segunda-feira, 5 de julho de 2010

Os cadetes da escola Militar

Dia da deposição do Governador Clarindo de Queiroz pelos cadetes da Escola Militar do Ceará
(foto Arquivo Nirez)

A chegada da Escola Militar trouxe a Fortaleza uma das épocas mais agitadas da cidade. O Estabelecimento foi classificado pelo jornalista João Brígido como uma instituição nociva à paz pública, a qual desapareceu em meio a maldições. A sua primeira instalação – enquanto o prédio da Avenida Santos Dumont passava por reformas – foi nos fundos do quartel do 11° Batalhão de Infantaria, hoje 23° BC.
Foram matriculados 700 alunos, entre efetivos e adidos. Como a escola não oferecia internato, os alunos formaram “repúblicas” pela cidade. À noite, depois das 21 horas, os cadetes tomavam conta da pacata cidade e praticavam todo tipo de desordens.
Andavam aos bandos, roubavam galinhas, patos e perus dos quintais das residências, e obrigavam as patrulhas policiais a pegar jumentos nos cercados para realizar suas farras noturnas.
Em fevereiro de 1892, usando canhões e metralhadoras, os cadetes cercaram o palácio do governo e exigiram a renúncia do governador Clarindo de Queiroz. Disposto a resistir o governador respondeu ao ataque durante toda noite o que resultou em 13 mortos e inúmeros feridos. Na manhã de 17 de fevereiro, com o palácio crivado de balas, Clarindo de Queiroz, sem munição, rendeu- se e entregou o cargo ao Coronel Bezerril, então comandante da Escola Militar
Em 1897 os cadetes organizaram para o carnaval um bloco chamado Clube dos Gaiolas.
O clube composto somente por alunos da escola Militar tinha sua sede na Rua Senador Pompeu, num imóvel invadido pelos alunos.
Para equipar o clube para o carnaval, roubaram tudo: carroças, sinos (do Passeio Público e da Igreja São Luis), cadeiras, caixões para armações de palanques. Os Gaiolas iam sair à rua no domingo de carnaval. Na véspera começaram a captura de jumentos que seriam utilizados no desfile.
A polícia sabedora de que os cadetes iriam trazer carros de crítica às autoridades, exigiu que os veículos fossem previamente submetidos a sua apreciação. Os cadetes, porém, não tomaram conhecimento da exigência e saíram no dia e hora anunciados.
Os carros de críticas apareceram, com um mascarado à frente, representando o governador do estado, a bancar roleta no palácio; atrás o chefe de policia dormia em uma espreguiçadeira, enquanto as ordenanças jogavam baralho.
Os cadetes não temiam nada, nem a própria policia e faziam o que bem entendiam.
A escola era comandada pelo Cel. Siqueira de Menezes, militar austero e disciplinador, que não era bem aceito pelos alunos. Certa noite realizava-se um baile em casa de um oficial da guarnição, na Rua Major Facundo, ao qual compareceu o Cel. Siqueira. Do "sereno" da festa, os cadetes perceberam que o comandante tentava conquistar determinada dama. Confabularam e resolveram dar uma surra no coronel.
Reuniram-se no Passeio Público e armados de toalhas molhadas esperaram sua saída. Graças, porém a interferência do Major José Faustino, que tinha prestigio junto aos alunos, a agressão não se consumou. No dia seguinte a cidade amanheceu com letreiros escritos a piche “Abaixo o Nazareno”, numa referência a aparência do Coronel.
A partir desse dia os alunos não aceitaram mais subordinar-se ao seu comando e aclamaram, em seu lugar no comando da Escola, o Major Faustino. Telegrafaram em seguida ao presidente da república, que concordou com a substituição, dando ordem a Siqueira de Menezes para embarcar de volta para a capital do País.
Os abusos cometidos pelos alunos da escola militar continuaram com maior intensidade e, durante muito tempo, os moradores acordavam sobressaltados à espera de mais alguma ação dos desordeiros cadetes que ficaram famosos por conta dos atos de vandalismo cometidos em Fortaleza.

Fonte:
MENEZES, Raimundo de. Coisas que o Tempo Levou: crônicas históricas da Fortaleza antiga. Fortaleza: Edições Demócrito Rocha, 2000.
 

2 comentários:

Anônimo disse...

Que fato hilário!
Só você mesmo pra escavar essa
história....logo os cadetes!
parecem sempre tão certinhos!!!
Valeu, Fátima!

Lúcia Paiva

Fatima Garcia disse...

nesse aspecto temos que admitir que em termos de disciplina, as coisas melhoraram muito. Hoje os alunos do colégio Militar são exemplos de bom comportamento.