninas”. A clientela era exclusivamente masculina e os cabarés acolhiam os todos os segmentos de classes sociais: autoridades, políticos, caixeiros, empregados do comércio, profissionais liberais, fazendeiros, militares, comerciantes, pedreiros, operários, etc.
Eram freqüentes os casos de romance entre clientes e prostitutas, alguns terminaram em casamento. Alguns desses estabelecimentos fizeram história e marcaram sua passagem pelo centro. Dentre outros destacaram-se:
A Pensão Paraibana, na Rua Conde D’Eu esquina com a Travessa Crato. No inicio de 1950 o estabelecimento pegou fogo e nunca mais reabriu.
Do lado oposto, funcionava uma das mais célebres pensões da Rua Conde d’Eu: a Pensão da Graça, de propriedade de duas irmãs que pertenciam à alta sociedade paraense, chamadas Graça e Alcina.
Na Rua São Paulo havia uma pensão muito elegante, com mulheres vindas do sul do país. Lá um famoso radialista se enamorou da “madame” e chegaram a contrair núpcias.
Na Rua General Bezerril, esquina com a Travessa Crato, havia a Pensão do famoso Zé Tatá, onde as meninas passavam por um rigoroso processo de seleção.
No inicio da Floriano Peixoto, funcionava a Pensão Cristal, ambiente de respeito e discrição, supervisionada pela proprietária, Madame Cristalina.
No quarteirão da Praça do Ferreira existiu a Pensão Estrela, uma das mais famosas, de propriedade de Madame Generosa. Era a mais central das pensões, no coração da cidade.
Na Barão do Rio Branco, antes da Rua Senador Alencar existia a Pensão New York e a Pensão Império, num grande sobrado da Madame Edwirgens, num imóvel de propriedade da imobiliária Manuel Cavalcante. Ao lado, outra pensão, a de Madame Julinha.
O que havia de mais atraente na Rua Barão do Rio Branco era o famoso Bar da Alegria – pensão da espanhola Nena – gerenciada por Beatriz. Muito famosa por promover bailes de aniversário de cada meretriz, quando todas apareciam de vestidos longos, com tecidos e cores iguais às festas de adolescentes, ao som de autênticas orquestras.
Ainda na Rua Barão do Rio Branco, a Pensão Ubirajara, de propriedade de Madame Dondon, que promovia festas todas as noites.
Algumas dessas pensões sobreviveram até fins da década de 60, inicio de 70, mas por essa época já estavam em franca decadência. Em 1971, veio a pá de cal: por pressão dos hotéis, foram fechadas pela Polícia.

Fontes:
ALMADA, Zenilo. O Bonde e outras Recordações. Fortaleza: Expressão Gráfica e Editora, 2005.
VERLAINE, Paulo. Sexo e Diversão. Revista Fortaleza, Fascículo 9 p. 13. Fortaleza: O Povo, 2006.

segunda-feira, 5 de julho de 2010

Os cadetes da escola Militar

Dia da deposição do Governador Clarindo de Queiroz pelos cadetes da Escola Militar do Ceará
(foto Arquivo Nirez)

A chegada da Escola Militar trouxe a Fortaleza uma das épocas mais agitadas da cidade. O Estabelecimento foi classificado pelo jornalista João Brígido como uma instituição nociva à paz pública, a qual desapareceu em meio a maldições. A sua primeira instalação – enquanto o prédio da Avenida Santos Dumont passava por reformas – foi nos fundos do quartel do 11° Batalhão de Infantaria, hoje 23° BC.
Foram matriculados 700 alunos, entre efetivos e adidos. Como a escola não oferecia internato, os alunos formaram “repúblicas” pela cidade. À noite, depois das 21 horas, os cadetes tomavam conta da pacata cidade e praticavam todo tipo de desordens.
Andavam aos bandos, roubavam galinhas, patos e perus dos quintais das residências, e obrigavam as patrulhas policiais a pegar jumentos nos cercados para realizar suas farras noturnas.
Em fevereiro de 1892, usando canhões e metralhadoras, os cadetes cercaram o palácio do governo e exigiram a renúncia do governador Clarindo de Queiroz. Disposto a resistir o governador respondeu ao ataque durante toda noite o que resultou em 13 mortos e inúmeros feridos. Na manhã de 17 de fevereiro, com o palácio crivado de balas, Clarindo de Queiroz, sem munição, rendeu- se e entregou o cargo ao Coronel Bezerril, então comandante da Escola Militar
Em 1897 os cadetes organizaram para o carnaval um bloco chamado Clube dos Gaiolas.
O clube composto somente por alunos da escola Militar tinha sua sede na Rua Senador Pompeu, num imóvel invadido pelos alunos.
Para equipar o clube para o carnaval, roubaram tudo: carroças, sinos (do Passeio Público e da Igreja São Luis), cadeiras, caixões para armações de palanques. Os Gaiolas iam sair à rua no domingo de carnaval. Na véspera começaram a captura de jumentos que seriam utilizados no desfile.
A polícia sabedora de que os cadetes iriam trazer carros de crítica às autoridades, exigiu que os veículos fossem previamente submetidos a sua apreciação. Os cadetes, porém, não tomaram conhecimento da exigência e saíram no dia e hora anunciados.
Os carros de críticas apareceram, com um mascarado à frente, representando o governador do estado, a bancar roleta no palácio; atrás o chefe de policia dormia em uma espreguiçadeira, enquanto as ordenanças jogavam baralho.
Os cadetes não temiam nada, nem a própria policia e faziam o que bem entendiam.
A escola era comandada pelo Cel. Siqueira de Menezes, militar austero e disciplinador, que não era bem aceito pelos alunos. Certa noite realizava-se um baile em casa de um oficial da guarnição, na Rua Major Facundo, ao qual compareceu o Cel. Siqueira. Do "sereno" da festa, os cadetes perceberam que o comandante tentava conquistar determinada dama. Confabularam e resolveram dar uma surra no coronel.
Reuniram-se no Passeio Público e armados de toalhas molhadas esperaram sua saída. Graças, porém a interferência do Major José Faustino, que tinha prestigio junto aos alunos, a agressão não se consumou. No dia seguinte a cidade amanheceu com letreiros escritos a piche “Abaixo o Nazareno”, numa referência a aparência do Coronel.
A partir desse dia os alunos não aceitaram mais subordinar-se ao seu comando e aclamaram, em seu lugar no comando da Escola, o Major Faustino. Telegrafaram em seguida ao presidente da república, que concordou com a substituição, dando ordem a Siqueira de Menezes para embarcar de volta para a capital do País.
Os abusos cometidos pelos alunos da escola militar continuaram com maior intensidade e, durante muito tempo, os moradores acordavam sobressaltados à espera de mais alguma ação dos desordeiros cadetes que ficaram famosos por conta dos atos de vandalismo cometidos em Fortaleza.

Fonte:
MENEZES, Raimundo de. Coisas que o Tempo Levou: crônicas históricas da Fortaleza antiga. Fortaleza: Edições Demócrito Rocha, 2000.
 

quinta-feira, 1 de julho de 2010

De Asilo de Mendicidade a Escola Militar

Aspecto primitivo da fachado do Colégio Militar (foto reprodução)


E no inicio dos anos 60
foto: http://www.qw.com.br/cmf6369/fotos.htm

Em 22 de setembro de 1877, no Palácio do Governo e na presença do Presidente da Província Caetano Estelita Cavalcante Pessoa (janeiro a novembro de 1877), compareceu o Barão de Ibiapaba, para expressar sua preocupação com as condições precárias em que se achava nesta capital, a classe desfavorecida da fortuna por causa da seca.

Acrescentou que desejava melhorar a situação desses desabrigados, proporcionando-lhes um abrigo gratuito. Para tanto, fazia um donativo à província da quantia de 10 mil Réis e mais um terreno de três quarteirões com frentes para as ruas do Colégio das Órfãs (atual Colégio da Imaculada Conceição na Avenida Santos Dumont), Leopoldina, Solidade (atual Rua J. da Penha), e Aurora (atual Costa Barros), para edificação de um Asilo de Mendicidade.

Nessa ocasião ficou acertado que, enquanto a edificação não estivesse totalmente concluída, seria da competência exclusiva do doador ou dos seus sucessores; tão logo estivesse concluído, a responsabilidade pelo edifício passaria a Presidência da Província, tendo então sido lavrado um termo assinado tanto pelo Presidente quanto pelo doador.

O Presidente Estelita mandou dar inicio as obras e no ano seguinte, 1878, o Presidente José Júlio de Albuquerque Barros (março de 1878- julho de 1880), ordenou a continuação das obras e aumentou o valor dos donativos em 15 mil Réis.
Nesse ano e no de 1879 foi empregado na construção, grande número de indigentes e de materiais fabricado por eles.

Depois de concluído, em 1889, quando deveria ser entregue ao bispo para os fins a que estava destinado, um decreto de 1890 anulou o termo de doação do prédio, porque este tinha sido construído em parte com o dinheiro público. Com a revogação da lei, foi determinado que o referido prédio ficasse a cargo do Tesouro do Estado para posterior deliberação, e o patrimônio instituído para o asilo, fosse recolhido aos cofres para posterior aplicação.

Em 1892 o Governador Benjamim Barroso (fevereiro a julho de 1892), colocou o prédio a disposição do Presidente da República, Marechal Floriano Peixoto (1891-1894), com as informações de que:  

poderia servir para instalação da Escola Militar, com algumas adaptações; 
que o edifício havia sido construído pela verba “socorros públicos” em 1878;
que os donativos feitos pela instituição para construção do asilo de mendicidade, estavam depositados no Tesouro do Estado, e não sendo suficientes para mantê-lo, o edifício estava abandonado;
que o terreno doado dava direito ao doador apenas o de indicar quem devia ser asilado, e como era de pouco valor o Governo poderia indenizá-lo, se ele fizesses questão;
que o oferecimento só teria efeito enquanto no edificio funcionasse a Escola Militar.

O Governo Federal aprovou a negociação, e o edifício que deveria abrigar retirantes da seca, passou a ser ocupado pela Escola Militar, mais tarde denominado Colégio Militar de Fortaleza.

Fonte:
BEZERRA DE MENEZES, Antonio. Descrição da Cidade de Fortaleza. Introdução e notas de Raimundo Girão. Fortaleza: Edições UFC/Prefeitura Municipal de Fortaleza, 1992.