Desde os tempos mais remotos sempre foi preocupação do homem dotar suas moradias de meios adequados para suprir a falta da luz natural. O primeiro recurso foi naturalmente, o fogo, que produz luz e calor. Depois vieram outros sistemas de iluminação, à medida que as sociedades progrediam.
Na antiga Fortaleza, as casas eram iluminadas por candeeiros, lamparinas e velas, enquanto que nas ruas, praças e demais espaços públicos reinava a completa escuridão.
A idéia de se iluminar a cidade de Fortaleza data de 25 de janeiro de 1834. O Conselho da Província propôs ao presidente Inácio Correa de Vasconcelos, que repassou a demanda ao imperador.
A lamparina ainda é utilizada em alguns recantos do Nordeste
imagem: http://memriairauubense.blogspot.com/
Somente 14 anos depois, no dia 1° de março de 1848, foi inaugurado o serviço de iluminação publica de Fortaleza a azeite de peixe, compondo-se de 44 lampiões de quatro faces, pendurados nas esquinas. O contratante era Vitoriano Augusto Borges e o presidente era Casimiro José de Morais Sarmento.
A utilização do azeite de peixe na iluminação surgiu com o desenvolvimento da indústria da pesca da baleia – o óleo de baleia, aqui chamado de azeite de peixe – produzia uma luz estável e brilhante, embora produzisse muita fumaça.
Com o advento do petróleo o gás carbônico passou a ser utilizado na iluminação.
No Brasil começou em 1851, quando Irineu Evangelista de Souza – o Barão de Mauá – iniciou a iluminação de ruas por meio do famoso lampião a gás.
A iluminação com esse tipo de combustível tinha suas desvantagens: os lampiões eram difíceis de acender, precisavam de uma haste para ser alcançados; não podiam ficar próximos de nenhuma substância inflamável; precisavam de ventilação, mas não podiam ser submetidos a fortes correntes de ar; e produziam muita sujeira.
Gasômetro - aparelho utilizado para controlar a passagem do gás pela canalização subterrânea. Em Fortaleza o sistema de iluminação a gás foi implantado em 1867 pela Ceará Gás Company. (acervo: Museu do Ceará)
Gasômetro - aparelho utilizado para controlar a passagem do gás pela canalização subterrânea. Em Fortaleza o sistema de iluminação a gás foi implantado em 1867 pela Ceará Gás Company. (acervo: Museu do Ceará)
Em 22 de agosto de 1859 o então presidente Dr. José Liberato Barroso assinou contrato para iluminação pública a gás, com a concessionária Joaquim Freire Cunha & Irmão, com base na lei 918, de 13.09.1859.
O material para instalação do gasômetro de Fortaleza chegou em 9 de outubro de 1866, quando os contratos já haviam sido transferidos para a Ceará Gás Company, com sede em Londres. Aqui a empresa se instalou no terreno vizinho à Santa Casa de Misericórdia, onde funcionavam o gasômetro e a administração. Depois tudo passou para o controle da The Ceará Tramway Light and Power Co.
Fachada da Santa Casa da Misericórdia. Ao fundo, o desaparecido gasômetro, da Ceará Gás Company.
Fachada da Santa Casa da Misericórdia. Ao fundo, o desaparecido gasômetro, da Ceará Gás Company.
(imagem retirada do livro Descrição da cidade de Fortaleza)
No dia 13 de dezembro de 1867 a iluminação a gás foi parcialmente inaugurada em alguns logradouros.
Naquela época o perímetro urbano ainda era bastante limitado: ao Norte os limites eram as Ruas da Praia e da Misericórdia; a Leste, a Rua de Baixo (Conde D’Eu); ao Sul, Ruas Dom Pedro e D’Amélia (Senador Pompeu).
Fora dessa área, excetuando-se o Palácio do Bispo, o Colégio das Irmãs e o Seminário, tudo mais eram areias, casas de palha, uma ou outra casa de tijolos. Assim, bem poucas casas e ruas tiveram o privilégio da iluminação a gás carbônico.
Na antiga Praça da Sé, o belo monumento do imperador emerge dos canteiros da praça em meio aos lampiões de gás, de inspiração francesa. (Arquivo Marciano Lopes)
Na antiga Praça da Sé, o belo monumento do imperador emerge dos canteiros da praça em meio aos lampiões de gás, de inspiração francesa. (Arquivo Marciano Lopes)
Mas a iluminação era excelente, considerada pelos cronistas como uma das melhores do País. Com o advento da 1ª. Guerra em 1914, o fornecimento de carvão de pedra tornou-se deficiente, e a concessionária apagou metade dos combustores da cidade.
Apesar das dificuldades que enfrentou durante e no pós-guerra, a companhia de gás ainda forneceu o combustível até 25 de outubro de 1935, encerrando suas atividades.
A era do gás carbônico em Fortaleza durou 68 anos, 1 mês e 8 dias.
Pesquisa:
Azevedo, Miguel Ângelo de (Nirez). Cronologia Ilustrada de Fortaleza. Fortaleza: BNB, 2001. Nogueira, João. Fortaleza Velha: crônicas. Fortaleza: edições UFC/PMF, 1980.
3 comentários:
Você tem fonte que este lampião usava gás carbônico? Fiquei com dúvida porque o monóxido de carbono é usado exatamente para apagar fogo.
Dióxido de carbono*
Na verdade é o gás de carvão, ou gás de hulha, que é basicamente o metano. A reportagem usou o termo errado.
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