segunda-feira, 26 de agosto de 2013

A Americanização de Fortaleza

Passeio Público e a moda francesa da Belle Epoque - 1908 (foto do Álbum de Vistas do Ceará)


Antes do advento do cinema sonoro – o que ocorre a partir dos anos 30 – o Brasil era um país que tinha por modelo a civilização europeia, de modo particular, França e Inglaterra.  O estilo de vida da nação norte-americana difundiu-se especialmente através dos seus filmes, que ditaram normas e impuseram costumes, gerando uma assimilação quase imediata por parte da imensurável massa de espectadores pelo mundo afora. 

 Bar Jangadeiro, reduto dos soldados americanos em Fortaleza. 
Coube aos americanos o inicio de outra revolução dos hábitos na cidade: os "gringos" bebiam cachaça sem o menor constrangimento. Chegavam ao Jangadeiro pedindo uísque. Ao ouvirem dos garçons que o produto estava em falta, pediam outra bebida forte. E os garçons serviam aguardente, que eles consumiam misturada com Coca-Cola. (foto de Marciano Lopes)


Com a crescente divulgação das fitas hollywoodianas, começou a profunda transformação na maneira de viver do povo brasileiro. Astros e estrelas de cinema, deuses de uma nova mitologia, ensinam aos demais povos – e o nosso, se mostrou bastante susceptível por conta de uma cultura mais jovem – um comportamento diferente, desde a maneira de vestir, de cortar o cabelo, de comer e beber. Até relacionarem-se uns com os outros.  Esse modo de vida sedimentou-se a partir da 2ª. Guerra, quando desapareceram os últimos resquícios da influência da Europa em função do envolvimento de quase todos os seus países no conflito. 

Nos nos 40, o cinema ditava a moda. As mulheres imitavam as deusas da tela na maneira de vestir, de pentear os cabelos, na maneira de andar, e de se portar. Todas procuravam algo que as identificassem com as atrizes de Hollywood.  

O império ianque não perdeu tempo. Valendo-se de instrumentos, o cinema em primeiro plano e valores diversos, acabou influenciando os padrões de vida de todos os povos, a partir do seu. Os Estados Unidos tornaram-se espelho; e as Américas e o Brasil em evidência, uma simples imagem.  Com a guerra, a indústria cinematográfica estadunidense centrou suas câmeras no perfil de bravura do soldado americano, transmitindo ao mundo um símbolo universal de valentia, dignidade e superioridade. A moral imposta pelas películas tinha endereço certo, de modo a vender lá fora a honra e a dignidade  da sociedade norte-americana.

 Praça do Ferreira, anos 50 (Arquivo Nirez)


Quando a guerra terminou e a Europa cuidava de suas cicatrizes, inclusive com a ajuda da moeda do Tio Sam, o mundo se americanizara literalmente. Aqui em Fortaleza, como em Natal e em outros pontos do território do Nordeste, onde os americanos instalaram bases militares naquele período, o processo de transformação cultural fez-se ainda mais seguramente.  Já não se ouvia mais sambas-canções e valsas dolentes. Os jovens dançavam o swing, e o cinema e os discos – em cada café havia uma eletrola automática acionada a fichas – nos tornavam íntimos do som de Glenn Miller, de Tommy Dorsey, ou Harry James, ou das vozes de Bing Crosby e Frank Sinatra. Os sucessos da semana das emissoras tornaram-se “hit parade” e nele permaneciam “Moonlight Serenade”, “Allways in My Heart”, “Star Dust” e tudo quanto era música oriunda dos Estados Unidos. 

Extraído do livro de Blanchard Girão
O Liceu e a guerra  - na paisagem sentimental da Fortaleza-província

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