quarta-feira, 28 de agosto de 2013

A Cidade no Pós Guerra

Depois do final da 2ª. Guerra (1939-1945), Fortaleza passou por várias mudanças, em sua estrutura urbana e na oferta de serviços. Diante da notória expansão desordenada da cidade, o prefeito Acrísio Moreira da Rocha (1948-1951) contratou o urbanista José Otacílio de Saboia Ribeiro, para elaborar o denominado Plano Diretor  para Remodelação e Extensão de Fortaleza. 

Rua Guilherme Rocha, exclusiva para pedestres, a partir dos anos 50
 
Este propunha o fim da mononucleação da cidade ao indicar zonas portuárias, industriais, comerciais e residenciais na área urbana, o estabelecimento de uma hierarquia de vias a abrir a alargar, a preservação com avenidas nos leitos dos riachos Pajeú, Jacarecanga e Tauape, o estabelecimento de áreas de parques – mostrando preocupação com o aspecto ecológico – dentre outras providências.  O plano, porém, nunca foi implantado, por pressão dos proprietários de imóveis.  Mais uma vez, interesses outros impediam que a cidade encarasse seus graves problemas e adiasse a solução. 

 Rua Major Facundo, trecho da Praça do Ferreira, com os trilhos dos bondes elétricos (foto O Povo)

Outra questão que foi tratada por Acrísio, foi a dos péssimos serviços de transporte e de energia prestados pela companhia inglesa The Ceara Tramway Light and Power. Na verdade, a expansão da cidade não era acompanhada no mesmo nível, pelos serviços que a população requeria. Em ato unilateral, de 1948, Acrísio rompeu o contrato com a empresa, encampando todo o patrimônio desta, ou seja, passando-o ao controle da prefeitura. Os bondes elétricos foram desativados e os trilhos retirados. 

 ônibus da linha Porangabussu, anos 50. Pertencia a Viação Angelim (foto do site Memorial Fotográfico do Transporte Coletivo de Passageiros do Ceará)

O problema do transporte público deveria ser resolvido com a permissão da instalação de novas linhas de ônibus. Os atos do prefeito foram efusivamente apoiados pela população, embora, de fato, o problema tenha continuado, visto que os ônibus deixavam muito a desejar – eram mal conservados,  superlotados, frota reduzida e altos valores das passagens.  De todos os serviços urbanos de Fortaleza, o transporte coletivo era o mais debatido pelos fortalezenses, especialmente porque era usado por todas as classes sociais, uma vez que só os mais abastados tinham automóveis, tidos como símbolo de status e ascensão social. Os aumentos nos preços das passagens – normalmente vinculados ao aumento de preços dos combustíveis – provocavam grandes debates na Câmara dos vereadores e na imprensa, ocorrendo constantes manifestações populares, em sua maioria organizadas e dirigidas pelos estudantes do Liceu, que apedrejavam os ônibus. 

 Ponto de ônibus na Praça do Ferreira - anos 50 (Arquivo Nirez)

Na tentativa de suprir as deficiências do sistema surgiram as auto lotações, camionetas que passaram a servir alguns bairros, sobretudo os mais distantes e pobres, como o da Floresta (na Avenida Francisco Sá), composto por trabalhadores da Viação Cearense e operários das indústrias. Algumas linhas de ônibus só funcionavam, até às 20 horas. Filas enormes e tumultos para pegar os ônibus eram comuns nas paradas. Comumente, os ônibus deixavam de circular, prejudicando a população por falta de peças de reposição ou por pressão dos empresários para forçar o aumento das passagens.  Vez por outra estouravam greves de motoristas e trocadores, contra os baixos salários e excessiva jornada de trabalho. Nos anos 1950, um motorista trabalhava 15 horas por dia, inclusive aos domingos. Para completar, havia a falta de renovação da frota, circulavam ônibus com até 12 anos de uso,  o crescimento da população e a expansão da cidade, o que demandava mais lugares para serem atendidos pelas já insuficientes linhas de ônibus. 

 A futura Avenida Bezerra de Menezes, em 1940 (Arquivo Nirez)

Enquanto isso, a circulação dos veículos ficava cada vez mais problemática. Existiam poucas vias de comunicação entre os bairros – o que obrigava a passagem pelo centro – e quando havia, o estado de conservação era ruim. O alargamento das principais ruas previsto no Plano Saboia não se concretizou. A avenida mais larga era a Bezerra de Menezes, inaugurada em 1966, ligando a Praça Paula Pessoa à Mister Hull, em Antônio Bezerra.
Em 1952, Fortaleza já teria quatro mil veículos, dos quais 195 eram ônibus das 51 linhas que ligavam o centro a bairros e distritos. Foram implantados semáforos luminosos em algumas ruas centrais, retirados os pontos de ônibus do entorno da Praça do Ferreira e proibida a circulação de veículos na Rua Guilherme Rocha.

trecho da Avenida Leste Oeste, em construção, em 1974 (foto O Povo) 
Foram abertas novas ruas e avenidas e intensificou-se a pavimentação, mais isso nunca era suficiente para as necessidades da capital. Dessas vias abertas, uma das mais importantes ainda hoje,  construída na gestão do prefeito Cordeiro Neto (1959-1963) foi a Avenida Perimetral, anel que contorna a cidade, ligando vários bairros, da Barra do Ceará ao Mucuripe.


Extraído do livro de Artur Bruno e Airton de Farias
Fortaleza:  uma breve história
     

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