segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Um Olhar sobre O Passeio Público


Na íngreme descida do Passeio Público, ao lado da Santa Casa de Misericórdia, a caminho da praia, existiram, até bem pouco tempo, dois enormes cilindros de ferro, dentro de engradados, que subiam e desciam sob a força do gás que produziam.
Era o gasômetro, que fornecia à cidade o gás carbônico de iluminação. Alimentados com carvão de pedra, deixavam correr como um rio, uma serpente negra de alcatrão quente, direção ao mar. Muitos pescadores utilizavam o piche para a calafetagem dos seus barcos e os pintores o utilizavam para pintar rodapés e oitões sujeitos à umidade.


Avenida Caio Prado no Passeio Público do lado do mar, com gradil de ferro separando do 2° plano e dezenas de combustores, em 1888 (Arquivo NIREZ)
O gás era conduzido às casas através de finos canos de chumbo. Os combustores das ruas, alimentados pelo gás, apresentavam uma bela luz esverdeada.
Eram de inicio de mangas inteiriças e arredondadas, com uma espécie de tampa chaminé;foram posteriormente sendo substituídos por outros, formados de lampiões de quatro faces.
Eram acesos por baixo, com o auxílio de uma vara com a ponta inflamada. 
Avenida Mororó, em foto de 1907 (Arquivo NIREZ)
Avenida Caio Prado , em foto de 1908 (Arquivo NIREZ)
O passeio público era uma ampla praça dividida em três partes iguais.A primeira era a Avenida Caio Prado, onde fervilhava a fina sociedade local;a parte do meio era a Avenida Carapinima, destinada ao público de classe média.A terceira era a Avenida Padre Mororó, era freqüentada pela ralé – as mulheres da vida, os rufiões, os desocupados...



O Passeio era ornamentado com muito bom gosto e onde havia uma porção de belas estátuas vindas da Europa.
Algumas delas, que escaparam à sanha de certos prefeitos, continuam lá.Outras tomaram rumo ignorado – como que se envolveram nas dobras do tempo que passou.




Havia ainda uma bela coleção de jarros japoneses, de faiança e sèvres, sobre colunas artisticamente erigidas
Em piscinas de águas límpidas, nadavam peixes multicores.
Cartão Postal do Passeio Público - Loja Trianon - 1928 (Arquivo Ah, Fortaleza!)
 
O vento que circula hoje no Passeio Público, sibilando nas frondes empoeiradas e poluídas soa triste e parece cantar uma melopéia macabra – sinistra sinfonia dedicada aos que se foram e que, segundo dizem, teimam em ali permanecer... 
Rua Major Facundo vista do Passeio Público. À direita o Hotel de France. Inicio do séc. XX (Arquivo Ah, Fortaleza!) 

Por mais que o enfeitem, por mais que tentem torná-lo habitado, o Passeio Público apresenta um aspecto soturno – mesmo ao som das bandas de música ou à luz feérica das lâmpadas. Talvez a razão dessa tristeza esteja na sua própria história: em 1825, quando se chamava Largo da Pólvora, foi palco do sacrifício dos patriotas que sonharam com a criação.
Ali foram mortos Silva Carapinima, Azevedo Bolão, Pereira Ibiapina, Padre Mororó e Pessoa Anta.

extraído da Crônica Elegia ao Passeio Público de Otacílio de Azevedo.

Sobre Otacílio de Azevedo
Redenção, 11 de fevereiro de 1892 — Fortaleza, 3 de Abril de 1978
Foi pintor, desenhista e poeta brasileiro membro da Academia Cearense de Letras e fundador da Sociedade Brasileira dos Amigos da Astronomia.
Começou nas artes plásticas como pintor de tabuletas de cinemas e de letreiros de lojas. Trabalhou na loja de Fotografia N. Olsen, onde teve oportunidade de conhecer artistas plásticos e escritores cearenses da época, como Ramos Cotoco, Gérson Faria, Clóvis Costa, Paula Barros, Herman Lima, Quintino Cunha e muitos outros mais.
A partir de então começou a desenvolver suas habilidades como pintor e poeta.
Participou, juntamente com outros nomes cearenses, do Salão Regional realizado em Fortaleza no ano de 1924.
Fundou em 1934 com Gérson Faria, Pretextato Bezerra e Clóvis Costa o primeiro ateliê de pintura na cidade.
Figurou como sócio fundador do Centro Cultural de Belas Artes (CCBA) que se tornou a Sociedade Cearense de Artes Plásticas (SCAP), chegando a ser eleito vice-presidente;
participou dos I, II e III Salões Cearenses de Pintura (Fortaleza - 1941, 1942 e 1944) e de vários Salões de Abril.
Além de paisagista, Otacílio de Azevedo era grande retratista, sendo de sua autoria uma boa parte dos retratos dos governadores do Estado do Ceará expostos em palácio.
http://pt.wikipedia.org

5 comentários:

raquel disse...

Passeio público, um lugar muito agradável, porém pouco frequentado...
falta policiamento para que os fortalezenses possam passear com tranquilidade..
E sobre as mortes que ali ocorreram é uma boa explicação para a sensação de que nunca estamos sós quando andamos por ali...

Lúcia Paiva disse...

É realmente uma beleza, o Paseio Público!
Tenho lido que depois da última reforma, recente, está havendo policiamento 24 horas ao dia..rsrsrs Ainda não me arrisquei a ir lançar "um olhar sobre o Passeio Público"...não sinto "firmeza" no que dizem os jornais....Que pena é não se ter segurança para se apreciar o que é belo nesta cidade.

Ficou linda,a postagem!
Boa noite!
Lúcia

Unknown disse...

eu sempre ouvia minha avó falar muitas coisas sobre o passeio publico.Ela morava no final da senador pompeu...eu ouvia falar sempre coisas legais, ela falava dos encontros com as amigas,dos musicos que sempre estavam lá nos finais de semana e outras coisas.Que pena que se tornou um lugar tão pouco frequentado...

Fátima Garcia disse...

O Passeio Público conta com uma dupla que faz a ronda lá por dentro, acho até desnecessari, porque ninguém mais vai lá. É uma pena porque o espaço é lindo, muito agradável e ventilado. Para voltar a ser frequentado vai necessário que se promova algum tipo de evento, algo que atraia a população. Caso contrário vai continuar como está: às moscas

Anônimo disse...

Gente! pois podem ir sem medo ao Passeio Público. Atualmente existem muitos eventos por lá, tem livrinho "cultura mini-bolso", pega lá mesmo ... tem guardas e, aproveitem!
Élida Pricila
amadora e amante da fotografa