terça-feira, 30 de novembro de 2010

A Catedral de Fortaleza




A construção da primeira capela mor de Fortaleza foi decidida em fevereiro de 1699, mas a autorização só ocorreu por Ordem Régia de 12 de fevereiro de 1746. 
Concluída em 1795, a igreja foi demolida em 1820, quando foi vistoriada e encontradas diversas rachaduras no arco, ficando resolvida sua demolição para a construção de um novo templo. 
As peças sacras foram transferidas para a Igreja do Rosário, e só retornariam no dia da benção da nova matriz, no dia 2 de abril de 1854, que recebeu o nome de Igreja de São José. A Igreja serviu de Catedral quando houve o desmembramento da Diocese de Pernambuco e foi criada a do Ceará. 

Imagem: ofipro
Serviu também para marcar o tempo da população, pois trouxe para Fortaleza o primeiro relógio público. Em 1938 novamente sob a alegação de que estava prestes a ruir, foi esta também demolida e a pedra fundamental da atual catedral foi lançada em 15 de agosto de 1939, à época do arcebispado de Dom Manuel da Silva Gomes, que chegou a viajar à sua terra natal, Bahia, para não deixar demolir uma igreja de Salvador, mas a Sé de Fortaleza ele permitiu sem contestação.
A decisão do bispo causou uma grande polêmica na cidade, todos estavam contra a demolição. Mas Dom Manuel alegou que o teto poderia desabar a qualquer momento, inclusive no horário da missa.
Com a demolição da igreja foi destruída a contemplação do cruzeiro de Frei Serafim de Catânia, onde os fiéis aprendiam simbolicamente os episódios da paixão e ao pé do qual toda gente da capital rezava as ladainhas de Nossa Senhora, em maio, e o responso das almas, em novembro.
Muitas foram as críticas pela demolição da igreja, segundo disse Gustavo Barroso, “não se concebe a destruição de uma obra dessa natureza”. 



A construção da nova catedral demorou mais do que o esperado, em razão do inicio da Segunda Guerra, e da ocorrência das grandes secas, cujo socorro aos flagelados era sempre prioridade e demandava grande volume de recursos.
Finalmente foi inaugurada no dia 22 de dezembro de 1978, tendo o padre Tito Guedes à frente de suas obras e como Arcebispo Metropolitano, Dom Aloísio Lorscheider. 


a Catedral foi inaugurada em 1978, depois de ter passado quase quarenta anos sendo construída 


A Planta arquitetônica é em forma de H, sendo que o seu espaço interno é dividido em três naves, uma central e duas laterais, onde estão distribuídos os 375 bancos de madeira. 
A igreja tem capacidade para um total de 5.000 pessoas. O estilo tem influências do românico e do gótico e isso dá o estilo eclético.


O templo destaca-se pela imponência arquitetônica e pela beleza dos vitrais que representam passagens da Bíblia, os santos sacramentos e personagens eclesiásticas (alguns papas e bispos importantes para o Ceará). 



com 90 metros de comprimento e 45 metros na parte mais larga, existem na igreja a Capela do Ressuscitado e a do Santíssimo Sacramento, ambas na Cripta da Catedral


À esquerda da nave central fica  a Capela de São José, padroeiro do Estado do Ceará e da Catedral de Fortaleza 




A Cripta projetada pelo engenheiro Luciano Pamplona , passa por reformas. A Cripta dos adolescentes, como foi denominada por D. Antônio de Almeida Lustosa, Arcebispo da época, homenageia em seis altares santos que morreram na Adolescência: Tarcíso, Domingos Sávio, Pancrácio, Luzia, Inês e Goretti 




A atual Catedral herdou da antiga o conjunto de sinos que ainda hoje estão badalando no alto de suas torres de 75 metros de altura.  Uma das muitas curiosidades deste lugar é que no altar pode ser encontrada a imagem de Jesus Cristo adolescente (no momento encontra-se recolhida por conta da reforma) e também estão enterrados os restos mortais de algumas personalidades ligadas a igreja católica, tais como: Dom Manoel da Silva Gomes, Dom Antônio de Almeida Lustosa, Monsenhor José Quinderé e Monsenhor Tito Guedes Cavalcante.
A Catedral de Fortaleza fica na Praça da Sé, s/n°, centro histórico.

Pesquisa:
AZEVEDO, Miguel Ângelo (NIREZ). Cronologia Ilustrada de Fortaleza. Roteiro para um turismo histórico e cultural. Fortaleza: banco do Nordeste, 2001.
Catedral Metropolitana de Fortaleza – Oficina de projetos S/S Disponível em

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

A Conferência do Rio de Janeiro – ECO 92

Em 1992, vinte anos após a Conferência de Estocolmo, na Suécia – a convite do Brasil, foi realizada a 2ª. Conferência da ONU sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, na cidade do Rio de Janeiro. 
O evento que ficou conhecido como “Cúpula da Terra”, “Rio-92”, e “ECO-92”, contou com a participação de representantes de cerca de 170 países, e inúmeras organizações não governamentais de todo planeta.
A Conferência do Rio aconteceu entre os dias 3 a 14 de junho e entre os temas tratados destacam-se: arsenal nuclear, desarmamento, guerras, desertificação, desmatamento, poluição, chuva ácida, crescimento populacional, pobreza, concentração da produção e da tecnologia, discriminação, racismo, povos indígenas, mulheres, crianças, refugiados e migração.
Os principais objetivos era chegar a um equilíbrio justo entre as necessidades econômicas, sociais e ambientais das gerações futuras e atuais e estabelecer as bases  para uma associação mundial entre países desenvolvidos e em desenvolvimento, bem como entre governos e setores da sociedade civil, baseadas na compreensão das necessidades e interesses comuns.
A Principal diferença ente 1972 - Conferência de Estocolmo e 1992  - Conferência do Rio de Janeiro, pode ser traduzida pela presença maciça de Chefes de Estados, fator indicativo da importância atribuída a questão ambiental no início da década de 1990.
Os compromissos específicos adotados na ECO-92 incluem duas Convenções: Mudança Climática e  Biodiversidade e uma Declaração sobre Florestas. 
Foram também aprovados documentos com objetivos mais abrangentes e de natureza política, como a Declaração do Rio e a Agenda 21. Os dois últimos endossam o conceito fundamental de desenvolvimento sustentável, ou seja, alcançar o desenvolvimento econômico e material sem destruir o meio ambiente.  
Durante o evento, as forças armadas fizeram a proteção da cidade, gerando uma sensação de segurança, que motiva até hoje a defesa da utilização das forças armadas na segurança pública da cidade. Durante a conferência o então presidente da República, Fernando Collor de Mello  transferiu a capital de Brasília para o Rio de Janeiro.

Convenção sobre mudanças climáticas
Um dos problemas planetários mais graves refere-se às alterações climáticas decorrentes da concentração de gases de estufa na atmosfera, principalmente vapor de água, dióxido de carbono (CO2), ozônio, óxido nitroso, metano e clorofluorcarbonetos (CFCs), sendo que os três primeiros tem como fonte principal de geração a queima de combustíveis fósseis. Nos termos da Convenção cada país deveria procurar reduzir as emissões de gases até o final do Século XX, reduzindo-as aos níveis de 1990, e as nações desenvolvidas assumiriam o papel de lideranças no processo de combate ao efeito estufa.

Convenção da biodiversidade


Seus objetivos são a conservação da diversidade biológica, o uso sustentável dos seus componentes e a distribuição equitativa dos beneficios obtidos da utilização de recursos genéticos e da transferência de tecnologia. Os estados signatários reconhecem que a conservação da biodiversidade diz respeito a toda humanidade, que os estados são responsáveis pela conservação dos seus próprios recursos biológicos e que o desenvolvimento sócio-econômico e a erradicação da pobreza constituem  prioridade dos países em desenvolvimento.

Declaração sobre Florestas
A idéia inicial era aprovar uma convenção sobre exploração, proteção e desenvolvimento sustentável de florestas. Mas a oposição de países em desenvolvimento, com grandes florestas em seus territórios (como o Brasil), fizeram com que a Convenção se transformasse numa declaração de principios sem qualquer força jurídica no plano do direito internacional. Estes países se basearam no direito internacional que reconhece a soberania dos países de explorar os recursos localizados dentro dos seus territórios.

Convenção do Rio de Janeiro sobre meio ambiente e desenvolvimento
Inicialmente estava prevista a elaboração de uma carta magna da terra, contendo uma declaração abrangente dos principios fundamentais do desenvolvimento sustentável. Mas foi aprovado um texto que reafirma e amplia a Declaração de Estocolmo contendo 27 principios que objetivam orientar a formulação de politicas e de acordos internacionais que respeitem o interesse de todos, o desenvolvimento global e a integridade do meio ambiente.

Agenda 21
A Agenda 21 transformada em Programa 21 pela ONU, é um plano de ação para alcançar os objetivos do desenvolvimento sustentável. É uma espécie de consolidação de diversos relatórios, tratados, protocolos e outros documentos elaborados na esfera da ONU. Principios, conceitos e recomendações expressas no Relatório Brundtland e outras instâncias. 
O nome Agenda 21 é uma referência ao século XXI – uma série de ações a serem implementadas no novo século.

pesquisa:
BARBIERI, José Carlos. Desenvolvimento e Meio Ambiente: as estratégias de mudança da agenda 21. Petrópolis, RJ: Vozes, 1997
GARCIA, MF. Subsídio à Elaboração da Agenda 21 Local. Revista Eletrônica do PRODEMA. Vol. 4 n° 1 ano 2010

sábado, 27 de novembro de 2010

Praça da Sé


Planta feita pelo capitão-mor Manuel Francês quando da instalação da Vila da Fortaleza de Nossa Senhora D'Assunção do Siará Grande (Arquivo NIREZ)

Quando foi feita a primeira planta da cidade da antiga Vila de Fortaleza, feita pelo capitão-mor Manuel Francês, já aparecia o espaço livre em frente a Igreja de São José, no qual mais tarde viria a ser construída uma praça.
Em 1726 o padre Serafim Leite descreveu a praça na planta da Vila de Fortaleza, cujo  documento foi mandado para Lisboa naquele mesmo ano.  
Naqueles tempos remotos o logradouro era conhecido como Praça do Conselho. Ali estava instalada a Casa da Câmara do Pelourinho, e funcionava o coração administrativo da Vila de Fortaleza.

Antiga Igreja de São José depois Igreja da Sé (Arquivo NIREZ)

Em 1854 tem inicio a construção da primeira igreja da Sé, em estilo colonial, com um cruzeiro e as ferramentas do flagelo. No mesmo ano a praça passa a chamar-se de Praça do Largo da Matriz. Em 1861, vira Praça da Sé, acompanhando a mudança de nome da igreja matriz para Igreja da Sé. Em 04 de junho de 1889 passa a denominar-se Praça Caio Prado, nome proposto pelo vereador Paulino Joaquim Barroso, em homenagem ao Governador Caio Prado, presidente da província do Ceará nos anos de 1888 e 1889.

   Praça Caio Prado, que como as outras praças da cidade, era cercada de colunas e grades. Nela foi inaugurado, em 1903, na gestão do Intendente Guilherme Rocha,  o Jardim Dr. Pedro Borges. (foto de 1911 - arquivo NIREZ)

Em 29 de outubro de 1890, todas as ruas e avenidas de Fortaleza por resolução do Conselho de Intendência Municipal, passaram a ter números no lugar dos nomes, modismo que durou alguns meses. No dia 29 de abril de 1891, as ruas voltam a ter seus nomes primitivos e as praças também tiveram seus nomes alterados. A Praça Caio Prado volta a ser Praça da Sé, denominação que mantém até hoje. 

A Praça hoje


A feira de confecções (shop-chão) que ocupou ilegalmente a Praça da Sé, foi finalmente retirada, mas as marcas de sua passagem continuam presentes: o piso esburacado, os bancos com a pintura gasta e as poucas árvores na praça, atestam que o local ficou degradado com a  uso inadequado.

 A Praça tem vizinhança ilustre: fica em frente a Catedral de Fortaleza e ao lado do Mercado Central


O monumento em homenagem a D. Pedro II foi inaugurado em 07 de setembro de 1913, numa iniciativa da Associação dos Jornalistas Cearenses. A estátua, feita de bronze, é um trabalho do escultor Augusto Maillard. 

A Praça da Sé fica localizada entre as Ruas General Bezerril, Doutor João Moreira, Castro e Silva e Rufino de Alencar, centro de Fortaleza. 

pesquisa:
Cronologia Ilustrada de Fortaleza, de Miguel Ângelo de Azevedo (NIREZ)
os Monumentos do Estado Ceará, de Eusébio de Sousa

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Otacilio de Azevedo

Otacílio de Azevedo nasceu na zona rural de Redenção - Ceará,  em 11 de fevereiro de 1896, e foi morar em Fortaleza em 1910, aos 14 anos. 
Começou nas artes plásticas como pintor de tabuletas de cinemas e de letreiros de lojas. Trabalhou na loja Fotografia N. Olsen onde teve oportunidade de conhecer artistas plásticos e escritores cearenses da época. 
Mais tarde em 1914 trabalhou na Ceará Ligth Tramways and Power Co, na função de pintor, um serviço rústico, pesado, com mais de dez horas de trabalho diário. 
Em 1916 escreveu seu primeiro livro de poesia, Dentro do Passado. Nos intervalos do serviço na Light,  escondido dos patrões ingleses, dentro das enormes valas onde os bondes estacionavam para receber reparos, escreveu  o segundo livro de poesias Alma Ansiosa.
 Em 1920 publicou Musa Risonha, autobiografia em versos, onde destaca as dificuldades vividas durante o período em que trabalhou na Light
Segundo seus versos dessa obra autobiográfica, Otacilio nunca frequentou escola:
 nunca transpus as portas de uma escola
 o pouco que aprendi só a mim devo. 
Nesse andar de retratar-se por meio de versos, ele acrescenta:
De oito anos aos catorze – funileiro; 
de catorze aos dezoito – copiador; 
de retratos e, agora por terceiro, 
sou fotógrafo, poeta e sou pintor. 
........................................................................
Empreguei-me da Light o amargo espaço
de três anos brutais, consecutivos, 
as forças diminuindo no cansaço, 
 ante um grupo integral de homens cativos.

Otacilio de Azevedo participou ativamente dos eventos culturais que animaram a Fortaleza de sua época. Junto com outros artistas cearenses participou do Salão Regional realizado na cidade em 1924. 
Foi um dos fundadores do primeiro ateliê de pintura de Fortaleza. 
Figurou como sócio fundador do centro Cultural de Belas Artes, mais tarde Sociedade Cearense de Artes Plásticas, onde chegou a ser eleito vice-presidente. 
Participou dos I, II e III Salões Cearenses de Pintura, em 1941, 1942 e 1944, respectivamente, e de várias edições do Salão de Abril. 
É o titular da cadeira 26 da Academia Cearense de Letras. 
Além de pintor, poeta e paisagista, Otacilio de azevedo era grande retratista, sendo de sua autoria uma boa parte de retratos dos governadores do estado expostos em palácio, e de várias personalidades cearenses, cujos retratos encontram-se no Museu do Ceará. 
Otacilio de Azevedo faleceu no dia 03 de abril de 1978, em Fortaleza, a cidade que o poeta adotou como sua. 

Retratos pintados por Otacilio de Azevedo, acervo do Museu do Ceará

 Coronel Marcos Franco Rabelo, que assumiu o governo do Ceará em 1912, com amplo apoio da população da capital, mas que foi deposto em 1914 pelo movimento denominado Sedição de Juazeiro.
 Tristão de Alencar Araripe Junior (1848-1911)  foi membro da Academia Francesa do Ceará e da Academia Brasileira de  Letras. Escreveu várias obras de ficção, sendo mais reconhecido por seus trabalhos de critica literária.
 Tomaz Pompeu de Souza Brasil (1852-1929), intelectual cearense, foi deputado geral, professor e diretor da Faculdade de Direito do ceará, dentre outras funções de destaque que exerceu.
Rodolfo Teófilo (1853-1892). Foi um dos presidentes do grupo literário Padaria Espiritual, usava o pseudônimo Marcos Serrano. Publicou entre outros romances e ensaios A Fome, O Paroara, História da Seca no Ceará e Sedição de Juazeiro. 
Obras literárias
Dentro do Passado - 1916
Alma Ansiosa - 1918
Musa Risonha - 1920
Sugestão do Luar - 1921
Réstia de Sol - 1942
Redenção - 1944
Desolação 1947
Úlyimos Poemas - 1958
A origem da Lua - 1960
Adágios, Meisinhas e Superstições - 1966
Fortaleza Descalça - 1980
Trigo sem joio - 1986 

O Oitizeiro do Rosário

Assisti, em 1929, revoltado, à derrubada do célebre Oitizeiro situado atrás da igreja do Rosário, nas imediações do atual Banco São José, no cruzamento das ruas Guilherme Rocha e General Bezerril.
Um caboclo forte, no alto da fronde do oitizeiro, cortava, com afiada foice, que brilhava ao sol, os galhos mais altos. Os nodosos ramos descreviam círculos de angústia e vinham, depois, cair exânimes, no velho e desconjuntado calçamento, num remoinho de folhas verdes e doirados frutos...
A cada foiçada, soltavam-se lascas que se vinham juntar à ramagem, no chão. Aqueles ramos retorcidos pareciam sentir, convulsos, a dor que lhes causava a afiada ségure...
Grande número de pessoas idosas achava-se ali, aturdido.
Rebelava-se contra aquele ato de vandalismo. A antiquissima árvore, inofensiva, servira de abrigo a milhares de pessoas no decorrer de mais de um século. Sob sua fronde, procuravam refrescante abrigo contra os ardores da canícula os que paravam ali, conversando sobre arte, política, religião e até mesmo sobre a vida alheia. Quantas e quantas vezes não me sentei sobre suas grossas raízes para escrever os meus primeiros e sentidos versos...
A faina continuava, impiedosa. Nada podia demover os operários, que apenas cumpriam um dever. Alguns deles estavam armados, prevendo uma reação mais violenta do povo.
Velhos de cabelo branco que haviam brincado, quando meninos, à sombra acolhedora do oitizeiro do Rosário, deixavam escapar dos lábios murchos verdadeira saraivada de impropérios e inúteis protestos. Aos poucos, porém, a onda de rebelados, sem forças, foi-se desfazendo, frágil demais para tentar qualquer reação.
A grande copa, afinal, rolou por terra, com fragor, num dilúvio de folhas. Uma brisa correu - talvez o último alento da árvore. Depois, foi o tronco, cortado cerce, com o auxilio de machados. 
Por fim, só restaram as raízes retorcidas...
Mandara abater a nobre árvore o prefeito Álvaro Weyne, depois de - magro consolo! - mandar tirar-lhe uma fotografia. Acreditamos que o ilustre edil sofreu também ao tomar essa decisão.  O verdadeiro algoz do oitizeiro foi o progresso, em nome do qual se cometem tantos crimes...
O velho oitizeiro já não era mais que um intruso, um trambolho que impedia o embelezamento da cidade que crescia. Começavam a aparecer os automóveis que deveriam transitar por todas as artérias da cidade.
A queda do oitizeiro do Rosário marcou o desmoronamento de mais uma tradição, para dar lugar às correrias desenfreadas dos novos habitantes da pacata urbe - os bêbados da gasolina!
Otacílio de Azevedo

pesquisa:
Fortaleza descalça, de Otacilio de Azevedo
wikipedia

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Padre Cícero – O Milagre de Juazeiro – Parte 2/3

Cícero Romão Batista - Padre Cícero
No ano de 1889, a angústia já apertava os corações dos moradores do sertão cearense. Março já chegava e nada de chuvas. A população temia que aquele fosse mais um ano de seca – como foi de fato. Sertanejos já se punham a caminhar pelas estradas poeirentas em busca da sobrevivência em vilas e cidades maiores. 
Em Juazeiro do Norte, beatas piedosas varavam noites clamando aos céus para livrar a população de mais uma estiagem. Entre as mulheres havia uma humilde lavadeira de 28 anos, chamada Maria Madalena do Espírito Santo de Araújo.  
beata Maria Madalena do Espirito Santo de Araujo
No dia 1° de março de 1889, sexta-feira da quaresma, Padre Cícero, resolveu dar logo a comunhão, as beatas que faziam vigília na igreja, a fim de tornassem às suas casas e repousassem um pouco antes da missa da manhã. 
A primeira a comungar foi a beata Maria de Araújo. Quando o sacerdote colocou a hóstia sobre a língua da beata, esta caiu ao solo de modo inesperado, em transe. Socorrida, verificou-se que a mulher estava com a boca ensangüentada, que provinha da hóstia que recebera minutos antes. Era um milagre!..
O fenômeno se repetiu várias vezes nas semanas seguintes. Padre Cícero, no entanto, manteve o fato em segredo. Mas a notícia acabou se espalhando rapidamente, até chegar aos ouvidos do reitor do seminário do Crato, Monsenhor Francisco Monteiro. 
Em julho de 1889 o monsenhor decidiu organizar uma romaria que reuniu mais de três mil pessoas com a intenção de observar o “milagre” de Juazeiro.
Padre Cícero entre fiéis
foto: http://joaquimtur.blogspot.com/2009_10_25_archive.html 
A partir daí multidões se dirigem ao lugarejo. O acontecimento ocupa espaço na imprensa da capital e do interior. Há uma imensa comoção no Nordeste. 
A situação ficou ainda mais complicada quando, a 24 de abril de 1891, um médico do Crato, após presenciar a transformação, publicou  um artigo no jornal O Cearense, em que atesta ser o sangue na hóstia um fato sobrenatural, para o qual não foi possível encontrar uma explicação científica. 
Indignado com a repercussão dos fatos, o bispo de Fortaleza nomeou uma comissão formada por padres que deveriam investigar o “milagre”, a quem entregaram uma urna contendo as hóstias e os paninhos do milagre. 
No Crato, por 3 dias o padre encarregado da investigação deu a comunhão a beata Maria  de Araújo – ela sem o manto envolvendo o rosto e as mãos, não se verificando a transformação. Ficava claro, para as autoridades eclesiásticas, que o milagre de Juazeiro não passava de uma farsa.    
Um outro fato serviu para aumentar as suspeitas sobre o fenômeno: a urna, com as provas do milagre, a qual fora passada por Padre Cícero a comissão, e que se encontrava trancada numa igreja do Crato, desapareceu misteriosamente.
 Para a alta hierarquia, os “embusteiros” do Cariri temiam um exame cientifico mais apurado sobre os panos, e para evitá-lo, furtaram a urna. 
placa em Juazeiro com declaração atribuida a Padre Cícero (Arquivo IBGE)
Com base nos últimos acontecimentos, o bispo D. Joaquim aplicou uma pena de suspensão a Padre Cícero, privando-o de pregar, confessar e orientar os fiéis, deixando-lhe apenas o direito de celebrar. Além disso, desacreditou publicamente os milagres de Juazeiro e exortou os membros da diocese a ignorá-los por completo.
Mas nem a suspensão do Padre Cícero, nem a negação do milagre desanimaram as multidões que continuavam a se dirigir a Juazeiro. Restou então ao bispo enviar a questão para a Congregação do Santo Ofício (novo nome da Inquisição), em Roma.
Em 31 de julho de 1894 saiu o veredito do Santo Ofício: condenou-se o milagre tido como grave irreverência e ímpio abuso à santíssima eucaristia.
Diante da decisão do Santo Ofício, D. Joaquim tomou várias medidas objetivando acabar com as peregrinações a Juazeiro do Norte.  Dentre outras providências, foi determinado que Padre Cícero deveria restituir todas as esmolas recebidas e a beata Maria Araújo, deslocar-se para Barbalha. 
As massas ignoraram tais determinações e mantiveram suas romarias. O padre acatou tudo, sem protestar, embora tenha começado a alimentar a idéia de se dirigir a Roma e conseguir o beneplácito do papa para Juazeiro. 
Em 1896, o bispo D. Joaquim proibiu o Padre Cícero de celebrar missa, retirando-lhe a última prerrogativa que lhe restava. No ano seguinte a Santa Sé ordenou a saída do Padre de Juazeiro sob a ameaça de excomunhão. 
Para evitar uma ruptura total com a Igreja, e temendo um conflito aberto, Padre Cícero cumpriu a determinação de Roma, deslocando-se para Salgueiro, em Pernambuco. A viagem foi uma das maiores demonstrações de apreço ao Padre de que se tem noticia: em todos os locais que passava, os sertanejos esperavam-no na estrada, acompanhando-o até a cidade seguinte.

Pesquisa:
História do Ceará, de Airton Farias
Wikipedia     

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

O Museu do Ceará

 Palácio Senador Alencar, sede do Museu do Ceará 
O Museu do Ceará foi criado por decreto de 1932, mas foi aberto oficialmente ao público em 1933, com a denominação de Museu Histórico do Ceará. 
Inicialmente foi concebido como uma dependência do Arquivo Público, na Rua 24 de Maio, 238, no centro de Fortaleza.

Em 1934 as duas instituições – museu e arquivo – foram transferidas para a Avenida Alberto Nepomuceno, 332, em frente a Praça da Sé.
 Em 1951 o Arquivo passou a funcionar no térreo do Palacete Senador Alencar, onde funcionava a Assembléia Legislativa, e o Museu permaneceu no edifício da Praça da Sé até 1957, sob a tutela do Instituto Histórico do Ceará, que se transferiu para o local.

 No local onde estava instalado, o governo do Ceará resolveu construir o Fórum Clovis Beviláqua, transferindo o Museu para a Avenida Visconde do Cauípe, 2341. 
Lá ficou até 1967. O Museu funcionou depois na Rua Barão do Rio Branco, na Avenida Barão de Studart, e em 1990, foi para o Palácio Senador Alencar, na Rua São Paulo, 550, onde ganhou o nome de Museu do Ceará.

Por dentro do Museu 

 O Código de Posturas do Município de Fortaleza, de 1932, mandou que fossem retirados, das zonas central e urbana, os jacarés ou serpentões que deitavam águas pluviais sobre as ruas. Quem insistisse seria multado em 50$000. 
Foi assim que  serpentes e jacarés viraram peças de museu
Pelo mesmo normativo, também estaria sujeito ao pagamento de multa no valor de 20$000, quem em anúncios, cartazes, letreiros, ou qualquer outro meio de publicidade, usasse nomes de logradouros públicos que não fossem os nomes oficiais.    
 Comunidade do Sítio Caldeirão

 bandeira pertencente a Comunidade do Sítio Caldeirão

Cadeira e Turíbulo adquiridos pelo Beato Lourenço junto a outros paramentos para a capela em construção do Caldeirão  
 instrumentos usados para castigar os escravos (algemas e gargantilhas) 
 Fortaleza Liberta - pintura de autoria do cearense José Irineu de Sousa. Retrata a solenidade de libertação dos escravos de Fortaleza, em 24 de maio de 1883, no salão nobre da Assembléia Provincial.
 
 Livro de Prata - oferecido por portugueses residentes em Fortaleza e utilizado na sessão de abolição da escravatura no Ceará, em 30 de março de 1884
figura de proa da barca Laura II, cenário de um levante de escravos que culminou com a morte de toda a tripulação da embarcação, que seguia de São Luis para o Rio de Janeiro. Os rebeldes foram presos e trazidos para Fortaleza, onde em 1839, foram fuzilados em praça pública.
O Ceará foi a primeira província a libertar os escravos em 1884, ficando conhecida como Terra da Luz. Por isso, objetos de abolicionistas e instrumentos de tortura foram doados ao museu. Pedaços do passado que no presente podem gerar reflexões sobre os limites do humanismo abolicionista e a participação dos negros na história do Ceará, em sua dimensão econômica, social e cultural.

fonte de dados:
Museu do Ceará
fotos: arquivo do Blog