Depois do final da 2ª. Guerra (1939-1945), Fortaleza passou
por várias mudanças, em sua estrutura urbana e na oferta de serviços. Diante da
notória expansão desordenada da cidade, o prefeito Acrísio Moreira da Rocha
(1948-1951) contratou o urbanista José Otacílio de Saboia Ribeiro, para
elaborar o denominado Plano Diretor para
Remodelação e Extensão de Fortaleza.
Rua Guilherme Rocha, exclusiva para pedestres, a partir dos anos 50
Este propunha o fim da mononucleação da
cidade ao indicar zonas portuárias, industriais, comerciais e residenciais na
área urbana, o estabelecimento de uma hierarquia de vias a abrir a alargar, a
preservação com avenidas nos leitos dos riachos Pajeú, Jacarecanga e Tauape, o estabelecimento
de áreas de parques – mostrando preocupação com o aspecto ecológico – dentre outras
providências. O plano, porém, nunca foi
implantado, por pressão dos proprietários de imóveis. Mais uma vez, interesses outros impediam que a
cidade encarasse seus graves problemas e adiasse a solução.
Rua Major Facundo, trecho da Praça do Ferreira, com os trilhos dos bondes elétricos (foto O Povo)
Outra questão que foi tratada por Acrísio, foi a dos
péssimos serviços de transporte e de energia prestados pela companhia inglesa
The Ceara Tramway Light and Power. Na verdade, a expansão da cidade não era
acompanhada no mesmo nível, pelos serviços que a população requeria. Em ato
unilateral, de 1948, Acrísio rompeu o contrato com a empresa, encampando todo o
patrimônio desta, ou seja, passando-o ao controle da prefeitura. Os bondes
elétricos foram desativados e os trilhos retirados.
ônibus da linha Porangabussu, anos 50. Pertencia a Viação Angelim (foto do site Memorial Fotográfico do Transporte Coletivo de Passageiros do Ceará)
O problema do transporte
público deveria ser resolvido com a permissão da instalação de novas linhas de
ônibus. Os atos do prefeito foram efusivamente apoiados pela população, embora,
de fato, o problema tenha continuado, visto que os ônibus deixavam muito a
desejar – eram mal conservados, superlotados, frota reduzida e altos valores
das passagens. De todos os serviços
urbanos de Fortaleza, o transporte coletivo era o mais debatido pelos
fortalezenses, especialmente porque era usado por todas as classes sociais, uma
vez que só os mais abastados tinham automóveis, tidos como símbolo de status e ascensão
social. Os aumentos nos preços das passagens – normalmente vinculados ao
aumento de preços dos combustíveis – provocavam grandes debates na Câmara dos
vereadores e na imprensa, ocorrendo constantes manifestações populares, em sua
maioria organizadas e dirigidas pelos estudantes do Liceu, que apedrejavam os
ônibus.
Ponto de ônibus na Praça do Ferreira - anos 50 (Arquivo Nirez)
Na tentativa de suprir as deficiências do sistema surgiram
as auto lotações, camionetas que passaram a servir alguns bairros, sobretudo os
mais distantes e pobres, como o da Floresta (na Avenida Francisco Sá), composto
por trabalhadores da Viação Cearense e operários das indústrias. Algumas linhas
de ônibus só funcionavam, até às 20 horas. Filas enormes e tumultos para pegar
os ônibus eram comuns nas paradas. Comumente, os ônibus deixavam de circular,
prejudicando a população por falta de peças de reposição ou por pressão dos
empresários para forçar o aumento das passagens. Vez por outra estouravam greves de motoristas
e trocadores, contra os baixos salários e excessiva jornada de trabalho. Nos anos
1950, um motorista trabalhava 15 horas por dia, inclusive aos domingos. Para completar,
havia a falta de renovação da frota, circulavam ônibus com até 12 anos de uso, o crescimento da população e a expansão da
cidade, o que demandava mais lugares para serem atendidos pelas já
insuficientes linhas de ônibus.
A futura Avenida Bezerra de Menezes, em 1940 (Arquivo Nirez)
Enquanto isso, a circulação dos veículos ficava cada vez
mais problemática. Existiam poucas vias de comunicação entre os bairros – o que
obrigava a passagem pelo centro – e quando havia, o estado de conservação era
ruim. O alargamento das principais ruas previsto no Plano Saboia não se concretizou.
A avenida mais larga era a Bezerra de Menezes, inaugurada em 1966, ligando a
Praça Paula Pessoa à Mister Hull, em Antônio Bezerra.
Em 1952, Fortaleza já teria quatro mil veículos, dos quais
195 eram ônibus das 51 linhas que ligavam o centro a bairros e distritos. Foram
implantados semáforos luminosos em algumas ruas centrais, retirados os pontos
de ônibus do entorno da Praça do Ferreira e proibida a circulação de veículos na
Rua Guilherme Rocha.
trecho da Avenida Leste Oeste, em construção, em 1974 (foto O Povo)
Foram abertas novas ruas e avenidas e intensificou-se a
pavimentação, mais isso nunca era suficiente para as necessidades da capital. Dessas
vias abertas, uma das mais importantes ainda hoje, construída na gestão do prefeito Cordeiro Neto
(1959-1963) foi a Avenida Perimetral, anel que contorna a cidade, ligando
vários bairros, da Barra do Ceará ao Mucuripe.
Extraído do
livro de Artur Bruno e Airton de Farias
Fortaleza: uma breve história
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