Martim Soares Moreno, o
Desbravador
O fracasso da primeira
expedição colonizadora ao Ceará, comandada por Pero Coelho de Souza em 1603,
determinado principalmente pelo mau relacionamento com os nativos, motivou a
mudança de padrão para facilitar a conquista da terra. Em uma nova tentativa, escolheram
alguém que tinha conseguiu estabelecer um bom entendimento com os indígenas.
Seu nome: Martim Soares Moreno, para muitos historiadores, o grande
conquistador do Siará.
Nascido em Santiago do Cacém,
em Portugal, em 1585 ou 1586, Martim Soares veio para o Brasil como soldado do
governador-geral Diogo Botelho (1602-1607). Veio para o Ceará pela primeira vez
junto como membro da expedição de Pero Coelho, quando estabeleceu aliança com os
índios locais. Depois foi para o Rio Grande do Norte, servindo no forte dos
Reis Magos, como tenente.
Em 1611 voltou ao Ceará
acompanhado de um padre e seis soldados, se instalou na capitania, fundando o
forte de São Sebastião, no mesmo local onde existira o forte de São Tiago, na
barra do rio Ceará. Era um fortim de madeira, sobre estacas, pois esse era o
material disponível. Apesar de repetidamente atacado por índios rebeldes,
conseguiu aliança com alguns nativos, em troca de presentes. Segundo o próprio
Moreno, enquanto instalado no forte, teriam sido degolados mais de 200 piratas
franceses e holandeses, tomando-lhes três navios.
Em 1613 foi convocado para
combater a França Equinocial, no Maranhão, ao lado de Jerônimo de Albuquerque,
que já havia participado da conquista do Rio Grande do Norte. Moreno só
retornou ao Ceará em 1621, agora como capitão-mor, em reconhecimento aos
serviços prestados à Coroa portuguesa. O aventureiro chegou a escrever a
chamada ‘Relação do Ceará’, um importante documento sobre a terra cearense na
Colônia, para convencer às autoridades portuguesas sobre seus serviços na
capitania.
Moreno reencontrou o forte de
São Sebastião quase em ruínas, os soldados maltrapilhos, com soldos atrasados e
sob ameaça constante de ataques de índios. Remodelou-se então, o que foi
possível, junto com a tentativa de incrementar a economia local, com a criação
de gado e a plantação de cana de açúcar.
Em 1631, terminado o seu
período de 10 anos como capitão-mor e cansado da falta de recursos e da pouca
atenção que recebia dos governantes portugueses, Martim Soares Moreno
retirou-para Pernambuco, e em 1648, já velho, voltou para Portugal. Nunca mais
retornou ao Ceará.
Martim, o Guerreiro Branco
Mas Martim Soares Moreno
reviveu na história do Ceará na pele do guerreiro branco, Martim, personagem do
romance Iracema, de José de Alencar, publicado pela primeira vez em 1865. O
eixo temático principal da obra gira em torno da criação de uma identidade
cultural, a miscigenação entre índios e europeus. Esse encontro de raças teria
gerado o povo brasileiro. O filho do casal, Moacir, representa não
apenas o primeiro cearense, mas o primeiro brasileiro, união do sangue europeu,
com o sangue selvagem dos índios nativos.
No romance de Alencar, Martim,
explorador português responsável pela colonização de parte do território
brasileiro, perde-se na mata, em localidade que hoje corresponde ao litoral do
Ceará. Iracema, uma índia tabajara que então repousava entre as árvores,
assusta-se com a chegada do estranho, e dispara uma flecha contra Martim. Ele
não reage à agressão e Iracema entende
que feriu um inocente.
Em pacto de paz, Iracema leva
o estrangeiro ferido para sua aldeia e é recebido por seu pai, Araquém, o pajé
da tribo. Martim é acolhido com grande hospitalidade, mas sua chegada não
agrada a todos: Irapuã, guerreiro tabajara apaixonado por Iracema, é o primeiro
a demonstrar sua insatisfação.
Durante sua estadia na aldeia,
Iracema e Martim aproximam-se e floresce, entre os dois, forte atração.
Contudo, Iracema tem um papel importante na tribo: é uma virgem consagrada a
Tupã, guardadora do segredo da jurema, um licor sagrado, que levava ao êxtase
os índios tabajaras.
Entre festejos e batalhas com
outras tribos — entre elas, a dos pitiguaras, aliados de Martim — Iracema e o
estrangeiro português envolvem-se amorosamente, e a índia quebra o voto de
castidade, o que significa uma condenação à morte. Martim, por sua vez, também
é perseguido: Irapuã e seus homens querem beber seu sangue. A aliança com os
pitiguaras torna-o um inimigo ainda mais indesejado.
Apaixonados, Iracema e Martim
precisam fugir da aldeia tabajara antes que a tribo perceba que a virgem rompeu
o voto de castidade. Juntam-se a Poti, índio pitiguara, a quem Martim tratava
como irmão. Quando os tabajaras percebem a fuga, partem em perseguição aos
amantes liderada por Irapuã e Caubi, o irmão de Iracema.
Acabam por encontrar a tribo
pitiguara, e uma sangrenta batalha é travada. Caubi e Irapuã agridem
violentamente Martin, e Iracema avança com ferocidade contra os dois,
ferindo-os gravemente. Prevendo a derrota, a tribo tabajara bate em retirada.
O casal, então, refugia-se em
uma praia deserta, onde Martim constrói uma cabana. Iracema passa muito tempo
sozinha enquanto o amado fiscaliza as costas, em expedições a mando do governo
português. Martim é constantemente tomado pela melancolia e nostalgia de sua
terra natal, o que entristece Iracema, que passa a pensar que sua morte seria,
para ele, uma libertação.
Não muito tempo depois,
Iracema descobre-se grávida, mas Martim precisa partir para defender, junto a
Poti, a tribo pitiguara, que está sob ataque. Iracema acaba tendo o filho
sozinha, e batiza a criança de Moacir, o nascido de seu sofrimento. Ferida pelo
parto e pela tristeza profunda, Iracema espera a chegada de Martim para entregar-lhe a criança e falecer logo em seguida.
Fontes:
História do Ceará, de Airton de Farias
https://brasilescola.uol.com.br/literatura/iracema.htm
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