sábado, 23 de maio de 2020

O Atribulado Governo Franco Rabelo - 1912 - 1914


Depois da atribulada deposição de Antônio Pinto Nogueira Accioly, o maior de todos os nossos oligarcas que governou até 24 de fevereiro de 1912, quando teve de renunciar à presidência do Estado em razão de forte pressão popular, e para completa libertação do Ceará do domínio da oligarquia, foram buscar o coronel Marcos Franco Rabelo, ilustre militar cearense.

Praça Marquês de Herval (atual José de Alencar), reformada no governo de Accioly/Guilherme Rocha (foto arquivo Nirez)

Franco Rabelo sentou praça como segundo-cadete no 15º Batalhão de Infantaria na Escola Militar do Rio de Janeiro em 10 de setembro de 1879. No Exército, além da carreira militar atuou como professor de várias escolas militares, e só deixou a instituição em 1912, para candidatar-se ao Governo do Ceará. Portanto, Rabelo não tinha nenhuma experiência política ou administrativa. Acrescente-se a isso as reservas feitas à sua indicação pelo Senador Pinheiro Machado, cuja influência alcançava todo o país.

Eleito por esmagadora votação, Franco Rabelo iria encontrar a primeira grande dificuldade no reconhecimento de sua eleição por parte da Assembleia Legislativa, onde a oposição era maioria. Superado o impasse, o novo governador haveria de enfrentar outros grandes obstáculos. 

Na Rua Barão do Rio Branco foi erguido um Arco do Triunfo para recepcionar o Coronel Franco Rabelo - 1912. Foto do livro Ah, Fortaleza!

O maior deles foi enfrentar a feroz oposição que vinha do interior do Estado, formado por correligionários do oligarca deposto, inconformados com a perda de poder e privilégios que há muito desfrutavam. O quartel general dessa oposição foi montado em Juazeiro do Norte, e seu comandante era ninguém menos que o famoso Padre Cícero, o santo venerado pelos romeiros, o coronel de batinas reconhecido em todo o Estado. Aos chefetes do interior, que se apoiavam em grupos de capangas armados que mantinham sob seu comando, juntaram-se os políticos descontentes da capital, formando um grupo antagonista de força considerável.

Uma multidão se concentrou em frente a Sede do Tiro de Guerra, na Rua General Sampaio, para recepcionar o coronel Franco Rabelo (foto do livro Ah, Fortaleza!)

Durante o governo de Franco Rabelo, Idelfonso Albano foi nomeado Intendente de Fortaleza.  Em sua gestão procurou continuar o processo modernizador da cidade e civilizatório da população, com a remodelação de praças e logradouros. A Praça General Tibúrcio foi uma das beneficiadas. Devido a sua localização, na vizinhança do Palácio do Governo, o novo intendente se indignava com o fato dela ter sido transformada em depósito de materiais e de pastagens para animais. O projeto exigiu a desapropriação de várias casas em redor da praça, formando o atual quadrilátero. Por ordem do Intendente, a praça foi ajardinada, recebeu coreto, bancos importados e 49 novos combustores, que tornaram a Praça General Tibúrcio, a mais iluminada da capital, além de novos gradis e as estátuas dos leões, esculpidos em bronze e importados de Paris.

Albano promoveu a reforma da Cadeia Pública e o novo sistema penitenciário com base na criminologia moderna e práticas humanitárias – nesse período, a cadeia passou por reforma interna – iluminação e reconstrução de oficinas – artefatos diversos, carpintaria e calçados como atividades regenerativas dos presos, além de aulas de catequese. A polícia passava por mudanças visando melhorar a imagem formada pela repressão da oligarquia aciolina. Discutia-se a reformulação do Sistema Penitenciário obsoleto.

Além disso foi criada a guarda cívica para disciplinar a população pobre, foram promovidas campanhas de combate à febre amarela, com a recuperação da salubridade pública e a instauração de uma polícia médica; foi criado o Instituto de Amparo à infância.  Dividiu a cidade em 4 distritos para viabilizar a limpeza, e promoveu a abertura da Avenida Sena Madureira, que é a atual Avenida Alberto Nepomuceno. 

Avenida Alberto Nepomuceno, antiga Rua Sena Madureira - foto Arquivo Nirez
chamada inicialmente de Caminho da Praia (por fazer a ligação com a Praia de Iracema).  Em 1856, passou a ser a Rua da Ponte, devido a existência de uma ponte sobre o Riacho Pajeú que cortava a rua. Na gestão do prefeito Ildefonso Albano,  (1912-1914), foi alargada e pavimentada com calçamento e recebeu a denominação de Rua Sena Madureira. Em 1921 recebeu meio-fio e arborização e ganhou a denominação atual – Avenida Alberto Nepomuceno – em homenagem ao músico falecido em 1920.

Além destas obras temos, também, a chegada dos bondes elétricos em 1913 e da energia elétrica em 1914, através da companhia Ceará Light and Power.
Tanto o governador Franco Rabelo como seu intendente, eram bem aceitos e contavam com a aprovação dos fortalezenses.  Mas a base de apoio ao governo era muito frágil. Afastado do Ceará há muito tempo, sem as malícias do cargo, sem jogo de cintura e desconhecendo os conchavos políticos locais, Rabelo cometeu vários equívocos. Um destes erros foi entregar o comando da base política de sua gestão a Francisco de Paula Rodrigues, homem despreparado para a função e que foi escolhido apenas por ser antigo correligionário do sogro de Rabelo, o general Clarindo de Queiroz, deposto da presidência do Estado em 1892, discriminando os demais grupos políticos que que se opuseram a Accioly.

Rabelo não cumpriu acordos assumidos, não entregou os cargos públicos prometidos e exonerou Padre Cícero – aliado fiel de Accioly e 3º vice-presidente do Estado – do cargo de prefeito de Juazeiro. Ao lado dos adversários do governador, estavam a força política opositora representada pelo presidente Hermes da Fonseca e Pinheiro Machado, senador gaúcho candidato à presidência da República. A administração de Franco Rabelo foi ficando isolada politicamente.

Ao aderir à coligação contra a candidatura do Senador Pinheiro Machado, estava selado o destino de Franco Rabelo. Como represália, iniciou-se no Rio de Janeiro, então sede do governo federal, um trabalho conspiratório contra o governador do Ceará.

A escolha de Juazeiro do Norte para deflagração do movimento, decorreu do enorme prestígio que desfrutava o Padre Cicero no seio das populações sertanejas, bem como da extraordinária habilidade que tinha o caudilho Floro Bartolomeu para comandar essas tropas formadas por jagunços e cabras, reunidas num poderoso exército ilegal.

Movimentação na porta da Intendência Municipal  - Revista O Careta 1914

Segundo Rodolfo Teófilo escreveu em “A Sedição de Juazeiro” de sua autoria, “mais de dois mil homens estavam em armas. Fortaleza era uma praça de guerra. A vida da cidade havia parado por completo. Os empregados da Estrada de Ferro Baturité deixaram o trabalho e pegaram em armas, fazendo o mesmo os homens do mar, trabalhadores da praia, empregados do comércio, o tiro 38, os carroceiros. Enfim, pode-se afirmar que todo homem válido estava defendendo a cidade. Com semelhante resistência, era impossível aos jagunços entrar na cidade”.

Trincheira aberta na Praça Figueira de Melo em Fortaleza, para aguardar a invasão de jagunços que vinha de Juazeiro do Norte. imagem do livro Ah, Fortaleza!

No início de março de 1914, os homens de Juazeiro cercaram a capital, baixando acampamentos em áreas próximas como Maracanaú, Maranguape e Caucaia. A possibilidade de Fortaleza ser invadida causou histeria nos fortalezenses. No dia 9 deste mês o presidente Hermes da Fonseca decretou Estado de Sítio no Ceará, sendo a população desarmada e suspensa a organização da policia estadual, de modo que o policiamento da capital passasse para o inspetor militar Setembrino de Carvalho.

Desmontava-se assim o esquema de defesa popular de Rabelo. Cinco dias depois, a 14 de março de 1914, foi decretada intervenção federal no Estado, levando o governador a renunciar. Uma multidão emocionada se despediu de Franco Rabelo na saída do Palácio do Governo. Receberia ainda muitas homenagens até embarcar para o Rio de Janeiro dias depois.


Fontes: 
História do Ceará, de Airton de Farias
Anuário do Ceará 79/80


sábado, 2 de maio de 2020

A Chegada das Igrejas Evangélicas (até 1970)


A Igreja Católica Apostólica Romana chegou ao Brasil logo após o descobrimento, junto com os primeiros colonizadores portugueses que aqui aportaram trazendo os padres da Companhia de Jesus – os Jesuítas – que se encarregaram de promover a substituição dos símbolos religiosos indígenas pelos preceitos da Igreja Católica. E o país cresceu e se desenvolveu como o maior país católico do mundo, tendo o catolicismo como religião oficial até a Constituição Republicana de 1891, que instituiu o Estado Laico. Antes mesmo da instituição do Estado laico e da liberdade de crença, a primeira igreja evangélica já se instalava e conquistava fiéis no Ceará.

Igreja Presbiteriana


Ao casal de missionários De Lacy Wardiaw e sua mulher Mary Wardlaw, que aqui chegaram em 1881, é creditada a primeira incursão da igreja presbiteriana em terras cearenses. No mesmo dia da chegada, em um hotel da Praça dos Mártires (Passeio Público), o pastor apresentava o culto aos anfitriões: o capitão do porto e senhora, o chefe dos correios um jornalista recém convertido e alguns passantes. Em que pese o culto em língua estrangeira, o americano batizou 13 novos adeptos em julho de 1883, data que foi organizada a primeira igreja evangélica do Ceará – a segunda do Norte e Nordeste – e que por ocasião de sua instalação recebeu os primeiros missionários e a denominação de Igreja Presbiteriana de Fortaleza.  

Em 12 de outubro de 1898 foi assentada a pedra fundamental da primeira Igreja Presbiteriana de Fortaleza, à Rua Sena Madureira esquina com a Rua Pedro Borges. Hoje a igreja conta com mais de 50 templos em todo o Estado. Dentre as obras sociais mantidas pela igreja, estão um abrigo para senhoras idosas e carentes; um projeto no bairro Parque Santa Cecília, que oferece a 500 crianças cursos gratuitos que incluem escola de 1ª a 4ª Séries, esportes variados, balé, dança moderna, música teatro, informática, além de assistência médica, odontológica, e o Projeto Vila Mar, no bairro do Serviluz, que atende a 801 crianças, oferecendo creche e escola de 1ª a 4ª séries, e cursos gratuitos de balé, música, esportes variados, teatro e informática, além de assistência médica, dentária, psicológica. A sede da igreja fica na Avenida Visconde do Rio Branco.

Igreja Batista

O primeiro contato da Igreja Batista com os cearenses, aconteceu em 1908, através do pastor Eric Nelson. De 1923 a 1930 funcionou em estado embrionário, sendo criada a primeira igreja na Aldeota. Registra-se o ano de 1945 como o da chegada dos primeiros missionários residentes, o pastor Burton de Wolfe Davis e sua mulher Sarah Blanche Davis . Alguns anos mais tarde coube a outro casal – Robert Standley organizar a segunda igreja, a de Monte Castelo, época em que foi construído o Colégio Batista de Fortaleza. 


Colégio Batista Santos Dumont - inaugurado em 1950 
Hospital Batista - anos 60
Em 16 de junho de 1960 houve o lançamento da Pedra Fundamental. Com um projeto arrojado, o Hospital já foi concebido com a intenção de ser o mais moderno do Ceará, e o 1° Hospital Batista do Brasil. 

Ao fim dos anos 50 foram construídas cinco igrejas, sendo duas em Fortaleza e três em cidades do interior. A partir dos anos 60 os batistas concentrariam mais esforço em sua propagação, criando congregações e construindo o Hospital Batista Memorial. Ligados às atividades da Igreja Batista, além do Hospital e do Colégio, estão ações que visam a reabilitação de viciados em Drogas, a Livraria Batista Cearense, no Centro, além da Escola  Kerigma, que encerrou as atividades em 2016.

Igreja Pentecostal Assembleia de Deus

primeiro templo central em Fortaleza

No Ceará a Igreja Assembleia de Deus começou a operar a partir do interior, com a instalação de uma unidade num lugarejo conhecido como Alagoinha, em Itapajé, em 1914, sob a responsabilidade do pastor Adriano de Almeida Nobre. A abertura do primeiro núcleo em Fortaleza só seria possível em 1929, tendo como pastor Antônio Rego Barros, enviado pela igreja de Belém. A fundação da igreja em Fortaleza ocorreu   no dia 07 de setembro do mesmo ano, na Rua Santa Terezinha, nº 146, no bairro do Arraial Moura Brasil.

Por volta de 1933 a unidade de Fortaleza contava com apenas 42 membros, Em 1935 o novo pastor José Teixeira Rego transferiu o salão de cultos que funcionava no bairro Benfica para um prédio na Rua Tereza Cristina. Com o passar do tempo e o aumento no número de congregados, o templo passou por uma reforma, sendo reinaugurado em 1957 com uma solenidade que foi assinalada como “o maior acontecimento na história do povo pentecostal no Ceará”. Hoje são 110 mil igrejas no Brasil, frequentadas por 12 milhões de fiéis, e inúmeras obras sociais. A sede da Assembleia de Deus fica na Avenida dos Expedicionários.

Adventistas do Sétimo Dia

Os Adventistas são uma igreja cristã protestante organizada nos Estados Unidos em 1863. A primeira missão adventista do Sétimo Dia a incursionar no Ceará data de 1936, quando aqui chegou o missionário Leo Halliwel, a quem coube implantar um núcleo religioso compartilhado por 29 adeptos. Esse trabalho inicial foi impulsionado a partir de 1938, época em que a igreja já contava com cerca de 300 membros. O templo central foi inaugurado em 1947.

Católicos Melkitas

Templo Melkita Nossa Senhora do Líbano - no bairro Meireles

A instalação da primeira e até agora única paróquia do rito Melkita Bizantino no Ceará ocorreu em 1953, ocupando então a Igreja de São Pedro, na Praia de Iracema. Sua criação deve-se ao esforço da colônia libanesa residente em Fortaleza, de onde saíram os 15 membros que comporiam o Conselho Leigo do núcleo religioso em seu início.

Em 1963 a igreja transferiu suas instalações para a Rua República do Líbano, que recebeu o nome de igreja Melkita Nossa Senhora do Líbano. Os melkitas são católicos, estão ligados à Roma, mas diferem do restante por utilizarem o rito Oriental – mais precisamente o Bizantino e não o ocidental em suas liturgias.

Testemunhas de Jeová

O movimento que resultaria no surgimento das Testemunhas de Jeová foi iniciado em 1870, nos Estados Unidos. Todas as testemunhas de Jeová gastam em média 15 horas mensais no serviço de pregação das “Boas novas do Reino de Deus”, dirigindo estudos bíblicos domiciliares. Em Fortaleza, o primeiro local de reuniões funcionou na Rua Justiniano de Serpa, sendo transferida posteriormente para a Rua 24 de Maio e depois para a Avenida Duque de Caxias. 

Salão do Reino das Testemunhas de Jeová, reinaugurado no Eusébio em 2020, com capacidade para 2.000 pessoas.

As Testemunhas de Jeová são avessos à Teologia da Prosperidade (doutrina religiosa cristã que defende que a bênção financeira é o desejo de Deus para os cristãos e que a fé, o discurso positivo e as doações para os ministérios cristãos irão sempre aumentar a riqueza material do fiel. No Brasil, seu maior divulgador é o bispo Edir Macedo, da IURD), não fazem nenhum tipo de coleta nas reuniões, nem cobram entrada para qualquer que seja o evento. Os ministros não cobram para realizar batismos, funerais, casamentos ou outros serviços religiosos. Não arrecadam dinheiro em bazares, vendas de rifas, bingos, jantares beneficentes ou eventos semelhantes, nem pedem doações. Neutralidade política e recusa à transfusão de sangue também são características pelas quais os membros são conhecidos. A igreja tem atualmente 117 salões do Reino e 46.619 membros espalhados pelo Ceará.

Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias

A Igreja dos Mórmons tem suas origens na cidade de Lago Salgado, no Estado norte-americano de Utah. A filosofia mórmon alcançou o Ceará na década de 60, quando o missionário Douglas J. Fenwick se instalou em Fortaleza como primeiro presidente em território cearense num imóvel na Aldeota. Os trabalhos da Igreja começaram em 1966, na Praça do Ferreira, onde os missionários encontraram os primeiros membros cearenses. Atualmente o número de membros no Brasil ultrapassa 1,4 milhão, segundo dados fornecidos pela entidade. Eles se reúnem em cerca de duas mil congregações espalhadas por todo o País.


A obra realizada pela Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias tem 35 mil m², levou 30 meses para ficar pronta e envolveu mais de duas mil pessoas. O templo tem fachada revestida em mármore e estátuas de ouro. Inaugurado em 2019 na região da Praia do Futuro

Igreja Messiânica

A Igreja Messiânica surgiu no Japão em 1935, criada por Meishu Okada. Sua filosofia de ação se concentra em ensinar as pessoas a serem úteis à humanidade. No Ceará tem uma única igreja, estabelecida em Fortaleza na Avenida Desembargador Moreira

 Igreja Metodista

A primeira igreja Metodista foi implantada em Fortaleza no ano de 1968, pelo missionário Josias Terenzi Pinto, instalando-se em casa na Rua Barbosa de Freitas nº 1830, passando dois anos depois para sua sede própria na Avenida Visconde do Rio Branco nº 3543.

Em 1972 a igreja deu início a um trabalho de difusão, angariando novos membros. A igreja atua em dois segmentos, o religioso e o social, onde mantém cursos de alfabetização, realiza um projeto habitacional em Acaraú e opera um Centro Social na Avenida Leste-Oeste. No Brasil os metodistas contam com seis universidades e operam 42 cursos de nível superior. 


fontes:
Anuário do Ceará 79/80
Jornal o Povo
Sites das Igrejas