terça-feira, 31 de agosto de 2010

Época de Ouro: As Novelas do Rádio

As novelas no rádio cearense tiveram início ainda na década de 1930. Até os anos 1950, quando o rádio viveu seu apogeu, um dos maiores destaques foi no campo das novelas, cujo nível de interpretações e de direções só encontrava paralelo na poderosa Rádio Nacional do Rio de Janeiro, à época, a expressão máxima do rádio brasileiro.
Era em torno do rádio que a família se reunia à noite, depois do jantar, para a novela das oito.
Às vezes a lâmpada do ambiente era apagada para que as luzes do aparelho receptor chamassem a atenção de todos para uma maior concentração da ação, que se desenrolava no chamado teatro-cego.
Entre centenas de nomes que em quase três décadas encarnaram personagens da história e da ficção, figuram artistas como
Paulo Cabral,
Cabral de Araújo,
Iracilda Gondim,
Manuelito Eduardo,
José Julio Barbosa,
José de Oliveira,
Stela Maria,
Vera Lúcia,
Miriam Silveira,
Maria José Braz,
Haroldo Serra,
Oliveira Filho,
Celina Maria,
Cleyde Holanda,
Ângela Maria,
Ismy Fernandes,
Cláutenes Andrade,
Ítala Ney,
Wilson Machado,
Augusto Borges,
Mozart Marinho,
José Limaverde,
Andrade Júnior,
Carlos d’Alge,
Almir Pedreira,
Yvone Mary,
Emiliano Queiroz,
Albuquerque Pereira,
Clovis Matias,
Wilson Aguiar,
Nazareno Albuquerque,
Djacir Oliveira.
João Ramos, galã das novelas da Ceará Rádio Clube, sofria o assédio de fãs que lotavam escadas e elevadores e movimentavam o Edificio Pajeú em busca de autógrafos.
Laura Santos a maior expressão feminina do rádio-teatro cearense era par constante do galã João Ramos
Mas o casal que fez história no rádio cearense foi composto por João Ramos e Laura Santos, dupla que encantou os ouvintes com inesquecíveis performances durante anos. Foi João Ramos quem criou o Elenco de Ouro da Ceará Rádio Clube, onde deu uma nova dinâmica às novelas, com atores e atrizes selecionados com rigor.
João Ramos e Laura Santos eram atrações, motivo de correrias nos corredores e escadas da rádio, assediados por fãs exigindo autógrafos, querendo tocá-los. Faziam perguntas, queriam escutar suas vozes ao vivo, queriam saber se eram pessoas reais, vivas, queriam fotos. Eram reconhecidos e admirados nos clubes, nos bares, nas ruas.
A relação que se estabelecia entre ouvintes e fãs era diferente da relação passageira dos tempos atuais, quando a fama tem a mesma duração da novela, e o artista precisa estar sempre na mídia para não ser esquecido. Nos tempos do rádio a fidelidade dos fãs durava décadas, estando ou não o artista no ar.

Existiam os escritores especializados em radionovelas, alguns ficaram famosos nacionalmente, a exemplo de Amaral Gurgel, Oduvaldo Vianna, Janete Clair, Ivany Ribeiro e muitos outros.
A primeira novela de autor cearense apresentada pela PRE-9, foi “Aos pés do Tirano”, de Eduardo Campos, que a partir daí evoluiu como homem de letras, e se tornou um símbolo do rádio de altíssimo nível que se fez no Ceará, em décadas passadas. Consuelo Ferreira integrava a constelação de rádio-atrizes da Rádio Dragão do Mar

Maria José Braz que juntamente com Laura Santos dividia o estrelato das grandes produções artisticas da Ceará Rádio Clube Gláuria Farias era do elenco de radioteatro da Rádio Dragão do Mar
Angela Maria do cast da PRE-9
Oliveira Filho, galã das novelas da Rádio Dragão do Mar Laura Santos e Cabral de Araújo
Para Marciano Lopes, as novelas do rádio acabaram quando as pessoas deixaram de ser criativas. os artífices das ilusões pediram aposentadoria, porque o público passou a acreditar somente no que vê, os cérebros modernos perderam a capacidade de fantasiar, criar o clima, idealizar o cenário, compor os tipos e comportamentos humanos.
E a ingenuidade de um beijo apenas sugerido através da narração emocionada de Almir Pedreira ou de Laura Santos já não bastava. Era preciso muito mais, era necessária a imagem associada às falas para que as histórias sejam entendidas.
Fotos e pesquisa:LOPES, Marciano. Coisas que o Tempo Levou: a era do rádio no Ceará. Fortaleza, 1994

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Um Olhar sobre O Passeio Público


Na íngreme descida do Passeio Público, ao lado da Santa Casa de Misericórdia, a caminho da praia, existiram, até bem pouco tempo, dois enormes cilindros de ferro, dentro de engradados, que subiam e desciam sob a força do gás que produziam.
Era o gasômetro, que fornecia à cidade o gás carbônico de iluminação. Alimentados com carvão de pedra, deixavam correr como um rio, uma serpente negra de alcatrão quente, direção ao mar. Muitos pescadores utilizavam o piche para a calafetagem dos seus barcos e os pintores o utilizavam para pintar rodapés e oitões sujeitos à umidade.


Avenida Caio Prado no Passeio Público do lado do mar, com gradil de ferro separando do 2° plano e dezenas de combustores, em 1888 (Arquivo NIREZ)
O gás era conduzido às casas através de finos canos de chumbo. Os combustores das ruas, alimentados pelo gás, apresentavam uma bela luz esverdeada.
Eram de inicio de mangas inteiriças e arredondadas, com uma espécie de tampa chaminé;foram posteriormente sendo substituídos por outros, formados de lampiões de quatro faces.
Eram acesos por baixo, com o auxílio de uma vara com a ponta inflamada. 
Avenida Mororó, em foto de 1907 (Arquivo NIREZ)
Avenida Caio Prado , em foto de 1908 (Arquivo NIREZ)
O passeio público era uma ampla praça dividida em três partes iguais.A primeira era a Avenida Caio Prado, onde fervilhava a fina sociedade local;a parte do meio era a Avenida Carapinima, destinada ao público de classe média.A terceira era a Avenida Padre Mororó, era freqüentada pela ralé – as mulheres da vida, os rufiões, os desocupados...



O Passeio era ornamentado com muito bom gosto e onde havia uma porção de belas estátuas vindas da Europa.
Algumas delas, que escaparam à sanha de certos prefeitos, continuam lá.Outras tomaram rumo ignorado – como que se envolveram nas dobras do tempo que passou.




Havia ainda uma bela coleção de jarros japoneses, de faiança e sèvres, sobre colunas artisticamente erigidas
Em piscinas de águas límpidas, nadavam peixes multicores.
Cartão Postal do Passeio Público - Loja Trianon - 1928 (Arquivo Ah, Fortaleza!)
 
O vento que circula hoje no Passeio Público, sibilando nas frondes empoeiradas e poluídas soa triste e parece cantar uma melopéia macabra – sinistra sinfonia dedicada aos que se foram e que, segundo dizem, teimam em ali permanecer... 
Rua Major Facundo vista do Passeio Público. À direita o Hotel de France. Inicio do séc. XX (Arquivo Ah, Fortaleza!) 

Por mais que o enfeitem, por mais que tentem torná-lo habitado, o Passeio Público apresenta um aspecto soturno – mesmo ao som das bandas de música ou à luz feérica das lâmpadas. Talvez a razão dessa tristeza esteja na sua própria história: em 1825, quando se chamava Largo da Pólvora, foi palco do sacrifício dos patriotas que sonharam com a criação.
Ali foram mortos Silva Carapinima, Azevedo Bolão, Pereira Ibiapina, Padre Mororó e Pessoa Anta.

extraído da Crônica Elegia ao Passeio Público de Otacílio de Azevedo.

Sobre Otacílio de Azevedo
Redenção, 11 de fevereiro de 1892 — Fortaleza, 3 de Abril de 1978
Foi pintor, desenhista e poeta brasileiro membro da Academia Cearense de Letras e fundador da Sociedade Brasileira dos Amigos da Astronomia.
Começou nas artes plásticas como pintor de tabuletas de cinemas e de letreiros de lojas. Trabalhou na loja de Fotografia N. Olsen, onde teve oportunidade de conhecer artistas plásticos e escritores cearenses da época, como Ramos Cotoco, Gérson Faria, Clóvis Costa, Paula Barros, Herman Lima, Quintino Cunha e muitos outros mais.
A partir de então começou a desenvolver suas habilidades como pintor e poeta.
Participou, juntamente com outros nomes cearenses, do Salão Regional realizado em Fortaleza no ano de 1924.
Fundou em 1934 com Gérson Faria, Pretextato Bezerra e Clóvis Costa o primeiro ateliê de pintura na cidade.
Figurou como sócio fundador do Centro Cultural de Belas Artes (CCBA) que se tornou a Sociedade Cearense de Artes Plásticas (SCAP), chegando a ser eleito vice-presidente;
participou dos I, II e III Salões Cearenses de Pintura (Fortaleza - 1941, 1942 e 1944) e de vários Salões de Abril.
Além de paisagista, Otacílio de Azevedo era grande retratista, sendo de sua autoria uma boa parte dos retratos dos governadores do Estado do Ceará expostos em palácio.
http://pt.wikipedia.org

domingo, 29 de agosto de 2010

Paróquia Jesus, Maria e José

A história da Paróquia Jesus, Maria, José remonta ao inicio do Séc. XX quando o Dr. Teófilo Rufino Bezerra de Menezes, por devoção familiar, criou na sua própria moradia, no antigo Barro Vermelho, atual Bairro de Antonio Bezerra, uma capela em louvor à Sagrada Família. O pequeno templo manteve um caráter privado até o ano de 1915, quando o Padre Rodolfo Ferreira da Cunha, então vigário da Parangaba, formou uma comissão com objetivo de construir uma capela maior para a Sagrada Família.
Teófilo Bezerra de Menezes (arquivo particular)
A comissão, que ficou responsável pela construção do templo, foi composta por pessoas de destaque na comunidade: Antonio Bezerra de Menezes – na presidência – Raimundo Martins de Castro, Joanita Bezerra de Menezes, Vicente Bandeira, José Monte, João Bandeira e Manoel Ferreira
Antonio e Joana Bezerra de Menezes (arquivo particular)
O terreno onde seriam construídas a Igreja matriz, a pracinha, a casa paroquial e a quadra foi doado pelo Presidente, Sr. Antonio Bezerra de Menezes, mediante entrega do documento de doação à Cúria Metropolitana.
Antonio Bezerra de Menezes (arquivo particular)
Em junho de 1915, foi lançada a pedra fundamental da nova Igreja, pelo Padre Rodolfo Ferreira da Cunha, na presença da comunidade do Barro Vermelho.
A capela foi inaugurada em 22 de setembro de 1918, com uma celebração solene, e a entronização da imagem da Sagrada Família. O evento contou com a presença de autoridades como o Governador do Estado Dr. João Tomé de Sabóia e Silva (1916-1920), o Secretário de Estado Dr. José Tomé de Sabóia, além da comunidade.

Depois da inauguração, passou a ser rezada missa no segundo domingo de cada mês, sob a responsabilidade do Padre Rodolfo Ferreira da Cunha. A festa dos padroeiros era realizada no mês de janeiro, mas devido a dificuldades, sobretudo por causa das chuvas, foi transferida para o mês de setembro.
A partir de março de 1922, as missas passaram a ser semanais.
Em 12 de setembro de 1934, foi criada a Paróquia de São Gerardo, ficando a capela Jesus, Maria e José no território da nova paróquia.

No dia 12 de janeiro de 1946, dia em que é realizada a Festa da Sagrada Família, a Igreja passou a ser matriz, com a criação da Paróquia Jesus, Maria e José, já desmembrada de São Gerardo, sendo seu primeiro vigário o Padre Geraldo Pedro de Moraes Godinho.
A Paróquia Jesus Maria e José fica na Rua Ruy Monte n° 95, no Bairro de Antonio Bezerra, zona Oeste de Fortaleza.
fotos da igreja:
informações sobre a Igreja:

Fortaleza Década de 1950: Nos Tempos dos Rabos de Burro

centro de Fortaleza em 1950 - Praça do Ferreira (Arquivo NIREZ)
Na cidade de Fortaleza em meados dos anos 1950, enquanto a cidade vivia uma onda de moralidade, onde o comportamento social era vigiado de perto pela polícia e pelos demais setores da sociedade, um novo componente veio agravar as inquietações com relação à segurança da cidade: o surgimento de um grupo de marginais conhecidos por rabos de burro.
Não eram marginais comuns, mas rapazes de boas condições financeiras, que dirigiam seus automóveis e cometiam abusos sexuais contra moças, geralmente estudantes desacompanhadas. Agiam livremente pelas ruas de Fortaleza, o que elevou o rapidamente o número de vítimas, e fez o assunto passar a ser discutido pelos jornais, tornando-se alvo de intensos debates na Câmara Municipal.
Alunas de estabelecimentos de ensino tradicionais como Escola Normal, Colégio da Imaculada e outros viviam em polvorosa diante da possibilidade de serem vítimas do próximo ataque. A preocupação dos pais com a segurança das filhas era constante.
Em 1954 uma vereadora pedia uma resposta concreta da policia ao terror implantado na cidade pelos chamados rabos de burro, especialmente com relação aos estabelecimentos de ensino mais atingidos por esses indivíduos.
Um outro vereador, propôs que as investigações acerca do caso fossem sigilosas, já que envolviam princípios médicos higiênicos e psiquiátricos (pelo menos em matéria de vereador, continuamos os mesmos);
Outro vereador chegou a sugerir que a Secretaria de Segurança aprovasse todos os requerimentos que solicitassem porte de armas, como garantia de defesa pessoal. (talvez ele quisesse instaurar de vez a república da guerrilha urbana)
A medida não foi aprovada por ferir a legislação penal. O apelo dos vereadores foi dirigido a todas as autoridades locais, inclusive aos comandantes militares.
A ação dos rabos de burros foi amenizada diante dos protestos que partiam de diferentes setores. Muito mais fortes do que a força policial que tentava inibi-los, foram os próprios autores das violências sexuais que recuaram dada a repercussão dos protestos, restando os registros de queixas no rol dos casos insolúveis.
Os pervertidos sexuais nunca foram identificados. Do mesmo jeito que chegaram, sumiram nas brumas do anonimato e da impunidade que animam os detentores do binômio poder/dinheiro.
Pesquisa:
JUCÁ, Gisafran Nazareno Mota. Verso e reverso do perfil urbano de Fortaleza (1945-1960) São Paulo: Annablume; Fortaleza: Secretaria de Cultura e Desporto do Estado do Ceará, 2000

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Na cena da Fortaleza Antiga: o Teatro da Dor

Igreja de São José antiga Catedral de Fortaleza, pouco antes da demolição
(foto arquivo Nirez)

Mandasse chamar logo o padre da Sé porque havia chegado a hora de encomendar a alma do agonizante. A Irmandade do Santíssimo Sacramento buscava as opas encarnadas para a procissão. Seguia-lhe o padre com o vinhático (a derradeira eucaristia) e o povo chorando um bendito.

O badalar pesaroso dos sinos da Matriz avisava a cidade do passamento. (Este costume foi abolido em 1878 porque a morte de alguém não afligia mais a cidade, à época torturada pelo grande número de vítimas das secas e das epidemias). A partir daí sabia-se da morte de algum morador por uma cortina preta, com uma cruz prateada no centro, posta na fachada da casa do falecido.

O velório era demorado - os vivos não tinham pressa de se livrar dos mortos - com muito chá e, às vezes, muito vinho para reanimar. O luto durava um mês, a família só saía de casa para assistir as missas do sétimo e do trigésimo dia. Só escrevia cartas tarjadas de preto e usavam luto fechado. Os desolados viúvos usavam luto pelo resto da vida.

O funeral se desdobrava na rua. O caixão era levado por parentes, amigos ou alguns gatos pingados – a pé. O padre, vestido a caráter, carregando uma cruz negra, coberta com veludo preto com franjas douradas, guiava o cortejo. O féretro passava pela catedral, onde se encomendava o corpo, e de lá seguia para o São João Batista.

Se o infortúnio dava-se à noite a cena ganhava as luzes das velas acesas, e a depender da importância do defunto, a procissão tinha a cadência da marcha fúnebre sugerida por uma banda de música.

Em contrapartida eram festivos e risonhos os enterros de anjinhos. Os sinos da Sé (os menores) repicavam alegremente e a família do anjinho convidava quantos meninos pudesse para acompanhar o cortejo. Não havia encomendação do corpo de crianças inocentes, as portas do céu estavam franqueadas para elas.

Enquanto os pequenos convidados esperavam pela hora da saída, recebiam de agrado, toda sorte de guloseimas. Depois lá se ia o alegre bando acompanhado, não raro, por músicos que tocavam polcas, quadrilhas e outras peças alegres.


Sobre os Gatos Pingados


Eram homens pagos para carregar o esquife, incorporavam o luto das casacas e cartolas pretas. Havia três categorias de gatos pingados, sendo que os de última classe apresentavam-se com uma indumentária mais simples, e, às vezes, apareciam descalços.

Iam a passos lentos – acentuados pelo efeito da pinga consumida antes do ofício. E não raras vezes aconteciam acidentes, como o que ocorreu no enterro do Comendador Luis Ribeiro da Cunha. Ao chegar ao canto da Rua das Flores (atual Rua Castro e Silva), o caixão escapou das mãos dos gatos pingados e espatifou-se nas pedras do calçamento.

Com o tempo, alguém se lembrou de explorar a indústria dos enterros em Fortaleza, procurando modernizá-los. Assim apareceram os carros funerários puxados por cavalos.

fonte:
Revista Fortaleza - Fasciculo 6

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Centro de Turismo do Ceará (Emcetur) - Museu de Arte e Cultura Popular

A antiga Cadeia Pública, hoje Centro de Turismo do Ceará, foi projetada em 1850, levando cerca de 16 anos para ter suas obras concluídas, em 1866.
O edifício com dois pavimentos era dividido em dois raios no pavimento inferior, onde ficavam as celas em número de 28. No andar superior ficavam o alojamento do carcereiro, o arquivo e as enfermarias. Cada cela recebia entre 12 e 20 presos, e continham uma janela alta com grossas barras de ferro.
Criação da Emcetur (Centro de Turismo do Ceará)

A Emcetur foi criada em 1973, pelo então governador César Cals e passou a ocupar o edifício da antiga cadeia. Em 1974 foi inaugurado o Teatro da Emcetur que ocupava uma das alas do Centro de Turismo, batizado posteriormente com o nome do dramaturgo Carlos Câmara (1881-1939). Hoje totalmente desativado, nem de longe lembra o pólo cultural que agitara a juventude de Fortaleza nos anos 1970.
No andar superior do bloco central funcionam administração, museu de mineralogia, diretoria, sala de reuniões, acervo de obras de arte, depósito, almoxarifado, duas salas de guias turísticos, Associação da Melhor Idade, museu de arte e cultura popular e WC’s (masculino, feminino e para portadores de deficiências físicas).


entre as peças do museu de arte e cultura popular, um velho tear manual, um carro de boi e uma autêntica jangada de piúba.
Em março desse ano o Centro de Turismo foi reinaugurado pelo governador do Estado, depois de uma reforma que custou cerca de R$ 2 milhões. O local recebeu novas estruturas elétricas, hidráulicas, de refrigeração, banheiros, restaurante, lanchonetes e quiosque. O Bloco Central, constituído por dois pavimentos, com área de 2.834,94 m², em seu pavimento térreo, teve reformadas 26 lojas e o elevador panorâmico.
(que aparentemente não funciona).
O Centro de Turismo comercializa e promove em suas 104 lojas o artesanato, além de outros produtos típicos cearenses.
O prédio da antiga cadeia pública, tem estilo neoclássico e foi tombado pelo Estado em 1982.
Está localizado na Rua Senador Pompeu, 350, centro de Fortaleza.

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Histórias da Fortaleza Antiga: As Múltiplas Faces da Praça do Ferreira

Antes da reforma de 1920, a Praça do Ferreira apresentava em cada canto um quiosque, com a função de bar e café. De madeira entrelaçada, sobre alicerces de alvenaria, de aspecto original com seus lambrequins e outros simpáticos efeitos, os cafés eram uma atração à parte.
Café do Comércio

O café do Comércio situava-se no ângulo noroeste, com um pavimento acima do térreo, defronte ao Café Emidio. Era o maior de todos. Pertenceu inicialmente a José Brasil de Matos e, depois às empresas Lopes & Filho, Virgilio Bezerra e Barbosa & Moreira.

Café Elegante

O Café Elegante estava situado no ângulo sudeste, em frente à Funilaria São José, à torrefação de Joaquim Sá e no American Kinema. Também tinha dois pavimentos, levantados pelo comerciante Pedro Ribeiro Filho, em 1891, com autorização da Câmara Municipal e com direito à exploração por dez anos. 
Café Iracema
O Café Iracema funcionava mais como restaurante e ficava no ângulo sudoeste da praça. Pertencia a Antonio Teles de Oliveira, que o passou a firma Pereira & Silva e esta a Ludugero Garcia, que fez do restaurante um ponto muito frequentado.
Café Java  
O Café Java, situava-se no ângulo Nordeste da praça, defronte à Intendência Municipal, e foi o primeiro a funcionar, construído em 1886. De propriedade de Manuel Pereira dos santos – vulgo Mané Coco, depois foi passado a Ovídio Leopoldino da Silva.
Mané Coco era um tipo popular. De fraque, ainda que sem gravata, fazia questão da flor na lapela e de recitar a Morte de D. João (poema de Guerra Junqueiro dedicado à memória de Alexandre Herculano). Apreciava aquela mocidade que, a pretexto de um cafezinho no seu estabelecimento, vinha prosar e poetizar. Primeiro chegou Antonio Sales, o dos Versos Diversos de 1890. Depois se juntam 34 moços, metade poetas: funcionários da alfândega, caixeiros, migrantes. Estava formado o embrião do grupo literário que ficou conhecido como “Padaria Espiritual”.
Na reforma feita na praça na primeira gestão do Prefeito Godofredo Maciel , em 1920, os quiosques foram demolidos. Sobre o episódio, Antonio Sales escreveu estas palavras de mágoa:
esta noite, ao sair do cinema, parei defronte dos destroços fúnebres do Café Java, sacrificado à estética da Praça do Ferreira, que é o centro vital de nossa urbe. E nessa contemplação, veio-me uma grande tristeza e uma grande saudade. Ali reinou Mané Coco, o fundador dessa instituição popular que era o café, hoje desaparecido

fotos e pesquisa:
AZEVEDO, Otacílio. Fortaleza Descalça: reminiscências. Fortaleza: Edições UFC/PMF, 1980. BEZERRA DE MENEZES, Antonio. Descrição da Cidade de Fortaleza. Introdução e notas de Raimundo Girão. Fortaleza: Edições UFC/PMF, 1992.

terça-feira, 24 de agosto de 2010

Igreja de Nossa Senhora do Rosário


Reza a tradição que um preto africano, lá pelos anos de 1730 em diante, erigiu uma capelinha a Nossa Senhora do Rosário, no mesmo local em que se encontra até hoje, a qual ficava um pouco afastada da vila. Como toda construção daquele tempo, esta também era de taipa e palha. Nela os pretos rezavam seus terços, novenas e outros atos de devoção.



Quando o visitador Dr. Lino Gomes Correa andava em visita no ano de 1742, ao passar pela Vila de Fortaleza, determinou que os senhores de escravos, havendo um só dia santo na semana, lhes dessem sempre o dia de sábado livre para conseguirem o sustento nos sábados e nos dias santos, para manutenção da sua igreja de Nossa Senhora do Rosário, o que observariam debaixo da privação dos ofícios divinos.
Em 27 de dezembro de 1747 celebrou-se a primeira festa da padroeira.

Ameaçando ruir em 1753, a capela foi reconstruída a pedra e cal, com a utilização de recursos doados pelos fiéis.
A capela mor ficou pronta em 1755.


No período de 1821 a 1854, Igreja do Rosário serviu de matriz enquanto a Catedral Metropolitana passava por reformas.
Construído em estilo barroco, é o mais antigo templo de Fortaleza


muitos corpos foram sepultados no interior das igrejas, um costume da época devido a inexistência de cemitérios.
o único túmulo identificado é o do Major Facundo, sepultado na parede lateral, de pé, voltado para o Palácio da Luz.
A Igreja de Nossa Senhora do Rosário está localizado na Praça General Tibúrcio, centro de Fortaleza.
Foi tombada pelo Estado em 1983

fotos: Arquivo do blog
pesquisa:
BEZERRA DE MENEZES, Antonio. Descrição da Cidade de Fortaleza. Introdução e notas de Raimundo Girão. Fortaleza: Edições UFC/Prefeitura Municipal de fortaleza, 1992