Pedro Augusto Borges nasceu em 29 de abril de 1851, em Fortaleza, filho do coronel Vitoriano Augusto Borges e Umbelina Rocha Moreira. Formado em medicina pela Universidade da Bahia, participou das tentativas de erradicação das epidemias provocadas pelas grandes secas de 1877-1879. Médico do Exército, alcançou o posto de general-de-divisão. Na juventude defendeu o abolicionismo e foi desterrado na Colônia Chopin, no extremo norte. Faleceu em 12 de setembro de 1922, no Rio de janeiro.
Eleito deputado federal por duas legislaturas (1894/1897), Pedro Augusto Borges foi indicado candidato ao governo do Estado pelo Ministro da Fazenda Joaquim Murtinho. Sob a sigla do Partido Republicano, compôs sua chapa ao lado de Nogueira Accioly – 1° vice-presidente, coronel Salustiano Moreira da Costa Marinho – 2° vice-presidente e coronel José Belém de Figueiredo – 3° vice-presidente.
Em 12 de julho de 1900, assumiu a presidência do Ceará e em outubro do mesmo ano, renunciou ao mandado na Câmara Federal. Nogueira Accioly assumiu o mandato em seu lugar.
A administração Pedro Borges nasceu sob o signo da oligarquia comandada por Accioly. O vínculo político que o mantinha ligado ao Dr. Nogueira Accioly fez de sua administração um elo partidário ligado a corrente que estagnou o Ceará por longo período, uma continuação da administração de Accioly. Quase nada ficou registrado em termos de realização.
Praça General Tibúrcio tendo ao fundo o Palácio da Luz e a Igreja do Rosário (arquivo Ah, Fortaleza!)
O primeiro problema sério enfrentado por Pedro Borges foi a polêmica a respeito dos limites territoriais entre o Ceará e o Rio Grande do Norte, conhecida como a “Questão de Grossos”. Os limites dos dois estados eram regulados pela Carta Régia de 1793. Mas muitos habitantes de Areias (região produtora de sal), dirigiram uma representação à Assembleia Nacional solicitando modificação dos limites. O Ceará levou o caso à justiça, aceitando depois uma composição, em março de 1902.
Pelo acordo, a área em litigio ficou com o Ceará, na conformidade do reconhecimento do conselheiro Lafayete Rodrigues Pereira. Mas o Rio Grande do Norte recorreu da decisão e em 30 de setembro de 1908, o Supremo Tribunal Federal deu ganho de causa ao estado vizinho.
Até chegar a este resultado, o conflito evoluiu para uma quase guerra entre os dois estados. Em 1903 Pedro Borges enviou ao povoado de Grossos (área em litigio), localizado no Rio Mossoró, uma força militar a fim de acabar com alguns atos abusivos. O governo do Rio Grande do Norte, em represália, mobilizou todo seu contingente militar.
Diante da situação o governo do Ceará determinou que um batalhão de soldados estacionasse em Aracati, caso fosse necessário o uso de força. Com a decisão do supremo, o Presidente da República determinou o fim da questão, ordenando a volta das tropas aos respectivos quartéis. A polêmica foi motivada pela ação dos industriais de salinas do Rio Grande do Norte que avançaram as fronteiras até a povoação de Grossos, então pertencente ao Estado do Ceará.
O governo Pedro Borges enfrentou novo conflito em 3 de janeiro de 1904, desta vez em Fortaleza, onde os trabalhadores do cais do porto, se recusaram a participar de um sorteio para trabalho no mar, a serviço da Marinha.
O conflito teve inicio quando os catraieiros se recusaram a fazer os serviços de embarque e desembarque no navio Lóide, que tinha atracado naquela data. A polícia estadual, chamada pelo capitão do porto Lopes da Cruz, dirigiu-se até a praia.
Havia no local grande número de pessoas, que acorreram ao porto para presenciar o movimento paredista, que tinha caráter pacifico. A certa altura, sem nenhum aviso prévio, sem motivação, a força armada disparou suas armas contra a multidão aglomerada no local.
A revolta que tal ataque produziu na população foi indescritível. O comércio cerrou as portas durante três dias. O confronto armado partiu do ajudante de ordens do governador, capitão Raimundo Guilherme que se sentiu ofendido pelos insultos recebidos da multidão. Ele destacou alguns soldados e marchou contra os estivadores, estabelecendo-se o pânico.
Foi o suficiente para que os demais soldados, sem comando, passassem a atirar a esmo, do que resultaram alguns mortos e muitos feridos.
A multidão revoltada, levando nos braços o cadáver do comerciário Adelino Marques Dias, marchou em passeata até o Palácio da Luz, exigindo justiça e punição dos responsáveis. Mas Pedro Borges apoiou a ação da polícia e mandou dispersar a manifestação pela força da cavalaria.
Inconformados, os manifestantes se dirigiram à residência de João Brígido, jornalista de maior prestigio na época, denunciando os atos praticados com a conivência do governador. João Brígido, que seguia a mesma orientação política do governo, rompeu com Pedro Borges, passando para a oposição.
A indignação popular era tão grande que, no dia seguinte, quando o presidente do Estado tomou um bonde para a Praça do Ferreira, todos os passageiros desceram acintosamente, deixando que o veículo partisse com aquele único passageiro.
prédio da Assembléia Provincial que também sediou o Liceu do Ceará, a Faculdade de Direito, a Biblioteca Pública. Construído por Adolfo Herbster, foi concluído em 1871. Conhecido como Palácio Senador Alencar, abriga atualmente o Museu do Ceará. Cartão Postal de 1907 (arquivo Nirez)
No governo de Pedro Borges foi fundada a Faculdade Livre de Direito do Ceará, instalada inicialmente no Liceu do Ceará, em 1° de março de 1903. A primeira diretoria esteve a cargo de Nogueira Accioly.
Pedro Borges deixou o governo do Ceará em 12 de julho de 1904, sem fazer jus ao seu passado, quando participava de memoráveis campanhas abolicionistas.
Fonte:
Rogaciano Leite Filho
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