terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Jáder de Carvalho e o jornalismo idealista


O sonho do jornalista Jáder de Carvalho foi realizado em 1947 com a fundação do Diário do Povo. Ele já havia participado da criação de outros dois jornais: O Combate (1921) e Esquerda (1928). Mas é no Diário do Povo que exerce com idealismo e vigor a defesa dos oprimidos e a liberdade de expressão do pensamento.  
Em pouco tempo, Jáder já tinha um inimigo de peso, o então governador do Estado, Faustino Albuquerque, com quem trava embates de 1947 a 1948. Anti-integralista foi vítima de ataques, tiros e agressões. Quatro anos antes da fundação do jornal, havia sido denunciado como comunista e condenado a 27 anos de prisão, sendo o primeiro cearense a ser conduzido ao cárcere por sentença do Tribunal de Segurança do Estado, a justiça de exceção do Estado Novo. Depois de quase um ano de prisão no quartel do Corpo de Bombeiros, no bairro Jacarecanga, foi solto pela anistia concedida aos presos políticos (no mesmo quartel, esteve presa a escritora Rachel de Queiroz).

 Quartel do Corpo de Bombeiros, onde Jáder de Carvalho cumpriu quase um ano de prisão sob acusação de divulgar ideias marxistas. (arquivo Nirez) 
O Diário do Povo era escrito por alunos do Jáder, recrutados no Liceu do Ceará. Para ser selecionado, o candidato tinha que atender a três critérios: ser um bom aluno de história, ter paixão jornalística e ser de briga. Além dos estudantes trabalhavam na redação a esposa de Jáder, Margarida Sabóia, cronista de destaque e os filhos do casal.
O jornal tinha tiragem irregular, circulação restrita a alguns assinantes, em algumas bancas e com poucos gazeteiros, além de enfrentar algumas dificuldades operacionais. Apesar de tudo, tinha um bom número de anunciantes.
Vale ressaltar que o jornal aproveitava suas próprias páginas para criticar a censura do Estado Novo. Na edição do dia 1º de novembro de 1947, o editorial falava sobre a prisão dos originais de sua primeira edição:
"O Diário do Povo, antes mesmo de circular, teve os originais de sua edição de estreia apreendidos pela polícia, e presos o seu secretário e dois revisores, num atentado inominável à Constituição e à consciência democrática do povo cearense. Confortou-nos, entretanto, o protesto geral dos democratas brasileiros, que em todo o País, pela imprensa, pelo rádio, da tribuna do Congresso e da praça pública exteriorizavam a repulsa à atitude nazifascista do governo do desembargador sem leu, sem luz e sem inteligência...".

Depois de 14 anos, o Diário do Povo deixou de circular por problemas financeiros, deixando como legado uma época marcante do jornalista cearense. Segundo o próprio Jáder de Carvalho, em entrevista concedida ao um grupo de estudantes em 1967, essa teria sido a  melhor  fase de sua vida. “Escrevo por necessidade de desabafar. Para servir de porta-voz aos oprimidos e humilhados, que nem sempre têm uma voz fiel, exata, leal e sincera, de que eles se possam servir”.

Equívoco 

O professor Heribaldo Costa, jurista, cearense ilustre, era inimigo de Jáder Carvalho, então  diretor do Diário do Povo. Heribaldo foi à Europa, voltou. O Diário do Povo noticiou: 
Chegou da Europa o ilustre professor Hericaldo Bosta
O professor, indignado, entrou na Justiça contra o jornal. O DP perdeu a questão e foi condenado a se retratar na primeira página. Jáder de Carvalho escreveu uma nota grande, se desculpando:

Esse jornal, sem querer, por equívoco gráfico, cometeu um erro imperdoável. Chamou de Hericaldo Bosta o ilustre professor de nossa Faculdade de Direito. Sabem os leitores que jamais este jornal poderia chamar de Hericaldo Bosta um intelectual do nível e do renome do ilustre professor da Faculdade de Direito. Até porque jamais soubemos que o ilustre mestre se chamasse Hericaldo Bosta.
Mas, errar o nome de personalidades ocorre em todos os jornais do mundo. Acabamos chamando de Hericaldo Bosta o venerando catedrático da Faculdade de Direito. Cumprindo determinação judicial, estamos nos desculpando e informando aos leitores que, em vez de Hericaldo Bosta, o verdadeiro nome do distinto professor é Heribosta Caldo.

O professor Heribaldo Costa pegou um revólver e foi ao jornal matar o diretor Jáder Carvalho. Não deixaram.


Casa na Rua Agapito dos Santos, 389, onde residiu com a familia (arquivo Nirez) 
Jáder Moreira de Carvalho nasceu em Quixadá, Ceará, em 29 de dezembro de 1901 e faleceu em Fortaleza no dia 7 de agosto de 1985, aos 83 anos de idade. Bacharel pela Faculdade de Direito do Ceará em 1931, foi professor de História do Colégio Estadual do Ceará e assessor jurídico do Conselho de Assistência Técnica aos Municípios. 
Jornalista brilhante e polêmico fundou os jornais Diário do Povo e A Esquerda. Poeta telúrico de grande sensibilidade, tinha uma poesia arrebatada e comovedora. Foi um dos iniciadores do movimento modernista no Ceará, em 1927, com o livro O canto novo da raça, publicado em conjunto com Franklin Nascimento, Sidney Neto e Mozart Firmeza.

Obras poéticas: 
O canto novo da raça, 1927; 
Terra de ninguém, 1931; 
Água da fonte, 1966; 
Toda a poesia, 1973;
Alma em trova, 1974; e
Terra bárbara, publicada pelo Programa Editorial da Casa José de Alencar em 1998.

Foi também ensaísta e romancista de cunho social, inaugurando no Ceará o chamado “romance da classe média”, de fundo reivindicante.

Além de ensaios sociológicos publicou os romances: 
Classe média, 1937; 
Doutor Geraldo, 1937; 
A criança vive, 1945; 
Eu quero o sol, 1946; 
Sua majestade o juiz, 1962; e 
Aldeota, 1963. 

Foi agraciado com a Medalha da Abolição – a mais alta condecoração do estado – em maio de 1982.
Ingressou na Academia Cearense de Letras no dia 21 de maio de 1930 por ocasião da segunda reorganização do sodalício.
Ocupou a cadeira 15 (posteriormente número 14), cujo patrono é João Brígido.
Pertenceu ao Instituto do Nordeste e à Sociedade Brasileira de Sociologia.


Terra Bárbara

Na minha terra,
as estradas são tortuosas e tristes
como o destino de seu povo errante.
Viajor, 
se ardes em sede, 
se acaso a noite te alcançou, 
bate sem susto no primeiro pouso:
— terás água fresca para sua sede,
— rede cheirosa e branca para o teu sono.
   

Na minha terra,
o cangaceiro é leal e valente:
jura que vai matar e mata.
Jura que morre por alguém — e morre.

(Brasil, onde mais energia:
na água, que tem num só destino
do teu Salto das Sete Quedas
ou na vida, que tem mil destinos, 
do teu jagunço aventureiro e nômade?)
Ah, eu sou da terra do seringueiro,
— o intruso
que foi surpreender a puberdade da Amazônia.
 

Eu sou da terra onde o homem, seminu, 
planta de sol a sol o algodão para vestir o Brasil.
Eu nasci nos tabuleiros mansos de Quixadá
e fui crescer nos canaviais do Cariri,
entre caboclos belicosos e ágeis.  


Filho de gleba, fruto em sazão ao sol dos trópicos, 
eu sou o índice do meu povo:
se o homem é bom — eu o respeito.
Se gosta de mim — morro por ele.
Se, porque é forte, entender de humilhar-me, 
— ai, sertão!
Eu viveria o teu drama selvagem,
eu te acordaria ao tropel do meu cavalo errante,
como antes te acordava ao choro da viola...
pesquisa: 
Revista Fortaleza
Jornal Diário do Nordeste
Jáder de Carvalho disponível em 
http://www.ceara.pro.br/ACL/Academicosanteriores/JaderCarvalho.html


domingo, 29 de janeiro de 2012

Ornamentos da Vida e da Morte

adereços da vida...

Baigneuse
Praça Marquês do Herval, atual José de Alencar (foto do Álbum de Vistas do Ceará, 1908)


Algumas fotografias antigas que reportam ao início do século XX são testemunhos eloquentes da grande importância da iluminação a gás na paisagem de Fortaleza, especialmente nas alamedas do Passeio Público, considerada a mais elegante área de lazer urbano do período. Concebido de forma a incentivar novas formas de sociabilidade e mundanismo na capital do Ceará, o Passeio estava dividido em três planos topográficos, dos quais o primeiro e mais seletivo – a Avenida Caio Prado – foi inaugurado em 1880.

 Avenida Caio Prado - ao fundo, a Santa Casa antes da ampliação de 1914 (álbum de vistas do Ceará, 1908)

Cercado por um belo gradil e portões de ferro (projetados por Adolfo Herbster), dotado de jardim bem arborizado, ornado com bancos, colunas, canteiros, postes e combustores de gás, vasos de louça e estatuária de estilo neoclássico retratando divindades da mitologia grega, o logradouro estava situado no antigo Campo da Pólvora, local que em princípios do século XIX era usado para a execuções de condenados pela justiça. 
Alguns participantes da Confederação do Equador foram mortos ali, que depois passou a ser denominada Praça dos Mártires. Às quintas e domingos se organizavam retretas, ao som da banda de música do 15° Batalhão do Exército – momento principal de reunião e encontro das altas camadas urbanas, retratado por uma das fotografias antigas. Esses eventos costumavam entrar pela noite, com a presença indispensável dos lampiões de gás.

Cartão Postal do Passeio Público, década de 1920

Tamanha era a influência do Passeio Público no lazer da cidade, que logo se tornou um dos mais conhecidos cartões-postais da cidade. 
Embora destinado ao lazer, O Passeio Público mantinha normas que disciplinavam seus frequentadores, como a exigência de belos trajes e boas maneiras. Sua própria constituição espacial significava um permanente exercício de discriminação simbólica, pois as diferentes classes sociais ocupavam planos separados do jardim: Avenida Caio Prado, olhando para o mar; a do centro, denominada Carapinima, fronteiriça à porta principal da Santa Casa;  e a Avenida Mororó, mais próxima do calçamento da Rua Dr. João Moreira (antiga Rua da Misericórdia). 

Avenida Carapinima - à direita o catavento e a cobertura do Cassino (arquivo Nirez) 

Nelas se observava uma separação voluntária das classes sociais: na primeira avenida, a grã-finagem; na outra, a classe média e na terceira, as domésticas, os operários, os desempregados, etc. Cronistas e estudiosos da história de Fortaleza costumam insistir nessa perfeita e espontânea separação de classes.


Avenida Caio Prado em dois momentos (1914 e 1908) e seus elegantes frequentadores (arquivo Nirez e Álbum de Vista do Ceará)

Havia na verdade, um código imposto pelo qual se instituíam limites, na observância de gestos moderados, conversações educadas, vestimentas elegantes. Na constituição dos valores ligados à ordem social e ao progresso econômico, é indispensável o pôr-se no seu lugar, respeitar as convenções e hierarquias, que repelem o diferente, transformando-o em estranho e intruso.
O Passeio Público atraía habitantes de culturas diferenciadas, sem descuidar dos lugares específicos que cabia a cada um. Mesmo nos espaços de lazer, o ar descontraído e o entretenimento não ameaçava, antes fortalecia as distinções sociais, direcionando  as elites ao primeiro plano do logradouro, as camadas médias no segundo patamar e os segmentos populares no terceiro nível, junto a beira mar.

Avenida Mororó (à direita, Ceres). Em fins do século XIX costumava-se designar por avenida (mais tarde alameda) um corredor ou via calçada que ladeasse ou cruzasse uma determinada praça. No caso do Passeio Público, cada uma das avenidas corresponde a um respectivo plano do logradouro. (foto do Álbum de Vistas do Ceará, 1908)


Por outro lado, as estratégias de poder não tinham alcance ilimitado. Numa foto do início do século XX, a Avenida Caio Prado recebe uma clientela pouco atenta às etiquetas sociais, com roupas simples e posturas corporais irreverentes, num misto de preguiça e desleixo. 
Sinal de que os espaços de lazer, pelo menos em dias comuns, não eram tão delimitados como atestava a crônica histórica. Nestes momentos, de menor vigilância policial, os pobres ocupavam a seu modo os lugares destinados à elite, questionando com sutileza as hierarquias sociais e a ambição de superioridades dos ricos.

... e da morte
Esculturas no S. João Batista (foto Garcia Breson)

Quando o Passeio Público foi inaugurado, a cidade já contava com outro importante equipamento urbano: um cemitério. O primeiro, de 1848, chamava-se São Casemiro e estava ao lado do antigo morro do Croatá, na área hoje ocupada pela Estação João Felipe, na Praça Castro Carrera. 
Antes disso, os enterros se davam no interior ou nas proximidades das igrejas, um exemplo disso é a Igreja do Rosário (construída no século XVIII), onde até pouco tempo, podiam ser vistos, cobertos pelo assoalho, os compartimentos retangulares que serviam de sepultura.

Túmulo do Major Facundo, assassinado em 08 de dezembro de 1841 e sepultado na Igreja do Rosário. Hoje, é o único túmulo que ainda tem identificação dentro do templo. 

Em meados do século XIX ocorreu uma importante mudança no trato com a morte – a cidade dos vivos deveria enviar seus mortos para fora do perímetro urbano, a fim de evitar infecções e epidemias causadas pelo contato prolongado com os cadáveres. Por conta de  um procedimento burocrático,  uma medida de salubridade pública, a morte começava a distanciar-se da vida diária, e os entes queridos ganhavam um lugar específico para o repouso eterno.
Em 1865, um outro cemitério – o São João Batista – sucedeu ao São Casimiro, já inserido no espaço urbano pela expansão de Fortaleza. A velha necrópole foi abandonado também, em razão do grande número de vítimas do cólera ali sepultados, representando um risco de contaminação para os moradores locais. 

Alameda do Cemitério São João Batista (foto Garcia Breson)

O Cemitério São João Batista acolheu os mortos de Fortaleza por cerca de um século, quando nos anos 1960 começou a perder espaço para o Parque da Paz. Durante esse longo período, acolheu a mais rica expressão de arte fúnebre local, através de túmulos, lápides, esculturas, cruzes e alegorias edificadas em materiais nobres, como o mármore e o granito. 
Tanto investimento, atesta um requinte estético favorecido, em parte, pelo desenvolvimento comercial e o incremento da cultura algodoeira de exportação em fins do século XIX.

Esculturas no Cemitério São João Batista 
foto http://olhares.uol.com.br/cemiterio-sao-joao-batista-fortaleza-foto4302723.html


A exemplo do Passeio Público, a organização espacial do São João Batista, apresenta uma segregação social, com os mausoléus das elites situados na sua entrada, tendo ao fundo os túmulos mais humildes, dos segmentos populares.
A beleza e o luxo da cidade dos mortos, em que se empenharam os grupos sociais dominantes, traduzem uma preocupação maior: fazer daquele espaço um testemunho de grandeza e superioridade para as gerações futuras, tornar o lugar da morte um motivo de culto ao passado, respeito à memória e orgulho familiar.

Fontes:
Fortaleza – imagens da cidade, de Antônio Luiz Macedo e Silva Filho
Geografia Estética de Fortaleza, de Raimundo Girão
Passeio Público, espaços, estatuária e lazer, de José Liberal de Castro, publicado na Revista do Instituto do Ceará, 2009.
    

sábado, 28 de janeiro de 2012

Nos Trilhos da Exploração da Miséria

antiga Estação Fortaleza da EFB (arquivo Nirez)

A Estação de Fortaleza da Estrada de Ferro de Baturité, foi projetada e construída pelo engenheiro Henrique Foglare, no local do antigo cemitério de São Casemiro praticamente com mão-de-obra dos retirantes da seca de 1877 em terreno que pertencia à sesmaria de Jacarecanga, de procedência da família Torres que fez doação a uma sociedade de oficiais do exército. A Confraria de São José declarou-se dona da região e mais tarde a aforou à via férrea de Baturité. A obra teve sua pedra fundamental lançada em 30 de novembro de 1873, mas somente foram iniciadas as obras em 1879, sendo, assim, inaugurada em 9 de junho de 1880, em frente ao antigo Campo da Amélia, atual Praça Castro Carreira (Praça da Estação). Mantém-se praticamente inalterada até os dias de hoje. 

antiga Estação de Maracanaú (foto do site Estações Ferroviárias do Brasil) 

Diante do cenário de caos decorrente da grande seca de 1877-79 – fome, migrações e desatinos provocados pelos flagelados  (saques, mendicâncias, furtos, prostituição, etc) – as autoridades imperiais decidiram utilizar a mão-de-obra dos retirantes na construção de diversas obras. Uma destas foi a Estrada de Ferro Baturité. 
O discurso oficial visava transformar a ferrovia em socorro público, ou seja, estava-se dando empregos aos retirantes, que se achavam ociosos, para assegurar-lhes meios de subsistência e atenuar a miséria. Na realidade, o governo buscava aliviar a tremenda pressão social vinda com a seca, aproveitar a explorar aquela mão-de-obra disponível, barata e impor certo controle sobre os flagelados.  Nas obras, os retirantes eram divididos em turmas e submetidos a severa disciplina. 


Administração da Estrada de Ferro Baturité

A expansão da via férrea entre Pacatuba e Baturité utilizou mais de dez mil operários, que junto com seus dependentes perfazia em torno de 50 mil pessoas. O uso da mão-de-obra dos flagelados não teve o resultado esperado, pois os sertanejos, vitimados pela desnutrição e pela miséria, pouco produziam, para o que também contribuíam os baixos salários, quase sempre pagos com atrasos.

retirantes da seca de 1878 (imagem do blog
 http://gerson-franca.blogspot.com)

Não raras vezes, os atrasos dos pagamentos ou na distribuição de alimentos e a disciplina rígida que se tentava impor nos trabalhos, levavam os sertanejos a se revoltar.  Em Baturité, no mês de outubro de 1877, de três a quatro mil pessoas se reuniram em frente ao depósito do governo, esperando a distribuição das rações. O agente de distribuição, no entanto, como já estava tarde, não quis realizar a distribuição dos alimentos.  Os trabalhadores se rebelaram e saquearam o armazém. Forças Públicas de Fortaleza se deslocaram para manter a ordem na cidade. Na capital, também ocorreram tumultos semelhantes, e o governo chegou a pedir um navio de guerra em frente à cidade para impor respeito.

fontes:
História do Ceará, de Airton de Farias
Site As Estações Ferroviárias do Brasil, disponível em
http://www.estacoesferroviarias.com.br

sábado, 21 de janeiro de 2012

Projeto Vila do Mar (Avenida Costa Oeste)



Conhecido como espigão da Barra do Ceará, o Mirante Rosa dos Ventos fica no bairro Cristo Redentor, e segundo frequentadores e moradores da região, é um local inseguro. Os visitantes costumam ser surpreendidos por ladrões que surgem inesperadamente, vindos pelas pedras que circundam o equipamento. 

O braço de pedras, que entra 200 metros mar adentro, já existia, mas foi urbanizado, ganhou um mirante, e se transformou em lugar privilegiado para observação de boa parte do litoral fortalezense


Quando concluída a avenida terá  uma extensão de beira mar de 5,5 km, entre a Escola de Aprendizes Marinheiros e a Barra do Ceará e, inclui a consolidação de melhorias urbanísticas e dotação de equipamentos públicos.

Ao longo da orla, são cinco os espigões - quatro foram reformados pela Prefeitura e um construído. Segundo a coordenadora do Vila do Mar, não há planos de urbanização dos demais.


vegetação para fixação de dunas e encostas. Sem os devidos cuidados, as plantas murcharam 

A parte mais alta da avenida 

Vista do Mirante Rosa dos Ventos

Apesar de reconhecerem as melhorias, os frequentadores reclamam de assaltos no calçadão do Pirambu à Barra do Ceará
Visão panorâmica do calçadão
O belo fim de tarde sobre o Rio Ceará

O nome original era Projeto Costa Oeste e foi concebido ainda no Governo Lúcio Alcântara (2003-2007). As obras foram iniciadas em 2003 com a previsão da construção de uma avenida na orla, com 5,36 km de extensão no trecho entre a Barra do Ceará e o antigo kartódromo, no Pirambu.  Pelo projeto inicial a via teria duas pistas, canteiro central, ciclovia e calçadão.  A gestão municipal atual mudou o nome para Projeto Vila do Mar.
Produto de uma parceria entre os governos municipal, estadual e federal,  o projeto Vila do Mar  tem como principal viés a resolução do problema de habitação, do saneamento e das áreas degradadas de locais como o Pirambu, Cristo Redentor e Barra do Ceará, região oeste de Fortaleza que tem um atraso de requalificação.
O caráter social do Vila do Mar está na inclusão. Projetos intersetoriais promoverão a qualificação profissional, a valorização cultural e o empreendedorismo da população residente na área. Parcerias com as secretarias municipais de Esporte e Lazer, Direitos Humanos, Turismo e Cultura já estão em desenvolvimento para a geração de renda de artesãos, pescadores artesanais, donos e barracas de praia e outros profissionais das comunidades envolvidas.
A proposta tem como foco o resgate à população do Grande Pirambu, de uma extensão de beira mar de 5,5 km, entre a Escola de Aprendizes de Marinheiro e a Barra do Ceará e, inclui a consolidação de melhorias urbanísticas e dotação de equipamentos públicos nesta  seção da orla marítima, tais como: implantação de calçadão e via paisagística, além de nove outras vias de acesso a praia; dotação de iluminação pública, intensificação de arborização urbana que inclui replantio de coqueirais nativos. A primeira fase do projeto já foi concluída. 


fotos:
Rodrigo Paiva
Raquel Vianna
Fátima Garcia

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

O Crime na Pensão da Graça

No universo dos cabarés tudo podia acontecer. Os jornais registraram episódios marcantes, que resultaram em grandes manchetes a partir de fatos passados nas pensões de mulheres. Dentre os acontecimentos que alcançaram grande repercussão, está o crime que aconteceu na Pensão da Graça.

Rua Conde D'Eu, onde funcionava a Pensão da Graça (arquivo Nirez)
   
A Pensão da Graça, estabelecida na Rua Conde D’Eu 541, fora assumida por Alcinda Leal, quando a titular resolveu se aposentar. Alcinda irmã da Graça,  era amante de José Ramos de Oliveira, conhecido como Idalino, ex-jogador de futebol na década de 1940, atacante do Ceará Sporting Clube e da Seleção Cearense. Em meados da década de 1950, em visita a Campina Grande, sua terra natal, Idalino compra um automóvel Chevrolet dos comerciantes Aloísio Millet e Geraldo Castro, proprietários do veículo. O negócio foi acertado nas seguintes bases:  145 contos de reis, com entrada de 6 contos ficando o restante para ser pago em Fortaleza. Tudo combinado, vieram os três para Fortaleza no próprio carro, acompanhados de uma irmã de Aloisio de nome Luisinha. Era o dia 31 de agosto.

Nos antigos casarões do centro, funcionavam, no andar superior, as chamadas pensões alegres. Nesse sobrado do Barão de Ibiapaba, funcionava a Boate Ubirajara. (arquivo Nirez) 

Na manhã do dia 1° de setembro, os dois paraibanos, que estavam hospedados no Hotel Internacional, se encontraram com Idalino na Praça do Ferreira, sendo convidados a acompanha-lo à Pensão da Graça para quitação do débito. Chegando lá, Idalino encontrou Alcinda em seu quarto. O ex-jogador pediu à amante que saísse e fizesse companhia a Geraldo na sala de espera, enquanto ele tratava de negócios com Aloísio no quarto.  Uma vez sozinhos, Idalino, se aproveitando de um descuido de Aloísio, e de posse de uma barra de ferro, desferiu  violento golpe em sua cabeça, matando-o instantaneamente. Escondeu o cadáver numa peça ao lado e chamou Geraldo, que mal adentrou o quarto, foi também assassinado da mesma forma. Em seguida, o ex-jogador subtraiu os pertences das vítimas, joias, dinheiro e principalmente, o documento de venda do veículo que tinha em branco o nome do adquirente, e que foi logo preenchido com seu próprio nome.  Alcinda, sob ameaça de morte, tornou-se colaboradora do assassino.  À noite, despiu os corpos, meteu-os num saco e os transportou para a Barra do Ceará, à época local ermo e deserto,  onde efetuou o enterro em cova rasa.

A maioria dos sobrados das ruas do centro foram ocupados por cabarés depois que os proprietário se mudaram para outros bairros, como o Benfica e o Jacarecanga (arquivo Nirez) 

Luisinha Millet comunicou aos demais familiares em Campina Grande o desaparecimento misterioso do seu irmão e do amigo, e a família, mobilizando todas as forças, inclusive os governadores do Ceará, Pernambuco e Paraíba, provocou um amplo processo de investigação.  O ponto inicial da investigação era o Idalino, que pressionado, confessou o crime.
Submetido a julgamento, foi condenado a trinta anos de prisão. Alcinda Leal, devido aos atenuantes, de ter sido coagida a participar sob pressão e ameaça de morte, foi condenada a apenas seis meses de reclusão. 

extraído do livro
Sábado, estação de viver, de Juarez Leitão

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Os Livreiros da Praça do Ferreira


Livraria Feira do Livro, na Rua Floriano Peixoto, 716 em 1983 (foto do livro Viva Fortaleza)

As livrarias e papelarias de Fortaleza ficavam na Praça do Ferreira ou nas redondezas. Destas merecia destaque a Livraria Edésio, de propriedade de José Edésio de Albuquerque. Edésio não era apenas um comerciante de livros como tantos outros, empenhado tão somente na obtenção de lucros. Ele era antes de tudo um difusor da cultura, um idealista. E nesse mister nunca temeu arriscar a própria liberdade, desde que chegassem às mãos dos leitores, os jornais, revistas e livros condenados pela censura policial.


Praça do Ferreira anos 1960 - arquivo Nirez

Era um homem encurvado, baixo e magro, sempre por trás do balcão da sua livraria, a vender aos estudantes, os livros condenados pelo obscurantismo do Estado Novo. Eram romances de José Lins do Rego, Jorge Amado e Graciliano Ramos. Depois da entrega dos volumes, muito bem enrolados, vinha a advertência: cuidado jovem, isto pode dar cadeia.
No limiar do Estado Novo Edésio tornou-se editor, passando desta forma além de vender, a publicar livros. E foi graças ao Edésio editor que estreantes nas letras, hoje escritores famosos como Fran Martins, Moreira Campos, Braga Montenegro, Jáder de Carvalho, Abelardo Montenegro, tiveram suas obras publicadas. 


escritor Moreira Campos

Politicamente, o livreiro formava ao lado dos que lutavam por um Brasil melhor, cabendo-lhe nos idos de 1935, a presidência do núcleo estadual da Aliança Nacional Libertadora. Isto, entretanto, não constituía obstáculo para afastá-lo do catolicismo.




Jáder de Carvalho e seu romance Aldeota, cujo lançamento ocorreu na livraria Feira do Livro, de Manoel Coelho Raposo

Seguindo a trilha de Edésio – embora em situação menos embaraçosa – vem Manoel Coelho Raposo, fundador da Livraria Feira do Livro. Raposo montou uma filial em plena Praça, nas proximidades da atual banca de jornal do Bodinho, passando a comercializar, como acontece em todas as feiras, com revistas, livros e jornais. No local, Jáder de Carvalho lançou Aldeota, o seu discutido romance de costumes. Tempos depois Jorge Amado promoveu ali mesmo, uma noite de autógrafos.

Extraído do livro
A Praça e o povo (homens e acontecimentos que fizeram  a história da Praça do Ferreira.)  

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Velhos Nomes de Ruas – Parte 2/2

Eis alguns dos nomes atuais e antigos de ruas, avenidas e travessas de Fortaleza.


Cruzamento da Rua Guilherme Rocha com Floriano Peixoto em 1931 (arquivo Nirez)

Rua Conde D’Eu – antiga Rua Nova dos Mercadores, de Baixo, do Riacho (Pajeú) e da Matriz.
Rua Sena Madureira – parte da antiga Rua Nova dos Mercadores.
Rua Pedro Borges (da Praça do Ferreira até a Rua Conde D’Eu) – antiga Rua do Cajueiro.
Rua Pedro Borges (da Rua Conde D’Eu até a Praça Figueira de Melo) – antigo Beco dos Pocinhos (esse velho nome foi restaurado por ocasião da inauguração do edifício Palácio Progresso).


Rua dos Pocinhos, que já foi Rua Pedro Borges

Rua Jaime Benévolo – antiga Rua do Açude (possivelmente se referia ao açude construído no Pajeú, existente nas proximidades), Rua da Cruz (em referência à pequena ermida existente no local onde hoje se ergue a Igreja do Coração de Jesus) e Rua Dr. João Tomé.
Rua Barão de Aratanha – antiga Rua do Lago (em referência a Lagoa do Garrote)
Rua General Bezerril – antiga Rua do Quartel
Rua Solon Pinheiro – antiga Rua da Trindade

Rua Tristão Gonçalves, antiga Rua do Trilho de Ferro (arquivo particular)

Rua Floriano Peixoto (até a Praça do Ferreira) – antiga Rua das Belas, da Pitombeira e da Boa Vista.
Rua Floriano Peixoto (a partir da Praça do Ferreira) antiga Rua da Alegria
Rua Major Facundo (até a Praça do Ferreira) – antiga Rua Nova Del Rei e Rua da Palma
Rua Major Facundo (a partir da Praça do Ferreira) – antiga Rua do Fogo
Rua Barão do Rio Branco – antiga Rua Nova, Formosa, Dom Luís e Paes de Carvalho
Rua Senador Pompeu – antiga Rua da Amélia (em homenagem à nossa segunda imperatriz)
Rua General Sampaio – antiga Rua da Cadeia (onde funcionava um velho prédio construído no início da rua)


Praça José de Alencar em 1981 (foto do livro Viva Fortaleza)

Rua 24 de maio – antiga Rua do Patrocínio (em referência à igreja próxima)
Avenida Tristão Gonçalves – antiga Rua da lagoinha, 14 de Maio e Trilho de Ferro (por ali passavam os trilhos da RVC, em demanda de Parangaba e do interior do Estado)
Avenida da Universidade – antiga Rua do Benfica e Avenida Visconde de Cauípe
Avenida Visconde do Rio Branco – antigo Calçamento de Messejana
Praça da Sé – antiga Praça do Conselho (de vereadores) – onde se achava o prédio em que se reunia o chamado Senado da Câmara.
Praça cristo Redentor – antiga Praça da Conceição (em referência à Igreja da Conceição da Prainha).


 
Torre do Cristo Redentor na praça do mesmo nome que já foi chamada de Praça da Conceição (arquivo Nirez) 

Praça Figueira de Melo – antiga Praça do Colégio (da Imaculada)
Praça José de Alencar – antiga Praça do Patrocínio
Praça José Bonifácio (da Polícia Militar) – antiga Praça dos Coelhos
Praça Clóvis Beviláqua – antiga Praça do Encanamento, (em razão do primitivo serviço de abastecimento de água da cidade), de Pelotas (em homenagem ao Visconde desse título) e Praça da Bandeira.
Praça da Bandeira – antiga Praça do Asilo (o prédio do atual Colégio Militar foi construído para nele funcionar um abrigo de desvalidos), Praça Benjamin Constant. (popularmente conhecida como Praça do cristo Rei, em razão da Igreja construída em frente a praça na década de 1930).


Praça Capistrano de Abreu, mais conhecida por Praça da Lagoinha (arquivo Nirez)

Praça Capistrano de Abreu – antiga Praça da Lagoinha e Comendador Teodorico
Praça do Carmo – antiga Praça do Livramento e Gonçalves Ledo.
Praça do Ferreira – antiga Feira Nova
Praça dos Voluntários – antigo Largo do Garrote

Rua Floriano Peixoto

Praça do Mártires (conhecido como Passeio Público) – antigo Largo do Paiol
Praça Castro Carreira – antigo Campo da Amélia
Praça Waldemar Falcão – parte da antiga Praça Carolina, depois José de Alencar e Capistrano de Abreu
Praça General Tibúrcio (conhecida popularmente como Praça dos Leões) – antigo Largo do Palácio
Praça Almirante Saldanha – antiga Praça da Alfândega.

Fontes:
Fortaleza Velha, de João Nogueira
História Abreviada de Fortaleza, de Mozart Soriano Aderaldo