Naquele começo de tarde do dia
15 de março de 1957, o Sr. Júlio Pinto se aproximara da janela do seu
escritório localizado no 6º andar do edifício jangada, na Rua Major Facundo com
Senador Alencar, para conferir as horas com o grande relógio existente na torre
da Igreja do Coração de Jesus. Eram pouco mais de 13 horas. Nesse exato
momento, viu a torre desaparecer e uma espessa nuvem de poeira ocultar tudo – teria
sido uma visão, um sonho? Perguntou-se incrédulo. Era verdade o que seus olhos
viram, caíra a torre da igreja do Coração de Jesus.
A Igreja do Coração de Jesus na forma original - 1913 - imagem: Revista FonFon
Na década de 50, a torre agulha foi substituída por uma grande torre quadrada
para abrigar um conjunto de sinos. - imagem: Arquivo Nirez
Seu primeiro ato foi pegar o
telefone e ligar para o “O Povo”, para o jornalista José Raimundo Costa, o
primeiro a saber do fato, pela informação segura de um amigo. Por esta razão, e
devido a proximidade, pois àquela época a redação do jornal funcionava na Rua
Senador Pompeu, “O Povo” foi o primeiro a documentar a tragédia.
Logo a notícia do desabamento
se espalhou pela cidade, levada pelas edições extraordinárias do noticiário
radiofônico. E uma multidão foi se formando, de homens, mulheres e crianças, em
torno da praça do Coração de Jesus. Vinham de todas as partes, de todos os
bairros, todos queriam ver de perto o desmoronamento. Temia-se pela existência
de vítimas, o que felizmente, não se confirmou. A polícia precisou cercar a
área.
As bases da torre primitiva não resistiram às toneladas de concreto e a construção desabou sobre o corpo do templo. Era o dia 15 de março de 1957 - imagens O Povo e Arquivo Nirez
Imediatamente, após o impacto
da notícia, o governador Paulo Sarasate juntamente com a primeira dama Dona
Albanisa Sarasate, compareceram ao local, solidarizando-se com o povo católico
de Fortaleza. Dois dias após o fato, no dia 17 de março de 1957, já havia uma
campanha em andamento para construção de uma nova igreja, e uma missa campal
celebrada sobre os escombros, por frei Silvério de Calvairate selou o
compromisso. A campanha só terminaria com a inauguração oficial da nova igreja,
no dia 26 de novembro de 1961.
Da palavra à ação. A cidade já
estava motivada para entender a motivação de reerguer o antigo local de sua
veneração. Ao invés de reconstruírem a igreja, pois apenas a torre e parte da
fachada fora afetada, os capuchinhos optaram por derrubar toda a igreja para
construírem uma bem maior, com rampas para subida dos carros, uma torre vazada
e uma grande cúpula sobre a nave principal.
Altar mor e cúpula romana - imagens Fortaleza em Fotos - 2011
No dia 15 de janeiro do ano
seguinte, foi lançada a pedra fundamental da nova igreja, para a qual foi
designado como construtor frei Francisco de Chiaravalle, com projeto de Emilio
Hinko. O novo templo foi construído em estilo moderno, amplo, com abóbada
lembrando os templos bizantinos. Tinha por características a arquitetura
eclética, cúpula romana, imitando a Basílica de São Pedro, no Vaticano, torre
lembrando o gótico. Do antigo templo foram conservadas as estátuas dos
apóstolos, colocadas nas marquises da
frente e dos fundos.
Matéria publicada no “ O Povo”
em 15 de setembro de 1978, dá conta de que ao escavarem os alicerces para a
nova construção, em vez da pedra fundamental da Igreja do Coração de Jesus,
encontrou-se apenas a pedra fundamental da pequenina capela de Nossa Senhora
das Dores, que ali funcionou em época passada.
Interior da Igreja do Coração de Jesus - imagens Fortaleza em Fotos - 2011
Segundo o autor de "As pouco lembradas igrejas de Fortaleza", Eduardo Fontes, o estilo da nova igreja do
Coração de Jesus não agradou aos que preferiam a antiga igreja, de linhas
sóbrias, tradicionais, de torre branca. Muitos não aprovaram sequer a reforma
realizada na torre primitiva da Igreja dos Albanos. A igreja que hoje se ergue
no lugar da primeira não possui linhas arquitetônicas definidas. É uma igreja
enorme, espaçosa, mas sem beleza. As portas da frente, de ferro, sem nenhum
trabalho de fundição, lembram portas de armazéns ou de garagens. Nada indica
que sejam próprias à igreja, pois são destituídas de estética. A enorme abóbada,
revestida externamente de alumínio – herança da arte bizantina – destoa do
restante do conjunto, de linhas retas, característico de construções modernas,
da era do cimento armado.
O novo templo foi inaugurado no dia 26 de novembro de 1961, pelo arcebispo de Fortaleza Dom Antônio de Almeida Lustosa, com a presença do governador Parsifal Barroso, do prefeito general Cordeiro Neto e do bispo de Carolina no Maranhão, Dom Cesário Minali.
fontes:
As pouco lembradas igrejas de Fortaleza, de Eduardo Fontes
Caminhando por Fortaleza, de Francisco Benedito
Jornal O Povo