domingo, 15 de agosto de 2010

O Primeiro Telefone de Fortaleza

um dos modelos de aparelhos telefônicos existentes no final do Século XIX.
(foto reprodução)

A capital cearense falou pela primeira vez ao telefone no dia 11 de fevereiro de 1883. Aquele dia amanheceu com um alvoroço incomum, nas ruas não se falava de outra coisa.
A Casa Confúcio, pertencente a Confúcio Pamplona, situada na Rua Major Facundo n° 59, estava apinhada de gente. Entre os convidados, comerciantes, autoridades e muitos curiosos, que para lá se dirigiram, para assistir a inauguração solene do primeiro telefone que Fortaleza ia ter.
O sistema já havia sido testado e apresentado resultados satisfatórios.
O instalador e técnico da engenhoca, complicadíssima para a época, era o holandês John Peter Bernard, que andava atarefado de um lado para outro, dando os últimos retoques para que nada falhasse.
O outro aparelho estava instalado na praia, na residência de José Joaquim Farias, no Largo da Alfândega. O centro telefônico era na Praça do Ferreira. À hora aprazada deu-se a primeira ligação. Foi um sucesso indescritível, a emoção era grande entre todos os assistentes.
Os comentários eram os mais disparatados, e não havia quem não quisesse experimentar o invento maravilhoso. Quem conseguia se apoderar do fone, não havia jeito de largá-lo.
E foi uma troca interminável de felicitações através dos fios, que durou a manhã inteira.
O aparelho telefônico, de construção bem primitiva, com um formato descomunal, pregado à parede, causou admiração a todos. O som das campainhas e a nitidez da voz distante constituíram o assunto predominante das conversas.
A Gazeta do Norte, referindo-se ao mesmo, classificou-o de "aparelho muito moderno e que funciona com uma perfeição admirável". E prosseguindo nos comentários, adiantava que era "um grande melhoramento para a capital e muito aproveitaria ao público, especialmente ao comércio".
Tão grande melhoramento Fortaleza ficou a dever ao comerciante Confúcio Pamplona, cearense de visão, proprietário da primitiva empresa de telefonia.
A novidade do telefone trouxe para Fortaleza uma série de confusões humorísticas e um infindável repertório de piadas acerca do uso do aparelho. Contava-se que certo dia, o comerciante Jesuíno Lopes, ao comunicar-se com a Casa Boris, a fim de informar-se se havia pregos à venda, tivera o seguinte diálogo com o vendedor da loja:
- vocês têm prego? – perguntara
- de que tamanho? – interpela o caixeiro
- deste tamanho aqui – respondera Jesuíno do outro lado da linha.
A empresa de telefonia de propriedade de Confúcio Pamplona progrediu, aumentou o número de assinantes, que subiu a 60. Em 10 de setembro de 1891, quando se constituiu em sociedade autorizada pela Intendência Municipal, sob a denominação de Pamplona, Irmão & Cia, já possuía 120 assinantes.
Anos depois, a empresa foi vendida a firma Pontes Medeiros.

Além do telefone, Confúcio Pamplona trouxe para Fortaleza outras novidades, como a primeira varanda de ferro, colocada em sua residência na Praça do Ferreira.
Mas a Intendência não concordou com a inovação e cassou-lhe a licença que já havia sido concedida. A alegação curiosa e sem sentido, foi que cegos que andassem pelas calçadas, poderiam esbarrar e ferir-se naquelas grades de ferro.


Extraído do livro:

MENEZES, Raimundo. Coisas que o Tempo Levou: crônicas históricas da Fortaleza antiga. Fortaleza: Edições Demócrito Rocha, 2000.

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