Mestre Arcanjo era um antigo sapateiro, cuja oficina ficava na Rua Perboyre Silva nas proximidades da General Bezerril. Era mais famoso por suas trapaças do que pelo seu oficio. O sapato que recebia de um freguês era logo vendido ao primeiro que por ali passasse, e a já engatilhada desculpa não se fazia esperar. Arranjava as coisas com tanto jeito que o ludibriado ainda ficava agradecido.
Um dia, não tendo couro suficiente para o conserto da sola de um sapato, usou tábuas de caixa de charuto; como o enganado viesse reclamar, disse-lhe muito sério: essa é a segunda vez que isso acontece. Vou deixar de comprar sola na Casa Ponte, estão falsificando a sola com madeira...Duas belas botinas de um padre foram vendidas. Quando o reverendo foi buscá-las, Mestre Arcanjo desculpou-se dizendo que, enquanto saíra para ir à bodega, um hanseniano as calçara, e ele, em atenção ao padre, tinha-as atirado fora.
Um dia, não tendo couro suficiente para o conserto da sola de um sapato, usou tábuas de caixa de charuto; como o enganado viesse reclamar, disse-lhe muito sério: essa é a segunda vez que isso acontece. Vou deixar de comprar sola na Casa Ponte, estão falsificando a sola com madeira...Duas belas botinas de um padre foram vendidas. Quando o reverendo foi buscá-las, Mestre Arcanjo desculpou-se dizendo que, enquanto saíra para ir à bodega, um hanseniano as calçara, e ele, em atenção ao padre, tinha-as atirado fora.
O padre agradecido, saiu se benzendo.
Apareceu-lhe um dia na oficina, um lindo pato branco fugido do Palácio da Luz. Pouco tempo depois veio um soldado, perguntando ao Mestre se ele tinha visto o pato. O sapateiro, cuspindo de lado, puxou um pato preto, retinto, perguntando, será este aqui?. O soldado respondeu que não, o que ele procurava era branco. E foi-se embora. O pato estava, simplesmente, pintado de preto, com tinta “satim”, preta, para sapatos.
Outra ocasião entrou na oficina um matuto que, entregando-lhe um belo punhal, encomendou-lhe uma bainha para a arma. Ficou de voltar à tardinha, para buscá-lo.
Nem bem saíra o freguês, Mestre Arcanjo vendeu o punhal para outro, dizendo que recebera como pagamento de um serviço. A hora marcada para a entrega, o matuto chegou e encontrou o sapateiro passeando na calçada, falando sozinho, gesticulando desesperadamente.
Pronto Mestre? – perguntou o freguês
que pronto que nada, eu estava mesmo lhe esperando. O seu punhal foi apreendido pela polícia e é preciso que você vá comigo à delegacia. Aqui na capital, o porte de arma é proibido e você precisa se explicar...
O matuto olhou para um lado e para outro, tomou fôlego e saiu em desabalada carreira para não mais voltar!
Assim era Mestre Arcanjo, inteligente, manhoso, trapaceiro...
Apareceu-lhe um dia na oficina, um lindo pato branco fugido do Palácio da Luz. Pouco tempo depois veio um soldado, perguntando ao Mestre se ele tinha visto o pato. O sapateiro, cuspindo de lado, puxou um pato preto, retinto, perguntando, será este aqui?. O soldado respondeu que não, o que ele procurava era branco. E foi-se embora. O pato estava, simplesmente, pintado de preto, com tinta “satim”, preta, para sapatos.
Outra ocasião entrou na oficina um matuto que, entregando-lhe um belo punhal, encomendou-lhe uma bainha para a arma. Ficou de voltar à tardinha, para buscá-lo.
Nem bem saíra o freguês, Mestre Arcanjo vendeu o punhal para outro, dizendo que recebera como pagamento de um serviço. A hora marcada para a entrega, o matuto chegou e encontrou o sapateiro passeando na calçada, falando sozinho, gesticulando desesperadamente.
Pronto Mestre? – perguntou o freguês
que pronto que nada, eu estava mesmo lhe esperando. O seu punhal foi apreendido pela polícia e é preciso que você vá comigo à delegacia. Aqui na capital, o porte de arma é proibido e você precisa se explicar...
O matuto olhou para um lado e para outro, tomou fôlego e saiu em desabalada carreira para não mais voltar!
Assim era Mestre Arcanjo, inteligente, manhoso, trapaceiro...
Extraído do livro:
AZEVEDO, Otacílio de. Fortaleza descalça; reminiscências. Fortaleza: Edições UFC/PMF, 1980.
AZEVEDO, Otacílio de. Fortaleza descalça; reminiscências. Fortaleza: Edições UFC/PMF, 1980.
2 comentários:
se fosse nos dias de hoje, mestre arcanjo não seria sapateiro, seria político.
Acho que não Sr(a) anonimo, a malandragem de Mestre Arcanjo é fichinha diante da pilantragem que assola a politica nacional.
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