Passeio Público e a moda francesa da Belle Epoque - 1908 (foto do Álbum de Vistas do Ceará)
Antes do advento do cinema sonoro – o que ocorre a partir
dos anos 30 – o Brasil era um país que tinha por modelo a civilização europeia,
de modo particular, França e Inglaterra.
O estilo de vida da nação norte-americana difundiu-se especialmente
através dos seus filmes, que ditaram normas e impuseram costumes, gerando uma
assimilação quase imediata por parte da imensurável massa de espectadores pelo
mundo afora.
Bar Jangadeiro, reduto dos soldados americanos em Fortaleza.
Coube aos americanos o inicio de outra revolução dos hábitos na cidade: os "gringos" bebiam cachaça sem o menor constrangimento. Chegavam ao Jangadeiro pedindo uísque. Ao ouvirem dos garçons que o produto estava em falta, pediam outra bebida forte. E os garçons serviam aguardente, que eles consumiam misturada com Coca-Cola. (foto de Marciano Lopes)
Com a crescente divulgação das fitas hollywoodianas, começou
a profunda transformação na maneira de viver do povo brasileiro. Astros e
estrelas de cinema, deuses de uma nova mitologia, ensinam aos demais povos – e
o nosso, se mostrou bastante susceptível por conta de uma cultura mais jovem –
um comportamento diferente, desde a maneira de vestir, de cortar o cabelo, de
comer e beber. Até relacionarem-se uns com os outros. Esse modo de vida sedimentou-se a partir da
2ª. Guerra, quando desapareceram os últimos resquícios da influência da Europa
em função do envolvimento de quase todos os seus países no conflito.
O império
ianque não perdeu tempo. Valendo-se de instrumentos, o cinema em primeiro plano
e valores diversos, acabou influenciando os padrões de vida de todos os povos,
a partir do seu. Os Estados Unidos tornaram-se espelho; e as Américas e o
Brasil em evidência, uma simples imagem. Com a guerra, a indústria cinematográfica
estadunidense centrou suas câmeras no perfil de bravura do soldado americano, transmitindo
ao mundo um símbolo universal de valentia, dignidade e superioridade. A moral
imposta pelas películas tinha endereço certo, de modo a vender lá fora a honra
e a dignidade da sociedade
norte-americana.
Nos nos 40, o cinema ditava a moda. As mulheres imitavam as deusas da tela na maneira de vestir, de pentear os cabelos, na maneira de andar, e de se portar. Todas procuravam algo que as identificassem com as atrizes de Hollywood.
Praça do Ferreira, anos 50 (Arquivo Nirez)
Quando a guerra terminou e a Europa cuidava de suas
cicatrizes, inclusive com a ajuda da moeda do Tio Sam, o mundo se americanizara
literalmente. Aqui em Fortaleza, como em Natal e em outros pontos do território
do Nordeste, onde os americanos instalaram bases militares naquele período, o
processo de transformação cultural fez-se ainda mais seguramente. Já não se ouvia mais sambas-canções e valsas
dolentes. Os jovens dançavam o swing, e o cinema e os discos – em cada café
havia uma eletrola automática acionada a fichas – nos tornavam íntimos do som
de Glenn Miller, de Tommy Dorsey, ou Harry James, ou das vozes de Bing Crosby e
Frank Sinatra. Os sucessos da semana das emissoras tornaram-se “hit parade” e
nele permaneciam “Moonlight Serenade”, “Allways in My Heart”, “Star Dust” e
tudo quanto era música oriunda dos Estados Unidos.
Extraído do livro de Blanchard Girão
O Liceu e a guerra -
na paisagem sentimental da Fortaleza-província
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