quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Fortaleza Belle Epoque: O Governo Nogueira Accioly (1896-1912)

No final do século XIX, com cerca de 50 mil habitantes, Fortaleza passava por um processo de transformações urbanas que intensificaram sua condição de principal cidade do Ceará. As autoridades, conforme o conceito dominante de ”progresso e civilização” da Belle Èpoque, direcionavam a administração municipal para o aformoseamento e a higienização de ruas e praças, bem como para o controle das crescentes e miseráveis camadas populares.
 De 1892 a 1912 o Coronel Guilherme Rocha ocupou continuadamente o posto de Intendente de Fortaleza, representando sempre o esquema oligárquico de Accioly. Como se inspirava nas reformas urbanas ocorridas em Paris, a oposição, com desdém, chamava Guilherme Rocha de “Nosso Haussmann” (o Barão de Haussmann administrara e embelezara a capital francesa), já que sua obsessão modernizadora parecia querer fazer de Fortaleza uma Paris.
Logo em 1893 entrou em vigor um novo Código de Postura, que entre outras medidas, determinava que as esquinas dos edifícios apresentassem formas arredondadas – não só por estética, mas para permitir uma maior visibilidade do poder público sobre a população da cidade. 

O Mercado de Ferro foi inaugurado na Praça Carolina, onde hoje está o Edifício Palácio do Comércio, Praça Waldemar Falcão e Agência Metropolitana Banco do Brasil 
(foto: Arquivo NIREZ)

Em 1897 foi concluído o Mercado de Ferro, trazido da França e marcando a introdução do ferro em construções. O mercado foi inaugurado em meio a grandes solenidades, e tinha por objetivo “resolver de forma confortável e higiênica o problema de abastecimento de carnes e verduras da municipalidade”.
Avenida 7 de Setembro construída e inaugurada pelo Intendente Guilherme Rocha. Antiga Feira Nova ou Praça Pedro II é hoje a Praça do Ferreira 
(foto: Arquivo NIREZ)

Guilherme Rocha remodelou as principais praças de Fortaleza, com destaque para a Praça do Ferreira em 1902, e a Marquês de Herval (José de Alencar), em 1903, dotando-as de jardins exuberantes, pavimentação, vasos importados, cópias de estátuas de deuses gregos, elegantes cafés, coretos, pavilhões para bandas musicais, ginástica infantil e patinação.
O Intendente Guilherme Rocha urbanizou a Praça Marquês de Herval, com seu Jardim Nogueira Accioly que depois de sua deposição passou a chamar-se Franco Rabelo. Cartão Postal impresso em Hamburgo por Thiess and Company. 
(foto: Arquivo NIREZ)

Ainda na administração Guilherme Rocha, o governo Accioly ergueu talvez a mais importante obra arquitetônica de Fortaleza, o Teatro José de Alencar, inaugurado em 1910 – cuja estrutura metálica foi importada da Escócia – com suas linhas neoclássicas e Art-Nouveau.
teatro José de Alencar
Teatro José de Alencar
No começo do século XX, o transporte urbano realizava-se com os bondes de tração animal e a iluminação a gás carbônico. Com a vinda da Ceará Tramway Light and Power, em 1913, começou a era da luz e dos bondes elétricos. Para se locomover nestes autênticos “símbolos da modernidade”, era preciso vestir-se “decentemente”, de paletó, colarinho e sapatos. Grande parte da população, exceto os muito pobres, usava paletós no dia-a-dia.
Em 1909 chegou à Fortaleza o primeiro automóvel, um Rambler adquirido nos Estados Unidos pelo industrial Júlio Pinto. A presença dos carros exigiu maior extensão do serviço de calçamento, um redimensionamento das ruas e praças e um novo comportamento dos pedestres.
As opções de lazer eram poucas. As praias eram freqüentadas somente pelos moleques que tomavam banho nus. 
Era no mar que se jogavam os detritos das casas, portanto o banho de mar não era considerado prática saudável, além de que, ficar bronzeado ia contra o modelo de beleza européia, o qual valorizava a pele clara. Para os adultos ir á praia só por prescrição médica. Os homens banhavam-se rapidamente, de camisa e ceroulas, as mulheres com longos camisolões de algodão. 
Os banhos de mar se intensificaram nos anos 1920.
Em 1906 o Presidente da República Afonso Augusto Moreira Pena visitou o Ceará e a visita foi registrada ao lado do Presidente do Estado Antonio Pinto Nogueira Accioly. 
(foto: Arquivo NIREZ)

As reformas urbanas, no entanto, ficavam restritas ao centro de Fortaleza, beneficiando apenas as elites que ali residiam e se divertiam. 
A periferia não recebia nenhum beneficio. A cidade era asfixiada por um cinturão de pobreza. 
No areal frouxo encontravam-se vielas e recantos com barracos construídos com taipa e palha, onde moravam os trabalhadores braçais, os pescadores, as lavadeiras, os biscateiros, os cavadores de cacimbas, as prostitutas, os vagabundos, os desempregados. 
Constituíam o retrato da pobreza que até hoje povoa a periferia de Fortaleza.

Fonte:
História do Ceará, de Airton de Farias    

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