Com 7 andares e um terraço –
um espanto para a época – o primeiro arranha-céu de Fortaleza foi inaugurado no
último dia do ano de 1931, e assinalou o início da construção de prédios altos
na cidade. O projeto, de autoria desconhecida, foi inspirado num edifício de
Milão, executado por Natale Rossi, irmão de Pierina Rossi, esposa do
proprietário do edifício, o comerciante Plácido de Carvalho.
No acabamento foram utilizados
materiais de primeira linha, importados da Europa, já que aquela época era
praticamente inexistente esse tipo de produtos com alta qualidade, de
procedência local. Em estilo eclético O Excelsior começou a ser construído como
um prédio de alvenaria de tijolos de três pavimentos por volta de
1928/1929. No decorrer das obras, o
proprietário, Plácido de Carvalho, entendeu de elevá-lo para oito. Houve alerta
dos engenheiros sobre os riscos de tal mudança. Em consequência, o proprietário
contratou o engenheiro Archias Medrado, o qual calculou uma estrutura de
concreto armado complementar. Os pilares, vigas e lajes foram construídos com a
utilização de trilhos de trens adquiridos da Santa Casa da Misericórdia.
A portaria com a entrada para
os elevadores ficou localizada na Rua Guilherme Rocha, enquanto o restante do pavimento
térreo foi destinado a instalação de lojas e outros comércios. No primeiro
andar funcionavam o restaurante, a barbearia, a cozinha, a adega, e o depósito
de utensílios. Do segundo ao sexto pavimento ficavam os apartamentos,
confortáveis, decorados, com água corrente, alguns completos com banheiros e
outros avulsos. No sétimo andar, a “joia
da coroa”, um terraço com vistas para a cidade e o Bar Americano, cenário de festas,
bailes elegantes, e do célebre “carnaval do sétimo céu”, movido a socialites, marchinhas, lança-perfumes, confetes e serpentinas.
O staff do hotel – gerente, copeiros, cozinheiros, garçons, camareiras – vieram do sul do país, devidamente treinados. O mobiliário também foi adquirido na Europa: espelhos bisotados, vidraças, lustres e móveis no estilo Art-Nouveau, lençóis e toalhas de linho irlandês, e para o salão de jantar, um piano de cauda Dooner.
Fortaleza ainda não tinha
descoberto seu potencial turístico e os meios de hospedagens, desde as pensões
populares aos hotéis de várias categorias, eram todos no centro. Foram hóspedes
do Excelsior, artistas que vinham em turnês, políticos, e famosos de todas as áreas,
como a aviadora américa Amélia Earhart, o presidente Juscelino Kubitschek, o
cineasta Orson Welles, a cantora lírica Bidu Sayão, o jogador de futebol Pelé, empresários,
comerciantes, vendedores...
Os proprietários - Plácido e Pierina - residiam no castelinho do Outeiro, construído na década de 1920. Depois que o
hotel foi inaugurado, passaram a alternar entre o castelo e o Excelsior. Em
1933 a família decide se mudar para o Excelsior, porque Plácido precisava de
cuidados médicos e o hotel oferecia maior facilidade de acesso. E foi num dos
quartos do hotel que Plácido veio a falecer, no dia 5 de junho de 1935, aos 60
anos de idade. A viúva não voltou a morar no castelo do Outeiro, que ainda nos
anos 30 foi alugado ao Serviço de Malária, órgão subordinado ao governo
federal.
No ano seguinte Pierina
contrata os serviços do arquiteto húngaro Emilio Hinko para construção de seis casas
para aluguel ao redor da edificação principal na quadra entre as avenidas
Santos Dumont, ruas Carlos Vasconcelos, Monsenhor Bruno e Costa Barros. Alguns
anos depois, Pierina e Hinko se casam e passam a morar numa dessas casas.
Pierina faleceu em 11 de dezembro de 1958, e o hotel encerrou as atividades em
1° de outubro 1964, após 33 anos de intenso movimento.
Mais tarde, Emilio Hinko
passou a residir num dos apartamentos do Excelsior, em companhia de alguns
familiares húngaros. Ele viveu no hotel até falecer no dia 04 de janeiro de
2002, aos 100 anos de idade.
Na época em que o Excelsior
fechou, a pretexto de realizar reformas, o Centro ainda aglutinava os negócios
e comércios importantes da cidade. Grandes lojas, os maiores cinemas, bancos, instituições; os maiores hotéis ainda estavam localizados
no centro, exceto o Iracema Plaza que havia sido inaugurado na Praia de Iracema
nos anos 50.
A inauguração do Hotel
Savanah, em 12 de abril de 1964, instalado na vizinhança, na Rua Major Facundo,
de frente para a Praça do Ferreira, com dez suítes e 128 apartamentos, distribuídos
em treze andares, deu uma ideia da concorrência que o Excelsior viria a enfrentar.
O Savanah foi a primeira torre hoteleira da cidade, e chegou a conquistar o
posto de melhor e maior hotel de Fortaleza, arrebatando o título que até então
pertencia ao Excelsior.
A partir do início dos anos 70, a hotelaria começa a se expandir rumo ao litoral, na Avenida Beira-Mar e arredores, dentro da nova vocação turística que a cidade se inseriu; as lojas, cinemas, lanchonetes, bares e restaurantes, buscaram os grandes centros comerciais e os shoppings centers; e os órgãos de administração pública também buscaram novos endereços na parte leste da cidade.
Desde então, os estabelecimentos com endereço no Centro, pagam o preço da expansão da cidade e da falta de políticas de revitalizações, que possam tornar o local atrativo para novos empreendimentos, e que contemplem a ocupação de tantos espaços vazios.
Os grandes hotéis que fecharam no
Centro
Palace Hotel – 1927 – 1971
Excelsior – 1931 – 1964
Lord Hotel – 1956 – 1992
San Pedro Hotel – 1959 – 1990
Hotel Savanah – 1964 – 1992
Premier Hotel – 1969 – década
de 90
Hotel Sol – 1971 – 2001
fotos: Arquivo Nirez e Fortaleza em Fotos
Fontes: Jornal O Povo, Anuário do Ceará, Guia Turístico da Cidade.