Em 1842 foi inaugurado na Rua Formosa (atual Barão do Rio Branco) n° 72, no local que atualmente tem os números 1080 e 1084, o Teatro Taliense, sucessor do Teatro Concórdia, antes situado na esquina da Travessa Municipal (Rua Guilherme Rocha) com a Rua do Quartel (General Bezerril).
Animadíssimo palco de festas artísticas e cívicas, o Teatro Taliense e suas reuniões constituíam ponto de destaque para a vida da cidade. Pertenceu a uma associação de moços, composta de comerciantes lusos e empregados do comércio. Os próprios associados levavam ao palco as peças do repertório, geralmente dramalhões. A casa ficava cheia de senhoras da elite, com seus penteados rebuscados, arrematados por altos pentes de tartaruga, expressão de máxima elegância.
Em um dia de festa nacional, o teatro regurgitava de gente. Antes do inicio da peça, era do programa encenar um prólogo que rememorasse o fato que ia ser representado em seguida. Neste espetáculo em particular, de nome "O Gênio do Brasil”, o personagem principal, vestido de anjo, descia das alturas envolto em uma nuvem para deitar falação, ao respeitável público, em mensagem de felicitações. Coube ao português, alferes do Exército, conhecido por Alferes Castiga, Francisco Edwirgens de Sousa Mascarenhas, o papel de “Gênio do Brasil”, por ser esguio e leve.
Dado o sinal de inicio, o “Gênio do Brasil” desceu do teto, escarranchado na sua nuvem, e a meia altura, soltou o verbo, com todos os olhares voltados para o anjo nas alturas. O final, porém, deveria ser no palco e em pé.
Mas quando Castiga foi pular no palco, tentando um salto, não conseguiu desembaraçar-se da nuvem, ficando pendurado no cenário. Com o esforço que o artista fez para se soltar, o calção que era de meia, muito colado às pernas, partiu-se.
O apito troou para descer o pano de boca, mas a engenhoca emperrou também, deixando o alferes Castigas exposto ao maior ridículo, pendurado, seminu, com a roupa rasgada. As respeitáveis senhoras viraram a cara, mas da platéia, apupos, vaias e gargalhadas estridentes acolhiam o “Gênio do Brasil”, que só desceria por uma corda. Esta cena tornou célebre o artista que ficou conhecido como o “Anjo Penca” (torto).
Em maio de 1852 O Teatro Taliense acolheu o primeiro espetáculo com artistas internacionais, os famosos Uguccioni, pai e filho. Eram excelentes músicos que tiveram de permanecer no Ceará mais tempo que estava previsto, a pedido das famílias, a fim de ministrarem aulas de canto e música instrumental – piano, violão e rabeca.
No calor do estímulo deixado pelos Uguccioni, foi fundada em 1854, a primeira banda de música do Batalhão Policial. O Teatro Taliense resistiu até 1872. Um dos seus últimos programas deu-se em benefício da atriz Emília Augusta da Câmara com a execução de várias comédias, todas de um ato.
Com o desaparecimento desse teatro, cuidou a administração pública de edificar uma outra casa para esse fim, chegando a Assembléia Legislativa a votar a Lei 1509, de 21 de dezembro de 1872, com a qual autorizava o governo a utilizar uma verba de até cem contos de Réis numa obra dessa natureza.
Fonte:
GIRÃO, Raimundo. Geografia Estética de Fortaleza. Fortaleza: Imprensa Universitária do Ceará, 1959
Um comentário:
Muito interessante, curiosa mesmo, a história do Teatro Taliense - nunca tinha ouvido falar.
A atriz Emília Augusta da Câmara devia ser parenta,rsrsrs ,do Carlos Câmara, o grande autor de operetas.....vou pesquisar...
O Castigas foi uma pândega...era o Renato Aragão de ontem...fico imaginando a cena do anjo nas nuvens kkkkkk....FORMIDÁVEL!!!!!!
Valeu a leitura!!!!
Lúcia Paiva
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