quinta-feira, 29 de agosto de 2013

A Polêmica sobre a Fundação de Fortaleza

Existe na historiografia local certa polêmica sobre o local, a data e quem caberia a fundação de Fortaleza e do Ceará. Uma historiografia mais antiga considera a Barra do Ceará como o local de origem da capital cearense, atribuindo o feito a Martim Soares Moreno e ao forte de São Sebastião.  Daí, o porquê no livro Iracema, de José de Alencar, a referência ao “guerreiro branco”, Martim, cujas relações com a índia teriam dado origem ao povo cearense. 

Forte de São Sebastião, na Barra do Ceará, construído em 1612 por Martim Soares Moreno, no mesmo local onde,  em 1603, o açoriano Pero Coelho, erguera o fortim de São Tiago. 

Nos anos 1960, essa concepção foi questionada pelo livro Matias Beck – fundador de Fortaleza, de Raimundo Girão. Baseado em argumentos lógicos e sólidas fontes, apontou que o núcleo colonizador de Martim Soares Moreno, na Barra do Ceará não teve maiores consequências – o forte de São Sebastião foi conquistado pelos holandeses em 1637 e destruído pelos indígenas em 1644; para Raimundo Girão, o núcleo original da cidade estaria sim, no forte Schoonenborch, construído em 1649 por ordem do capitão flamengo Matias Beck. 


Local na Barra do Ceará onde foram erguidos os fortes de São Tiago e São Sebastião. Uma cruz assinala o lugar. (foto Nirez)

Os holandeses dominavam Pernambuco e estendiam seus domínios mais para o norte. Foi em torno do forte – reconquistado em 1654 pelos portugueses,  e renomeado para Fortaleza de Nossa Senhora da Assunção, no local onde hoje se encontra o quartel da 10ª Região Militar, que surgiria a capital cearense.
A tese de Girão provocou enorme polêmica, sendo ardorosamente combatida pelos conservadores e católicos, os quais não viam com bons olhos a tese de primazia holandesa, não pela nacionalidade em si, mas por um princípio de civilização, pois caso aceita a nova versão histórica, se atribuiria a um evangélico, um calvinista, a fundação de Fortaleza. 
Fortaleza de N. S. da Assunção, antigo Forte Schoonenborch, onde no seu entorno, segundo  historiadores, surgiu o povoado que mais tarde seria a Capital do Ceará. (foto Fátima Garcia)   

O tema ainda suscita debates, tanto que se comemora como data de aniversário da capital, não o da construção do forte, mas a da elevação do povoado à condição de vila, em 13 de abril de 1726, um episódio, portanto, católico e português.
Na verdade, as tentativas de conquistas feitas por portugueses e holandeses  em 1603-1654 não deixaram marcas importantes, não sendo possível falar de um marco zero para a cidade em datas anteriores. Além do que, lusos e flamengos não vieram ao Siará Grande para fundar uma cidade, mas para explorar a terra, o que foi feito com a morte de milhares de nativos. 



Vista área da Aldeota. Foto de Ricardo Vianna - outubro/2012

Fortaleza surgiu espontaneamente, não sendo fruto de ação intencional de uma única pessoa. Preocupar-se com um dia exato para ser o ponto zero de um país, estado ou município não passa de uma ação burocrática, e um mito de origem. Como criação histórica de longa duração, os países, estados e cidades não são construídos propriamente num ato fundador e heroico, mas na sucessão do tempo e com esforço anônimo de várias gerações.
O Ceará como o conhecemos hoje,  é o produto da fusão de vários povos, sociedades e cultura, do trabalho, do esforço, da dor e da alegria de milhares de pessoas ao longo dos séculos. Assim, não podemos dizer que no século XVIII o estado já lá estivesse a esperar as naus dos europeus para ser “descoberto”. O Ceará para ser e existir precisava ainda de muito para acontecer: duras lutas, guerras, confrontos, aqui e ali uma traição, uma derrota, uma frustração, uma façanha, uma epopeia.  Foi preciso audácia, força, criatividade e bastante trabalho.
 
Extraído do livro de Airton de Farias 
História do Ceará

quarta-feira, 28 de agosto de 2013

A Cidade no Pós Guerra

Depois do final da 2ª. Guerra (1939-1945), Fortaleza passou por várias mudanças, em sua estrutura urbana e na oferta de serviços. Diante da notória expansão desordenada da cidade, o prefeito Acrísio Moreira da Rocha (1948-1951) contratou o urbanista José Otacílio de Saboia Ribeiro, para elaborar o denominado Plano Diretor  para Remodelação e Extensão de Fortaleza. 

Rua Guilherme Rocha, exclusiva para pedestres, a partir dos anos 50
 
Este propunha o fim da mononucleação da cidade ao indicar zonas portuárias, industriais, comerciais e residenciais na área urbana, o estabelecimento de uma hierarquia de vias a abrir a alargar, a preservação com avenidas nos leitos dos riachos Pajeú, Jacarecanga e Tauape, o estabelecimento de áreas de parques – mostrando preocupação com o aspecto ecológico – dentre outras providências.  O plano, porém, nunca foi implantado, por pressão dos proprietários de imóveis.  Mais uma vez, interesses outros impediam que a cidade encarasse seus graves problemas e adiasse a solução. 

 Rua Major Facundo, trecho da Praça do Ferreira, com os trilhos dos bondes elétricos (foto O Povo)

Outra questão que foi tratada por Acrísio, foi a dos péssimos serviços de transporte e de energia prestados pela companhia inglesa The Ceara Tramway Light and Power. Na verdade, a expansão da cidade não era acompanhada no mesmo nível, pelos serviços que a população requeria. Em ato unilateral, de 1948, Acrísio rompeu o contrato com a empresa, encampando todo o patrimônio desta, ou seja, passando-o ao controle da prefeitura. Os bondes elétricos foram desativados e os trilhos retirados. 

 ônibus da linha Porangabussu, anos 50. Pertencia a Viação Angelim (foto do site Memorial Fotográfico do Transporte Coletivo de Passageiros do Ceará)

O problema do transporte público deveria ser resolvido com a permissão da instalação de novas linhas de ônibus. Os atos do prefeito foram efusivamente apoiados pela população, embora, de fato, o problema tenha continuado, visto que os ônibus deixavam muito a desejar – eram mal conservados,  superlotados, frota reduzida e altos valores das passagens.  De todos os serviços urbanos de Fortaleza, o transporte coletivo era o mais debatido pelos fortalezenses, especialmente porque era usado por todas as classes sociais, uma vez que só os mais abastados tinham automóveis, tidos como símbolo de status e ascensão social. Os aumentos nos preços das passagens – normalmente vinculados ao aumento de preços dos combustíveis – provocavam grandes debates na Câmara dos vereadores e na imprensa, ocorrendo constantes manifestações populares, em sua maioria organizadas e dirigidas pelos estudantes do Liceu, que apedrejavam os ônibus. 

 Ponto de ônibus na Praça do Ferreira - anos 50 (Arquivo Nirez)

Na tentativa de suprir as deficiências do sistema surgiram as auto lotações, camionetas que passaram a servir alguns bairros, sobretudo os mais distantes e pobres, como o da Floresta (na Avenida Francisco Sá), composto por trabalhadores da Viação Cearense e operários das indústrias. Algumas linhas de ônibus só funcionavam, até às 20 horas. Filas enormes e tumultos para pegar os ônibus eram comuns nas paradas. Comumente, os ônibus deixavam de circular, prejudicando a população por falta de peças de reposição ou por pressão dos empresários para forçar o aumento das passagens.  Vez por outra estouravam greves de motoristas e trocadores, contra os baixos salários e excessiva jornada de trabalho. Nos anos 1950, um motorista trabalhava 15 horas por dia, inclusive aos domingos. Para completar, havia a falta de renovação da frota, circulavam ônibus com até 12 anos de uso,  o crescimento da população e a expansão da cidade, o que demandava mais lugares para serem atendidos pelas já insuficientes linhas de ônibus. 

 A futura Avenida Bezerra de Menezes, em 1940 (Arquivo Nirez)

Enquanto isso, a circulação dos veículos ficava cada vez mais problemática. Existiam poucas vias de comunicação entre os bairros – o que obrigava a passagem pelo centro – e quando havia, o estado de conservação era ruim. O alargamento das principais ruas previsto no Plano Saboia não se concretizou. A avenida mais larga era a Bezerra de Menezes, inaugurada em 1966, ligando a Praça Paula Pessoa à Mister Hull, em Antônio Bezerra.
Em 1952, Fortaleza já teria quatro mil veículos, dos quais 195 eram ônibus das 51 linhas que ligavam o centro a bairros e distritos. Foram implantados semáforos luminosos em algumas ruas centrais, retirados os pontos de ônibus do entorno da Praça do Ferreira e proibida a circulação de veículos na Rua Guilherme Rocha.

trecho da Avenida Leste Oeste, em construção, em 1974 (foto O Povo) 
Foram abertas novas ruas e avenidas e intensificou-se a pavimentação, mais isso nunca era suficiente para as necessidades da capital. Dessas vias abertas, uma das mais importantes ainda hoje,  construída na gestão do prefeito Cordeiro Neto (1959-1963) foi a Avenida Perimetral, anel que contorna a cidade, ligando vários bairros, da Barra do Ceará ao Mucuripe.


Extraído do livro de Artur Bruno e Airton de Farias
Fortaleza:  uma breve história
     

segunda-feira, 26 de agosto de 2013

A Americanização de Fortaleza

Passeio Público e a moda francesa da Belle Epoque - 1908 (foto do Álbum de Vistas do Ceará)


Antes do advento do cinema sonoro – o que ocorre a partir dos anos 30 – o Brasil era um país que tinha por modelo a civilização europeia, de modo particular, França e Inglaterra.  O estilo de vida da nação norte-americana difundiu-se especialmente através dos seus filmes, que ditaram normas e impuseram costumes, gerando uma assimilação quase imediata por parte da imensurável massa de espectadores pelo mundo afora. 

 Bar Jangadeiro, reduto dos soldados americanos em Fortaleza. 
Coube aos americanos o inicio de outra revolução dos hábitos na cidade: os "gringos" bebiam cachaça sem o menor constrangimento. Chegavam ao Jangadeiro pedindo uísque. Ao ouvirem dos garçons que o produto estava em falta, pediam outra bebida forte. E os garçons serviam aguardente, que eles consumiam misturada com Coca-Cola. (foto de Marciano Lopes)


Com a crescente divulgação das fitas hollywoodianas, começou a profunda transformação na maneira de viver do povo brasileiro. Astros e estrelas de cinema, deuses de uma nova mitologia, ensinam aos demais povos – e o nosso, se mostrou bastante susceptível por conta de uma cultura mais jovem – um comportamento diferente, desde a maneira de vestir, de cortar o cabelo, de comer e beber. Até relacionarem-se uns com os outros.  Esse modo de vida sedimentou-se a partir da 2ª. Guerra, quando desapareceram os últimos resquícios da influência da Europa em função do envolvimento de quase todos os seus países no conflito. 

Nos nos 40, o cinema ditava a moda. As mulheres imitavam as deusas da tela na maneira de vestir, de pentear os cabelos, na maneira de andar, e de se portar. Todas procuravam algo que as identificassem com as atrizes de Hollywood.  

O império ianque não perdeu tempo. Valendo-se de instrumentos, o cinema em primeiro plano e valores diversos, acabou influenciando os padrões de vida de todos os povos, a partir do seu. Os Estados Unidos tornaram-se espelho; e as Américas e o Brasil em evidência, uma simples imagem.  Com a guerra, a indústria cinematográfica estadunidense centrou suas câmeras no perfil de bravura do soldado americano, transmitindo ao mundo um símbolo universal de valentia, dignidade e superioridade. A moral imposta pelas películas tinha endereço certo, de modo a vender lá fora a honra e a dignidade  da sociedade norte-americana.

 Praça do Ferreira, anos 50 (Arquivo Nirez)


Quando a guerra terminou e a Europa cuidava de suas cicatrizes, inclusive com a ajuda da moeda do Tio Sam, o mundo se americanizara literalmente. Aqui em Fortaleza, como em Natal e em outros pontos do território do Nordeste, onde os americanos instalaram bases militares naquele período, o processo de transformação cultural fez-se ainda mais seguramente.  Já não se ouvia mais sambas-canções e valsas dolentes. Os jovens dançavam o swing, e o cinema e os discos – em cada café havia uma eletrola automática acionada a fichas – nos tornavam íntimos do som de Glenn Miller, de Tommy Dorsey, ou Harry James, ou das vozes de Bing Crosby e Frank Sinatra. Os sucessos da semana das emissoras tornaram-se “hit parade” e nele permaneciam “Moonlight Serenade”, “Allways in My Heart”, “Star Dust” e tudo quanto era música oriunda dos Estados Unidos. 

Extraído do livro de Blanchard Girão
O Liceu e a guerra  - na paisagem sentimental da Fortaleza-província

sexta-feira, 23 de agosto de 2013

A Lenta Urbanização de Fortaleza


planta de Fortaleza 1811- atribuído ao capitão de fragata Antônio Marques Giraldes

Até meados do século XIX a evolução urbana de Fortaleza foi bastante lenta. Em 1865, os naturalistas Luiz e Elizabeth Agassiz denunciavam problemas referidos por outros viajantes: a inexistência de um cais, as dificuldades do desembarque, o areal incômodo,  a precariedade das condições sanitárias, e os surtos epidêmicos, a exemplo da malária. Por meio das atas da Câmara Municipal, pode-se acompanhar o crescimento ocorrido ao longo do século XIX. 

 Rua Major Facundo, início do século XX

Em 1800 havia um "arruador", para organizar o traçado das ruas e, 13 anos depois, a Câmara Municipal possuía uma planta parcial da vila, elaborada pelo engenheiro Antônio José da Silva Paulet, que posteriormente a complementou, incluindo outras áreas que demonstravam a viabilidade de expansão no sentido Leste-Oeste.
Em 1842 há registros de despesas municipais com o alinhamento de becos e ruas, sendo aplicada uma multa de trinta mil réis aos que desobedecessem às determinações da Câmara, ou descumprisse as normas.

 Praça José de Alencar, fins do século XIX
No ano seguinte, havia a preocupação com o nivelamento e aterro das ruas, e posteriormente, os proprietários das casas tiveram o prazo de apenas 8 dias para pavimentar os logradouros. A pavimentação era incipiente, não atendia às necessidades, sendo comuns as reclamações acerca de pedras soltas, que dificultava o tráfego de veículos. Era proibido o tráfego de carros puxados por bois nas ruas calçadas, sob pena de multa aos infratores no valor de quatro mil réis ou 8 dias prisão. 

 Praça do Ferreira, início do século XX

A Câmara também não se omitiu sobre a regulamentação das construções, ainda que em 1859, ainda não existissem os sobrados. A carência de tijolo e cal, bem como o próprio solo arenoso da cidade  criavam dificuldades para seus 8.000 habitantes, que contavam apenas com 1.418 casas, sendo que 517 delas eram de tijolo e telha. Em 1848 foi proibida a construção de batentes ou degraus que dessem para a rua, a fim de não prejudicar o alinhamento.

 Avenida Pessoa Anta

De modo geral as licenças para edificações eram concedidas com o devido alinhamento comprovado com visto de um fiscal da prefeitura; propostas que seriam consideradas excêntricas nos dias atuais eram discutidas com naturalidade na Câmara. Assim, o próprio presidente da Câmara chegou a propor que a cidade fosse dividida em tantos bairros quanto fosse o número de vereadores. Outra curiosidade é que até mesmo a cor das residências chegou a ser objeto de deliberação, sendo aprovada a proibição de que o interior das casas fosse branco ou encarnado. 

 Praça General Tibúrcio 1856, antigo Largo do Palácio, e depois Praça do Palácio. Com a colocação da estátua do general Tibúrcio, passou a se chamar com o nome do herói da Guerra do Paraguai

Não se podiam abrir janelas para as ruas e, em 1861, surgiu a primeira referência à numeração e denominação das ruas e travessas, em tabuletas. Contudo, só nesse ano a Câmara aprovou uma regulamentação mais precisa para a construção de residências e prédios, inclusive nos limites da cidade. Qualquer contravenção seria passível à aplicação de multa de 10 mil réis, além do risco de demolição das construções irregulares.
Vale ressaltar que Fortaleza não apenas crescia de forma controlada, como passou a ser mais efetiva a preocupação com o embelezamento da cidade, a construção de praças e a arborização, mesmo nas áreas mais distantes do centro. No largo próximo à Santa Casa da Misericórdia, foi mandado construir um Passeio Público, após a edificação de um paredão que dava para a praia.

 Praça da Sé, antiga Caio Prado, Praça do Conselho, Largo da Matriz

De forma similar, cerca de um conto e 500 mil réis foram gastos para o embelezamento da Praça do Conselho, e em 1864, a Câmara dispunha de funcionários especiais encarregados da conservação de árvores plantadas em certos trechos da cidade, investindo também contra a derrubada de árvores nos quintais particulares. A justificativa era que tal destruição contribuía para aumentar o calor da cidade, e por outro lado, as árvores protegiam as ruas e casas contra fina poeira soprada pelo vento. Acreditava-se mesmo que a poeira espalhada pelo vento conduzia germes e micróbios de moléstias como a tuberculose.


Extraído do livro de Gisafran Nazareno Mota Jucá
Verso e Reverso do perfil urbano de Fortaleza 

quarta-feira, 21 de agosto de 2013

A Câmara Municipal no Centro de Fortaleza

A indefinição da localização da sede da primeira vila do Ceará, fez com que a Câmara desenvolvesse um trabalho itinerante entre o Iguape, Fortaleza e a Vila Velha (Barra do Ceará); nessa caminhada não teve sede própria nem um local digno para desenvolver suas tarefas.  
  
 Praça da Sé, em postal de 1915

Em sessão da Câmara do dia 9 de abril de 1709, o Juiz Ordinário requereu ao Rei de Portugal que se mandasse fazer a Casa da Câmara e Cadeia;  não sendo atendidos, os oficiais da Câmara resolveram estabelecer uma contribuição em alqueires de farinha, para com isso obterem recursos para a execução da obra. No dia 2 de julho de 1709 foi contratado o mestre carpinteiro Domingo Teixeira, o qual contou com a mão-de-obra  indígena; o local escolhido foi a atual Praça da Sé e a madeira utilizada foi trazida das matas do Mondubim até Parangaba, e de lá até Fortaleza. A obra ficou pronta em 1726, quando o povoado foi elevado à categoria de Vila. 

 Praça do Ferreira em 1937 - foto de Amélia Earhart

Na década de 80 do século XIX, apesar de ter passado por inúmeras reformas, a casa se encontrava em ruínas, tendo a Câmara alugado algumas casas para se instalar, enquanto era construído um novo prédio.  A planta da nova casa da Câmara foi feita pelo engenheiro Custódio Francisco Azevedo em 1782, mas somente em 1786 foi aprovada a compra de uma vila de casas de uma certa viúva Inácia, próxima à casa do capitão-mor, na Rua dos Mercadores nº 42.


 Rua Conde D'Eu (arquivo Nirez)

Provisão Régia de 26 de novembro de 1802 aprovou a compra da casa do capitão-mor Antônio de Castro Viana – o atual Palácio da Luz – para servir de sede da Câmara. Em janeiro de 1809, atendendo a proposta do governador, a casa foi trocada pelo Palácio do Governo, na Rua dos Mercadores n° 42; o referido prédio passou para o Governo do Estado, em definitivo, em 6 de novembro de 1819.
Em maio de 1818, Antônio Simões ficou encarregado de realizar obras no entorno do Palácio do Governo: construiu o paredão do lado da Rua dos Mercadores e realizou o aterro para formar a atual Praça General Tibúrcio.

 O prédio da Intendência Municipal foi o primeiro sobrado de tijolo e telha, construído por Francisco Pacheco de Medeiros em 1825. Em 1831 a Câmara comprou o prédio mudou-se para a nova sede em 1833. (foto do Arquivo Nirez) 

Ficou então decidido que seria construída uma nova casa para a Câmara e Cadeia, já que a existente não era suficiente. Para isso foi comprada a casa de Francisco José Pacheco Medeiros – lado norte da atual Praça do Ferreira. A Câmara mudou-se para lá em 1833, após executar obras de reforma e adaptações. 

Fonte:
Caminhando por Fortaleza, de Francisco Benedito

domingo, 11 de agosto de 2013

O Parque do Cocó e a Sustentabilidade Esquecida


O termo – Desenvolvimento Sustentável  – surgiu em 1987, quando a Comissão Mundial sobre meio Ambiente e Desenvolvimento, criada em 1983 por iniciativa da ONU para avaliar os avanços dos processos de degradação do meio ambiente e as políticas ambientais vigentes. A decisão de criar a Comissão tinha o objetivo de promover audiências em todo mundo e produzir um resultado formal das discussões. Somente quatro anos depois, a comissão publicou suas conclusões num documento intitulado “Nosso Futuro Comum” também conhecido como Relatório Brundtland.


O Relatório Brundtland apontou para a incompatibilidade entre o desenvolvimento sustentável e os padrões de produção e consumo vigentes; reconheceu as disparidades entre as Nações e a forma como se agravaram com a questão da dívida dos países pobres;  profetizou problemas ambientais,  como o aquecimento global e a destruição da camada de ozônio, que eram conceitos novos para a época; expressou preocupação em relação a velocidade das mudanças estar excedendo a capacidade das disciplinas científicas e das habilidades humanas de avaliar e propor soluções.
Também apresentava uma lista de ações a serem tomadas pelos Estados e definia metas a serem realizadas no nível internacional, tendo como agentes as diversas instituições multilaterais. 


A partir dessa constatação, os termos Desenvolvimento Sustentável e Sustentabilidade – termo usado para definir ações e atividades humanas que visam suprir as necessidades atuais dos seres humanos, sem comprometer o futuro das próximas gerações.  Ou seja, a sustentabilidade está diretamente relacionada ao desenvolvimento econômico e material sem agredir o meio ambiente, usando os recursos naturais de forma inteligente para que eles se mantenham no futuro – virou modismo nos discursos políticos. Dá um ar de modernidade aos velhos discursos, manjadas promessas, repetidas a exaustão, nunca cumpridas. 


Mas os nobres gestores de Fortaleza, capital dessa Capitania do Siará Grande,  se depararam com um obstáculo adicional na hora de mandar passar o trator dentro de umas das poucas áreas protegidas da cidade: a opinião  pública. Ainda que muitos não tenham conhecimento desses termos técnicos que regem as matérias ambientais, mesmo os mais distraídos já perceberam que os tempos atuais não comportam mais destruição de áreas verdes ou de espaços naturais dentro de Fortaleza, sem graves consequências para a cidade - primeiro tentaram invadir as dunas, agora invadiram o Parque do Cocó - que é chegada a hora de se buscar soluções alternativas, que permitam que a cidade cresça, sem destruir o que resta de áreas naturais. Pois então senhor prefeito, é chegada a hora de promessas deixarem de serem só promessas e virar atos e ações... sustentáveis!


A forma de tentar solucionar o impasse foi verdadeiramente medieval:  mandaram desalojar os manifestantes, acampados na área do parque,  à custa de muita pancadaria, muito gás de pimenta e muita polícia despreparada e mal paga. Não deu certo. Não dará certo nunca mais. Os tempos são outros, os argumentos, os meios de negociação também são outros. O Parque do Cocó precisa ter sua área delimitada, identificada, para que todas saibam tratar-se de área de preservação,  com legislação e uso específicos; para que nunca mais venha a ser usada  a bel prazer de nenhum governante, de nenhum agente, seja público ou privado. Entenda, o prefeito, que esse é um momento histórico,  daqueles momentos em que novos paradigmas são assimilados e mudam toda a história. Agora todos sabem que o Parque do Cocó é patrimônio de Fortaleza e de sua população. Apesar de você.
Referências:

NOSSO FUTURO COMUM. Relatório da Comissão Mundial sobre Meio ambiente e Desenvolvimento. 2ª. Ed. Rio de Janeiro: FVG, 1991.
http://www.suapesquisa.com/ecologiasaude/sustentabilidade.htm

sexta-feira, 2 de agosto de 2013

Praça do Carmo

Até as últimas décadas do século XIX, a hoje chamada Praça do Carmo era um grande areal nos arrabaldes de Fortaleza. Havia uma lagoa no quarteirão em frente, onde hoje funcionam o Banco do Brasil e um estacionamento. A lagoa era alimentada por um córrego que vinha das bandas da Praça do Ferreira. 

No dia 21 de janeiro de 1921 foi colocada uma imagem de N. S. da Paz no adro da igreja, por uma associação de devotos da santa. Em 1966 a imagem foi deslocada para a posição atual, devido ao alargamento da Avenida Duque de Caxias. (foto do Arquivo Nirez)

A praça foi chamada inicialmente de Nossa Senhora do Livramento, devido a capela construída no local pela irmandade existente na Igreja do Patrocínio.  A partir de 1915, a praça mudou de nome quando a padroeira deixou de ser N. S. do Livramento e passou a ser N. S. do Carmo.  Em 1922 a Praça recebeu o nome de Gonçalves Ledo, voltando mais tarde, em 1932, ao antigo nome. Em 1929 a praça foi totalmente reformada:  recebeu um piso novo, um jardim – denominado Demosthenes de Carvalho – bancos  e iluminação, tornando-se um dos logradouros mais importantes do centro. 

A origem da atual Igreja N. S. do Carmo remonta ao ano de 1850, quando foi construída a Capela de N. S. do Livramento, ampliada e restaurada pelo mestre Rosa em 1870. O templo atual foi projetado por Adolfo Herbster, mandado construir pela confraria de N. S. do Carmo, criada pelo Monsenhor João Dantas, da Igreja do Patrocínio, e inaugurado no dia 25 de março de 1906.

A região onde estava erguida a igreja era considerada tranquila e popular. “Nos bons tempos (década de 40) era propícia para encontros sentimentais”, escreveu o professor e advogado já falecido, Francisco Edmilson Pinheiro, em seu livro “A Praça do Carmo Minha Amiga”. De acordo com o escritor, o aspecto era convidativo: um local arborizado que contava com fileiras dos fícus de benjamim verdejantes e dos oitis frondosos; um bem cuidado jardim de rosas multicores dava um toque agradável ao lugar. 

 as paredes da Igreja do Carmo são cobertas de placas de agradecimentos dos fiéis

Já na década de 40, com a presença do padre Aureliano Mota na paróquia, a praça atingiu o ápice do seu prestígio. Do púlpito da igreja, o vigário, um grande orador sacro, atraía a população da Cidade. Como o trânsito era pequeno, os noivos da sociedade fortalezense escolhiam a paróquia do Carmo para se casarem. Para eles, o importante era que a cerimônia fosse presidida pelo padre Aureliano.

 Na década de 60 a praça do Carmo serviu como ponto de ônibus elétricos das linhas Parangaba e Antônio Bezerra (foto do arquivo Nirez)

Daquela época até a década de 70, a região foi puramente residencial. Moravam lá as famílias tradicionais da Capital: Pontes Pinheiro, Pontes Vidal e Oliveira, entre muitas outras ilustres. Outra tradição do lugar eram os lustradores de sapatos, famosos pelas confusões em que se metiam. 
Depois da época dourada, a história mudou. Apesar de a região continuar sendo a mesma, o perfil da Praça do Carmo mudou.  Tornou-se um centro comercial, com tendência para se consolidar no ramo de produtos naturais. Na frente da praça fica a Avenida Duque de Caxias (conhecida antigamente como Boulevard do Livramento); pelas laterais as Ruas Major Facundo e Barão do Rio Branco; por trás, a Rua Clarindo de Queiroz.  Em volta da igreja, várias bancas de revistas;  no entorno da praça, estacionamentos de táxis, de motos e de veículos particulares.
Instituto Histórico Geográfico e Antropológico do Ceará - Fundado em 14 de março de 1887, para concorrer com o desenvolvimento das letras e ciências e divulgar a História, Geografia e a Cultura do Ceará.  No decorrer de sua existência, seus membros produziram vários trabalhos, publicados em suas revistas e livros.  Funciona num prédio construído entre 1919 e 1920 para residência do comerciante Jeremias Arruda, projeto do arquiteto e engenheiro João Saboia Barbosa. 

Ainda faz parte desse polo comercial e religioso, o Banco do Brasil instalado há quase 40 anos na Rua Barão do Rio Branco, 1515. Estacionamentos, restaurantes self services, frigoríficos, laboratório, a farmácia dos Merceeiros, na esquina da Rua Clarindo de Queiroz com Major Facundo; o famoso Instituto Histórico, Geográfico e Antropológico do Ceará, que situa-se na Rua Barão do Rio Branco, 1594, desde o ano de 1967, no local onde antes, funcionou o antigo Ginásio Municipal; próximo também está O Colégio Ary de Sá, onde antes esteve a primeira sede do Colégio Farias Brito, localizado à Avenida Duque de Caxias com Major Facundo.
A Praça do Carmo ainda tem um comércio considerado saudável. Muitos comerciantes instalados na região são antigos. Um exemplo são os proprietários da Banca "O Sobral", trabalhando há mais de 30 anos na região. O ponto comercial é famoso por vender todo tipo de apostila para concursos e vestibulares e manter um ambiente climatizado.

fontes:
Caminhando por Fortaleza, de Francisco Benedito
Jornal Diário do Nordeste