Depois da atribulada deposição
de Antônio Pinto Nogueira Accioly, o maior de todos os nossos oligarcas que
governou até 24 de fevereiro de 1912, quando teve de renunciar à presidência do
Estado em razão de forte pressão popular, e para completa libertação do Ceará
do domínio da oligarquia, foram buscar o coronel Marcos Franco Rabelo, ilustre
militar cearense.
Praça Marquês de Herval (atual José de Alencar), reformada no governo de Accioly/Guilherme Rocha (foto arquivo Nirez)
Franco Rabelo sentou praça
como segundo-cadete no 15º Batalhão de Infantaria na Escola Militar do Rio de
Janeiro em 10 de setembro de 1879. No Exército, além da carreira militar atuou como
professor de várias escolas militares, e só deixou a instituição em 1912, para
candidatar-se ao Governo do Ceará. Portanto, Rabelo não tinha nenhuma
experiência política ou administrativa. Acrescente-se a isso as reservas feitas
à sua indicação pelo Senador Pinheiro Machado, cuja influência alcançava todo o
país.
Eleito por esmagadora votação,
Franco Rabelo iria encontrar a primeira grande dificuldade no reconhecimento de
sua eleição por parte da Assembleia Legislativa, onde a oposição era maioria.
Superado o impasse, o novo governador haveria de enfrentar outros grandes
obstáculos.
Na Rua Barão do Rio Branco foi erguido um Arco do Triunfo para recepcionar o Coronel Franco Rabelo - 1912. Foto do livro Ah, Fortaleza!
O maior deles foi enfrentar a
feroz oposição que vinha do interior do Estado, formado por correligionários do
oligarca deposto, inconformados com a perda de poder e privilégios que há muito
desfrutavam. O quartel general dessa oposição foi montado em Juazeiro do Norte,
e seu comandante era ninguém menos que o famoso Padre Cícero, o santo venerado
pelos romeiros, o coronel de batinas reconhecido em todo o Estado. Aos chefetes
do interior, que se apoiavam em grupos de capangas armados que mantinham sob
seu comando, juntaram-se os políticos descontentes da capital, formando um
grupo antagonista de força considerável.
Uma multidão se concentrou em frente a Sede do Tiro de Guerra, na Rua General Sampaio, para recepcionar o coronel Franco Rabelo (foto do livro Ah, Fortaleza!)
Durante o governo de Franco
Rabelo, Ildefonso Albano foi nomeado Intendente de Fortaleza. Em sua gestão procurou continuar o processo
modernizador da cidade e civilizatório da população, com a remodelação de
praças e logradouros. A Praça General Tibúrcio foi uma das beneficiadas. Devido
a sua localização, na vizinhança do Palácio do Governo, o novo intendente se
indignava com o fato dela ter sido transformada em depósito de materiais e de
pastagens para animais. O projeto exigiu a desapropriação de várias casas em
redor da praça, formando o atual quadrilátero. Por ordem do Intendente, a praça
foi ajardinada, recebeu coreto, bancos importados e 49 novos combustores, que
tornaram a Praça General Tibúrcio, a mais iluminada da capital, além de novos
gradis e as estátuas dos leões, esculpidos em bronze e importados de Paris.
Albano promoveu a reforma da
Cadeia Pública e o novo sistema penitenciário com base na criminologia moderna
e práticas humanitárias – nesse período, a cadeia passou por reforma interna –
iluminação e reconstrução de oficinas – artefatos diversos, carpintaria e
calçados como atividades regenerativas dos presos, além de aulas de catequese.
A polícia passava por mudanças visando melhorar a imagem formada pela repressão
da oligarquia aciolina. Discutia-se a reformulação do Sistema Penitenciário
obsoleto.
Além disso foi criada a guarda
cívica para disciplinar a população pobre, foram promovidas campanhas de combate
à febre amarela, com a recuperação da salubridade pública e a instauração de
uma polícia médica; foi criado o Instituto de Amparo à infância. Dividiu a cidade em 4 distritos para
viabilizar a limpeza, e promoveu a abertura da Avenida Sena Madureira, que é a
atual Avenida Alberto Nepomuceno.
chamada inicialmente de Caminho da Praia
(por fazer a ligação com a Praia de Iracema).
Em 1856, passou a ser a Rua da Ponte, devido a existência de uma ponte
sobre o Riacho Pajeú que cortava a rua. Na gestão do prefeito Ildefonso Albano,
(1912-1914), foi alargada e pavimentada
com calçamento e recebeu a denominação de Rua Sena Madureira. Em 1921 recebeu
meio-fio e arborização e ganhou a denominação atual – Avenida Alberto Nepomuceno – em
homenagem ao músico falecido em 1920.
Além destas obras temos,
também, a chegada dos bondes elétricos em 1913 e da energia elétrica em 1914, através da companhia Ceará Light and Power.
Tanto o governador Franco
Rabelo como seu intendente, eram bem aceitos e contavam com a aprovação dos
fortalezenses. Mas a base de apoio ao
governo era muito frágil. Afastado do Ceará há muito tempo, sem as malícias do
cargo, sem jogo de cintura e desconhecendo os conchavos políticos locais, Rabelo
cometeu vários equívocos. Um destes erros foi entregar o comando da base
política de sua gestão a Francisco de Paula Rodrigues, homem despreparado para
a função e que foi escolhido apenas por ser antigo correligionário do sogro de
Rabelo, o general Clarindo de Queiroz, deposto da presidência do Estado em 1892,
discriminando os demais grupos políticos que que se opuseram a Accioly.
Rabelo não cumpriu acordos
assumidos, não entregou os cargos públicos prometidos e exonerou Padre Cícero –
aliado fiel de Accioly e 3º vice-presidente do Estado – do cargo de prefeito de
Juazeiro. Ao lado dos adversários do governador, estavam a força política
opositora representada pelo presidente Hermes da Fonseca e Pinheiro Machado,
senador gaúcho candidato à presidência da República. A administração de Franco
Rabelo foi ficando isolada politicamente.
Ao aderir à coligação contra a
candidatura do Senador Pinheiro Machado, estava selado o destino de Franco
Rabelo. Como represália, iniciou-se no Rio de Janeiro, então sede do governo federal,
um trabalho conspiratório contra o governador do Ceará.
A escolha de Juazeiro do Norte
para deflagração do movimento, decorreu do enorme prestígio que desfrutava o
Padre Cicero no seio das populações sertanejas, bem como da extraordinária
habilidade que tinha o caudilho Floro Bartolomeu para comandar essas tropas
formadas por jagunços e cabras, reunidas num poderoso exército ilegal.
Movimentação na porta da Intendência Municipal - Revista O Careta 1914
Segundo Rodolfo Teófilo
escreveu em “A Sedição de Juazeiro” de sua autoria, “mais de dois mil homens estavam
em armas. Fortaleza era uma praça de guerra. A vida da cidade havia parado por
completo. Os empregados da Estrada de Ferro Baturité deixaram o trabalho e
pegaram em armas, fazendo o mesmo os homens do mar, trabalhadores da praia,
empregados do comércio, o tiro 38, os carroceiros. Enfim, pode-se afirmar que
todo homem válido estava defendendo a cidade. Com semelhante resistência, era
impossível aos jagunços entrar na cidade”.
Trincheira aberta na Praça Figueira de Melo em Fortaleza, para aguardar a invasão de jagunços que vinha de Juazeiro do Norte. imagem do livro Ah, Fortaleza!
No início de março de 1914, os
homens de Juazeiro cercaram a capital, baixando acampamentos em áreas próximas
como Maracanaú, Maranguape e Caucaia. A possibilidade de Fortaleza ser invadida
causou histeria nos fortalezenses. No dia 9 deste mês o presidente Hermes da
Fonseca decretou Estado de Sítio no Ceará, sendo a população desarmada e
suspensa a organização da policia estadual, de modo que o policiamento da
capital passasse para o inspetor militar Setembrino de Carvalho.
Desmontava-se assim o esquema
de defesa popular de Rabelo. Cinco dias depois, a 14 de março de 1914, foi
decretada intervenção federal no Estado, levando o governador a renunciar. Uma
multidão emocionada se despediu de Franco Rabelo na saída do Palácio do
Governo. Receberia ainda muitas homenagens até embarcar para o Rio de Janeiro
dias depois.
Fontes:
História do Ceará, de
Airton de Farias
Anuário do Ceará 79/80
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