Na segunda metade do Século XIX o aumento da demanda externa
por produtos locais (especialmente o algodão), e o crescimento da renda das
classes dominantes, contribuíram para que se instalassem em Fortaleza, várias
casas comerciais exportadoras e importadoras pertencentes a estrangeiros,
fixados no Ceará em busca de bons lucros.
Assim, quebrando o monopólio inicial da Casa
Inglesa – Singlehurst and Co, instalada em 1811 por William Wara – apareceram
outras firmas como Kaikman and Co, John and Graf e Cia, Luis Sand and Cia, Gradvohl Frères e Boris Frères.
Casa Machado
Coelho e Cia fundada em 1868, operava no ramo de importação em dois edifícios,
na Praça do Ferreira e na Rua Barão do Rio Branco. Os sócios eram Antônio Machado Coelho, nascido em
Portugal e seu filho, nascido no Ceará, Antônio
Machado Coelho Junior. Fazia larga importação de tecidos de algodão, vinhos,
comestíveis e objetos de uso doméstico.
Um dos edifícios tinha um elevador moderno, com capacidade para uma
tonelada, o qual ligava os diversos pavimentos.
Em
1862 havia um total de 203 casas comerciais brasileiras para 84 estrangeiras.
No entanto o predomínio de estrangeiros era justamente nas firmas que cuidavam
de exportação e importação e do abastecimento de gêneros.
Dessas casas comerciais estrangeiras, a de maior influência
e poder foi a Boris Frères, instalada em 1872 e com sede em Paris. Pertencente
aos judeus Alphonse e Theodore Boris, a firma era tão poderosa que chegava a
emprestar dinheiro ao governo local.
Boris Frères, casa,
fundada em 1870, fazia o comércio de exportação dos
principais produtos do estado, tais como borracha, algodão,
cera de carnaúba, couros e peles. Importa máquinas para agricultura,
cimento, carvão etc. A Casa Boris praticamente dominou o comércio importador e exportador cearense. (foto: novo milênio)
Abalava-se dessa forma a tradicional intermediação comercial mantida com Pernambuco, no qual negociantes cearenses viajavam a Recife onde se abasteciam com o indispensável às suas lojas. Aumentou o comércio direto com a Europa, especialmente com a Inglaterra e França.
Entre os produtos importados,
destacavam-se os tecidos, peças de vestuário, perfumes, objetos de decoração,
vinhos, conservas, remédios, farinha de trigo e cigarros.
Interessados em tudo que pudesse incrementar a atividade
comercial e seus negócios na província, aqueles comerciantes estrangeiros
estiveram envolvidos em várias iniciativas, como tentativas de criação de
bancos, estabelecimentos de estradas de ferro e fundação de companhias de
seguros.
O aumento do número de comerciantes na praça de Fortaleza
levou à fundação da Associação Comercial do Ceará em 1866, a qual teve como
primeiro presidente o inglês Henrique Kalkamann e entre os diretores, o também
inglês Richard Hughes.
Reunião da diretoria da Associação Comercial, antiga sociedade para defesa dos interesses comerciais do estado, constituída pelas
firmas mais importantes da praça de Fortaleza. (foto: novo milênio)
O setor comercial passou a ter cada vez mais peso na vida
política cearense. Como não existiam bancos no Ceará, eram os comerciantes que
financiavam a produção, cobrando, não raras vezes, juros exorbitantes. As
dívidas contraídas por latifundiários com negociantes do litoral, sobretudo
durante os períodos de seca prolongada, e após a crise algodoeira dos anos
1870, possibilitaram a consolidação do poder político de muitos comerciantes.
Tal situação dava margem a grandes negociatas, nas quais se utilizavam os
currais eleitorais dos senhores de terra como moeda de troca.
São muitos os casos de comerciantes possuidores de patentes
como coronel ou barão, com grande influência na política cearense no Império e
na República, o que não significou o fim do domínio das oligarquias rurais ou
alguma alteração na fragilidade estrutural das elites locais. A burguesia
comercial era aliada natural da classe latifundiária, chegando mesmo a se
confundir com esta. Não poucos
comerciantes eram ao mesmo tempo, grandes senhores de terra.
Casa Albano,
pertencente à firma Albano & Irmão, foi
um dos mais antigos estabelecimentos comerciais do Ceará, fundada em 1852 pelo Barão
de Aratanha e por seu irmão Manoel
Francisco da Silva Albano.
O slogan da
firma era "Pro ara teneo et focis"
(Tenho para o altar e para o lar). Importadora de todo o tipode tecidos e
exportadora de produtos locais vendia no varejo e por atacado, alcançando um
movimento considerável que a tornou uma das primeiras casas do gênero na praça
de Fortaleza. (foto: novo milênio)
O London and Brazilian Bank Limited, depois Bank of London and South American Limited, com matriz em Londres instalou-se no andar térreo do palacete Guarani na Rua Barão do Rio Branco (arquivo Nirez)
sede própria do London Bank na esquina das ruas Barão do Rio Branco e São Paulo (arquivo Nirez)
Depois de várias tentativas, em 1893 surgiu o Banco do Ceará S.A, instalado na Rua Senador Alencar com Rua Floriano Peixoto, na antiga Praça José de Alencar (hoje Praça Waldemar Falcão), que sobreviveu até 1916. Neste mesmo período, atuaram pelo Ceará o Banco de Pernambuco, também desde 1893, e mais tarde, em 1910, o London and Brasilian Bank Limited, que instalou-se no térreo do Palacete Guarani, na Rua Barão do Rio Branco esquina com a Senador Alencar. Depois mudou-se para o prédio da mesma rua, esquina com a São Paulo.
A criação da Caixa Filial do Banco do Brasil em Fortaleza foi autorizada em 23 de junho de 1860, mas sua instalação só ocorreu em 1913. A sede própria ficava na Rua São Paulo esquina com a Floriano Peixoto (arquivo Nirez)
Em 1913, chegou o Banco do Brasil, se instalando numa casa na Rua Barão do Rio Branco; em 1914 passou para o Palacete Brasil e em 1925 mudou-se para a esquina das Ruas São Paulo com Floriano Peixoto, em sede própria. O primeiro banco com capital cearense foi a Casa Bancária Frota e Gentil, do sobralense José Gentil Alves de Carvalho.
Fundada em 1893 a Casa Bancária Frota & Gentil que mais tarde se transformaria no Banco Frota & Gentil. A nova sede da instituição foi inaugurada em 1925 no cruzamento das Ruas Floriano Peixoto com Senador Alencar (arquivo Nirez)
Em consequência do aumento do movimento comercial, a partir de 1850, o governo cearense procurou estimular as exportações locais, satisfazendo assim os interesses das firmas exportadoras, adotando medidas como a isenção de impostos e concessão de privilégios para o estabelecimento de linhas de transporte e companhias de navegação.
Tais medidas, no entanto,
esbarravam na maioria das vezes, na burocracia e no centralismo do governo
imperial.
Fontes
História do
Ceará, de Airton de Farias
Cronologia Ilustrada de Fortaleza, de Miguel Ângelo de Azevedo (Nirez)
Impressões do Brasil no século XX
disponível em http://www.novomilenio.inf.br
Cronologia Ilustrada de Fortaleza, de Miguel Ângelo de Azevedo (Nirez)
Impressões do Brasil no século XX
disponível em http://www.novomilenio.inf.br
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